terça-feira, 12 de agosto de 2025

STF atrasa solução das fraudes do INSS, Rômulo Saraiva - FSP

 a mesma forma que os bolsonaristas reclamam que o ministro Alexandre de Moraes tem concentrado e julgado temas importantes da direita, o ministro Dias Toffoli tem funcionado como um imã para as questões das fraudes do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social). O seu magnetismo tem atraído desde o acordo do governo com os aposentados, processos judiciais em curso, autorização de dotação orçamentária sem limite fiscal e tramitação de inquéritos policiais.

Considerando que nosso Poder Judiciário é estruturado por instâncias revisoras, o ponto de partida de um problema de qualquer cidadão começa pela avaliação de um juiz. Com um punhado de recursos, se acessa a segunda opinião de desembargadores e, mais raramente, de ministros. É uma via crucis processual chegar até o STF (Supremo Tribunal Federal). Conforme o relatório "Justiça em Números 2024" do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), dos 83,8 milhões de processos pendentes no país, somente 2% desse total chega aos corredores do Supremo.

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O ministro Dias Toffoli. Sessão Plenária do STF, sob a presidência do ministro Luis Roberto Barroso. - Pedro Ladeira/Folhapress

No caso das fraudes do INSS, as principais providências caíram de paraquedas na praça dos Três Poderes. Mais especificamente no gabinete de Toffoli.

Uma vez homologado o acordo que autorizou o governo reparar parcialmente quem foi prejudicado com a roubalheira de associações previdenciárias e de sindicatos, o ministro continua suspendendo as ações judiciais e os efeitos de decisões que tratam da responsabilidade da União e o INSS pelos descontos associativos indevidos realizados entre março de 2020 e março de 2025.

O acordo é uma iniciativa espontânea de o governo reconhecer parte do seu erro. Mas isso não exclui nem impede de o aposentado, buscando uma indenização de dano moral e devolução em dobro dos valores descontados, procure o Poder Judiciário. São situações independentes e autônomas. Mas estranhamente Toffoli continua travando a tramitação de processos judiciais daqueles que querem ser reparados por valor maior daquilo que oferece o INSS.

Indiretamente, essa providência é uma forma indireta de persuadir aposentados que precisam de agilidade na reparação de verba alimentar. É como se transmitisse a seguinte mensagem subliminar: "Assine logo o acordo proposto pelo INSS, pois judicialmente vamos atrasar a tramitação indefinidamente".

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Não há razão plausível para suspender as ações judiciais. O acesso ao Judiciário é um direito constitucional, que não deve ser ofuscado pela simples razão de o governo resolver ofertar acordo aquém do padrão indenizatório.

Conforme matéria da revista Piauí, além da suspensão nacional, Toffoli determinou que "todos os respectivos procedimentos de inquéritos, anexos e expedientes correlatos, no referido despacho anteriormente realizado, doravante sejam encaminhados a esta Suprema Corte por prevenção a este gabinete, sem prejuízo das diligências e cumprimento de decisões anteriormente proferidas pelos juízos em que hajam se iniciado as apurações, para oportuna análise e eventual ratificação".

Os inquéritos policiais vão sofrer espécie de convalidação, o que potencialmente atrasará também o trabalho da polícia. Até agora não se tem notícia de única prisão de integrante do vasto esquema de corrupção que atingiu o INSS. Quanto mais se demora a incriminar os responsáveis, maior a chance de impunidade.


Mulheres devem ter direito a voto?, Helio Schwartsman - FSP

 Pete Hegseth, o secretário de Defesa dos EUA, parece achar que não. Ele repostou em suas redes sociais e elogiou segmento de um programa da CNN no qual pastores de uma igreja cristã conservadora afirmam que mulheres não deveriam votar.

Para esse grupo de religiosos, liderados pelo pastor Doug Wilson, o direito a voto deveria ser familiar e não individual. Ele seria exercido pelos maridos, mas eles deveriam antes discutir o assunto com suas esposas.

A imagem mostra um homem sentado à mesa no Salão Oval, com uma expressão séria. Ele está vestido com um terno escuro e uma gravata clara. Ao fundo, há uma bandeira dos Estados Unidos e o brasão presidencial. Um segundo homem está em pé ao lado, com as mãos juntas, vestido com um terno escuro e uma gravata listrada. O ambiente é decorado com cortinas douradas e várias fotos emolduradas na mesa.
O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, ao lado do presidente americano, Donald Trump, na Casa Branca, em Washington - Annabelle Gordon - 25.mar.25/AFP

A primeira coisa que salta aos olhos aqui é a qualidade do secretariado de Donald Trump. Pensar que Hegseth exerce algum tipo de comando sobre as Forças Armadas mais poderosas do planeta dá um friozinho na barriga.

E o ex-comentarista da Fox News não é um caso isolado. O gabinete do Agente Laranja também conta com um secretário de Saúde que é contra vacinas, além do próprio Trump, que pode, só com um pouco de exagero, ser descrito como líder da nação mais "capitalista" do mundo que vem se esforçando para destruir o capitalismo.

Voltemos, porém, ao direito a voto. Um dos principais acertos das democracias modernas foi acabar com exigências de renda mínima e de alfabetização para uma pessoa poder votar, além, é óbvio, da extensão desse direito às mulheres. A enorme ampliação do eleitorado exerceu uma série de efeitos positivos sobre as democracias.

Elas passaram a ter maior preocupação social, o que se converteu em educação gratuita para todos, que mais tarde se converteu em maior crescimento econômico. Mais eleitores também significaram maior legitimidade política, menos fraudes e maior vigilância sobre os políticos.

Os efeitos foram tão tonificantes que alguns cientistas políticos sugerem novas expansões do direito de voto, agora para abarcar crianças e estrangeiros. O receio inicial de que massas ignaras se tornariam presas preferenciais de populistas não se confirmou. As pesquisas eleitorais mostram que o populismo afeta todas as classes sociais sem grandes distinções.

Hegseth, como quase tudo no governo Trump, está errado.


Dono da Ultrafarma investiu R$ 250 milhões em publicidade na televisão em 2024, FSP

 Gabriel Vaquer

Aracaju

Preso nesta terça-feira (12) como uma das figuras que teria liderado um esquema que teria movimentado mais de R$ 1 bilhão em propinas pagas a auditores fiscais da Secretaria da Fazenda de São Paulo, o empresário Sidney Oliveira, dono da Ultrafarma, é um dos nomes que mais aparecem na TV aberta brasileira.

Desde os anos 2000, Sidney faz investimentos especialmente em redes como SBTRedeTV!, Record, Band e TV Gazeta. Somente no ano passado, segundo diversas fontes no mercado, o valor investido por ele teria chegado a R$ 250 milhões em comerciais em intervalos de programas e patrocínio de atrações.

O valor já foi maior. Na RedeTV!, Sidney Oliveira deixou de ser o principal patrocinador da empresa. Somente nos últimos meses, ele suspendeu investimentos em programas que eram comandados por Geraldo Luís, já que ele deixou a emissora. No entanto, Sidney mantém contratos de ações de merchandising com Sônia Abrão, por exemplo.

O caso, que explodiu nesta manhã, foi informado com destaque por GloboRecord e Band. O SBT, que veicula comerciais da Ultrafarma, não informou o caso no Primeiro Impacto e no Alô Você, seus jornalísticos diurnos.

A coluna apurou que uma reportagem será veiculada no SBT Brasil, principal telejornal da casa, com detalhes. A informação foi publicada pelo site da emissora.

Na RedeTV!, os boletins de jornalismo na programação da manhã, que foram comandados por Augusto Xavier, não informaram sobre a prisão. Na emissora, inclusive, comerciais da Ultrafarma e até mesmo um programa com horário comprado da empresa, mostrado das 9h30 às 10h, foi exibido normalmente.

A coluna apurou que houve uma conversa entre setores da RedeTV! para discutir a situação. Ainda não se sabe se o caso será abordado no RedeTV! News ou em outros telejornais noturnos.

Além de publicidade em TV, a Ultrafarma tem uma emissora em antenas parabólicas, a Ultrafarma TV, que exibe propagandas da farmácia, missas, entre outros conteúdos. A Ultrafarma e a defesa de Sidney Oliveira foram procurados, mas não responderam até a última atualização desta reportagem.

Saiba mais da prisão

Sidney e o diretor estatutário do grupo Fast Shop Mario Otávio Gomes, foram presos na manhã desta terça-feira (12) durante a Operação Ícaro, deflagrada pelo Ministério Público de São Paulo (MP-SP).

A ação mira desarticular um esquema de corrupção que teria movimentado mais de R$ 1 bilhão em propinas pagas a auditores fiscais da Sefaz-SP (Secretaria da Fazenda e Planejamento do Estado de São Paulo).

A investigação é conduzida pelo Grupo de Atuação Especial de Repressão aos Delitos Econômicos (Gedec) e conta com apoio da Polícia Militar. Segundo Roberto Bodini, promotor de Justiça na Ministério Público do Estado de São Paulo, há ainda outras empresas varejistas envolvidas, mas os nomes ainda não podem ser divulgados para não atrapalhar as investigações.