domingo, 9 de dezembro de 2012

Crédito para o mercado imobiliário, pela primeira vez, supera o de automóveis


José Roberto de Toledo e Luiz Guilherme Gerbelli - O Estado de S. Paulo
O crédito destinado para o setor habitacional e imobiliário superou o do setor automotivo pela primeira vez no Brasil. A virada ocorreu em agosto e a diferença tem aumentado, revelam dados do Banco Central que foram elaborados pelo ‘Estadão Dados’ (núcleo de jornalismo de dados do ‘Estado’).
Em setembro, as operações de crédito para compra de imóveis por pessoas físicas e jurídicas chegaram a R$ 334,6 bilhões, enquanto o setor automotivo ficou com R$ 319 bilhões. "O Brasil vem tirando um atraso no crédito imobiliário. Antigamente era muito difícil conseguir um financiamento", afirmou Luis Eduardo Assis, economista e ex-diretor do Banco Central. "Houve essa mudança por causa da estabilidade da economia brasileira e da possibilidade de retomada do imóvel."
O aumento do crédito imobiliário tem sido impulsionado pela pessoa física. Por esse recorte, o saldo já é maior do que o do setor automotivo desde janeiro. Este ano, até outubro, as operações de crédito imobiliário aumentaram R$ 57,3 bilhões, enquanto as do automotivo cresceram R$ 533 milhões.
O Brasil passa por uma mudança estrutural. O setor imobiliário foi beneficiado pela redução das taxas de juros, crescimento do emprego e aumento da massa de rendimento real dos ocupados, que, em setembro, foi estimada em R$ 42,2 bilhões, segundo o IBGE. É um crescimento de 8,6% em um ano. "Com a taxa de juros para crédito imobiliário em queda e prazos maiores, há maior demanda por crédito imobiliário. O déficit habitacional também influencia nessa melhora", disse Carlos Thadeu de Freitas, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC).
Ressaca. Por outro lado, o setor automotivo sofre uma ressaca da enxurrada de crédito que houve em 2009 e 2010. No auge da crise financeira internacional, o governo reduziu impostos – como IPI – para ajudar na recuperação da economia. Na toada dessa política, os prazos para financiamento também foram alongados.
Como reflexo dessas medidas, houve um aumento da inadimplência, o que fez com que as concessões fossem travadas este ano. Em outubro, segundo dados do BC, a inadimplência no setor foi de 5,9%, abaixo dos 6% em setembro, mas 1,2 ponto porcentual maior que o verificado em outubro do ano passado.
"Alguns bancos ficaram bem expostos nos seus processos de concessão de veículos. É natural que haja essa retração para limpar um pouco essa carteira e diminuir a inadimplência", diz Dorival Dourado, presidente da Boa Vista Serviços, administradora do Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC).
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Crédito imobiliário deve passar até o pessoal

Crédito habitacional subiu de 10,6,% para 24,6 % em 5 anos na carteira de pessoa física 

08 de dezembro de 2012 | 19h 58
Luiz Guilherme Gerbelli, de O Estado de S. Paulo
SÃO PAULO - O crédito imobiliário deve responder pela principal fatia da carteira da pessoa física a partir do ano que vem. Em outubro, o crédito habitacional estava em segundo lugar com 24,6% do total, segundo números do Banco Central que foram mensurados pela Serasa Experian. A liderança é do crédito pessoal (25,9%).
"A nossa expectativa é que o crédito imobiliário venha ser a maior carteira da pessoa física até o final do ano que vem", disse o assessor econômico da Serasa Experian, Luiz Rabi. "A diferença está sendo tirada a passos largos."
De fato, o crescimento do crédito habitacional surpreende nos últimos anos. Em 2005, a participação era de apenas 12,5% no total da carteira da pessoa física. No fim de 2007, chegou a 10,6%, o que deixava a modalidade na quinta posição entre as demais.
O avanço do crédito imobiliário para a topo da carteira também deixa o Brasil com um cenário mais parecido com o dos países desenvolvidos. Nas economias com mercado de crédito mais maduro, o setor imobiliário costuma ter a maior fatia do bolo.
"O perfil da carteira de crédito para pessoa física no Brasil vai se aproximando daquilo que a gente vê nos países mais desenvolvidos. Nesses países, com um mercado de crédito mais maduro, a liderança é do crédito imobiliário", afirma Rabi.
Na avaliação do economista, é bem provável que o crédito destinado ao setor habitacional teria tomado o segundo lugar na carteira de pessoa física este ano, mesmo se o crédito para o setor de veículos não tivesse sido afetado pela inadimplência.
Sem risco
O crescimento recente do crédito para imóveis não significa que o Brasil possa enfrentar uma bolha imobiliária, como os Estados Unidos, diz Luis Eduardo Assis, economista e ex-diretor do Banco Central.
"Estamos longe de uma bolha. A gente não vai ter uma bolha enquanto não tivermos a segunda perna dessa operação, que é uma maneira inventiva feita nos Estados Unidos e Europa de tirar o ativo imobiliário dos balanços dos bancos através de derivativos que ganharam uma vida própria", afirmou. "Isso no Brasil não existe."
Na avaliação de Assis, o setor imobiliário ainda tem fôlego para aumentar o preço dos imóveis. No Brasil, ao contrário de outros locais, ele diz que ainda é baixa a relação entre os preços do imóveis e o que as pessoas ganham. "Em vários países, as pessoas pagam os financiamentos e só começam a poupar para a aposentadoria depois dos 50 anos", afirmou o economista.
O que também mantém o risco de uma bolha distante é que o total de crédito no País em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) é baixo na comparação com países de economias mais desenvolvidas. Em outubro, essa relação foi de 51,9% do PIB.
Estabilidade
Para Dorival Dourado, presidente da Boa Vista Serviços, administradora do Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC), o crescimento do crédito imobiliário deve se estabilizar a partir de 2013, mas num nível ainda elevado.
A previsão é que haja uma acomodação. Em 2010, houve um crescimento de 50%; em 2011, uma alta de 42%; em 2012 está na faixa de 36%, e a perspectiva para 2012 é que seja um crescimento entre 25% e 30%.
De acordo com Dourado, há uma preocupação do governo em transformar o crédito imobiliário numa alavanca social. "Estamos experimentando o remédio inverso (ao do setor automotivo). Existe uma preocupação do governo de ampliar e fazer do crédito imobiliário uma alavanca social. O País teve a criação do programa Minha Casa Minha Vida, o que mudou razoavelmente o cenário de concessão."
  

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