terça-feira, 23 de setembro de 2025

O despertar espiritual que leva idosos a buscar a solidão, FSP

 

Karin Kepler Wondracek

é psicóloga, psicanalista e doutora em teologia

A família do sr. Roberto (nome fictício) está preocupada. Apesar da boa saúde aos 87 anos, ele não demonstra interesse por atividades sociais. Quando convidado, prefere ficar sozinho. Estaria deprimido? Seria sinal de alguma doença silenciosa?

idoso é discreto ao explicar suas escolhas, mas já confidenciou: "Gosto de ficar quieto, me sinto em paz. Até gostaria de conversar profundamente de vez em quando, mas não essa superficialidade que encontro por aí".

A história do sr. Roberto remete aos estudos do psicólogo social Erik Erikson (1902–1994). Ele percebeu que sua teoria sobre a velhice não abrangia plenamente o que ele e outros idosos experimentavam após os 80 anos: uma paz profunda, redescoberta da espiritualidade e cultivo da sabedoria. Ele e sua esposa chamaram esse estágio de gerotranscendência (gero = idoso; transcendência = além do mundo material), como descreveram no livro "O Nono Estágio" (Artes Médicas).

Uma pessoa idosa está sentada encostada em uma árvore em um campo aberto. O cenário é tranquilo, com um fundo de grama seca e um céu claro. A luz do sol ilumina a cena, criando uma atmosfera serena.
Jose Antonio Alba por Pixabay

O sueco Lars Tornstam (1943–2016), pioneiro da gerontologia social, reforçou essa ideia. Para ele, a gerotranscendência retira o envelhecimento da visão puramente materialista e racional, que foca apenas no declínio. A satisfação com a vida pode, inclusive, aumentar com a abertura para dimensões cósmicas e espirituais. Surge, também, o desejo por solitude —a boa solidão.

Em outras palavras, idosos como o sr. Roberto não estão se isolando de forma patológica, mas se abrindo a outras dimensões da existência. Quem desenvolve a gerotranscendência experimenta um sentimento de comunhão... com o universo.

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Em culturas ancestrais, esses anciãos são respeitados e ouvidos. Suas vidas se tornam pontes entre o presente e a eternidade. Já nossa sociedade, movida pelo "novo e rápido", tende a infantilizar os idosos, tratando-os como pessoas que devem ser apenas cuidadas e distraídas —um mercado lucrativo para alguns.

Idosos em gerotranscendência também lidam melhor com a morte. O sr. Roberto, com discrição, já comentou estar curioso sobre a passagem para "outra dimensão": "Estou curioso. Acho que vou viver coisas bem interessantes."

Essa expectativa pode soar como consolo ingênuo para quem está preso a uma visão materialista da realidade. Mas, como aponta o psiquiatra Alexander Moreira-Almeida, trata-se de uma questão de cosmovisão. Nossa herança racionalista tem limites para abarcar a transcendência.

Para muitos leitores, a gerotranscendência pode parecer uma teoria aplicável apenas a idosos saudáveis. No entanto, artigo recente no American Journal of Geriatric Psychiatry mostra outro lado. Nele, a médica Helen Lavretsky relata a experiência do psicólogo Neil Schuitevoerder, de 69 anos, que convive com os efeitos severos da doença de Parkinson. Apesar dos desafios físicos e emocionais, ele relata vivenciar estados diários de felicidade.

Entre essas dimensões paradoxais, a vida constrói pontes inesperadas. Talvez esse seja o caso de uma breve anotação de Sigmund Freud, cuja morte, em 1939, relembramos neste 23 de setembro. Um ano antes, já bastante debilitado, ele escreveu sobre o alcance da mística: "Mística é a obscura autopercepção de si mesmo fora do reino do Eu [e] do Id."

Hoje, podemos entender que Freud falava a partir da gerotranscendência. O psicanalista Eduardo Gastelumendi comenta: "Acredito que Freud está sugerindo que podemos nos perceber, mesmo obscuramente, como existindo de alguma maneira não apenas antes de nossa vida pessoal, mas também fora de nós mesmos —por mais estranho e infamiliar que isso possa parecer."

A vida segue surpreendendo —a nós, e também ao velho Freud.

Há jovens demais sem estudo nem emprego, editorial FSP

 Jovens que não estudam nem trabalham, os chamados "nem-nem", são sintoma de um sistema de ensino precarizado e desconectado do setor produtivo. A boa notícia é que o Brasil melhorou nesse indicador desde a pandemia; a má é que a sua taxa ainda está alta.

Segundo o Education at a Glance 2025, relatório da OCDE divulgado na terça (9), 24% dos brasileiros entre 18 e 24 estavam em tal situação em 2024 —queda de 6 pontos percentuais desde 2019.

Entre as 41 nações avaliadas, foi a que mostrou a segunda maior redução, já que na Itália a variação foi de 8 pontos. Mesmo assim, temos a quarta maior taxa, abaixo só de Colômbia (27%), Costa Rica (31%) e África do Sul (48%). A média da OCDE, que reúne países desenvolvidos, é de 14%. Somos superados pelos vizinhos Peru (21%) e Chile (20%).

Uma das formas lidar com o problema se dá por meio do VET (vocational education and training), programas de educação profissionalizante no ensino médio que podem envolver parcerias entre escolas e empresas para a formação do alunado e a contratação de aprendizes.

O Education at a Glance 2025 indica que, no Brasil, houve ampliação do VET a partir do processo de reforma do ensino médio nos últimos anos, que incorporou o ensino técnico, acompanhado por flexibilidade no currículo, nessa etapa da educação básica.

Mas, segundo o relatório, há disparidades entre estados e municípios, e a taxa brasileira de alunos em programas do tipo VET no ensino médio ainda é baixa, só 14%, ante 44% na média da OCDE.

O Plano Nacional de Educação (PNE) de 2014 estipulou que, em dez anos, o número de matriculas no ensino técnico realizado na última etapa da educação básica deveria triplicar até cerca de 4,8 milhões. Contudo, de acordo com o último Censo Escolar, foram apenas 2,4 milhões em 2024.

A inatividade pode causar problemas como ansiedade e depressão. Ademais, a demora para entrar no mercado de trabalho tende a afetar a empregabilidade futura, já que reduz as chances de obter experiência profissional e habilidades interpessoais.

Como saída, resta apenas o emprego informal ou precarizado, com baixos salários, limitando os potenciais dos indivíduos e o desenvolvimento da economia.

Estados precisam perseverar na melhoria da aprendizagem, na redução da evasão e na expansão da educação profissionalizante, inclusive por meio de parcerias com a iniciativa privada. A escola deve estar conectada ao mercado, para que o estudo também resulte em trabalho e renda.

editoriais@grupofolha.com.br

Ex-secretário de FHC lança livro sobre política e relação com ex-presidente, FSP

 O ex-deputado tucano Xico Graziano lançará em 21 de outubro o livro "O Caipira e o Príncipe", uma referência à sua relação com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, de quem foi chefe de gabinete no Palácio do Planalto.

Capa do livro "O Caipira e o Príncipe", do ex-deputado Xico Graziano - Divulgação

Ligado ao agronegócio, Graziano também foi presidente do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) e secretário da Agricultura do estado de São Paulo.

O livro tem memórias de suas experiência nas política, a partir da anotação de situações pelas quais passou nos diversos cargos que exerceu. A obra também faz uma reflexão sobre os 40 anos da redemocratização brasileira.

, FS