sexta-feira, 15 de agosto de 2025

Entenda o que são os ultraprocessados e quais alimentos fazem parte desta categoria, FSP

 Bárbara Blum

São Paulo

Até o surgimento da classificação Nova, em 2010, os alimentos eram classificados por nutrientes. Proteínas, carboidratosgorduras. Uma salsicha era como um peito de frango, proteína. Um biscoito recheado era carboidrato, como uma saca de farinha. Foi a partir da sistematização elaborada na Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo que os alimentos passaram a ser divididos por grau de processamento.

Segundo a Nova, os alimentos podem ser: in natura, ingredientes culinários processados, alimentos processados e ultraprocessados.

O primeiro grupo, dos alimentos in natura, engloba carnes, vegetais, leguminosas, leite e ovos. Tudo que pode ser consumido da forma como está presente na natureza cai nessa categoria.

Ultraprocessados se caracterizam por serem feitos a partir de frações de alimentos e por conterem aditivos como espessantes e corantes - Casey Zhang/The New York Times

Em seguida, o grupo dos ingredientes pressupõe processamento mínimo: azeite, manteiga, sal. São os alimentos do primeiro grupo após passarem por processos como prensagem, concentração, moagem, centrifugação.

O terceiro grupo demanda mais processamento. É a mistura de alimentos do primeiro e do segundo grupo para formar uma nova comida. Para isso, passam por processos industriais simples e que podem ser replicados em casa. Conservas, caldas, pães artesanais.

O último grupo, hoje objeto de escrutínio, é o dos ultraprocessados. Aqui, fala-se em produtos gerados a partir do fracionamento de alimentos.

A ideia de separar os alimentos por processamento veio de um epidemiologista. Carlos Augusto Monteiro, hoje quase uma celebridade a nível mundial, havia passado boa parte de sua carreira médica olhando para indicadores de fome. A falta deu lugar ao excesso quando a questão se tornou a obesidade.

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Ele desenvolveu a pesquisa sobre o impacto do processamento dos alimentos no Nupens, o Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da USP, fundado em 1990. O grupo se destaca por recusar patrocínios e financiamentos privados. Segundo Monteiro, a classificação Nova cria tensão na indústria de alimentos.

No Brasil, alguns nomes fortes defendem a alimentação mais livre possível de ultraprocessados, caso da apresentadora de televisão Rita Lobo e da nutricionista Neide Rigo.

O tema se tornou central para o debate sobre saúde pública. Monteiro foi selecionado como uma das personalidades do ano pelo Washington Post e os ultraprocessados ganharam temperatura ao se tornarem alvo do secretário de saúde dos Estados Unidos, Robert Kennedy Jr.

O americano, adepto do slogan "make America healthy again" (torne os EUA saudáveis novamente), é crítico dos ultraprocessados. No início deste ano, ele afirmou que doenças crônicas, como obesidade e condições autoimunes, poderiam estar ligadas ao aumento no consumo desse tipo de alimento. Ele tem a intenção, ainda, de criar regulamentações mais rígidas para ultraprocessados e corantes alimentícios.

Hoje, a classificação Nova é amplamente aceita pela comunidade científica. Órgãos como a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) adotam a divisão.

São consolidados também os estudos que sugerem relações entre o consumo de ultraprocessados e problemas de saúde, como obesidade, colesterol alto, distúrbios endócrinos. Até impactos na saúde mental já foram associados aos ultraprocessados.

Mas o Nupens acredita que os problemas não se restringem à saúde. "O consumo de ultraprocessados não afeta apenas indicadores de saúde, como obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares. Ele afeta também relações sociais, saberes culinários, modos de vida e até valores culturais", disse Monteiro, em entrevista à Folha.

Alguns pesquisadores, como Josiemer Mattei da Universidade Harvard (EUA), contestam se a classificação não seria categórica demais ao taxar os ultraprocessados como prejudiciais à saúde sem fazer distinção entre eles. Um iogurte industrializado, por exemplo, recai na mesma categoria que salgadinhos de milho. Adeptos da Nova, porém, afirmam que não existe ultraprocessado saudável.

Os ultraprocessados ganham espaço pela praticidade e, em alguns países, baixo custo. A chamada "comida de verdade", expressão contestada, demanda tempo e investimento que faltam a famílias de baixa renda.

Por que o moleque de recados de Trump continua deputado no Brasil?, Álvaro Costa e Silva- FSP

 Para acalmar a turba e receoso de novo motim com o objetivo de pressioná-lo a aprovar a anistia a Bolsonaro, o presidente da Câmara, Hugo Motta, resolveu usar a palavra mágica: dinheiro. Determinou que as seis comissões da Casa acelerem a distribuição de emendas.

É mais um movimento acomodatício que explica por que, segundo o Datafolha, a bronca é geral. Legislativo, Executivo e Judiciário estão unidos não só na reprovação como no ar de desdém com que tratam as críticas a seu comportamento.

Apontado como garantidor da democracia, sobretudo no período Bolsonaro, o STF viu sua avaliação cair; as togas, no entanto, estão tinindo, na certeza de que têm a solução para todos os males do país. O governo é reprovado por 40% dos brasileiros, número que aparentemente não espanta Lula, acostumado a conviver com a repulsa de parte da sociedade há pelo menos 50 anos.

O dado mais alarmante revela uma profunda crise de representação política. Para 78% dos entrevistados, deputados e senadores colocam seus interesses à frente dos da população. A Câmara considerou o número humilhante e logo arrumou uma maneira de aumentar sua pontuação. O centrão, essa entidade incorpórea, aliou-se aos bolsonaristas pró-golpe numa ofensiva para ampliar a blindagem de parlamentares, mudando as regras do foro privilegiado.

A cara de pau é tamanha que eles defendem, no pacote de impunidades, uma medida que permita à Câmara a autorização –ou não– da abertura de inquéritos policiais. "Alô Polícia Federal! Vocês estão atrás de mim por causa daquela merreca de emenda? Negócio seguinte: avisa antes quando for bater lá em casa, viu?"

Ao explicar sua participação no motim –espécie de 8/1 engravatado–, Marcos Pollon (PL-MS) disse: "Sou autista". É uma artimanha de que Eduardo Bolsonaro não pode se valer. Com método, ela rasga a Constituição, sangra financeiramente o país e trabalha contra os interesses nacionais. Deputado no Brasil, está nos EUA cumprindo ordens do seu chefe, Trump. Hugo Motta o resguarda da cassação.

Rodrigo Zeidan - Proteger pessoas, não empregos, FSP

 Mais R$ 30 bilhões para acionistas de empresas sob a desculpa de "proteger empregos". O Brasil não muda. Pode ser governo de esquerda, de direita, de alto ou de baixo, o resultado é sempre o mesmo: transferência de renda do Estado direto para o bolso dos empresários. Pior, jogando dinheiro público fora quando a taxa de desemprego está em mínima histórica.

Se tem uma coisa que aprendemos nos últimos 80 anos de estudos de economia de trabalho é que devemos proteger trabalhadores, não empregos.

A imagem mostra um canteiro de obras com dois trabalhadores. Um deles, à esquerda, usa um capacete branco e uma camisa azul, enquanto o outro, à direita, está agachado e usa um capacete azul. Ao fundo, há uma grua vermelha e um caminhão branco, além de edifícios e árvores ao redor. O chão está coberto com vergalhões de aço e terra.
Trabalhadores da construção civil em obra na avenida Portugal, na zona sul da cidade de São Paulo - Zanone Fraissat/Folhapress

Este é o ponto central do modelo mais bem-sucedido de políticas trabalhistas do mundo, o da flexicuridade dinamarquês, baseado em três pilares:

  1. custo quase zero para demitir;
  2. generosos benefícios de desemprego;
  3. estrutura para recolocação, com obrigatoriedade de participação para recebimento do seguro-desemprego.

Não é possível aplicar o modelo fora da Escandinávia, pois ele está associado às normas sociais locais que limitam o abuso do sistema. Contudo, podemos aprender com ele, que entrega uma das menores taxas de desemprego do mundo, 2,5% em 2024 e sem passar dos 5,8% desde a virada do século. Devemos proteger trabalhadores, não empregos.

A ideia de pedir contrapartida de não demissão faz ainda menos sentido em um país como o Brasil, onde a rotatividade de trabalho é alta, com 14% dos empregados mudando de emprego a cada cinco trimestres.

Podemos fazer uma conta simples. Vamos presumir que o estudo recente da Fiemg (Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais) sobre o impacto das tarifas de Trump sobre o mercado de trabalho brasileiro esteja correto e elas venham a custar 146 mil empregos em dois anos. O governo planeja R$ 30 bilhões de linhas de crédito para "empresas afetadas".

Dentro desse dinheiro, inclui-se o postergamento de pagamento de impostos: ou seja, empréstimo de dinheiro público à taxa de 0%, quando a Selic está em 15% ao ano. Subsídio direto na veia. Nessa conta, o governo planeja distribuir R$ 205 mil para cada "emprego salvo" no cenário mais pessimista sobre o total de desempregados pelo tarifaço de Donald Trump e sem contar o custo do postergamento de impostos.

Assumindo um cenário mais realista, no qual muitas empresas que não foram afetadas vão botar a mão no dinheiro e o impacto sobre o desemprego não é tão alto, o governo vai distribuir R$ 1 milhão de crédito para salvar um emprego. Talvez fosse mais barato ajudar as pessoas, não?

Soma-se a isso o dinheiro que o governo prometeu para "buscar novos mercados" para empresas brasileiras, o que quer que seja isso. Não vai faltar funcionário público disposto a viajar pelo mundo vendendo o "Made in Brazil". O resultado prático? Nenhum.

Proteger empregos é outra forma de dizer que o governo vai transferir renda do povo diretamente para os acionistas. Deveríamos entregar direto para as pessoas afetadas. O governo anuncia que quer proteger pequenos empresários e funcionários, mas as empresas mais afetadas são as maiores, que vão ser as primeiras a meter a mão no dinheiro público. Para empresas pequenas com problemas de caixa, o crédito provavelmente vai vir tarde demais. Os juros subsidiados de um empréstimo de R$ 200 mil ou R$ 1 milhão valem muito mais que um emprego. Nada como viver em um país com dinheiro público infinito. Até que acaba.