segunda-feira, 6 de outubro de 2025

Haddad baixou seu imposto, Celos Rocha de Barros, FSP

 O governo Lula conseguiu aprovar a reforma do Imposto de Renda que isenta quem ganha até R$ 5.000, reduz o imposto de quem ganha entre R$ 5.000 e R$ 7.350 e exige que os muito ricos paguem ao menos 10% de Imposto de Renda. A proposta foi aprovada por unanimidade, mostrando que o que pode unir o Brasil são as boas ideias, não os acordões picaretas de sempre.

Se a reforma for aprovada pelo Senado, como se espera que seja, Fernando Haddad deve entrar para a história como um ministro da Fazenda importante.

Aprovou a reforma tributária de 2023, que deve fazer o Brasil crescer mais e favorecer nossa indústria. E aprovou a reforma do Imposto de Renda de 2025, que deve garantir que os frutos do crescimento serão divididos de maneira mais decente.

Homem de meia-idade com cabelo escuro e terno azul escuro, camisa branca e gravata vermelha com pontos brancos, olhando para a câmera em ambiente interno com outras pessoas ao fundo desfocadas.
O ministro Fernando Haddad (Fazenda) durante cerimônia no Palácio do Planalto - Gabriela Biló - 25.ago.2025/Folhapress

Nada disso deve ter o menor impacto no discurso político. Mesmo depois de zerar o Imposto de Renda de 10 milhões de brasileiros, Haddad vai continuar sendo chamado de "Taxad" pela direita. Mesmo depois de ter sido o primeiro ministro da Fazenda a taxar os muito ricos, vai continuar tendo gente na esquerda dizendo que ele é neoliberal.

É sempre bom lembrar: o imposto que Haddad vai cobrar dos muito ricos é só o mínimo exigido pela decência. Os milionários vão ser forçados a pagar, no mínimo, a mesma alíquota de Imposto de Renda paga por professoras e policiais militares. Não, atualmente não pagam.

Se você vê essa vitória pequena, lembre-se: nenhum governo até hoje tinha chegado perto de obtê-la. O Brasil já foi governado várias vezes pelo PT, um dos maiores partidos de esquerda do mundo, e nunca tinha conseguido nada disso.

E até a última hora tinha gente grande querendo melar o imposto mínimo para milionários.

Os bolsonaristas do PL, por exemplo, tentaram derrubar a taxação dos milionários enquanto, para disfarçar, defendiam que a isenção de Imposto de Renda valesse para quem ganhasse até R$ 10 mil.

Essa proposta era ilegal: a Lei de Responsabilidade Fiscal exige que se diga de onde vai sair o dinheiro para compensar a perda de arrecadação. Sem taxar os ricos não dá para isentar nem os que ganham menos que R$ 10 mil nem os que ganham menos que R$ 5.000 nem ninguém.

A proposta do PL, portanto, faria com que tudo continuasse como estava, sem isenção para ninguém e sem imposto para os milionários.

Deu errado.

Lula, Haddad e os brasileiros foram ajudados pelas manobras desastradas dos congressistas de direita nas últimas semanas. Depois de duas semanas em que o Congresso foi dominado pelos picaretas da anistia e da blindagem, a imagem do Congresso ficou muito desgastada.

A esquerda conseguiu fazer suas primeiras grandes manifestações de rua em muitos anos, inclusive invocando a pauta anticorrupção, que vinha sendo monopolizada pela direita.

O Congresso precisava fazer alguma coisa para limpar sua barra, e a reforma do Imposto de Renda veio a calhar.

A reforma difere da PEC da blindagem porque coloca dinheiro no bolso dos trabalhadores, não dos políticos corruptos. E difere da anistia aos golpistas porque é um sinal de democracia funcionando, do Estado ajustando seu financiamento segundo os interesses da maioria.

Quando menos se espera, as instituições vão lá e dão uma funcionada.

Metanol: o que se sabe até agora? Pouco ou quase nada, Alexandra Moraes, FSP

 Os últimos dias mostraram a gravidade da crise das suspeitas de intoxicação por metanol, mas poucas são as certezas em torno dela. Mais raras ainda são as possibilidades tratadas com a devida prudência.

É preciso, de cara, um pouco mais de cuidado com o potencial alarmismo na divulgação das notificações. Parece apenas óbvio o dever de informar o crescimento dos casos, até mesmo na tentativa de evitar que aumentem ainda mais, mas os números carecem de contexto.

A sexta-feira terminou com 11 casos confirmados e 113 notificações em seis estados, segundo o Ministério da Saúde. Na segunda-feira, os dados eram apenas paulistas, com 6 confirmações (algumas reportagens incluíam um "desde junho", o que já obrigaria a situá-los melhor no tempo) e dez investigados. A diferença entre a proporção no aumento dos confirmados e das suspeitas deveria motivar maior cuidado na divulgação das notificações galopantes, ao menos por enquanto. Fora isso, o leitor não fica sabendo quanto tempo leva a avaliação de um caso suspeito.

Um copo em primeiro plano distorce a palavra "FATO" que se encontra no fundo da imagem.
Ilustração para coluna Ombudsman - 5 de outubro de 2025 - Carvall - Carvall/Folhapress

Por outro lado, leitores cobravam os nomes de bebidas, bares e distribuidoras, omitidos enquanto apareciam os primeiros casos. Custou até mesmo para o jornal explicar o motivo da ausência, que veio depois de alguns dias: "Segundo as autoridades, a divulgação dos nomes atrapalharia a investigação". A essa altura, depois de uma operação em bairros ricos de São Paulo, ao menos alguns nomes de bares já não eram mistério.

A responsabilidade pela crise vai passando de mão em mão, e o que se vê de mais claro é a mídia no meio de um jogo de empurra que mistura política e interesses particulares, desconhecimento e distorção.

Começando do começo, o tarcisômetro apitou no início da semana. Mais uma vez o jornal soou condescendente demais com o governador, que aterrissou no metanol depois de uma visita à prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro. Vale lembrar que até aquele momento a crise se localizava apenas em SP, ainda líder de casos.

Na Folha, "a crise das bebidas adulteradas abriu espaço para o governador deixar de lado a pauta política" (?!?!) e "mergulhar na gestão estadual". "Tarcísio teve postura incisiva, segundo dois auxiliares," e "cobrou respostas efetivas à população".

A CBN já tinha apuração em outro sentido. O governador teria sido alertado de que estava pegando mal passear em Brasília e postar desafio de matemática enquanto a crise começava a crescer no estado que ele governa.

Folha, depois, mudou o tom do texto para algo mais sóbrio, mas ainda no limite do surrealismo. "Com a crise das bebidas (...) em SP, o governador teve agenda voltada à gestão estadual". E incluiu que ele estava "pressionado após relatos de intoxicações e mortes". A pressão viria também da disputa de protagonismo com o governo federal, que entrava no caso de maneira ruidosa.

Em outra frente, o jornal avançou na discussão do descarte inadequado das garrafas. O problema é que se limitava à teoria da indústria do vidro de que bastaria fiscalizar o destino das garrafas para ter "evitado mortes". Além disso, a linha de argumentação isentava as indústrias do vidro e da bebida da responsabilidade pela logística reversa, passando a bola para uma "fiscalização".

O texto citava o bem-sucedido sistema alemão Pfand, mas sem informar que a indústria e o comércio participam dele. O sistema tampouco funcionaria se não tivesse adesão ampla da sociedade. E a adesão não vem por mágica: o consumidor é informado de que, se não retornar o vasilhame adequadamente, paga por ele.

Ao mesmo tempo, a garrafa de destilado é tratada como vidro comum, quando claramente tem "valor agregado" num ambiente de prosperidade para o crime como é o Brasil. Não à toa vira mercadoria nos sites de venda de produtos usados. Aí, sim, o poder público precisaria mostrar melhor onde e como tem gastado o dinheiro do contribuinte.

Um ponto positivo: outros veículos passavam recomendação de que os comerciantes quebrassem as garrafas para inutilizá-las. A Folha, pelo menos, falava do perigo da técnica sem equipamento e estrutura adequados.

Houve, ainda, a relação que o Fórum Brasileiro de Segurança Pública estabeleceu entre a crise e o fim do sistema fiscal de controle de produção de bebidas. O outro lado, nesse caso, era bastante suavizado em relação ao que foi declarado pela Receita e pelo governo, que chamaram a informação de fake news. "O Sistema de Controle de Produção de Bebidas (Sicobe) foi descontinuado em 2016 e controlava principalmente cervejas e refrigerantes, mas não verificava qualidade de bebidas", informou a gestão federal. O governador Tarcísio de Freitas fez a mesma acusação, mas esta ficou sem contraponto.

Também não faltaram os diagnósticos precoces sobre presença ou ausência da participação do crime organizado.

Como se fosse pouca confusão, um título oferecia "como identificar bebidas adulteradas com metanol". A resposta? "O consumidor não consegue identificar."

Deputado falta a sessões e quer votação remota para parlamentares com mais de 80 anos, FSP

 

Brasília

Ex-presidente do União Brasil, o deputado Luciano Bivar (PE), 80, tenta convencer o presidente da CâmaraHugo Motta (Republicanos-PB), a mudar o regimento interno para que ele seja dispensado de participar presencialmente das sessões em Brasília e possa votar sempre pelo celular, por causa da idade.

A liberação para que os deputados com mais de 80 anos não precisem ir a Brasília beneficiaria Bivar e outros cinco deputados atualmente. A alteração poderia ocorrer por ato do presidente da Câmara ou por mudança no regimento interno, aprovada pelo plenário.

A ideia, no entanto, é criticada por Luiza Erundina (PSOL-SP), que, aos 90 anos, é a deputada mais idosa da atual legislatura. "Não dá para exercer o mandato à distância, sem participar do debate em plenário e nas comissões", afirmou à reportagem. "Se não tem condições para isso, não se candidate", defendeu.

Um homem idoso está sentado em um sofá de couro marrom. Ele usa um terno escuro com uma gravata vermelha e tem cabelo grisalho. O fundo é uma parede clara, e a iluminação é suave. O homem parece estar em uma conversa ou reflexão, com uma expressão séria.
Luciano Bivar defende que deputados com mais de 80 anos possam votar à distância, pelo celular - Pedro Ladeira -8.ago.25/Folhapress

Os deputados precisam registrar presença no plenário às terças-feiras e quintas-feiras, o que destrava o aplicativo para que possam votar pelo celular de qualquer lugar —uma inovação criada na pandemia e que já foi alvo de denúncias de fraude, com assessores votando no lugar do parlamentar.

Na gestão Motta, ficou instituído também que às quartas-feiras, entre 16h e 20h, é obrigatória a votação presencial, nos painéis instalados nas mesas do plenário. Após esse horário, os deputados podem continuar a votar pelo celular, sem precisarem acompanhar a sessão fisicamente.

As faltas não justificadas podem causar corte no salário de R$ 46,4 mil, caso o presidente da Câmara determine que terão efeito administrativo. A penalidade é proporcional ao número de votações no mês.

Bivar apareceu em apenas um terço das reuniões deliberativas este ano. A Câmara fez 90 sessões no plenário, mas ele compareceu a apenas 30. Em 54 ocasiões, apresentou atestado médico e em outras 6 faltou sem justificativa —o número de ausências sem explicação era o dobro, mas foi abonado.

O deputado teve R$ 18,6 mil descontados do salário em sete meses por causa das faltas.

Nas comissões, Bivar registrou presença em duas reuniões ao longo de 2025. Faltou em outras 27 por licença médica e nove sem justificativa.

Mulher idosa com cabelo branco e cachecol colorido sentada em cadeira de couro marrom em plenário com várias cadeiras vazias ao redor. Pessoas ao fundo em trajes formais.
A deputada federal Luiza Erundina (PSOL-SP) participa da sessão no plenário da Câmara dos Deputados - Ranier Bragon --12.fev.25/Folhapress

A Câmara prevê a perda de mandato dos deputados que faltarem a mais de um terço das sessões legislativas sem justificativa. A licença por motivos de saúde ou as missões oficiais autorizadas pela direção da Casa não são incluídas nesse cálculo das faltas.

Segundo deputados, Bivar já tentou convencer os presidentes anteriores a dispensarem do registro de presença os parlamentares mais velhos, mas passou a insistir mais desde que deixou a primeira-secretária da Mesa Diretora da Câmara.

Como integrante da direção da Casa nos últimos quatro anos, ele tinha as faltas no plenário abonadas automaticamente e não participava das comissões temáticas. Em 2024, por exemplo, marcou presença em apenas 52% das reuniões deliberativas, mas não teve descontos no salário.