terça-feira, 20 de maio de 2025

Pesquisa desvenda como hormônio acelera queima de gordura e favorece perda de peso em camundongos obesos, Fapesp

 Luciana Constantino | Agência FAPESP – Pesquisa realizada em camundongos revelou de que forma um hormônio liberado pelo intestino atua no cérebro e contribui para regular o gasto energético do organismo. O FGF19 (sigla em inglês para fator de crescimento de fibroblastos-19) ativa mecanismos que estimulam o uso de mais energia, queimam gordura e favorecem o controle de peso e dos níveis de glicose no sangue em animais obesos.

Esses efeitos foram associados à atuação do FGF19 em uma região cerebral específica chamada hipotálamo, que integra sinais periféricos e ambientais para regular o metabolismo energético. No estudo, os autores identificaram que a sinalização do FGF19 no hipotálamo leva a uma maior atividade de adipócitos termogênicos (células de gordura que queimam energia para produzir calor).

A descoberta pode contribuir para o avanço de novas linhas de medicamentos contra obesidade, diabetes e outros distúrbios metabólicos baseadas em substâncias que “imitam” a ação de compostos endógenos, ou seja, aqueles produzidos pelo próprio organismo.

O caminho é semelhante ao de algumas terapias de última geração contra diabetes que estão no mercado e vêm sendo usadas em pacientes com obesidade. É o caso, por exemplo, do Ozempic, cujo princípio ativo é a semaglutida, responsável por ativar receptores que imitam um outro hormônio, o GLP-1, e sinalizam ao cérebro saciedade.

De acordo com o trabalho, a ação do FGF19 reduziu ainda a inflamação periférica e favoreceu a tolerância ao frio. No entanto, esses benefícios desapareceram quando a atividade do sistema nervoso simpático foi experimentalmente inibida. Os cientistas detectaram que a exposição ao frio aumentou a expressão de receptores do FGF19 no hipotálamo, que também tem uma importante função na manutenção da temperatura corporal, sugerindo um papel adaptativo desse fator no equilíbrio energético e na termorregulação.

“O FGF19 já havia sido relacionado com a redução da ingestão alimentar. Nosso trabalho inovou ao mostrar que, além disso, ele tem um importante papel agindo no hipotálamo e estimulando o aumento do gasto energético em tecidos adiposos, branco e marrom. Ou seja, além do controle do apetite, estimula a termogênese. Por isso, em termos de terapia associada à obesidade, faria muito sentido”, explica a professora Helena Cristina de Lima Barbosa, do Centro de Pesquisa em Obesidade e Comorbidades (OCRC) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

O OCRC é um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da FAPESP, que também apoiou o estudo por meio de bolsas (22/15148-2 e 20/14020-7) concedidas ao doutorando Lucas Zangerolamo, primeiro autor do trabalho, sob orientação de Barbosa.

O artigo que descreve essas descobertas está publicado na revista American Journal of Physiology – Endocrinology and Metabolism e recebeu pelo periódico o destaque de Top Article nas publicações de maio.


Resumo gráfico do estudo (crédito: acervo dos pesquisadores)

Cenário

Atlas Mundial da Obesidade 2025 apontou que, com base nas tendências atuais, o mundo não atingirá as metas de prevenção e controle de doenças crônicas não transmissíveis previstas para este ano. Entre esses objetivos estão a interrupção do aumento de casos de diabetes e obesidade e a redução de 25% da mortalidade prematura por doenças cardiovasculares, respiratórias crônicas e câncer com base em dados de 2010.

Segundo o Atlas, mais de 1 bilhão de pessoas vivem com obesidade no mundo. Projeções indicam que esse número pode ultrapassar 1,5 bilhão até 2030, caso medidas efetivas não sejam implementadas. A obesidade está ligada a 1,6 milhão de mortes prematuras anuais causadas por doenças não transmissíveis.

No Brasil, cerca de 31% vivem com obesidade – entre 40% e 50% da população adulta não pratica atividade física na frequência e intensidade recomendadas.

Passo a passo da pesquisa

Envolvido no controle do metabolismo energético, o FGF19 é produzido principalmente no intestino delgado. Regula no fígado tanto a produção de ácidos biliares como a síntese de glicose e gorduras. Embora as principais ações no fígado já tenham sido descritas na literatura científica, sua sinalização no cérebro foi pouco analisada.

“No laboratório trabalhamos com ácidos biliares, tema inclusive do meu mestrado, e são eles que regulam a liberação de FGF-19. Nossos estudos iniciais foram nos levando a esse caminho”, diz Zangerolamo à Agência FAPESP.

Com oito semanas de idade, os animais foram aleatoriamente divididos entre um grupo com dieta regular (controle) e outro que recebeu alimentação rica em gordura. O hormônio foi administrado diretamente no cérebro dos camundongos obesos. Os animais estavam alojados em um ambiente controlado de temperatura, iluminação e fornecimento de água.

No artigo, os cientistas apontam que a sinalização central do FGF19 melhorou a homeostase energética – ao aumentar a atividade do sistema nervoso simpático – e estimulou a termogênese do tecido adiposo, fazendo com que queimasse mais energia na forma de calor.

“O cérebro tem um papel extremamente importante no controle da adiposidade do corpo. Ao mesmo tempo em que recebe informações dos tecidos periféricos, ele dispara comandos. Esses comandos, aparentemente utilizando o sistema nervoso simpático, parecem ser uma via interessante quando pensamos no gasto energético”, complementa Barbosa.

Ao analisar dados públicos de scRNAseq (técnica que permite sequenciar o RNA de células individuais) de hipotálamo de diferentes trabalhos, os autores compilaram essas informações em uma única plataforma e analisaram a transcrição de mais de 50 mil células únicas para identificar os tipos celulares hipotalâmicos que expressam os receptores do FGF19.

Os pesquisadores explicam que um dos pontos a serem compreendidos agora é como estimular o organismo a produzir mais FGF19. O grupo continua trabalhando para entender como as vias envolvidas com o comportamento alimentar estão ligadas a esse processo.

“Queremos ampliar esse entendimento. Estamos estudando o hipotálamo para avaliar a inflamação comumente observada quando há administração de dieta rica em gorduras e se o FGF19 tem atuação nessa área”, afirma Zangerolamo, que fez parte do trabalho durante estágio no Joslin Diabetes Center – da Harvard Medical School – com a professora Yu-Hua Tseng, também autora do artigo.

O artigo Central FGF19 signaling enhances energy homeostasis and adipose tissue thermogenesis through sympathetic activation in obese mice pode ser lido em: https://journals.physiology.org/doi/full/10.1152/ajpendo.00488.2024.
 

Londres e Bruxelas reatam — com ressalvas. The News

 

Quase 9 anos depois do Brexit , o Reino Unido e a União Europeia fecharam uma parceria estratégica que marca uma maior reaproximação entre os dois lados desde então.

O acordo prevê cooperação em defesa, comércio e mobilidade , em um esforço que recoloca Londres no tabuleiro europeu — abrindo uma janela depois que o Brexit fechou a porta.

No campo da defesa , o Reino Unido poderá participar de missões militares da UE e terá acesso a um fundo europeu de £ 150 bilhões destinado à segurança continental.

A parceria reflete a ambição do primeiro-ministro britânico, Keir Starmer , de redefinir as relações com o bloco e ocupar espaço diante de uma possível retração dos EUA na segurança do Velho Continente.

Já no comércio , a UE fornece em eliminar rotinas burocráticas na importação de alimentos e bebidas do Reino Unido. A medida deve beneficiar as exportações britânicas que somaram £14 bilhões em 2024.

  • Para se ter uma ideia da relevância disso, a UE responde por 41% das exportações britânicas e mais da metade das suas importações.

Em contrapartida: Londres aceitou até 2038 o acesso de embarcações europeias às suas águas , concessão que gerou críticas de setores pesqueiros britânicos.

Embora tenha descartado o retorno ao mercado único, Starmer afirmou que o pacto é bom para o emprego e “recoloca o Reino Unido no cenário global”. Por outro lado, a oposição conservadora classificou o acordo como uma “rendição”.

Eventos inesperados e reflexos no mercado: quanto custa não prever o futuro?, Fabio Gallo, OESP

 Provavelmente você já deve ter ouvido falar dos chamados cisnes negros – eventos raros e altamente impactantes, particularmente no mercado financeiro, e que têm abalado o mundo com frequência preocupante. Mas esses não são os únicos tipos de eventos que nos trazem tantas dores de cabeça. Usando da criatividade, o mercado tem trazido à tona um verdadeiro zoológico para denominar e segregar os diferentes riscos a que estamos sujeitos.

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Eventos inesperados ou riscos negligenciados custaram à economia global trilhões de dólares nos últimos anos. Não faltam alertas dos especialistas, que avisam que os prejuízos podem aumentar ainda mais se a antecipação desses riscos continuar sendo ignorada. Um exemplo marcante de cisne negro foi a pandemia de covid-19 que, segundo dados do FMI, causou retração global de 3,5% no PIB mundial em 2020, acumulando perdas econômicas superiores a US$ 11 trilhões. Outro exemplo clássico, a crise financeira global de 2008 levou a economia mundial a encolher entre 4% e 6%.

Por outro lado, o mercado chama de rinocerontes cinzentos aqueles eventos altamente previsíveis, mas sistematicamente negligenciados, e que também causam danos enormes. Um caso evidente é a crise climática: de acordo com um relatório de 2023 do Swiss Re Institute, a inação em relação às mudanças climáticas poderá custar até 18% do PIB mundial até 2050. Outra ameaça pouco enfrentada é o endividamento global, que já ultrapassou US$ 300 trilhões em 2024, representando cerca de 350% do PIB mundial, conforme levantamento da OCDE.

Mercado chama de rinocerontes cinzentos aqueles eventos altamente previsíveis, mas sistematicamente negligenciados, e que também causam danos enormes, como as mudanças climáticas
Mercado chama de rinocerontes cinzentos aqueles eventos altamente previsíveis, mas sistematicamente negligenciados, e que também causam danos enormes, como as mudanças climáticas Foto: Taba Benedicto/Estadão

Para você

Há ainda os dragões negros, que denominam os riscos conhecidos, mas tão catastróficos que são frequentemente suprimidos ou ignorados pela sociedade. São ameaças como guerras nucleares, colapsos financeiros sistêmicos ou mudanças climáticas irreversíveis. Diferentemente dos cisnes e rinocerontes, os dragões negros representam perigos que todos reconhecem, mas preferem não enfrentar pela magnitude devastadora que carregam. Exemplo evidente é a guerra entre Rússia e Ucrânia, que já acumulou perdas globais superiores a US$ 1 trilhão desde seu início em 2022, segundo estimativas recentes do FMI.

O nosso rinoceronte cinza, em 2024, foi a dívida pública federal, que cresceu 12,2%, alcançando R$ 7,31 trilhões, ou 76,1% do PIB nacional. Em um mundo cada vez mais instável, ignorar os sinais não é apenas negligência: é abrir mão do futuro. A coragem de antecipar o inesperado, construir resiliência e investir em inovação será o verdadeiro diferencial dos vencedores. Na encíclica Laudato Si, o papa Francisco escreveu: “Sabemos que estamos destruindo nosso próprio futuro, mas escolhemos a conveniência do presente”.