terça-feira, 20 de maio de 2025

Eventos inesperados e reflexos no mercado: quanto custa não prever o futuro?, Fabio Gallo, OESP

 Provavelmente você já deve ter ouvido falar dos chamados cisnes negros – eventos raros e altamente impactantes, particularmente no mercado financeiro, e que têm abalado o mundo com frequência preocupante. Mas esses não são os únicos tipos de eventos que nos trazem tantas dores de cabeça. Usando da criatividade, o mercado tem trazido à tona um verdadeiro zoológico para denominar e segregar os diferentes riscos a que estamos sujeitos.

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Eventos inesperados ou riscos negligenciados custaram à economia global trilhões de dólares nos últimos anos. Não faltam alertas dos especialistas, que avisam que os prejuízos podem aumentar ainda mais se a antecipação desses riscos continuar sendo ignorada. Um exemplo marcante de cisne negro foi a pandemia de covid-19 que, segundo dados do FMI, causou retração global de 3,5% no PIB mundial em 2020, acumulando perdas econômicas superiores a US$ 11 trilhões. Outro exemplo clássico, a crise financeira global de 2008 levou a economia mundial a encolher entre 4% e 6%.

Por outro lado, o mercado chama de rinocerontes cinzentos aqueles eventos altamente previsíveis, mas sistematicamente negligenciados, e que também causam danos enormes. Um caso evidente é a crise climática: de acordo com um relatório de 2023 do Swiss Re Institute, a inação em relação às mudanças climáticas poderá custar até 18% do PIB mundial até 2050. Outra ameaça pouco enfrentada é o endividamento global, que já ultrapassou US$ 300 trilhões em 2024, representando cerca de 350% do PIB mundial, conforme levantamento da OCDE.

Mercado chama de rinocerontes cinzentos aqueles eventos altamente previsíveis, mas sistematicamente negligenciados, e que também causam danos enormes, como as mudanças climáticas
Mercado chama de rinocerontes cinzentos aqueles eventos altamente previsíveis, mas sistematicamente negligenciados, e que também causam danos enormes, como as mudanças climáticas Foto: Taba Benedicto/Estadão

Para você

Há ainda os dragões negros, que denominam os riscos conhecidos, mas tão catastróficos que são frequentemente suprimidos ou ignorados pela sociedade. São ameaças como guerras nucleares, colapsos financeiros sistêmicos ou mudanças climáticas irreversíveis. Diferentemente dos cisnes e rinocerontes, os dragões negros representam perigos que todos reconhecem, mas preferem não enfrentar pela magnitude devastadora que carregam. Exemplo evidente é a guerra entre Rússia e Ucrânia, que já acumulou perdas globais superiores a US$ 1 trilhão desde seu início em 2022, segundo estimativas recentes do FMI.

O nosso rinoceronte cinza, em 2024, foi a dívida pública federal, que cresceu 12,2%, alcançando R$ 7,31 trilhões, ou 76,1% do PIB nacional. Em um mundo cada vez mais instável, ignorar os sinais não é apenas negligência: é abrir mão do futuro. A coragem de antecipar o inesperado, construir resiliência e investir em inovação será o verdadeiro diferencial dos vencedores. Na encíclica Laudato Si, o papa Francisco escreveu: “Sabemos que estamos destruindo nosso próprio futuro, mas escolhemos a conveniência do presente”.

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