sexta-feira, 22 de março de 2019

Governo de SP corta investimento e paralisa obras da CPTM, FSP Painel SA

Enquanto subsídios fiscais são discutidos, trabalhos foram temporariamente suspensos

SÃO PAULO
Enquanto concedia incentivos fiscais para setores como aviação e automotivo nas últimas semanas, o governo de João Doria andou cortando investimentos da CPTM.
Foram feitas paralisações temporárias em obras de linhas de trem, inclusive na recém-estendida Linha 13-jade, que leva ao aeroporto internacional de Guarulhos.
A nova estação de Francisco Morato também entrou no corte, um projeto que envolve mais de R$ 100 milhões. 
Devo... De acordo com a Secretaria de Logística e Transportes, as obras foram retomadas há dois dias. Segundo a CPTM, foram suspensas apenas pequenas intervenções de obras em algumas estações, sem atrapalhar o funcionamento das linhas.
...não nego “Diante da frustração de arrecadação, superestimada pela gestão anterior, o governo se viu obrigado a fazer um contingenciamento de R$ 10 bilhões”, diz a CPTM, que ressalta terem sido preservadas despesas essenciais como saúde, educação e segurança.
Digestão... Após oito meses seguidos de queda, o emprego na construção pesada voltou a crescer em São Paulo. Foram 134 novas vagas em janeiro, segundo o Sinicesp (sindicato do setor). De maio a dezembro de 2018, mais de 5.600 postos de trabalho foram fechados.
...da ceia Apesar de ser enxergada com bons olhos pelo setor, a melhora ainda é tímida e se explica, em parte, por demissões que ocorreram antes das festas de fim de ano, em que trabalhadores são dispensados para visitar a família, segundo a entidade.
Sem... O novo voo da Latam que vai de São Paulo para Tel Aviv, inaugurado em dezembro, atingiu ocupação de 81% nos primeiros meses de operação. Foi o primeiro voo do Brasil 
conectando os dois destinos diretamente, sem escalas.
...escalas O objetivo é chegar a uma taxa de ocupação semelhante ao voo também direto de Guarulhos para Lisboa, que foi inaugurado em setembro e alcançou o patamar de 87% no fim de 2018.
Amizade... A fabricante brasileira de alimentos BRF decidiu desenterrar uma de suas marcas que estava inativa há mais de seis anos para concorrer com uma ex-parceira no segmento de margarinas.
...passada Até o ano passado, a companhia era responsável pela fabricação e distribuição da Becel, então de propriedade da Unilever. A joint venture foi interrompida após a chinesa KKR adquirir a marca globalmente.
Solução caseira A BRF decidiu não entrar na negociação e dobrou a aposta em seu próprio produto, Qualy, que reutilizará o nome Vita para concorrer na categoria de margarinas com viés saudável.
Hotelaria O preço da diária dos hotéis em São Paulo subiu 14,5% em fevereiro, na comparação com o mesmo mês de 2018, segundo o Fohb (que reúne grandes redes). Foi a terceira maior alta no país, atrás de Belo Horizonte e Manaus.
Na escola O primeiro doutorado profissional em administração no Brasil foi aprovado pela Capes. A FGV, que oferece apenas doutorado acadêmico, deve lançar o novo curso a partir do próximo ano. O foco são altos executivos.

Prosa
O investidor Lawrence Pih
O investidor Lawrence Pih - Eduardo Anizelli - 1º.mar.18/Folhapress

“Depois de 40 anos na política velha, hoje o destino lhe alcança"
Lawrence Pih, investidor, sobre a prisão do ex-presidente Michel Temer
com Igor Utsumi, Ivan Martínez-Vargas, Paula Soprana e Artur Rodrigues
Painel S.A.
Jornalista, Joana Cunha é formada em administração de empresas pela FGV-SP. Foi repórter de Mercado e correspondente da Folha em Nova York.
TÓPICOSRELACIONADOS

quinta-feira, 21 de março de 2019

Fim de tratamento especial na OMC deve envolver outros países, diz diretor-geral, FSP

O diretor-geral da Organização Mundial de Comércio (OMC), Roberto Azevedo, afirmou nesta quinta-feira (21) que o Tratamento Especial Diferenciado (TED) dado a países como o Brasil pelo órgão é apenas o início de uma discussão que deve envolver os Estados Unidos e outros países.
Azevedo disse preferir não comentar o que foi decidido entre os dois países. "Eu mesmo tenho dúvidas sobre o que foi negociado agora", afirmou durante evento da International Chamber of Commerce (ICC) em São Paulo.
Sobre a entrada do Brasil na OCDE, Azevedo declarou que considera o ingresso importante e que o país passaria a fazer parte da "gestação embrionária" de debates internacionais que são levados posteriormente para outros foros, como a OMC.
"Sempre achei que o Brasil deveria se aproximar mais", afirmou. "Ele teria a possibilidade de dar os contornos da agenda mundial lá dentro".

Condições melhores

Azevedo comentou que o TED foi criado na década de 1990 para fazer com que as nações menos desenvolvidas aceitassem o que foi negociado, dando a elas condições menos desvantajosa.
"Hoje a coisa mudou, tem países importantes como Coreia do Sul, México, e os EUA dizem que não dá mais para negociar com eles e existindo este tratamento especial", disse.
O diretor-geral da OMC afirmou que, em sua leitura, o Brasil não está abrindo mão do status de país em desenvolvimento. "Ele está abrindo mão de usar alguns espaços nessa área, mas é uma pergunta que deve ser feita para o governo brasileiro", disse a jornalistas.
O status diferenciado da OMC dá aos países mais pobres alguns benefícios, como o direito a prazos mais longos nas disputas e condições especiais para fechar acordos de livre-comércio.
Cerca de 40 nações, dos 164 membros, possuem este status. Países como os EUA se opõem a esta tratamento.

terça-feira, 19 de março de 2019

A palavra que arma mãos assassinas, FSP

Falta um mínimo de empatia a certos governantes

Clóvis Rossi
SÃO PAULO
Kirsty Johnston, repórter investigativa de The New Zealand Herald, mergulhou no mundo sinistro da extrema direita e publicou, já faz quase dois anos, extensa reportagem que seu jornal recuperou no dia seguinte aos atentados em Christchurch.
Kirsty constatou que a alt-right, o apelido mais suave para a extrema direita, vinha crescendo no país, inspirada “por acontecimentos além-mar, incluindo a eleição de Trump".
Acrescentava a repórter: “Eles [a alt-right] acreditam em conceitos como genocídio dos brancos e marxismo cultural —uma teoria conspiratória que proclama que marxistas se infiltraram no Ocidente para destruir valores cristãos e substituí-los por feminismo, multiculturalismo, direitos dos gays e ateísmo".
A premiê da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, em encontro com representantes da comunidade muçulmana em Christchurch
A premiê da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, em encontro com representantes da comunidade muçulmana em Christchurch - via Reuters
Se você conheceu nos últimos 12 meses, pouco mais ou menos, gente com idênticas crenças não é mera coincidência.
A alt-right está presente nestes tristes trópicos, como constatou nesta Folha, na terça-feira (19) o notável colunista Joel Pinheiro da Fonseca(não é marxista, é um impecável liberal): “É em espaços assim [submundo da internet dedicado ao discurso de ódio] que se gestou a alt-right americana e a própria extrema direita brasileira que agora chega ao poder”.
A alt-right americana tem como guru um certo Steve Bannon, que foi conselheiro de Donald Trump na campanha e nos primeiros meses de governo e é, até hoje, o ídolo dos Bolsonaros.
O problema com discursos assim é que palavras podem matar ou, pelo menos, induzir a matar pessoas desestruturadas psicologicamente.
É por isso que David Leonhardt, editor da newsletter de Opinião do New York Times, escreveu, na sua coluna de segunda-feira (18): “O presidente Trump continua encorajando tanto a violência como o nacionalismo branco —e a violência do nacionalismo branco está crescendo. Não é uma coincidência. Ele [Trump] não merece ser culpado por qualquer ataque específico. Mas merece ser culpado por usar o maior púlpito de bullying do mundo para corroer nossa democracia e a segurança pública. Ele está se engajando em comportamento que tem assustadores ecos históricos e efeitos no mundo real".
Há um segundo comportamento desagradável em Trump: ele jamais demonstra empatia com vítimas de qualquer natureza. É o exato oposto de Ja­cin­da Ar­dern, a primeira-ministra neozelandesa, que chegou a dar uma lição de moral a Trump quando este perguntou o que os EUA poderiam fazer para ajudar depois dos ataques em Christchurch.
Respondeu Ardern: Trump podia mostrar “simpatía e amor por todas as comunidades muçulmanas”.
A jovem primeira-ministra (38 anos) disse, em entrevista coletiva, que os atentados atingiram a Nova Zelândia por representar “a diversidade, a bondade e a compaixão” e por ser “o lar daqueles que compartem esses valores e refúgio para aqueles que o necessitem".
Se houvesse mais Arderns e menos Trumps (e outros que você pode escolher), o mundo seria menos sombrio.
Clóvis Rossi
Repórter especial, membro do Conselho Editorial da Folha e vencedor do prêmio Maria Moors Cabot.