quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Os militares e a política, Opinião OESP

O Estado de S.Paulo
18 Outubro 2018 | 05h00
Nas eleições deste ano, notou-se uma presença acentuada de militares reformados concorrendo a cargos políticos, na esfera estadual e na federal, no Legislativo e no Executivo. O destaque tem sido o capitão reformado Jair Bolsonaro, candidato pelo PSL, com sua expressiva votação no primeiro turno. Ainda que esteja há muito tempo fora das Forças Armadas - deixou o Exército em 1988, ano em que foi eleito vereador do município do Rio de Janeiro, e desde 1991 ocupa ininterruptamente uma cadeira na Câmara dos Deputados -, Bolsonaro construiu e mantém sua identidade política vinculada à sua passagem no Exército.
Ao mesmo tempo que há maior participação de ex-militares na vida político-partidária, deve-se reconhecer que as Forças Armadas têm se mantido exemplarmente isentas nas questões eleitorais, numa demonstração de arraigada maturidade institucional. Não se viu, por exemplo, nenhuma ação político-partidária oriunda de quartéis ou algum movimento organizado por militares da ativa.
O alto-comando militar foi, a todo momento, muito enfático na isenção das Forças Armadas em questões políticas. Antes do primeiro turno, o comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, fez uma firme defesa do papel institucional das Forças Armadas, em entrevista ao Estado. “Nós somos instituição de Estado que serve ao povo. Não se trata de prestar continência para A ou B. Mas, sim, de cumprir as prerrogativas estabelecidas a quem é eleito presidente”, disse Villas Bôas.
Quando questionado se Jair Bolsonaro era o candidato das Forças Armadas, o comandante do Exército não titubeou: “Não é candidato das Forças. As Forças Armadas são instituições de Estado, de caráter apolítico e apartidário”.
Mais recentemente, em conversa com Eliane Cantanhêde, colunista do Estado, o comandante da Marinha, o almirante de esquadra Eduardo Leal, frisou a distância entre o papel institucional das Forças Armadas e as questões eleitorais. “O candidato ‘x’ ou ‘y’ pode ter muitos eleitores nas Forças Armadas, mas as Forças Armadas não têm candidato. Repito: as Forças Armadas, particularmente a Marinha do Brasil, não têm candidato. Não há nenhuma atividade, nenhuma campanha interna, nenhuma ação que possa nos associar a um dos dois candidatos. Estamos, institucionalmente, neutros”, disse Leal.
São muito oportunas essas manifestações dos comandantes do Exército e da Marinha, pois reforçam uma ideia central de todo Estado Democrático de Direito: a organização do poder político é tarefa dos civis, e não dos militares. E essa premissa não é modificada pela presença de militares reformados na política. Justamente por serem reformados, já não detêm nenhum poder sobre as instituições militares. Eles são iguais aos outros candidatos sem histórico militar - e é por isso que podem concorrer, num Estado Democrático de Direito, a cargos políticos.
As Forças Armadas são enfáticas ao rejeitarem qualquer hipótese de futura intervenção militar, como se a presença de militares reformados na política pudesse representar um primeiro passo para a tomada do poder civil por militares. “Não há ambiente nem condições para qualquer tipo de golpe, muito menos para um golpe militar. As instituições são fortes, a iniciativa privada é forte, a mídia é forte e as Forças Armadas cumprem suas atribuições dentro da Constituição”, afirmou o comandante da Marinha.
A neutralidade das Forças Armadas nas questões políticas não representa apenas uma garantia de que o poder civil está, de fato e de direito, nas mãos dos civis. Serve também de exemplo para outros órgãos do Estado, influenciados muitas vezes por voluntarismos fora de suas competências institucionais. Por exemplo, nos últimos anos, membros do Ministério Público, que estavam em plena atividade, alguns deles comandando importantes operações, tiveram denodada atuação pública com fins políticos.
Em tempos de polarizações, radicalismos e paixões exacerbadas, as Forças Armadas exercem, com seu profundo respeito aos cânones republicanos, um papel muito importante para a estabilidade e serenidade do País.

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 Editorial Estadão 

Janaína prega extinção do fundo partidário e candidaturas avulsas, OESP

A professora de Direito Penal da Universidade de São Paulo (USP) Janaína Paschoal entende que uma reforma política de verdade se apoia em dois pilares: o fim do financiamento de campanhas com dinheiro público e a permissão de candidaturas independentes. De acordo com a lente da Faculdade de Direito da USP, que ajudou os colegas Hélio Bicudo e Miguel Reale Júnior no projeto de impeachment de Dilma Rousseff, “não foi só o PT que caiu” na eleição que a consagrou. “Caíram muitos daqueles que acreditavam que podiam tudo. Aqueles que se julgavam deuses. O povo está mostrando que só há um Deus. Os que conseguiram se manter, espero, aprenderão a respeitar quem dá a palavra final”, disse na edição desta semana da série Nêumanne Entrevista neste blog. Ela lembrou que Michel Temer “assumiu porque Dilma o convidou a compor a chapa com ela. Simples assim”. E ponderou: “Mesmo com todos os problemas surgidos, digo com tranquilidade que faria tudo de novo. Acredito, verdadeiramente, que o impeachment foi a melhor coisa que aconteceu ao nosso país. Ali se iniciou a cultura da responsabilização de quem precisa ser responsabilizado”. Tendo recusado ser vice do candidato favorito à eleição presidencial, Janaína observou: “Bolsonaro tem muito apoio popular, penso que poderá valer-se disso para fazer as reformas necessárias. O grande cuidado que ele precisa tomar é ter sempre em mente que ele está sendo eleito por uma pluralidade e para essa pluralidade deve governar – brancos, negros, pobres, ricos, homossexuais, heterossexuais, mulheres, homens, até as crianças dizem votar nele”.
Janaína Conceição Paschoal, nascida em São Paulo em 25 de junho de 1974, é advogada e professora da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), no Largo de São Francisco, na qual obteve o grau de doutora em Direito Penal em 2002, sob orientação de Miguel Reale Júnior, tendo defendido a tese “Constituição, Criminalização e Direito Penal Mínimo”, e se especializado em pesquisa do Direito Penal Econômico. Tornou-se nacionalmente conhecida como uma das autoras do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff, juntamente com seu orientador e outro colega das Arcadas, o promotor Hélio Bicudo, fundador do PT, tendo participado ativamente na tramitação do processo na Câmara dos Deputados e no Senado. Na eleição de 2018, ela obteve mais de 2 milhões de votos para a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, a maior votação de deputado, seja federal ou estadual, da História do Brasil, superando  Eduardo, filho de Jair Bolsonaro, que foi na mesma eleição o deputado federal mais votado da história. O total de seus votos também superou os números obtidos por 10 dos 13 governadores eleitos no primeiro turno, entre eles Paulo Câmara, de Pernambuco, com 1.918.219 votos, e oito dos 13 candidatos à Presidência da República: Cabo Daciolo (Patriota), Henrique Meirelles (MDB), Marina Silva (Rede), Álvaro Dias (Podemos), Guilherme Boulos (PSOL), Vera Lúcia (PSTU), Eymael (DC) e João Goulart Filho (PPL).
Para Janaína, “promover um processo de impeachment não é algo feliz, por mais justo e necessário que ele seja.” Foto: Weslei Marcelino/Reuters
Nêumanne entrevista Janaína Paschoal
Nêumanne – Depois de todo o tempo que passou desde a sua atuação no impeachment de Dilma Rousseff, a senhora já conseguiu digerir a violação da Constituição pela conspiração dos senadores Renan Calheiros e Kátia Abreu, com a cumplicidade do então presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Ricardo Lewandowski, para permitir que, ao arrepio do artigo 52, a ex-presidente pudesse desempenhar um cargo público?
Janaína – Eu não posso afirmar que tenha havido algum tipo de acordo a ensejar o tal fatiamento do julgamento. O que posso dizer é que, se houve, eu não fiz parte do suposto ajuste. Penso que um evento histórico de tamanha magnitude precisa ser analisado sob o olhar do momento em que ocorreu e sob o olhar atual. Pensando pela perspectiva do momento, digo, sem constrangimentos, que eu fiz o que me competia, pedi o afastamento da presidente do cargo, bem como a perda de seus direitos políticos, como prevê a Constituição federal. Obtive parte do que pedi, justamente a parte principal, que foi o afastamento. Naquela oportunidade, fiquei imensamente aliviada. Como advogada, eu me senti vitoriosa. Eu cheguei a ouvir parlamentares dizerem que se não fosse o fatiamento votariam a favor da presidente. Então, para mim, o que importava era tirá-la do poder, afastando todos os perigos que assombravam o nosso país. Por isso fiquei muito contrariada quando partidos e movimentos apresentaram recurso solicitando a anulação do julgamento, pois não havia como anular uma parte sem comprometer o todo. Avaliando a situação, agora, penso que foi muito bom os fatos terem ocorrido como ocorreram. A ex-presidente criou o discurso fictício do golpe, vociferou pelo mundo todo que haveria de ser julgada pelas urnas. Pois bem, no dia 7 de outubro ela foi julgada pelas urnas e, mais uma vez, perdeu. Graças ao fatiamento, o povo pôde mostrar que o impeachment foi mesmo um processo que expressou o desejo da esmagadora maioria da nossa sociedade.
 N – O desempenho do principal beneficiário do impeachment, que resultou de seu trabalho em parceria com seus colegas Hélio Bicudo e Miguel Reale Júnior, Michel Temer, que era vice de Dilma e a substituiu, surpreendeu-a, frustrou-a ou a senhora é indiferente ao que aconteceu?
J – Quem votou no presidente Michel Temer foram os petistas. Os mesmos petistas que, repentinamente, passaram a entoar o “Fora Temer”. Antes, durante e depois do processo de impeachment, eu jamais tive qualquer contato com o presidente Temer. Pelas regras constitucionais, em caso de impeachment deve assumir o vice-presidente. Ele assumiu porque Dilma o convidou a compor a chapa com ela. Simples assim. Mesmo com todos os problemas surgidos, digo com tranquilidade que faria tudo de novo. Acredito, verdadeiramente, que o impeachment foi a melhor coisa que aconteceu ao nosso país. Ali se iniciou a cultura da responsabilização de quem precisa ser responsabilizado.
Janaína em 2017, em ato de apoio à Lava Jato, pelo fim do “foro privilegiado” e contra o sistema de voto em lista fechada. Foto: Marcelo Arbex/Estado
N – Lembro-me de que a senhora chegou a se emocionar ao longo do processo de impeachment de Dilma. Qual foi agora seu sentimento ao receber a notícia da derrota da presidente que a senhora ajudou a derrubar numa eleição para ocupar duas cadeiras no Senado e com os institutos dando-a como líder nas pesquisas de intenção de votos?
J – Poucas pessoas entenderam meus momentos de emoção. Promover um processo de impeachment não é algo feliz, por mais justo e necessário que ele seja. Qualquer pessoa que ama o seu país torce pelo sucesso e pela correção de seus líderes. Por outro lado, se a oposição tivesse feito seu trabalho, eu não precisaria ter passado por tudo o que passei. Não foi nada fácil enfrentar tantos obstáculos. O resultado das urnas relativamente à ex-presidente Dilma, bem como a outros nomes tradicionais do PT e mesmo de partidos aliados, a meu ver, mostrou o amadurecimento do povo brasileiro, que é inteligente, sensível e merece ser respeitado. Quando as pesquisas indicavam que os nomes de sempre sairiam vencedores, o povo mostrou que está tomando consciência de seu enorme poder. Foi um bom sinal. Espero que os eleitos tenham dimensão de sua responsabilidade.
N – A senhora acredita que possa haver alguma relação entre a citada derrota de Dilma Rousseff e o prestígio popular que levou a senhora, até então uma anônima professora da Faculdade de Direito da USP, ao recorde histórico de 2 milhões de votos para um deputado estadual, em qualquer unidade da Federação, no Brasil?
– Certamente a votação histórica que recebi e a derrota da ex-presidente e outros nomes tradicionais da política estão diretamente relacionadas ao processo de impeachment. Não tenho dúvidas disso. Em todas as cidades visitadas, eu ouvi agradecimentos pelo trabalho no processo. Por outro lado, diante das pesquisas, cidadãos mineiros telefonavam pedindo ajuda para seu Estado não levar Dilma Rousseff novamente ao poder. Os fatos estão umbilicalmente relacionados.
Janaína chegou a ser cotada para se candidatar a vice na chapa de Bolsonaro, do PSL, mas recusou. Foto: Ricardo Moraes/Reuters
N – Antes de se candidatar a deputada estadual, a senhora chegou a ser cogitada para ser vice na chapa do candidato do PSL à Presidência da República, Jair Bolsonaro, mas isso terminou não acontecendo. O que a impediu de seguir aquele outro caminho?
– Conheci o presidenciável no dia da Convenção do PSL, no Rio de Janeiro, quando fiz um discurso polêmico, muito embora tenha dito o que acredito precisava mesmo ser dito. Entre aquele dia e a decisão final houve outros encontros, telefonemas e trocas de mensagens. Meu contato com ele foi muito bom. Trata-se de uma pessoa educada e que sabe ouvir. Neste momento da minha vida, eu não teria condições de me mudar de vez para Brasília. Fiz propostas intermediárias, mas a equipe dele entendia que uma mudança total seria necessária. Em nossas conversas, ele também se mostrou muito incomodado com as ameaças que vinha recebendo. Eu senti que ele estava preocupado comigo. Infelizmente, os temores dele tinham razão de ser, haja vista o grave atentado sofrido. Em nosso último diálogo antes de eu anunciar que não seria candidata à Vice-Presidência, chegamos a falar da importância de ter o general Mourão como vice. Foi uma decisão amadurecida pelas duas partes.
N – Quando se toma conhecimento do impressionante total de votos que a senhora recebeu, que superou, por exemplo, o recorde do próprio filho do candidato hoje favorito à Presidência da República, Eduardo Bolsonaro, a primeira pergunta que vem à mente é por que a senhora não disputou uma cadeira na Câmara dos Deputados, em vez de uma vaga na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo?
J – Pelo mesmo motivo que me impediu de concorrer à Vice-Presidência. Neste momento da minha vida, não posso me mudar para Brasília. Eu não conseguiria ser uma deputada federal pela metade. Nem uma senadora. Na condição de deputada estadual posso seguir falando o que entendo seja preciso falar pelo País, sem abandonar minha família, que ainda precisa muito de mim. Tenho a certeza de que ajudarei muito o Brasil, a partir de São Paulo. Se ajudei sem cargo, que dirá com cargo! (rs)
N – O que, a seu ver, provocou as férias forçadas de muitos figurões da velha política, antes praticamente insubstituíveis em seus postos com prerrogativa de foro, e uma súbita inovação nas eleições proporcionais federais e estaduais de 8 de outubro?
J – A manifestações de 2013, 2015, 2016, somadas ao processo de impeachment e à Operação Lava Jato, mostraram à população que nós podemos mais. Que não precisamos nos curvar aos poderosos de sempre. É nítido que não foi só o PT que caiu. Caíram muitos daqueles que acreditavam que podiam tudo. Aqueles que se julgavam deuses. O povo está mostrando que só há um Deus. Os que conseguiram se manter, espero, aprenderão a respeitar quem dá a palavra final.
8 – A renovação da Câmara – 52% – foi a maior em 20 anos, mas, por outro lado, mesmoassim a maior bancada é do PT e ainda é bastante numerosa a participação dos partidos que formaram o tal Centrão, que protagonizou a fisiologia durante o governo Temer. Como será possível ao futuro presidente obter, nesse ambiente, um mínimo de governabilidade?
Espero que o novo presidente seja Jair Bolsonaro. O PSL terá uma bancada forte e mesmo parlamentares de outros partidos sabem bem o que sofremos para chegar até aqui. Creio que as reformas necessárias para o desenvolvimento do País terão apoio. Se não tiverem, caberá ao presidente governar com o povo, sobretudo quando exigências inadequadas forem feitas. Se alguém exigir mensalinho, mensalão, cargo, para votar o que é importante e bom para a população, o presidente precisará vir a público e entregar quem pediu e o que pediu. Pode parecer exagerado, mas não vejo outro caminho. Bolsonaro tem muito apoio popular, penso que poderá valer-se disso para fazer as reformas necessárias. O grande cuidado que ele precisa tomar é ter sempre em mente que ele está sendo eleito por uma pluralidade e para essa pluralidade deve governar – brancos, negros, pobres, ricos, homossexuais, heterossexuais, mulheres, homens, até as crianças dizem votar nele. É muito bonito ver esse carinho. Eu peço a Deus que ele consiga atender parte dessas muitas expectativas. Espero também que as pessoas estejam cientes de que não será fácil e que o País tem um caminho árduo pela frente. O importante, agora, é mudar o rumo, ou pôr o País no rumo.
N – Que modificações profundas na estrutura apodrecida da velha política brasileira serão provocadas pelo processo inusitado da campanha da qual a senhora saiu como protagonista?
J – A minha eleição e a de Bolsonaro, que espero ocorra no próximo dia 28, são provas de que é possível fazer uma campanha sem muito dinheiro. Não sei qual a opinião dele, mas eu defendo acabar com fundo eleitoral e com fundo partidário. Acabar totalmente. Assim, só vai para a política quem realmente tem o desejo de servir. Deixará de ser vantajoso ser dono de partido. Também sou uma defensora convicta da possibilidade de um cidadão concorrer sem se filiar a qualquer sigla partidária, mormente quando se trata de cargo majoritário. Fala-se muito em reforma política, mas essas duas medidas seriam revolucionárias.
N – Que papel a senhora pretende desempenhar em sua atuação na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo?
J – Tantos quantos forem possíveis. Legislar, fiscalizar, ajudar a formar redes, fomentar o debate mediante audiências públicas, ser um veículo de conciliação… Estou muito animada para trabalhar e honrar cada um dos vários votos de confiança que recebi.

Generais eleitos querem filho de Bolsonaro na chefia da Câmara e impeachment de ministros do STF, FSP

Coordenador das candidaturas de militares das Forças Armadas e deputado eleito por São Paulo, o general Roberto Sebastião Peternelli Júnior (PSL) afirmou que os partidos com as maiores bancadas na Câmara em janeiro – o PSL – e no Senado – o MDB – devem presidir as respectivas Casas. Ele defendeu a indicação do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) para a presidência da Câmara. Filho do presidenciável Jair Bolsonaro, Eduardo foi reeleito com 1,8 milhão de votos. 
Ao mesmo tempo, o general Eliéser Girão Monteiro Filho, deputado eleito pelo PSL no Rio Grande do Norte, defendeu o impeachment e a prisão de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) responsáveis pela libertação de políticos acusados de corrupção, como o ex-deputado José Dirceu (PT) e os ex-governadores do Paraná Beto Richa(PSDB) e de Goiás Marconi Perillo (PSDB). Segundo ele, “o impeachment de vários ministros” se insere em um “plano de moralização das instituições da República”
General
O general Roberto Sebastião Peternelli Júnior (PSL), deputado eleito por São Paulo Foto: NILTON FUKUDA/ESTADÃO
Em relação à presidência da Câmara, para o general Peternelli Júnior, o fato de Eduardo ser filho do candidato Jair Bolsonaro não seria um problema. “Família não pode ajudar, mas também não pode atrapalhar.” Peternelli saiu aspirante-a-oficial na turma de 1976, da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), onde foi contemporâneo de Bolsonaro (turma de 1977) e do general Hamilton Mourão (turma de 1975), candidato a vice-presidente na chapa. É amigo do general Eliéser Monteiro Girão.
A decisão de indicar Eduardo Bolsonaro para presidir a Câmara foi fechada em reunião da bancada paulista do PSL – o partido elegeu dez deputados federais no Estado. “Teremos a maior bancada em janeiro e temos o deputado mais bem votado, Eduardo Bolsonaro. Mas quem vai decidir isso será o Jair”, disse o general.
A disposição de fazê-lo presidente da Casa foi confirmada pelo senador eleito Major Olímpio (PSL-SP). “Por meritocracia, seria o Eduardo Bolsonaro, que teve a maior votação.” Olímpio admitiu, no entanto, que há a possibilidade de a sigla indicar o deputado eleito Luciano Bivar (PE), fundador do PSL para o cargo. O partido elegeu 52 deputados, mas tem a expectativa de que mais deputados resolvam aderir à legenda até o fim do ano, fazendo sua bancada ultrapassar a do PT, que obteve 56 cadeiras na Câmara. 
Assembleia. Além dos deputados federais eleitos, os 15 estaduais do PSL participaram do encontro, entre eles o capitão reformado do Exército Castelo Branco. Na semana passada, Castelo Branco afirmou que o nome da deputada estadual Janaína Paschoal (PSL-SP) deve ser indicado pelo partido para presidir a Assembleia Legislativa de São Paulo. “Ela deve ser a primeira mulher a presidir a Casa”, afirmou o capitão.
O PSL fez 15 deputados estaduais em 2018, o que significa a maior bancada da Assembleia Legislativa na próxima legislatura. Janaína Paschoal recebeu mais de 2 milhões de votos e foi a deputada estadual mais votada da história. Segundo Olímpio, que é ainda o presidente do PSL paulista, a escolha se deu por unanimidade na bancada. 
“Os mais de 2 milhões de votos dela arrastaram junto mais da metade da bancada, já que a cada 210 mil votos entrou mais um parlamentar. Ela é madrinha da maioria dos deputados”, disse Olímpio. Ainda segundo ele, a tradição da Casa também é de que a maior bancada faça a indicação do presidente. 
Salários. Além de se preocupar com a eleição dos presidentes das duas Casas do Congresso, a bancada do PSL terá de enfrentar uma pauta delicada logo no início da próxima legislatura. “Teremos uma pauta difícil no começo do governo”, afirmou o general Sebastião Peternelli, ao se referir às decisões que o futuro presidente deve tomar sobre o aumento do salário mínimo, o reajuste do funcionalismo público e manutenção ou não do subsídio para o diesel aos caminhoneiros.
“Não adianta você conceder um aumento que não há viabilidade de ser executado. Há uma defasagem de 15 anos no soldo. A caserna vai compreender. Não podemos pensar, o foco do presidente é o bem comum, o Brasil. Em uma primeira etapa, o aumento que foi dado ao funcionalismo civil deve ser dado aos militares. Mas a decisão é do próprio Bolsonaro.”
Diante da perspectiva de invasões de propriedades públicas e privadas durante manifestações, o general afirmou defender que essas ações – tanto no campo quanto na cidade – sejam tipificadas como terrorismo, como propõe Bolsonaro. “É preciso cumprir a lei”, disse. “Se a legislação atual não está sendo suficiente para inibir essas invasões, você precisa mudar para que a lei branda não a estimule as invasões. É preciso dar tranquilidade ao homem do campo”, afirmou. 
O general defendeu, por fim, que o Congresso vote e regulamente a prisão de réus após a condenação em segunda instância, tema ainda em discussão no Supremo Tribunal Federal. 

Impeachment de ministros do STF

“Não tem negociação com quem se vendeu para o mecanismo”, escreveu em sua conta no Twitter o general Eliéser Girão Monteiro Filho, em referência à série da Netflix sobre a Lava Jato. “Destituição e prisão”, completou. Ao ser questionado pelo Estado, o general ratificou o que disse: “É isso. O Senado tem de cumprir o papel dele.” O impeachment de ministros do Supremo deve ser votado pelo Senado e aprovado por dois terços da Casa. Ele é possível em caso de crime de responsabilidade, como proferir julgamento quando suspeito na causa ou exercer atividade político-partidária.
General
O general Eliéser Girão Monteiro Filho Foto: REPRODUÇÃO

O militar citou ainda os casos dos ex-governadores tucanos soltos recentemente por decisão do ministro Gilmar Mendes (STF). “Aí o cara é solto pelo ministro do Supremo. E você sabe que não manda soltar por acaso”, disse. Ele defendeu ainda que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso pela Lava Jato, seja retirado de sua cela na Superintendência da Polícia Federal (PF) em Curitiba, e enviado para um presídio comum.