quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Centrão faz fila para o bote salva-vidas de Bolsonaro, FSP

Valdemar, Kassab e companhia preparam entrada na base aliada do presidenciável

Da esq. para a dir., Gilberto Kassab, Jair Bolsonaro e Valdemar Costa Neto
Da esq. para a dir., Gilberto Kassab, Jair Bolsonaro e Valdemar Costa Neto - Fotos Pedro Ladeira/Folhapress
No grande naufrágio partidário de 2018, os primeiros da fila para o bote salva-vidas são Roberto Jefferson, Pastor Everaldo, Valdemar Costa Neto e Gilberto Kassab. Os caciques do centrão, que sustentaram governos de todas as cores, decidiram se alinhar a Jair Bolsonaro (PSL) em busca de sobrevivência.
PSD não é de esquerda, nem de direita, nem de centro (como definiu Kassab ao criar a legenda), mas já está afinado com o radicalismo de Bolsonaro. O fundador da sigla disse nesta quarta (17) que, se o candidato do PSL for eleito, “evidentemente” apoiará seu governo no Congresso.
A condição é que as pautas tenham convergência com as crenças do PSD, mas a adaptação não será muito difícil. Kassab foi ministro de Dilma Rousseff, pediu demissão para apoiar o impeachment e, em menos de um mês, pegou as chaves de outro ministério com Michel Temer.
O PR não quis apoiar Bolsonaro no primeiro turno, mas agora planeja um consórcio com o presidenciável. Caso sua eleição se confirme, o partido de Valdemar estará na base governista e lançará ao comando da Câmara o deputado Capitão Augusto, um policial que diz que o regime militar não foi uma ditadura.
“Houve alternância no poder, o Congresso manteve-se aberto, o Judiciário manteve-se aberto e até a imprensa tinha liberdade”, disse, em 2015. Quatro mentiras, se considerarmos que a ditadura aposentou ministros do STF e tutelou o tribunal.
O time pró-Bolsonaro tem ainda a companhia do PTB de Roberto Jefferson, do PSC do Pastor Everaldo e de outros partidos que acreditam farejar vitória no campo do PSL.
A corrida atrás de um candidato que se beneficiou do derretimento da política soa como ironia, mas não surpreende. Se for eleito, Bolsonaro precisará dessas siglas para aprovar uma pauta especialmente amarga de equilíbrio das contas públicas.
Embora o candidato prometa não distribuir cargos, tudo parece negociável. Há dois dias, Bolsonaro pediu à bancada ruralista uma indicação para o Ministério da Agricultura.

Uma nova conversa sobre as fake news do WhatsApp, FSP , Roberto Dias

Mentiras óbvias sobre Bolsonaro e Haddad enganam muita gente

Não, Jair Bolsonaro não foi eleito o político mais honesto do mundo. Tampouco propôs nova imagem de Nossa Senhora. Nem Fernando Haddad quis legalizar a pedofilia. Mentiras óbvias como essas enganam muita gente; imagine então as menos evidentes, como a lista fictícia de ministros pop do petista.
O submundo do WhatsApp é o grande fenômeno desta campanha. Seu efeito parece ainda mais perverso do que o do Facebook nos EUA.
Marqueteiros e líderes partidários repetem que a TV é decisiva porque isso lhes dá poder. Quem caiu nesse conto perdeu o bonde. Os brasileiros passam mais horas em redes sociais do que a média mundial. As mensagens no celular multiplicam-se por pirâmide que não surgiu do nada.
Está claro que o bolsonarismo grama nesse pântano há mais tempo. O petismo aprende tardiamente.
Quem até outro dia falava que a imprensa distorce tudo agora suplica aos eleitores que se informem pelo jornalismo profissional. Quem aponta o dedo para a mídia tradicional e diz que ela “normalizou” Bolsonaro não está entendendo nada.
A lorota bolsonarista sobre as urnas eletrônicas presta-se a serviço específico. É cortina de fumaça diante da discussão que realmente deveria importar à Justiça eleitoral. Três pessoas presidiram o TSEneste ciclo: Gilmar MendesLuiz Fux Rosa Weber. Nenhum teve coragem de agir de verdade contra as fake news.
Propostas como limitar a capacidade de replicação das mensagens são apenas pequenos paliativos. O ponto principal continua sendo evitado: o WhatsApp claramente não pode mais ser tratado como um aplicativo de conversas sempre privadas. É preciso poder rastrear as mensagens. O anonimato tem de acabar.
Quem publica (des)informação num meio de comunicação de larga escala, como é o caso, deve ter responsabilidade jurídica sobre o que diz. Já passou da hora de o poder público exercer seu papel —não será nem o WhatsApp nem os candidatos que consertarão o problema.