domingo, 25 de agosto de 2024

Galípolo precisa de um intérprete, Elio Gaspari, FSP

 Quando um diretor do Banco Central fala, deve medir suas palavras. Se está na pole position para assumir a presidência da instituição, pode até ficar calado.

O doutor Gabriel Galípolo foi a um evento e falou várias vezes da taxa dos juros. Em minutos, o dólar encostou nos R$ 5,60.

O diretor do Banco Central Gabriel Galípolo - Gabriela Biló - 4.jul.23/Folhapress

Explicando-se, disse que teve "uma interpretação inadequada".

Ganha um fim de semana na Argentina, onde a inflação bateu na marca de 263,4% para os 12 meses anteriores a julho, quem tiver uma interpretação adequada para o que ele disse:

"Na minha interpretação, posição difícil para o Banco Central não é ter que subir juros. Posição difícil é inflação fora da meta, que é uma situação desconfortável".

A TRISTE SINA DOS FUNDOS ESTATAIS

Num mesmo dia, o cidadão recebeu duas notícias. Uma revelava que os Correios cobriram parte do rombo do fundo de previdência de seus funcionários, o Postalis. Coisa de R$ 7,6 bilhões. Outra informava que os fundos de pensão das estatais querem mais liberdade para decidir onde investir. É um pesadelo que retorna.

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Fundos de investimento podem botar dinheiro em maus negócios, e isso faz parte da vida. Em Pindorama, a coisa foi diferente. Fundos das estatais investiram em micos, seguindo a vontade do comissariado do Planalto. Em 2014, perderam R$ 31 bilhões.

As malfeitorias da época resultaram em operações policiais, investigações do Congresso, delações premiadas e falências. Tudo documentado.

A matriz do desastre era uma associação entre gestores apadrinhados pelo comissariado e empresários e papeleiros bem relacionados. Atribui-se a Albert Einstein um definição de insanidade:

É fazer a mesma coisa esperando um resultado diferente.

Se Einstein disse ou não disse isso, é uma dúvida, mas Lula gosta muito de usar essa palavra para qualificar comportamentos alheios.

Pablo Marçal é grito 'Xandão chegou!' no bordel bolsonarista, FSP

 Eu te entendo, Pablo Marçal. Se eu ganhasse a vida enganando otário e visse Bolsonaro (PL) sendo eleito em 2018, concluiria o mesmo que você concluiu: subestimei o tamanho do meu mercado.

Apostando no peso eleitoral do segmento otário da população, Marçal lançou-se candidato a prefeito de São Paulo. No último Datafolha, empatou tecnicamente com Guilherme Boulos (PSOL) e Ricardo Nunes (MDB), numericamente à frente do atual prefeito.

O candidato à Prefeitura de São Paulo Pablo Marçal (PRTB) em debate promovido por Faap, Estadão e Terra, na capital paulista - Bruno Santos - 14.ago.2024/Folhapress

Foi como se gritassem "Xandão chegou!" no bordel bolsonarista. Jair correu para um lado dizendo que Marçal não tem caráter. Eduardo correu para o outro lembrando que Marçal dizia que Lula e Bolsonaro eram a mesma coisa. Carluxo se trancou no banheiro e declarou apoio à candidata do Partido Novo porque não entendeu exatamente quais eram as opções.

Nikolas Ferreira, mais jovem, teve medo de ofender o golpista com maior expectativa de vida e anunciou que não faria campanha para ninguém em São Paulo esse ano. Marçal xingou Carluxo de "retardado", pediu de volta o dinheiro que deu para Bolsonaro na campanha passada, mas continua dizendo que apoia o Jair.

O crescimento de Marçal é um problema para Bolsonaro. Seu principal objetivo nesta eleição é conseguir que gente do centrão (como Ricardo Nunes) lhe deva favores. Jair precisa do centrão para aprovar sua anistia no Congresso.

Marçal tem mais seguidores nas redes sociais que Nunes, mas o Congresso se parece muito mais com Nunes do que com Marçal. É no TikTok de Brasília que Jair precisa rebolar.

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Por isso, Bolsonaro está trabalhando nesta campanha mais do que trabalhou em qualquer coisa antes, durante ou depois de sua Presidência. Se essa jogada der errado, ele tem mais chance de ser preso.

Mas se os políticos do centrão descobrirem que Bolsonaro não entrega os votos de seu eleitorado, o valor de Jair como aliado cai a zero. Afinal, quem vai querer um aliado que lhe transfira seus inimigos, mas não seus aliados?

O eleitorado de extrema direita tem razão em se sentir confuso.

Sempre que você assistir a uma declaração de apoio de Bolsonaro a Nunes, preste atenção em sua linguagem corporal. Ela diz: "Por favor, votem nesta porcaria aqui porque é a turma dele no centrão que pode me livrar de ser preso por ter matado pelo menos 100 mil pessoas na pandemia e tentado um golpe de Estado. Sim, eu sei que vocês preferiam votar naquela outra porcaria ali. Mas peço que votem nesta daqui, como prova de lealdade a uma porcaria ainda maior, que no caso sou eu".

Ninguém precisa sentir pena de Ricardo Nunes. Quem chamou os extremistas para dançar foi ele. Negou que o 8 de janeiro tenha sido uma tentativa de golpe, encontrou-se com a extrema direita italiana, só faltou dar cloroquina para a ema. Perdeu sua honra e talvez ainda perca a eleição.

Marçal diz que o eleitorado de direita vota nele porque não é gado, porque não tem lealdade cega a nenhum líder, nem mesmo Bolsonaro.

Na verdade, a guerra civil na extrema direita prova que há riscos em recrutar seus eleitores apenas por estímulos emocionais de curto prazo, por choques de adrenalina causados por ofensas e grosserias, por reflexos de autodefesa diante de ameaças imaginárias. Deu certo para Bolsonaro até aparecer alguém com ainda mais disposição do que ele para mentir, para ofender, para chocar pela baixeza.