sexta-feira, 26 de outubro de 2018

“Sair do acordo de Paris é desembarcar do mundo”, diz jurista, Blog da Cidadania

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Um dos mais experientes diplomatas brasileiros, o jurista Rubens Ricupero, diz que nunca votou no PT, mas declarou seu voto ao candidato Fernando Haddad. O critério eliminatório foi o respeito da plataforma do petista aos temas ambientais. O ex-ministro do Meio Ambiente e da Fazenda diz que as ameaças de Jair Bolsonaro às políticas ambientais brasileiras domésticas e internacionais podem prejudicar relações comerciais do país. “Isso pode deixar o Brasil mais pobre, isolado e desprezado”. Confira trechos da entrevista:
Valor: Por que o senhor declarou voto a Fernando Haddad?
Rubens Ricupero: Escrevi um artigo que cita uma frase de Rui Barbosa. Na Primeira Guerra Mundial, ele disse que neutralidade não é impassibilidade, é imparcialidade. Não se pode ser neutro entre os que violam a lei e os que a obedecem. Minha argumentação foi sobre a questão ambiental, o aquecimento global é a mãe de todas as ameaças. Para mim, é critério eliminatório qualquer candidato que revele desconhecimento da questão ambiental ou má vontade. Nunca votei no PT. Não vou votar no PT, mas no Haddad, porque tem uma plataforma ambiental que aplaudo. Na outra há sinais inequívocos de que se trata de candidatura que tende a ser hostil ao tema.
Valor: A ideia de fundir as pastas do Meio Ambiente e da Agricultura está convergindo para a de fatiar o MMA. O que acha disso?
Ricupero: São absurdas. Nem os EUA, que tem hoje posição hostil ao ambiente, acabaram com a agência ambiental do país. É inquietante. Como o MMA trata de muitas coisas, querer valorizar a dimensão da agricultura apontava claramente para o desmatamento. Só não se dizia isso com todas as letras. De abrir mão da moratória da soja e da carne, de permit
Valor: De que tipo?
Ricupero: Este homem já tem uma imagem no mundo que não podia ser pior. Nos quatro temas que hoje em dia definem a imagem de países e pessoas – direitos humanos, ambiente, igualdade de gênero e tolerância da diversidade- a posição dele não poderia ser mais precária. Ele já entra (no governo) com rejeição mundial.
Valor: Como isso atinge o Brasil?
Ricupero: Vai tornar o Brasil um pária. Vai tornar o Brasil um país considerado fora das normas de civilização. É como se tivéssemos uma involução no processo civilizacional, um país que volta à bárbarie. E não concordo quando dizem que as ideias dele significam um retrocesso ao regime militar.
Valor: Por que não?
Ricupero: Os militares não tinham consciência ambiental muito desenvolvida, mas o Brasil foi evoluindo. O primeiro ato de criação de uma entidade ambiental autônoma no Brasil, que foi a Secretaria Especial de Meio Ambiente, foi em 1973. A Política Nacional do Meio Ambiente é do final do governo militar, a lei de Proteção à Fauna é de 1967. Não se trata de um retrocesso ao governo militar. É um retrocesso à Idade da Pedra, no sentido que é um retrocesso à Pré-História do meio ambiente.
Valor: O que acontece se o Brasil sair do Acordo de Paris?
Ricupero: Será um erro cataclísmico. O Acordo de Paris foi assinado por 197 países. Retirar-se dele, hoje em dia, é um ato de querer desembarcar do mundo.
Valor: Os EUA desembarcaram.
Ricupero: Os EUA são a maior superpotência do mundo, têm poder para se defender. O Brasil fazer isso significa esquecer qualquer acordo comercial não só com a União Europeia. Todos os acordos de livre comércio, inclusive os assinados pelos EUA, têm duas cláusulas: uma que é proteção ambiental e a outra, proteção a direitos trabalhistas e direitos humanos. Um país que sai do Acordo de Paris se prejudica imediatamente em todo o universo dos acordos comerciais. Blairo Maggi (ministro da Agricultura) disse que tem muitos países que produzem carne e soja, e basta vacilar para que outros se aproveitem. É verdade. São muitos os nossos concorrentes. Sair do Acordo é dar um pretexto fantástico também para os países que querem proteger mercado. O Brasil terá um prejuízo gigantesco na única área em que é competitivo. E ele tem ideias mais extravagantes.
Valor: Como quais?
Ricupero: A de mudar a embaixada do Brasil em Israel, de Tel Aviv para Jerusalém. O grande mercado do Brasil no Oriente Médio são os países árabes, para quem exportamos R$ 6 bilhões em carnes e aves. Vai haver seguramente represália.
Valor: Como vê as declarações de Bolsonaro em relação à China?
Ricupero: Outro tiro no pé. O Brasil, em 2019, tem que assumir a presidência dos Brics (grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). O perigo é que os outros expulsem o Brasil, não o contrário. A China é nosso maior mercado. E aí, o que ele vai fazer? Vender carne e soja para quem?
Valor: Como imagina o Brasil de 2019, em um governo Bolsonaro?
Ricupero: Temo que depois de toda a euforia ingênua vai haver um desapontamento brutal. Tudo isso que está acontecendo agora, do dólar cair, em pouco tempo inverte. A eleição, longe de representar uma saída da crise brasileira, indica apenas o ingresso da crise em outro patamar, mais grave que o anterior, porque terá se esgotado a saída eleitoral. E no caso internacional, a situação será grave.
Valor: O que o senhor prevê?
Ricupero: O Brasil já está isolado. Infelizmente, o Brasil está em uma fase de sua história em que quase tudo que tinha dado uma boa imagem ao país, acabou. Já não cresce, tem 60 mil homicídios ao ano, a Lava-Jato mostrou a corrupção sistêmica. O que sobrou, do ponto de vista internacional? O meio ambiente. O Brasil é uma potência ambiental. Ora, esse pessoal que está vindo aparentemente quer jogar isso na lata de lixo. Em troca de quê? Para perder mercados por causa dos atentados ao ambiente? Não vai resolver nenhum problema econômico e, ao contrário, deixará o Brasil mais pobre, isolado e desprezado.
Valor: Como vê os generais por trás da candidatura Bolsonaro?
Ricupero: De fato há um número grande de oficiais da reserva. Mas de maneira geral, tenho a impressão que as Forças Armadas, o pessoal que está na ativa institucionalizada não deseja uma aventura.
Valor: O senhor está preocupado com a democracia no Brasil?
Ricupero: Sim. As instituições são frágeis e vêm sofrendo uma erosão que atingiu inclusive o Judiciário. Entre as razões que explicam o surgimento do fenômeno Bolsonaro, creio que a principal foi termos durante três anos revelações da Lava-Jato, mostrando até que ponto o sistema político e os partidos estavam corroídos pela corrupção. E o sistema político não se reformou. Isso é perigoso. Nenhuma democracia sobrevive indefinidamente se não é capaz de autorreforma.

De tão bajuladora dos militares, minha escola envergonharia até o Geisel. FSP

Tínhamos 'figurinhas' dos heróis da nação e cantávamos o 'Hino', com letra maiúscula

    Cresci na Upper Aclimação, também conhecida como SoCam – South of Cambuci. Uma zona anônima na quádrupla fronteira de Ipiranga, Vila Mariana, Aclimação e Cambuci, ao longo da avenida Lins de Vasconcelos.
    Minha casa ficava a dez minutos de ônibus da avenida Paulista. Na virada dos 1970 para os 80, a região era tão cosmopolita quanto a fronteira agrícola mais remota do Mato Grosso.
    Mas meus pais capricharam. Puseram-me numa escola que envergonharia o vetusto Ernesto Geisel, de tão bajuladora que era do regime militar.
    A professora de estudos sociais, disciplina que juntava história e geografia numa patriotada, pedia trabalhos de colagem com os heróis da nação. Era só comprar, na papelaria mais próxima, os adesivos dos “vultos históricos”.
    Eu curtia. Parecia coleção de figurinhas. “Troca meu Duque de Caxias pelo seu Raposo Tavares?” “Não, mas posso negociar um Castelo Branco.”  
    Ensaiávamos num coro de crianças —ou orfeão, como se dizia na época. Um hino composto pelas professoras de música começava assim: “Trinta e um de março, data gloriosa / que deu nova vida e esperanças mil...”.
    Havia também o "Hino" com letra maiúscula. O Hino Nacional. Toda sexta (Segunda? Quarta? Não lembro) tínhamos uma cerimônia em louvor à bandeira no pátio, uma quadra mequetrefe com um muro mais ou menos alto que nos separava de um terreno baldio cheio de mamonas —algo raro, hoje em dia, nesta cidade.
    A garotada se alinhava como uma legião romana. O professor de educação física, algo bonachão, nos ensinava duas posições: sentido e descansar. Moleza.
    Juro que eu me esforçava para honrar a pátria, mas teve um dia em que a minha perna coçou muito. Bastardo que sou, não hesitei em me agachar e arranhar a pele.
    Fui levado à diretoria para esclarecimentos. Não entendi na hora. Ainda não entendo.
    Ilustração da coluna Selva de Pedra
    Fabrízio Lenci
    Marcos Nogueira
    Jornalista, autor do blog Cozinha Bruta e da coluna Selva de Pedra, da revista sãopaulo, que aborda com bom humor temas do passado que ajudam a contar a história da maior cidade do país.

      Após conexões, número de passageiros dobra na linha 5-lilás do metrô em SP, Agora

      Alta ocorre após primeira semana com horário normal nas interligações

      Jéssica Lima
      SÃO PAULO
      O número de passageiros que embarcam na linha 5-lilásdobrou desde a semana passada, quando as estações Santa Cruz e Chácara Klabin, que fazem a integração com as linhas 1-azul e 2-verde, começaram a operar no horário comercial, das 4h40 à meia-noite. Inauguradas em 28 de setembro, elas só começaram a funcionar plenamente no dia 13 de outubro.
      Aumenta o número de usuários da linha 5-lilás após inauguração das estações Santa Cruz, Chácara Klabin e Hospital São Paulo - Rivaldo Gomes/Folhapress
      Até então, a única conexão da linha 5-lilás era na estação Santo Amaro, com a linha 9-esmeralda da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos). Agora, a linha liga o Capão Redondo, extremo da zona sul, à estação Chácara Klabin.
      Entre os dias 15 e 19 de outubro, a linha recebeu uma média diária de 463 mil passageiros. Na terceira semana de setembro, antes da inauguração das conexões, a média foi de 231 mil diários.
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      No caso da estação Santa Cruz, eram feitos 62 mil embarques por dia na terceira semana de setembro. Na semana após o início das conexões em horário comercial, esse número subiu para 105 mil, um aumento de 69%. Na Chácara Klabin, foram 7.400 mil no mês passado ante 47,9 mil, alta de 547%.
      Faltando apenas a estação Campo Belo, a Via Mobilidade, concessionária responsável pela linha-5, estima que quando todas as 17 estações estiverem operando e as integrações completadas, 850 mil pessoas embarquem diariamente. Por meio de nota, disse que está “avaliando a evolução da demanda e adequando a estrutura operacional conforme a necessidade”.
      O engenheiro Horácio Augusto Figueira, especialista em transportes, afirma que o aumento era esperado. “Essas novas conexões podem ajudam a desafogar os corredores de ônibus Ibirapuera e Santo Amaro.” Segundo Figueira, é importante analisar se esses 200 mil passageiros a mais representam um aumento real ou se são antigos usuários que embarcavam em estações diferentes.
      Os usuários que moram ou trabalham na zona sul da capital elogiaram o ganho de tempo com a nova transferência da linha 5-lilás para as linhas 1-azul e 2-verde.
      A enfermeira Sandra Xavier mora em Itaquaquecetuba (Grande SP) e trabalha em Santo Amaro (zona sul). “Levava três horas até o trabalho. Ia de trem para o Brás, pegava a linha 3-vermelha, a 1-azul e a 2-verde até a estação Brigadeiro e então ia de ônibus sentido Borba Gato. Agora vou de metrô e gasto uma hora e vinte minutos a menos.”
      A estudante Ester Batista, 15 anos, mora no Campo Limpo (zona sul) e estuda na Consolação (centro). Ela usava o ônibus da sua casa até a avenida Paulista (centro) e embarcava no metrô até a Consolação, levando cerca de uma hora e meia. “Agora vou até o metrô Campo Limpo andando, desço na Chácara Klabin e faço a transferência para a Consolação. Eu sempre chegava atrasada ao curso e agora chego adiantada.”
      Do Capão Redondo ao Bom Retiro (centro), o tecelão Luiz Carlos de Souza, 62 anos, gastava cerca de uma hora e meia por dia. “Eu pegava um ônibus até Santo Amaro, de lá embarcava no trem da linha 9 até Pinheiros e descia na Luz. Ganhei meia hora e melhorou a locomoção.”
      AGORA