terça-feira, 13 de maio de 2025

São Paulo sediará Fórum Mundial de Economia Circular em maio, FSP

 Fernanda Mena

São Paulo

São Paulo vai sediar em maio deste ano a primeira edição na América Latina do Fórum Mundial de Economia Circular (WCEF, na sigla em inglês). Trata-se do maior evento global dedicado à transição de um modelo de economia linear, baseado na tríade extrair, produzir e descartar, para uma economia circular, que promove uso racional e eficiente de recursos, mantendo sua circulação pelo maior tempo possível.

Criado em 2016 pelo Fundo Finlandês de Inovação Sitra em parceria com organizações internacionais, o fórum é um evento anual que reúne lideranças dos setores de negócios, governo, finanças, pesquisa e sociedade civil na busca por soluções para os desafios globais da atualidade a partir de inovações circulares.

Para isso, a nona edição do WCEF quer explorar o potencial das soluções tropicais para o crescimento sustentável e vai tratar da economia circular como uma ferramenta de desenvolvimento e um caminho para se atingir metas climáticas, como redução das emissões de carbono, transformação de resíduos em novas matérias-primas, preservação da biodiversidade e regeneração da natureza.

Ecoparque da Orizon em Paulinia capta biogás a partir de aterro sanitário e o transforma em biometano, que gera energia
Ecoparque da Orizon em Paulinia capta biogás a partir de aterro sanitário e o transforma em biometano, que gera energia - Eduardo Knapp/Folhapress

"Estamos continuamente perdendo um enorme valor que poderia acelerar nossas economias", afirma Kari Herlevi, diretor do Programa de Economia Circular do Fundo de Inovação Finlandês Sitra.

Relatório da Organização Internacional do trabalho (OIT) afirma que a transição para uma economia circular tem o potencial de criar 7 milhões de empregos globalmente —4,8 milhões apenas na América Latina e no Caribe.

"Os investimentos estão cada vez mais direcionados a negócios e projetos circulares. O setor financeiro começou a abraçar as oportunidades da economia circular, e as empresas estão implementando estratégias circulares para obter vantagem competitiva e responder às mudanças de comportamento dos consumidores", afirma Herlevi.

Os encontros e painéis do WCEF acontecem de 13 a 16 de maio na Oca e no Auditório Oscar Niemeyer, no Parque Ibirapuera, e vão abordar as estratégias circulares das indústrias e as mudanças sistêmicas necessárias para impulsionar a transição para a economia circular a partir de sessões colaborativas de especialistas do Norte e Sul global.

A expectativa é de que o evento tenha mais de 150 países representados e 1200 convidados presenciais, além de uma versão online aberta ao público.

O fórum chega ao Brasil depois de passar por países como Japão, Canadá, Ruanda e Bélgica, numa parceria com a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), a CNI (Confederação Nacional da Indústria) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai-SP).

"Este é um tema da agenda da indústria, que se materializa tanto nas cadeias de produção como no consumo e nas regulações. É uma economia que nós queremos e que o mundo necessita", afirmou Kalil Cury Filho, diretor-adjunto do Departamento de Desenvolvimento Sustentável da Fiesp. "É uma questão de custo e de racionalizar o uso das matérias-primas, evitando desperdícios."

Para Anícia Pio, gerente do mesmo departamento da Fiesp, é fundamental que essa transição seja "inclusiva e justa, que são premissas dessa nova economia". Ela conta que a Fiesp abriu uma chamada para cases de circularidade na indústria brasileira e recebeu quase 200 inscrições.

Os sistemas de produção circular envolvem a simbiose de uma série de atores nas cadeias produtivas e têm ganhado cada vez mais força no país. Uma pesquisa realizada em 2024 pela CNI e o Centro de Pesquisa em Economia Circular da Universidade de São Paulo (USP), junto à base industrial nacional, revelou que 85% das indústrias brasileiras já adotam pelo menos uma prática de economia circular.

"A indústria é essencial na transição para uma economia circular e pode contribuir mais", aponta o superintendente de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI, Davi Bomtempo. Para ele, trata-se de uma questão de competitividade. "Promover o uso eficiente de recursos e a redução de emissões impacta nos custos e também na reputação dos negócios. "O consumidor cada vez mais coloca essas práticas na balança na hora da tomada de decisão", avalia.

6 em cada 10 indústrias brasileiras adotam práticas de economia circular, diz CNI, Fernanda Mena - FSP

 Fernanda Mena

São Paulo

Redução de custos, estímulo à inovação e fortalecimento da imagem corporativa. São estes os principais benefícios que práticas de economia circular trazem para a indústria brasileira, de acordo com uma enquete da Confederação Nacional da Indústria (CNI) que ouviu 1.708 empresas dos setores extrativo, de transformação e da construção civil.

De acordo com o levantamento, realizado entre 3 e 13 de fevereiro, 6 em cada cada 10 indústrias brasileiras já adotam práticas circulares. Entre elas estão a reciclagem de produtos, presente em um terço das empresas (34%), seguida pelo oferecimento de reparo de itens durante o uso (32%) e pela utilização de recurso reciclado ou recuperado em novos produtos (30%).

Os dados foram divulgados nesta terça (13) no Fórum Mundial de Economia Circular (WCEF, na sigla em inglês). O evento, criado em 2017 pelo Fundo Finlandês de Inovação Sitra em parceria com organizações internacionais, ganha sua primeira edição na América Latina nesta semana depois de passar pela Europa, Ásia, África e América do Norte.

Trata-se do maior evento mundial dedicado à transição global de um modelo de economia linear, baseado na tríade extrair, produzir e descartar, para uma economia circular, que propõe uma abordagem sistêmica para reduzir o uso de recursos, minimizar a produção de resíduos e regenerar sistemas naturais.

Fardo de latas de alumínio na planta de reciclagem da Flacipel, que pertence ao grupo Multilixo, e é a maior planta de triagem mecanizada da América Latina
Fardo de latas de alumínio na planta de reciclagem da Flacipel, que pertence ao grupo Multilixo, e é a maior planta de triagem mecanizada da América Latina - Bruno Santos/Folhapress

No contexto industrial, isso se traduz em práticas voltadas à retenção de valor dos materiais, ao reaproveitamento de insumos e ao redesenho de processos produtivos. Isso porque a extração de recursos naturais mais que triplicou desde 1970 e deve aumentar 60% até 2060 em relação aos níveis de 2020. O consumo global de materiais deve dobrar nos próximos quarenta anos enquanto a geração de resíduos pode aumentar até 70% até 2050, num processo considerado insustentável.

A nona edição do fórum, que acontece nesta terça e quarta-feira (14), na Oca, no parque Ibirapuera, em São Paulo, foi produzida numa parceria com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai-SP).

Fechado presencialmente para convidados e aberto ao público em sua versão online, o evento reúne lideranças dos setores de negócio, governo, finanças, pesquisa e sociedade civil na busca por soluções para os desafios globais da atualidade a partir de inovações circulares.

"A realização do evento em SP é um passo importante para posicionar a circularidade como um eixo estratégico nas discussões da COP30. O evento permite antecipar soluções que integram inovação, competitividade e compromisso climático", afirma Roberto Muniz, diretor de Relações Institucionais da CNI. "Entendemos que o tema da economia circular é peça-chave para o alcance das metas climáticas e para o desenvolvimento sustentável", completa.

O estudo da CNI aponta que 58% das empresas entrevistadas acreditam que ações de economia circular contribuem para a redução das emissões de gases de efeito estufa. Por outro lado, muitas questões sobre o tema não foram respondidas pelas empresas, o que indica o grau de desconhecimento do empresariado sobre o tema. Parte significativa da indústria (43%) por exemplo não sabe quais são as barreiras educacionais e culturais à adoção de práticas circulares pelas empresas.

Entre as barreiras à economia circular identificadas pelas empresas estão a falta de conscientização dos consumidores (25%) e a ausência de estratégias para engajá-los (23%). Do ponto de vista econômico, a taxa de juros de financiamento foi o fator mais citado como obstáculo (22%). A limitação da oferta de soluções circulares economicamente viáveis (20%) e a percepção de que há baixa demanda por esses produtos e serviços (19%) também são citados como entraves.

No campo tecnológico, 30% das empresas destacam a viabilidade econômica das tecnologias como o principal desafio. A ausência de mão de obra qualificada (26%) e a baixa colaboração entre empresas e instituições de ciência e tecnologia (23%) são citadas.

As regulamentações em vigor também são apontadas como fatores que influenciam a adoção de práticas circulares. O governo federal lançou no ano passado uma Estratégia Nacional de Economia Circular e aprovou, na semana passada, um Plano Nacional de Economia Circular.

No caso das normas tributárias, 45% das empresas consideram que a atual estrutura dificulta a implementação da economia circular.

Questionadas sobre medidas prioritárias que o governo poderia adotar no campo regulatório, 53% das empresas sugerem a simplificação das normas. A convergência entre regulamentações federais, estaduais e municipais (31%) e o alinhamento entre regulações ambientais, sanitárias e tributárias (23%) foram citados em seguida.

O levantamento indica que a presença de práticas de circularidade varia bastante entre diferentes setores. Entre as empresas que afirmam adotar medidas circulares em alta proporção estão as de calçados (86%), biocombustíveis (82%), equipamentos eletrônicos (81%), veículos (81%), coque e derivados de petróleo (80%) e celulose e papel (79%). Já setores como o farmacêutico (33%), da construção civil (39% a 42%) e de impressão (40%) apresentam os índices mais baixos de ações ligadas à economia circular.