sexta-feira, 15 de agosto de 2025

Rodrigo Zeidan - Proteger pessoas, não empregos, FSP

 Mais R$ 30 bilhões para acionistas de empresas sob a desculpa de "proteger empregos". O Brasil não muda. Pode ser governo de esquerda, de direita, de alto ou de baixo, o resultado é sempre o mesmo: transferência de renda do Estado direto para o bolso dos empresários. Pior, jogando dinheiro público fora quando a taxa de desemprego está em mínima histórica.

Se tem uma coisa que aprendemos nos últimos 80 anos de estudos de economia de trabalho é que devemos proteger trabalhadores, não empregos.

A imagem mostra um canteiro de obras com dois trabalhadores. Um deles, à esquerda, usa um capacete branco e uma camisa azul, enquanto o outro, à direita, está agachado e usa um capacete azul. Ao fundo, há uma grua vermelha e um caminhão branco, além de edifícios e árvores ao redor. O chão está coberto com vergalhões de aço e terra.
Trabalhadores da construção civil em obra na avenida Portugal, na zona sul da cidade de São Paulo - Zanone Fraissat/Folhapress

Este é o ponto central do modelo mais bem-sucedido de políticas trabalhistas do mundo, o da flexicuridade dinamarquês, baseado em três pilares:

  1. custo quase zero para demitir;
  2. generosos benefícios de desemprego;
  3. estrutura para recolocação, com obrigatoriedade de participação para recebimento do seguro-desemprego.

Não é possível aplicar o modelo fora da Escandinávia, pois ele está associado às normas sociais locais que limitam o abuso do sistema. Contudo, podemos aprender com ele, que entrega uma das menores taxas de desemprego do mundo, 2,5% em 2024 e sem passar dos 5,8% desde a virada do século. Devemos proteger trabalhadores, não empregos.

A ideia de pedir contrapartida de não demissão faz ainda menos sentido em um país como o Brasil, onde a rotatividade de trabalho é alta, com 14% dos empregados mudando de emprego a cada cinco trimestres.

Podemos fazer uma conta simples. Vamos presumir que o estudo recente da Fiemg (Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais) sobre o impacto das tarifas de Trump sobre o mercado de trabalho brasileiro esteja correto e elas venham a custar 146 mil empregos em dois anos. O governo planeja R$ 30 bilhões de linhas de crédito para "empresas afetadas".

Dentro desse dinheiro, inclui-se o postergamento de pagamento de impostos: ou seja, empréstimo de dinheiro público à taxa de 0%, quando a Selic está em 15% ao ano. Subsídio direto na veia. Nessa conta, o governo planeja distribuir R$ 205 mil para cada "emprego salvo" no cenário mais pessimista sobre o total de desempregados pelo tarifaço de Donald Trump e sem contar o custo do postergamento de impostos.

Assumindo um cenário mais realista, no qual muitas empresas que não foram afetadas vão botar a mão no dinheiro e o impacto sobre o desemprego não é tão alto, o governo vai distribuir R$ 1 milhão de crédito para salvar um emprego. Talvez fosse mais barato ajudar as pessoas, não?

Soma-se a isso o dinheiro que o governo prometeu para "buscar novos mercados" para empresas brasileiras, o que quer que seja isso. Não vai faltar funcionário público disposto a viajar pelo mundo vendendo o "Made in Brazil". O resultado prático? Nenhum.

Proteger empregos é outra forma de dizer que o governo vai transferir renda do povo diretamente para os acionistas. Deveríamos entregar direto para as pessoas afetadas. O governo anuncia que quer proteger pequenos empresários e funcionários, mas as empresas mais afetadas são as maiores, que vão ser as primeiras a meter a mão no dinheiro público. Para empresas pequenas com problemas de caixa, o crédito provavelmente vai vir tarde demais. Os juros subsidiados de um empréstimo de R$ 200 mil ou R$ 1 milhão valem muito mais que um emprego. Nada como viver em um país com dinheiro público infinito. Até que acaba.

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