quinta-feira, 7 de agosto de 2025

Operação de trem para terminais do aeroporto de Guarulhos tem início previsto para dia 31, FSP

 O "people mover" aeromóvel, como é chamado o sistema de trem que ligará a estação da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) aos terminais do aeroporto de Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo, tem começo de operação previsto para o próximo dia 31.

Conforme apurou a Folha, ainda não está definido se o início será em tempo integral, ou seja, das 4h à meia-noite, quando funciona o trem metropolitano, ou em horários menores.

A cerimônia de inauguração está prevista para setembro, mas não há uma data definida.

Um trem moderno, com uma pintura predominantemente branca e detalhes em verde, está se movendo em trilhos elevados. O céu ao fundo está nublado, com nuvens escuras, sugerindo a possibilidade de chuva. O ambiente ao redor é urbano, com estruturas metálicas visíveis.
Aeromóvel durante testes no aeroporto de Guarulhos; trem vai levar passageiros da estação da CPTM até os terminais - Adriano Vizoni - 26.jan.25/Folhapress

A operação ao público deveria ter começado no primeiro semestre de 2024, mas atrasou. Depois, o prazo passou para o segundo semestre do ano passado, o que não ocorreu.

O "people mover" precisou ser construído porque a estação da CPTM não chega ao aeroporto. O transporte aos terminais atualmente é feito em ônibus.

Os três trens começaram a circular em testes no início do ano —primeiro aos fins de semana—, inclusive com peso, e em busca de certificações. Passaram a rodar primeiro aos domingos e depois progressivamente ao longo dos dias.

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Desde a semana passada dois trens rodam simultaneamente e não houve nenhum problema. Conforme apurou a reportagem, essa etapa dos testes, que tem ocorrido durante a madrugada, foi decisiva para para se marcar início de operações em 31 de agosto.

A certificação exigida em contrato é a mesma de metrôs no exterior ou para instalação de usinas nucleares, disseram recentemente Hulbéia Ribas, gerente de segurança, e Marcus Coester, CEO da Aerom, empresa com sede no Rio Grande do Sul.

Ao todo, a via suspensa com trilhos tem 2,7 km de extensão com quatro estações, uma ligada à do trem metropolitano e outras em cada um dos três terminais do aeroporto internacional. Quando o sistema estiver inaugurado, esse trajeto final será feito em aproximadamente seis minutos.

Em janeiro, a reportagem da Folha viajou em dois percursos inteiros do trajeto, com paradas técnicas que deixaram o tempo de percurso mais longo.

O trem é monitorado como se estivesse em operação normal, com parada em cada uma das estações, simulando o tempo necessário para saída e entrada de passageiros.

Quando a reportagem esteve presente, havia cerca de 20 pessoas no trem, entre convidados, engenheiros e técnicos da Aerom.

O veículo, que circula por meio de propulsão pneumática, é composto por dois carros articulados que pesam 16 toneladas e deverá levar até 200 passageiros por viagem. Eles rodam em dois trilhos, como se fossem trens convencionais.

COMO RODA O AEROMÓVEL

  • A tecnologia para circulação do veículo é baseada em propulsão pneumática —o ar é pressurizado por ventiladores estacionários de alta eficiência energética para o interior da via elevada

  • O ar empurra ou puxa uma placa de propulsão fixa ao veículo, que se move por rodas de aço sobre trilhos ferroviários

  • Circuitos de propulsão criam blocos de controle exclusivos e independentes para cada veículo movido

As estações estão totalmente prontas e sinalizadas. Há portas automáticas em cada uma delas e que só abrem após a abertura das do veículo parado.

custo total foi estimado no ano de 2023 em pouco mais de R$ 300 milhões. O pagamento é custeado com recursos da outorga da concessionária GRU Airport, responsável pela gestão do aeroporto. O contrato de operação da Aerom é de dez anos, depois o sistema passa para a União.

Atualmente há duas opções para se chegar pelo sistema ferroviário ao aeroporto de Cumbica. Uma delas é a linha 13-jade, com saída da estação Engenheiro Goulart, na zona leste de São Paulo.

A outra alternativa é o Expresso Aeroporto, que também circula na linha 13, a partir da Barra Funda, na zona oeste de São Paulo.

O embarque é de hora em hora. Nos dois casos, a tarifa custa R$ 5,20. O acesso ao aeromóvel será gratuito e ele poderá ser usado, inclusive, para o deslocamento de pessoas entre os terminais.

Casa Matinas elimina desperdícios ao imprimir livros apenas após a venda, FSP

 

São Paulo

É uma editora muito engraçada: não tem exemplares nas livrarias, não lança títulos inéditos e não imprime grandes tiragens na gráfica. Essa poderia ser a receita de um desastre, mas a Casa Matinas, que acaba de abrir, funciona de forma singular.

A carta na manga da nova editora é o "print on demand", ou impressão sob demanda. Significa que, a cada vez que uma venda online acontece, um único exemplar é impresso e enviado ao comprador. Sem estoque, sem encalhes, sem desperdícios.

"São mudanças que estão no ar", afirma Matinas Suzuki Jr., cérebro por trás da Casa Matinas. "Traz economia de produção, de distribuição e de estocagem. São coisas que a economia contemporânea precisa. Porque este é um mundo que precisa eliminar desperdícios."

Um homem está sorrindo enquanto se apoia em uma pilha de livros. Ele usa um suéter vermelho e óculos. Ao fundo, há uma estante cheia de livros. A luz do sol ilumina parcialmente a cena, criando um contraste entre luz e sombra.
Matinas Suzuki Jr. em sua editora Casa Matinas, em Cotia, na Grande São Paulo - Zanone Fraissat/Folhapress

Suzuki foi por 14 anos o diretor de operações da maior editora do país, a Companhia das Letras, de 2010 até o ano passado. Nos anos 1980 e 1990, exerceu diversos cargos na Folha, entre eles o de editor-executivo.

A Casa Matinas também inova nos títulos que vai lançar. Nenhum será inédito, mas todos já saíram de catálogo. "Já há muitas editoras de qualidade dedicadas ao lançamento de livros e não teríamos capacidade de competir com elas. Além disso, existe muito livro bom fora de catálogo."

Daí o slogan que acompanha o logotipo da Casa Matinas: livros imperecíveis. "E eu queria começar por jornalismo. Primeiro, porque conheço as pessoas. Segundo, eu tinha dirigido a coleção Jornalismo Literário na Companhia das Letras, e foi uma experiência muito gratificante."

Entre as primeiras obras da Casa Matinas está "Cale-se", de Caio Túlio Costa, sobre a morte sob tortura de um estudante da Universidade de São Paulo pela ditadura, em 1973, e a mobilização que a denunciou, culminando no show de Gilberto Gil em pleno campus cantando a censurada "Cálice".

Já "Vietnã do Norte" e "Tempo de Arraes" são reportagens de Antonio Callado, autor do romance "Quarup", escritas para jornais nos anos 1960 e depois reunidas em livro.

A imagem mostra três livros empilhados sobre uma superfície de madeira. O primeiro livro, de Antonio Callado, intitula-se 'Tempo de Arraes'. O segundo livro, de Caio Túlio Costa, tem o título 'Cale-se'. O terceiro livro apresenta uma imagem em preto e branco de uma mulher armada na contracapa. Todos os livros têm capas de cor vinho, letras em azul claro e o nome da editora 'matinas' na parte inferior.
Livros da editora Casa Matinas, com as mesmas cores e projeto gráfico e uma foto na contracapa - Ivan Finotti/Folhapress

Para Suzuki, o "print on demand" também é importante por suas convicções pessoais em relação ao meio ambiente. "É um processo ambientalmente correto, que evita desperdício de papel, tinta e energia e reduz a emissão de carbono na produção e distribuição", diz o texto que acompanha os livros.

A impressão usa tinta à base de água, não à base de óleo, como no tradicional sistema offset. Já o papel é o chamado pólen natural, mais marrom que as opções mais brancas e, por isso, mais verde também.

E não há necessidade de imprimir cadernos de oito em oito páginas, como no offset. Assim, os lançamentos da Casa Matinas não possuem aquelas páginas em branco que sempre estão nos começos e nos finais dos livros.

Outra economia é a falta de orelha e de textos na contracapa, sempre ocupadas por uma pequena foto. "Como não estou em livrarias, eu não preciso desse tipo de texto para convencer o leitor a comprar", afirma.

Com vendas exclusivamente online, a editora envia quinzenalmente uma trabalhada newsletter, escrita pelo próprio Suzuki. Editada por Luiza Nobre, a newsletter explica o contexto das obras lançadas e pode trazer dicas de músicas, de passeios ou de restaurantes que tenham a ver com as histórias narradas.

A imagem mostra o interior de uma máquina complexa, com diversos componentes mecânicos e eletrônicos visíveis. Há um grande disco central com braços e engrenagens, além de fios e conectores coloridos que se espalham por toda a estrutura. O fundo é escuro, destacando os detalhes da máquina.
Detalhe de impressora na gráfica Meta Brasil, em Cotia, na Grande São Paulo - Zanone Fraissat/Folhapress

As capas são minimalistas e todas iguais: fundo bordô com letras em azul claro. "Isso é comum em editoras europeias, que usam um projeto de capa e só vão variando o título e o autor", diz Suzuki.

As fontes usadas são todas brasileiras, sendo que a do logotipo da casa foi feita especialmente pela designer Amanda Piva. Há opções em brochura, que começam em R$ 34,99, e em capa dura, a partir de R$ 54,99.

O próximo livro, "Um Tipógrafo na Colônia", é do jornalista Leão Serva, ex-secretário de Redação da Folha, correspondente da TV Cultura em Londres e ex-colega de Suzuki.

O fato de morar em Londres possibilita a Serva usufruir de outra comodidade do "print on demand". Como a gráfica brasileira Meta Brasil tem parceria com empresas de outros 11 países, Serva pode adquirir um exemplar via Amazon britânica que será impresso em Peterborough, a 140 quilômetros de sua casa. Sem precisar cruzar o Atlântico, a obra chegará a suas mãos com rapidez maior e um custo de frete bem menor.

A imagem mostra uma impressora industrial de grande porte em um ambiente de fábrica. À frente da impressora, há rolos de papel em diferentes tamanhos e cores, com alguns rolos sendo brancos e outros em tons de marrom. O ambiente é bem iluminado, com um teto alto e paredes claras, e a impressora possui um painel de controle visível na parte frontal.
Impressora de tecnologia POD com rolos de papel à frente na gráfica da empresa Meta Brasil, em Cotia, na Grande São Paulo - Zanone Fraissat/Folhapress

Funcionando em Cotia, na Grande São Paulo, a Meta Brasil tem duas grandes máquinas que imprimem livros com a tecnologia sob demanda. "Em geral, editora tem muito estoque de uma parte do catálogo, enquanto a outra parte está esgotada, o que chamamos de livros em ruptura. No sistema offset, para reimprimir esse livro de forma economicamente viável, é preciso quantidade, ou seja milhares de exemplares", diz o diretor Anselmo Bortolin.

Com enormes impressoras exclusivas para o sistema "POD", a empresa produz um livro em 24 horas. "Na verdade, fazem até 5.000 páginas por minuto. Só que depois tem que imprimir a capa em outra máquina, colar em uma terceira e cortar em uma quarta. Por isso, 24 horas", afirma Bortolin.

Ele quer tornar essa tecnologia mais conhecida, procurando outras editoras interessadas. O recado é: "Esse livro que você não tem mais disponível para vender fisicamente, mas o leitor quer, você me autoriza a vender, o leitor compra, eu produzo, envio para a casa dele e nós repartimos o valor da venda".

A Meta Brasil chega a produzir mais de mil livros por dia para dezenas de clientes, entre eles a Companhia das Letras e a editora da Universidade de Cambridge —cujos livros em inglês são comprados e impressos aqui, diminuindo drasticamente o preço final.

A tecnologia possibilitou que Suzuki realizasse um antigo desejo de editor. "Eu tinha uma coisa na cabeça: se algum dia eu fizesse uma editora, iria procurar lançar dois livros, que são ‘Cale-se’ e ‘Vietnã do Norte’. Dois livros extraordinários que estavam esquecidos. O do Caio você lê até como um romance policial, dado o suspense. E o Callado foi o único jornalista brasileiro a ir ao Vietnã do Norte durante a guerra. Que legal que deu certo."

Graças ao "sob demanda", agora eles estão em catálogo.

Big Pharma vai enfim investir nos psicodélicos?, Marcelo Leite, FSP

 Um tema sempre surge na plateia quando falo de experimentos clínicos com psicodélicos ao apresentar os livros "Psiconautas" (2021) e "A Ciência Encantada de Jurema" (2025): as pesquisas não avançam porque a grande indústria farmacêutica –a famigerada Big Pharma– trabalha contra, ou pelo menos não investe, nessa inovação para saúde mental, tão promissora quanto estigmatizada.

Em contraste, alguns grupos indígenas parecem convencidos de que grandes laboratórios e pesquisadores já ganham fortunas com substâncias como a dimetiltriptamina (DMT) da ayahuasca, também conhecida como daime, e da jurema-preta. A desconfiança vem ganhando espaço em encontros como o 1º Seminário de Medicinas Ancestrais: Jurema e a 5ª Conferência Indígena da Ayahuasca.

Não é bem assim. Uma das poucas farmacêuticas de grande porte investindo em psicodélicos, e de modo discreto, é a japonesa Otsuka Pharmaceuticals. Ela adquiriu uma pequena empresa canadense fundada em 2019, Mindset Pharma, e firmou acordo com a Universidade Keio para pesquisas básicas (e não clínicas) com essas substâncias.

Folhas de jurema-preta (Mimosa tenuiflora), planta da caatinga que contém o psicodélico DMT
Folhas de jurema-preta (Mimosa tenuiflora), planta da caatinga que contém o psicodélico DMT - Marcelo Leite/Folhapress

Semana passada, a Bloomberg noticiou que o laboratório AbbVie está para fechar a aquisição da Gilgamesh, empresa desenvolvedora de medicamentos psicodélicos que teria seu valor alçado a cerca de US$ 1 bilhão (R$ 5,5 bilhões) na transação. A AbbVie nasceu da farmacêutica Abbott e faturou mais de US$ 56,3 bilhões (mais de R$ 310 bilhões) em 2024. Pode ser o início do embarque da Big Pharma.

Houve sim, nos últimos anos, um fluxo de investimentos direcionado a compostos alteradores da consciência em estudo para tratar transtornos como depressão, estresse pós-traumático e dependência química. Mas são em geral startups como a Mindset, muitas delas desde então vitimadas pela mortalidade natural nos voláteis investimentos de risco.

Um conglomerado que se destaca no campo é a atai Life Sciences, do investidor Christian Angermayer. A holding pôs dinheiro em empresas como a Compass Pathways e a Beckley Psytech, cujas ações observaram altas da ordem de 10% após a reportagem da Bloomberg.

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Angermayer usa o exemplo do spray intranasal para depressão Spravato (variante do anestésico dissociativo cetamina) para projetar o potencial de mercado dos psicodélicos. O remédio da Jannsen tem vendas anuais projetadas em US$ 3 bilhões (R$ 16,5 bilhões) e vem sendo usado por psiquiatras –inclusive no Brasil– para tratar deprimidos graves, em especial aqueles com ideações suicidas.

Um dos produtos no duto P&D da atai é o VLS-1, um antidepressivo veiculado por meio de filme bucal, em formulação patenteada. Seu princípio ativo é a boa e velha DMT da ayahuasca e da jurema-preta.

Ao ser absorvida pela mucosa da boca a droga evita o trato digestivo, onde seria degradada. Com isso, induz um efeito psicodélico curto, de cerca de uma hora, bem mais manejável em clínicas do que as várias horas viajando "na força" de beberagens como o daime e o vinho da jurema.

Ritual com jurema-preta no Terreiro de Orestes, em Belo Horizonte
Ritual com jurema-preta no Terreiro de Jurema, em Belo Horizonte (MG) - Marcelo Leite/Folhapress

Ayahuasqueiros e juremeiros, portanto, têm alguma razão em seus temores, embora não caiba falar ainda de lucros com tais substâncias sagradas. Como a DMT é composto natural produzido por vários animais e plantas, presente até em pequena quantidade no cérebro humano, torna-se duvidoso que possa ser patenteada –mas também mais difícil argumentar que povos originários tenham precedência sobre ela.

Combater propriedade intelectual, mesmo patentes questionáveis, e dificultar pesquisas pode não ser a melhor estratégia para detentores dos conhecimentos tradicionais que, na origem, deram pistas de substâncias alteradoras da consciência com potencial terapêutico. Exigir reconhecimento, reparação e participação em eventuais lucros são outros 500.

Eis aí um bom tema para discussão do Fórum Mundial da Ayahuasca que povos indígenas e pesquisadores realizarão de 9 a 13 de setembro de 2026 na cidade de Girona, Espanha.