domingo, 9 de dezembro de 2012

Indústria tentará evitar aumento real de salários


MARCELO REHDER - O Estado de S.Paulo
Os aumentos de salários acima da inflação devem continuar pressionando o custo da indústria, apesar do crescimento anêmico do Produto Interno Bruto (PIB) este ano. Em 2013, dizem os especialistas, a tendência de alta nos ganhos salariais será sustentada pela manutenção de fatores como o desemprego baixo e a escassez de mão de obra qualificada, em um cenário de crescimento econômico maior que o de 2012. A indústria, porém, reclama de perda de competitividade e fala em trocar homens por máquinas nas linhas de produção.
"Existe uma competição muito acirrada no mercado de trabalho que obriga a indústria a conceder reajustes mais fortes para não perder mão de obra já treinada para o setor de serviços", diz o economista Caio Machado, da LCA Consultores.
O diretor de competitividade e tecnologia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), José Ricardo Roriz Coelho, afirma que a situação de boa parte da indústria não permite mais aumentos reais de salário. Ele alega que as empresas não conseguem absorver novos aumentos de custo nem repassá-los aos preços por causa da concorrência internacional.
"Existe um limite para isso, e acho que nós chegamos a esse limite", diz Roriz Coelho. "Quando o salário começa a aumentar muito, a saída é investir em equipamentos que usam menos mão de obra."
Na semana passada, o ex-presidente do Banco Central, Gustavo Franco, hoje no comando da Rio Bravo, chamou a atenção para a situação de empresas que estão passando por dificuldades para gerar receita, o que num ambiente de alta carga tributária pode elevar a taxa de desemprego no curto prazo.
"Há empresas enforcadas. Há indício de que o mercado de trabalho tem de se ajustar para arrumar a economia. E é provável que isso poderá ocorrer no início do próximo ano", diz o economista.
Nem em pesadelos os sindicalistas admitem abrir mão do aumento real dos salários neste momento. Para o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Miguel Torres, eventuais demissões em massa seriam um tiro no pé das próprias empresas e da economia brasileira como um todo.
O sindicalista argumenta que o Brasil se deu bem em relação a outros países por ter combatido a crise internacional com aumento de emprego e salário. "Quem recorreu à automatização e diminuição de postos de trabalho está hoje numa crise da qual não sai tão cedo."
Os ganhos salariais estão batendo recorde este ano. Levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese)mostra que 96,5% dos reajustes no primeiro semestre ficaram acima da inflação. Foi o melhor desempenho desde 1996, quando o estudo começou a ser feito. A média de ganho real, também recorde, ficou em 2,23%.
Os ganhos reais em torno de 2% foram mantidos no segundo semestre, puxados pelas negociações de grandes categorias. Os 750 mil metalúrgicos da Força Sindical no Estado de São Paulo, por exemplo, receberam reajuste salarial de 8% no mês passado, que representou aumento real de 2%. "Não fossem os aumentos reais de salário, o PIB ficaria ainda pior", diz Torres, referindo-se às projeções do mercado que indicam crescimento na faixa de 0,8% a 1% para este ano.
Sem muita margem para corte de custos, as empresas vão acabar tendo de repassar o aumento dos salários para os preços, avalia o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale. O movimento é favorecido pela valorização do dólar em relação ao real, que acumula ganho de 12% no ano.
"O câmbio ao redor de R$ 2, indo para um patamar de R$ 2,10 abre espaço para repasses de custo sem perda de vendas para a concorrência internacional, já que o preço do produto brasileiro, em dólares, ficou mais barato."/COLABOROU RICARDO LEOPOLDO

'O mundo inteiro vai ter juro muito baixo por uma década'


LEANDRO MODÉ - O Estado de S.Paulo

O juro baixo no Brasil veio para ficar e traz como efeito colateral o fortalecimento do dólar, que caminha para R$ 2,20. A crise internacional vai demorar a se resolver e exigirá taxas de juros inferiores à inflação no mundo todo durante uma década. E o crescimento econômico brasileiro só vai acelerar com reformas profundas.
Esse é, em resumo, o diagnóstico de Luís Stuhlberger, gestor de recursos de terceiros mais respeitado do País, para as economias global e nacional. Para profissionais como ele, é um cenário "muito chato". Para investidores comuns, é a comprovação de que não há milagre para multiplicar o dinheiro no curto prazo. "Para conseguir algum rendimento, será preciso alongar um pouquinho (os prazos das aplicações)", diz Stuhlberger. A seguir, os principais trechos da entrevista ao Estado.
PIBINHO
"Em agosto de 2010, escrevi um relatório de gestão que dizia que o modelo de desenvolvimento do Brasil desde 1989, após a nova Constituinte, era baseado na premissa CCC: crédito, consumo e commodities. Foi um modelo, aliás, que deu certo por um tempo. Mas não adianta agora, quando entra em colapso, querer achar culpados de curto prazo. Sempre achei que esse modelo ia dar errado. Houve alguns erros de origem e os problemas demoram para aparecer. Economia não é algo que você planta agora e o resultado vem logo a seguir. A União Soviética, por exemplo, levou 70 anos para entrar em colapso. Durante 40 ou 50 anos, muitos achavam que era bom."
VEM DE LONGE
"Como éramos um país com alto nível de sonegação e informalidade do emprego, o governo começou a taxar consumo e produção. Ir em cima dos 5 mil maiores contribuintes é fácil. Mas um país como o Brasil não pode pagar 35% do PIB de imposto. Aqui, tributos sobre produção e consumo, incluindo o Imposto sobre Importações, equivalem a 15% do PIB. A média mundial está em torno de 10%. Nos EUA, são 4%. Ou seja, esse modelo que tributa produção e consumo é altamente ineficiente. Causa distorção na cadeia produtiva. Isso se chama falta de competitividade. É uma herança maldita que a presidente Dilma recebeu e está começando a mexer com desonerações. Afinal, o que é desoneração? Tirar imposto de produção e consumo."
ESCOLHA DE SOFIA
"Esse conjunto de juro negativo, câmbio desvalorizado e protecionismo é resultado de uma escolha do governo entre o ruim e o péssimo. O ideal seria poder escolher entre o bom e o ótimo. Mas não temos essa possibilidade hoje. Nas condições atuais, é melhor protecionismo do que deixar a indústria quebrar."
CASTELO E AREIA MOVEDIÇA
"Construímos um país que tem, hoje, características de consumo, serviços financeiros e um segmento imobiliário de uma nação com PIB per capita de US$ 15 mil/ano. Mas temos ensino, infraestrutura e saúde de um país com renda per capita de US$ 5 mil/ano. Isso significa que há muitas coisas disparatadas. Em outras palavras, a história do Brasil hoje é um castelo construído sobre areia movediça. É muito difícil saber, daqui a três ou quatro anos, o que vai dar certo. Não sei se vamos pavimentar a areia movediça ou se o castelo vai ruir em cima da areia movediça. Hoje temos pelo menos uma vantagem: há um diagnóstico. A presidente Dilma entende esse diagnóstico. Diria que o governo está no caminho certo. O problema é a forma. A mudança em energia, por exemplo, foi feita abruptamente."
MEIO CHEIO, MEIO VAZIO
"Precisamos lembrar que, bem ou mal, a dívida líquida está em 35% do PIB. O déficit em conta corrente é de 2% do PIB. Ainda temos reservas cambiais grandes. E alguns focos de crescimento se mantêm, mesmo sem mudar o modelo. Se você vai ao Nordeste, percebe que ainda há um boom em curso. Essa sensação de parada é uma coisa de São Paulo. Tem o outro lado também: a segurança urbana piorando, o colapso da infraestrutura... Há um ponto para o qual vale especial atenção. O nosso PIB está muito dependente da venda de automóveis. Mas o ritmo de venda dos últimos anos é insustentável. Já temos mais carro do que precisamos. É muita falta de planejamento."
SENSAÇÃO OU REALIDADE
"Se o IBGE fizesse um ano de greve, não teríamos dados oficiais do PIB. Então, você iria às ruas e perguntaria às pessoas qual a sensação delas sobre o PIB. Elas estariam felizes. A sensação do PIB pelo lado do consumo e da felicidade é muito mais alta do que os números mostram. O consumo anda muito bem. A questão é: até quando isso vai se manter? Quando o consumo patinar e a popularidade do governo cair, os ratos vão sair do porão."
DILMA E A COCA-COLA GELADA
"A relação da presidente Dilma com o capital é parecida com a da minha avó com a Coca-Cola gelada. Quando eu tinha 10 anos, jantava na casa dela toda sexta-feira. E pedia Coca-Cola gelada. Ela passou anos e anos dizendo que não, que fazia mal para a saúde. Um dia, enfim, ela disse que teríamos Coca gelada. Quando cheguei para o jantar, a Coca estava lá. Mas quente. Perguntei para ela por quê. Ela disse que tinha tirado da geladeira algumas horas antes porque achava que já tinha gelado demais.... A Dilma, com o capitalismo, tem sido assim. Flerta, flerta e, no final.... Mas o Brasil tem uma vantagem: nós nos autocorrigimos. Somos diferentes do resto da América Latina, que erra e continua errando. Vide Cristina Kirchner, Hugo Chávez, etc. O Brasil vai e volta. É o país da negociação."
INVESTIDOR x CIDADÃO
"Nós todos trabalhamos no mercado financeiro e queremos investir nas companhias. Mas, ao mesmo tempo, quando eu ligo para um call center e vejo que o serviço é uma porcaria e eles não cumprem o que prometem, desligo o telefone e penso: 'Eu quero que a Dilma dê uma porrada nesses caras!' Às vezes, parece que o que é ruim para o investidor é bom para o Brasil. O maior inimigo do capitalismo não é a crise. É a competição. A melhor maneira de o governo resolver esses problemas é competição."
O MAIOR RISCO
"A coisa mais perigosa que o governo faz hoje é a gestão das estatais. Esse é o maior erro. É mais perigoso do que as pessoas imaginam. Se der errado, vai dar muito errado. É um problema que já apareceu na Petrobrás e na Eletrobrás, mas ainda não no BNDES, no Banco do Brasil e na Caixa Econômica Federal. A Eletrobrás é um caso extremo porque ficou sem dinheiro e a renovação foi feita em péssimas condições. Mas, de novo, acredito em autocorreção. A presidente Dilma é uma pessoa que aprende muito rápido."
FINALMENTE, O MUNDO VIU
"Gestor de recursos olha as coisas e não pensa se há algo necessariamente bom ou ruim. Depende do preço. Achava o Brasil errado com o câmbio a R$ 1,70. A R$ 2,15, não é tanto. Muitas ações desabaram no Ibovespa. Eu olho e penso: nesse preço, está mais de acordo com a realidade. Talvez minha inquietação nos anos anteriores era pensar: 'Caramba, o Brasil é cheio de problemas e o mundo não vê.' Agora estou tranquilo porque o mundo vê."
SEM OPORTUNIDADES
"Hoje estou pensando em qual é a grande oportunidade. Não tem. O que, aliás, é muito chato para quem está gerindo dinheiro. Estou meio triste por isso. Vai ser dura a nossa profissão. Se você me perguntar se hoje vejo algum grande erro do mercado nas previsões de juros, inflação e ações, eu diria que não. O único ponto que me parece mal precificado é o risco fiscal. Mas não é grosseiramente errado, como era o câmbio até um tempo atrás."
JURO VEIO PARA FICAR
"O juro baixo veio para ficar, mas não sei se tão baixo. O próprio mercado mostra, com base na curva futura, um equilíbrio na faixa de 9% a 9,5% em 2017 e 2018. Na prática, o mercado está dizendo que o juro normalizado no Brasil estaria nessa faixa, com juro real na casa de 3,5%. Não somos uma ilha. Acho que o Brasil errou, por muitos anos, pelo juro mais alto do que o necessário. O Brasil usou muito pouco macroprudencial. Não quero dizer que tenha de usar só macroprudencial. Mas um pouco, sim."
ACABOU O MAMÃO COM AÇÚCAR
"Há dois tipos de órfãos no Brasil: os do CDI e os do Ibovespa, porque um monte de ação subiu 50% e o Ibovespa subiu zero. De 1994 até julho de 2008, bastava comprar o Ibovespa e partir para o abraço. De lá para cá, o índice está parado. Várias empresas mais do que dobraram de preço nesse período. Mas acabou o dinheiro fácil. Não se trata mais de comprar Ibovespa."
PEQUENO INVESTIDOR
"Se eu tivesse de escolher um ativo simples para recomendar seria uma NTN-B com vencimento em 2016. Vai pagar inflação mais 2,6%, 2,7% ao ano. Não é um papel muito longo e protege da inflação. Em termos nominais, vai render 9% a 10% ao ano, o que está bom dentro das circunstâncias do mundo, que está pagando zero. O investimento diário tem de remunerar zero mesmo. No mundo de hoje, que tem excesso de poupança, nem aqui, nem nos Estados Unidos, nem no Japão nem em nenhum lugar do mundo haverá juro real por uma década. Não vai ter. O juro real de curto prazo é negativo. Para conseguir algum rendimento, será preciso alongar um pouquinho."
MERCADO ERROU NO CÂMBIO
"Essa história de dizer que o câmbio é fixo não é verdade. O que fez e está fazendo o dólar ir para o lugar atual é o juro. Isso foi subestimado pelo mercado. Quem errou não deve pôr a culpa no Banco Central. Era previsível a alta de R$ 1,70 para R$ 2,10, R$ 2,15. A taxa de juros era a ração do real. Nosso estudo de longo prazo de câmbio, olhando todas as variáveis, aponta que o preço correto do dólar é R$ 2,20. Estamos indo para lá lentamente. Hoje, o governo está administrando a volatilidade."
CRISE GLOBAL
"Estou muito construtivo com os Estados Unidos, que vão sair bem da crise. Talvez haja um susto com essa história do abismo fiscal. Quanto à crise da Europa, é um mistério. Havia muita ineficiência e ainda há. Mas quase todos os países estão fazendo lição de casa profundíssima. No entanto, não creio que a Europa aguente outro choque. Se houver algo daqui a seis meses, a austeridade não suportará. Mas, por ora, parece que não vai acontecer."
ELES E NÓS
"Sou mais otimista com o mundo do que com o Brasil. Não contem com gregos, espanhóis e chineses para estragar o Brasil. Eles não são suficientemente bons para isso. Eles vão fazer a lição de casa deles."
Formado em engenharia, é um dos mais respeitados administradores de recursos de terceiros do País. A família de fundos da qual é responsável, chamada de Verde, acumulava rentabilidade no ano de 18,63% até 30 de novembro. A taxa básica de juros (Selic) foi de 8,5%, na média desses 11 meses.

Crédito para o mercado imobiliário, pela primeira vez, supera o de automóveis


José Roberto de Toledo e Luiz Guilherme Gerbelli - O Estado de S. Paulo
O crédito destinado para o setor habitacional e imobiliário superou o do setor automotivo pela primeira vez no Brasil. A virada ocorreu em agosto e a diferença tem aumentado, revelam dados do Banco Central que foram elaborados pelo ‘Estadão Dados’ (núcleo de jornalismo de dados do ‘Estado’).
Em setembro, as operações de crédito para compra de imóveis por pessoas físicas e jurídicas chegaram a R$ 334,6 bilhões, enquanto o setor automotivo ficou com R$ 319 bilhões. "O Brasil vem tirando um atraso no crédito imobiliário. Antigamente era muito difícil conseguir um financiamento", afirmou Luis Eduardo Assis, economista e ex-diretor do Banco Central. "Houve essa mudança por causa da estabilidade da economia brasileira e da possibilidade de retomada do imóvel."
O aumento do crédito imobiliário tem sido impulsionado pela pessoa física. Por esse recorte, o saldo já é maior do que o do setor automotivo desde janeiro. Este ano, até outubro, as operações de crédito imobiliário aumentaram R$ 57,3 bilhões, enquanto as do automotivo cresceram R$ 533 milhões.
O Brasil passa por uma mudança estrutural. O setor imobiliário foi beneficiado pela redução das taxas de juros, crescimento do emprego e aumento da massa de rendimento real dos ocupados, que, em setembro, foi estimada em R$ 42,2 bilhões, segundo o IBGE. É um crescimento de 8,6% em um ano. "Com a taxa de juros para crédito imobiliário em queda e prazos maiores, há maior demanda por crédito imobiliário. O déficit habitacional também influencia nessa melhora", disse Carlos Thadeu de Freitas, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC).
Ressaca. Por outro lado, o setor automotivo sofre uma ressaca da enxurrada de crédito que houve em 2009 e 2010. No auge da crise financeira internacional, o governo reduziu impostos – como IPI – para ajudar na recuperação da economia. Na toada dessa política, os prazos para financiamento também foram alongados.
Como reflexo dessas medidas, houve um aumento da inadimplência, o que fez com que as concessões fossem travadas este ano. Em outubro, segundo dados do BC, a inadimplência no setor foi de 5,9%, abaixo dos 6% em setembro, mas 1,2 ponto porcentual maior que o verificado em outubro do ano passado.
"Alguns bancos ficaram bem expostos nos seus processos de concessão de veículos. É natural que haja essa retração para limpar um pouco essa carteira e diminuir a inadimplência", diz Dorival Dourado, presidente da Boa Vista Serviços, administradora do Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC).
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Crédito imobiliário deve passar até o pessoal

Crédito habitacional subiu de 10,6,% para 24,6 % em 5 anos na carteira de pessoa física 

08 de dezembro de 2012 | 19h 58
Luiz Guilherme Gerbelli, de O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - O crédito imobiliário deve responder pela principal fatia da carteira da pessoa física a partir do ano que vem. Em outubro, o crédito habitacional estava em segundo lugar com 24,6% do total, segundo números do Banco Central que foram mensurados pela Serasa Experian. A liderança é do crédito pessoal (25,9%).
"A nossa expectativa é que o crédito imobiliário venha ser a maior carteira da pessoa física até o final do ano que vem", disse o assessor econômico da Serasa Experian, Luiz Rabi. "A diferença está sendo tirada a passos largos."
De fato, o crescimento do crédito habitacional surpreende nos últimos anos. Em 2005, a participação era de apenas 12,5% no total da carteira da pessoa física. No fim de 2007, chegou a 10,6%, o que deixava a modalidade na quinta posição entre as demais.
O avanço do crédito imobiliário para a topo da carteira também deixa o Brasil com um cenário mais parecido com o dos países desenvolvidos. Nas economias com mercado de crédito mais maduro, o setor imobiliário costuma ter a maior fatia do bolo.
"O perfil da carteira de crédito para pessoa física no Brasil vai se aproximando daquilo que a gente vê nos países mais desenvolvidos. Nesses países, com um mercado de crédito mais maduro, a liderança é do crédito imobiliário", afirma Rabi.
Na avaliação do economista, é bem provável que o crédito destinado ao setor habitacional teria tomado o segundo lugar na carteira de pessoa física este ano, mesmo se o crédito para o setor de veículos não tivesse sido afetado pela inadimplência.
Sem risco
O crescimento recente do crédito para imóveis não significa que o Brasil possa enfrentar uma bolha imobiliária, como os Estados Unidos, diz Luis Eduardo Assis, economista e ex-diretor do Banco Central.
"Estamos longe de uma bolha. A gente não vai ter uma bolha enquanto não tivermos a segunda perna dessa operação, que é uma maneira inventiva feita nos Estados Unidos e Europa de tirar o ativo imobiliário dos balanços dos bancos através de derivativos que ganharam uma vida própria", afirmou. "Isso no Brasil não existe."
Na avaliação de Assis, o setor imobiliário ainda tem fôlego para aumentar o preço dos imóveis. No Brasil, ao contrário de outros locais, ele diz que ainda é baixa a relação entre os preços do imóveis e o que as pessoas ganham. "Em vários países, as pessoas pagam os financiamentos e só começam a poupar para a aposentadoria depois dos 50 anos", afirmou o economista.
O que também mantém o risco de uma bolha distante é que o total de crédito no País em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) é baixo na comparação com países de economias mais desenvolvidas. Em outubro, essa relação foi de 51,9% do PIB.
Estabilidade
Para Dorival Dourado, presidente da Boa Vista Serviços, administradora do Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC), o crescimento do crédito imobiliário deve se estabilizar a partir de 2013, mas num nível ainda elevado.
A previsão é que haja uma acomodação. Em 2010, houve um crescimento de 50%; em 2011, uma alta de 42%; em 2012 está na faixa de 36%, e a perspectiva para 2012 é que seja um crescimento entre 25% e 30%.
De acordo com Dourado, há uma preocupação do governo em transformar o crédito imobiliário numa alavanca social. "Estamos experimentando o remédio inverso (ao do setor automotivo). Existe uma preocupação do governo de ampliar e fazer do crédito imobiliário uma alavanca social. O País teve a criação do programa Minha Casa Minha Vida, o que mudou razoavelmente o cenário de concessão."