O problema de os EUA terem se tornado uma republiqueta é que ficou mais difícil prever como a principal potência econômica e militar do planeta se comportará no plano internacional.
Até não muito tempo atrás, presidentes americanos perseguiam aquilo que identificavam como interesses do país, que eram mais ou menos conhecidos. Com Trump 2, o jogo mudou. Hoje, um dos principais fatores a determinar a política externa dos EUA é o ego do presidente, que é volúvel e caprichoso.
Em algum grau, a personalidade de um líder sempre conforma suas ações. Dá até para afirmar que democracias têm um problema de seleção adversa, já que o próprio sistema eleitoral favorece a assunção de governantes de ego mais inflado enquanto a boa administração exigiria figuras menos cheias de si, capazes de reconhecer erros e abandonar ideias favoritas à medida que recebam novas informações.
O presidente dos EUA, Donald Trump, durante jantar na véspera de Natal em Mar-a-Lago, em Palm Beach, Flórida - Jessica Koscielniak - 24.dez.25/REUTERS
Os níveis egoicos de Trump, porém, não estão no padrão dos de líderes democráticos mas sim no de ditadores. Talvez até no de tiranos ensandecidos, como Idi Amin Dada, que se fazia chamar "senhor de todos os animais da terra e peixes dos mares".
Multiplicam-se os sinais de que Trump entrou com tudo no ramo do culto à personalidade. Ele acaba de incorporar seu nome ao Kennedy Center for the Performing Arts, que passou a chamar-se Trump Kennedy Center, e anunciou que a Marinha vai desenvolver a classe Trump de belonaves. Um navio é pouco, ele quer uma classe inteira.
O personalismo não funciona sempre para o mal. Em sua campanha pelo Nobel da Paz, Trump forçou Israel a suspender a carnificina em Gaza e mediou alguns cessar-fogos mundo afora.
Os pontos positivos, porém, nem de longe compensam o estrago que ele causou à ordem internacional, que regrediu uns cem anos. A ideia de um mundo pautado por regras que valem para todos e no qual as diferenças são resolvidas pela diplomacia e não pela força, que nunca chegou a ser plenamente implementada, hoje parece menos do que um sonho distante.
Suely Araújo, ex-presidente do Ibama, e Paulo Saldiva, da USP, falam de aceleração do aquecimento global.
O Brasil acaba de ganhar um novo supercomputador capaz de ampliar significativamente a capacidade nacional de produzir previsões meteorológicas mais rápidas e mais detalhadas, aperfeiçoar a modelagem climática e fortalecer o monitoramento ambiental, incluindo o apoio a alertas de desastres naturais.
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O supercomputador Jaci está instalado na unidade do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em Cachoeira Paulista, no interior de São Paulo. O equipamento substituirá o Tupã, que deve se aposentar definitivamente no primeiro trimestre de 2026.
Com capacidade de processamento 24 vezes maior, o Jaci permitirá a operação plena do novo modelo brasileiro de previsão climática e oceânica (Monan), projetado para apresentar com maior precisão as condições ambientais da América do Sul — um salto fundamental para estudos de clima, impactos ambientais, agricultura, defesa civil e planejamento territorial.
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A previsão do tempo futuro só é possível com bom diagnóstico das condições do tempo presente. Tal diagnóstico demanda uma infinidade de dados, atmosféricos e terrestres, coletados em terra e também via satélites.
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Até 2028, o supercomputador deve incorporar ainda dados de qualidade do ar e volume de gases do efeito estufa na atmosfera. Foto: Rodrigo Cabral/Ascom MCTI
Essa aferição inclui, exemplo, as condições da cobertura vegetal, umidade do solo, monitoramento de nuvens, condições atmosféricas, temperatura, velocidade dos ventos, entre tantos outros, perfazendo um total de nada menos que 40 bilhões de informações.
“Esse é um problema gigantesco que enfrentamos atualmente porque esse volume de informações não cabe em um computador comum. As demandas atuais para previsão do tempo já não cabem no supercomputador anterior”, explica José Aravequia, coordenador-geral de Ciências da Terra do Inpe, órgão ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia.
Nos últimos anos, o Brasil tem visto a intensificação de eventos climáticos extremos, como ondas de calor, chuvas fortes - a exemplo da tempestade recorde que inundou o Rio Grande do Sul em maio de 2024 - e tornados, como o que destruiu Rio Bonito do Iguaçu, no Paraná, em novembro.
Onda de calor deixou São Paulo e mais Estados em alerta nesta semana Foto: Taba Benedicto/ Estadão
“O novo supercomputador é seis vezes mais potente em termos de cálculos e capaz de carregar em sua memória vinte vezes mais informações; ou seja, agora temos um sistema capaz de carregar todos esses dados.”
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Quanto mais locais ou regionais forem as previsões climáticas demandadas, mais dados serão necessários processar. O mesmo acontece com a duração dos fenômenos. Previsões de poucos segundos, por exemplo, também demandam mais informações.
“Para os fenômenos severos, que em geral são aqueles que mais atingem a vida cotidiana e causam grandes prejuízos de vidas e danos materiais, precisamos de uma previsão com maior detalhamento temporal e espacial”, afirma Aravequia. O investimento no projeto foi de R$ 30 milhões, segundo o ministério.
Até 2028, o supercomputador deve incorporar ainda dados de qualidade do ar e volume de gases do efeito estufa na atmosfera. A partir de então, poderá gerar também previsões de cenários de mudanças climáticas nacionais para nortear as ações do governo de monitoramento e quantificação das emissões.
O novo supercomputador brasileiro, o Jaci, do Inpe, será capaz também de fazer previsões sobre concentração de gases do efeito estufa na atmosfera e mudanças climáticas Foto: Rodrigo Cabral/Ascom MCTI
O supercomputador é o primeiro grande marco do projeto Renovação da Infraestrutura de Supercomputação, cujo objetivo é modernizar o Centro de Dados Científicos do Inpe, uma modernização orçada em aproximadamente R$ 200 milhões.
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A iniciativa prevê a instalação de mais três novos sistemas de processamento de dados até 2028, a expansão da infraestrutura elétrica e a implementação de uma usina fotovoltaica, garantindo eficiência energética e sustentabilidade ao parque computacional.
“Os maiores problemas dos grandes datacenters em todo o mundo hoje são o alto consumo de energia elétrica e de água”, explicou o coordenador-geral de Infraestrutura de Dados e Supercomputação do Inpe, Ivan Barbosa.
“Sobre a questão da água, optamos por tratar e reutilizar a água das diferentes lagoas que temos dentro do Inpe. Sobre a energia elétrica, estamos criando uma usina de geração elétrica fotovoltaica, soluções verdes e sustentáveis.”
BRASÍLIA E SÃO PAULO - Com uma carteira de clientes que inclui gigantes como o grupo J&F e a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), a advogada Roberta Maria Rangel, ex-mulher do ministro Dias Toffoli, ampliou sua atuação no Supremo Tribunal Federal (STF) e no Superior Tribunal de Justiça (STJ) após 2009, ano em que Toffoli tomou posse na Corte. Desde então, o número de processos conduzidos por ela nessas instâncias passou de 53 para 127, um aumento de cerca de 140%.
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Ao todo, 70,5% das ações com atuação da advogada tiveram início após a chegada do ministro ao Supremo. Levantamento realizado pelo Estadão mostra que, no STF, 9 dos 35 processos começaram depois da posse de Toffoli. No STJ, no mesmo período, esse total sobe para 118 de um conjunto de 145 casos.
Conforme apurado pelo Estadão, Rangel e Toffoli se separaram no primeiro semestre deste ano, período até o qual os dados foram considerados.
Procurados, a advogada e o ministro do STF não se manifestaram. As empresas e todos os demais citados também foram procurados, mas não responderam à reportagem. A Cervejaria Petrópolis e o grupo J&F informaram que não irão se manifestar. O espaço segue aberto.
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Toffoli e a mulher, Roberta Maria Rangel, na cerimônia de posse do ministro, em setembro de 2018. Foto: DIDA SAMPAIO/ESTADÃO
Enquanto o Supremo julga controvérsias constitucionais, o STJ atua como a principal instância de revisão das decisões da Justiça comum, responsável por uniformizar a interpretação das leis federais, o que resulta em uma concentração maior de recursos cíveis e empresariais nesta Corte.
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Política
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A carteira de clientes da advogada inclui empresas e empresários do agronegócio (como a Dori Alimentos) e companhias do setor de construção civil, como a XCMG Brasil Indústria Ltda.
Outro cliente da advogada é a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), gigante do setor em que atua. Em nome da CSN, a advogada ingressou com ação no STJ contra a União pleiteando a restituição de valores de frete ferroviário pagos indevidamente. A causa foi estimada em R$ 100 mil em 1996 — o que representaria mais de R$ 563 mil hoje, corrigidos pelo IPCA, embora os valores reais possam ser muito superiores.
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Rangel obteve decisão parcialmente favorável no STJ, mas o caso foi deslocado para o STF. Na Corte suprema, decidiu-se pela perda do objeto — termo jurídico que significa que o motivo ou interesse de agir na ação deixou de existir antes do julgamento final. O processo retornou ao tribunal de origem para julgamento dos embargos (um tipo de recurso usado para pedir esclarecimentos ou correção de omissões na decisão).
Em outro processo, empresas do grupo Cervejaria Petrópolis, atualmente em recuperação judicial, discutem uma disputa financeira com valor da causa de R$ 39,9 milhões. O caso chegou ao STJ por meio de recurso.
No setor rural, Rangel defende o empresário Alexandre Augustin contra um fundo de investimentos que cobra cerca de R$ 182 milhões. A defesa sustenta que a dívida real seria de R$ 56 milhões e que parte já foi quitada. O caso chegou ao STJ, mas o mérito não foi analisado.
Na esfera penal, Rangel atuou na defesa de Hélio Ribeiro de Oliveira, acusado de ligação com o jogo do bicho. A defesa impetrou um habeas corpus no STJ para tentar trancar a ação penal, ou seja, encerrar o processo.
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Regras de impedimento e o caso J&F
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A atuação de familiares de ministros como advogados em processos no STF não é vedada pela legislação. As regras, no entanto, impedem que um magistrado julgue ações em que parentes atuem, exigindo a declaração de suspeição, ou seja, afastamento voluntário por motivo de foro íntimo ou ético.
Em 2023, o STF flexibilizou essa interpretação ao decidir que juízes podem julgar processos em que as partes sejam clientes de escritórios nos quais atuam cônjuges ou parentes, desde que haja outra banca de advocacia formalmente responsável pela representação.
À época, Roberta Rangel prestava assessoria jurídica ao grupo J&F no litígio envolvendo a compra da Eldorado Celulose, razão pela qual Toffoli já havia se declarado impedido para julgar outra ação do grupo, em setembro.
No âmbito desse processo, o ministro decretou sigilo dos autos e impediu o acesso da CPI do INSS a documentos obtidos a partir da quebra de sigilos bancário e fiscal.