sexta-feira, 23 de agosto de 2024

Luiz Ernesto Machado Kawall (1927 - 2024) Mortes: Luiz das Artes dedicou a vida a criar museus, FSP

 

São Paulo

Jornalista de formação, Luiz Ernesto Machado Kawall dedicou a via a criar museus e a divulgar a cultura no país. Tanto que ganhou o apelido de Luiz das Artes.

Nascido em 11 de junho de 1927 na cidade de São Paulo, Luiz Ernesto pensava em cursar medicina, mas quando abriram as inscrições para a primeira turma de jornalismo da Faculdade Cásper Líbero, logo se inscreveu.

Formado em 1951, ele iniciou sua carreira na Tribuna da Imprensa, no Rio de Janeiro, a convite de seu paraninfo, Carlos Lacerda, também diretor do jornal. Passou depois por diversos veículos jornalísticos do país e foi colunista desta Folha nos anos 1970.

Um homem idoso sorri enquanto está em um ambiente decorado com obras de arte coloridas. Ele usa um paletó escuro e uma camisa clara. Ao fundo, há uma lâmpada acesa e várias pinturas, incluindo corações e um pássaro. Uma mulher com óculos e cabelo claro está ao seu lado, interagindo com ele.
Luiz Ernesto Machado Kawall (1927 - 2024) - Bruno Poletti - 13.out.15/Folhapress

Foi responsável pela edição de uma página voltada às artes visuais na Ilustrada. Muitos de seus textos publicados aos domingos na Folha foram reunidos no livro "Artes Reportagens" (1972), que teve duas edições.

Viajou por todo o país, o que lhe permitiu conhecer a cultura e as artes regionais. Em casa, guardava discos de vinil, literatura de Cordel e quadros de Candido Portinari e de Tarsila do Amaral —de quem era amigo—, além de outras raridades como uma televisão de 1950 trazida ao país pelo jornalista e empresário Assis Chateaubriand.

No início dos anos 1970, foi designado pelo então governador de São Paulo, Abreu Sodré, para organizar a fundação do MIS (Museu da Imagem e do Som) paulistano, inspirado no MIS do Rio de Janeiro, criado dez anos antes por Carlos Lacerda. Foi também diretor técnico do museu.

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Depois fundou o Museu Caiçara, em Ubatuba, no litoral norte do estado. E ao longo dos anos se envolveu com a vida cultural do município, promovendo festivais de viola caipira com artistas locais e do Vale do Paraíba.

Mas seu grande projeto foi a criação do Museu da Voz, conhecido também como Vozoteca, um acervo de 12 mil gravações que foi doado em 2013 ao Instituto de Estudos Brasileiros da USP.

Estão ali falas de Getúlio Vargas, Jânio Quadros, Winston Churchill, Luiz Gonzaga, Carmen Miranda e a primeira gravação de que se tem registro, feita por Thomas Edison em 1877 —na qual o americano lia a canção infantil "Maria Tinha um Carneirinho".

Luiz Ernesto morreu no dia 13 de agosto, aos 97 anos. Ele deixa a esposa, Zilda, as três filhas —Márcia, Beatriz e Helena—, seis netos e sete bisnetos.

"O maior aprendizado que levarei, e posso dizer que toda a família levará, para sempre de meu avô, é a generosidade. Não uma generosidade qualquer, mas algo profundo, sobre o fluxo de energia que se cria ao compartilhar. Vivemos com ela em nós e sabemos que é um legado lindo", disse a neta Maria Kawall Prado, antes de contar um temor relatado pelo avô.

"Na beira do leito, ele nos confessou que tinha medo de ser esquecido. Nós dissemos que seria impossível, pois ele sempre viverá em nossas tão doces e amorosas memórias."

Hélio Schwartsman - Datafolha Tormenta eleitoral, FSP

 Quando parecia que teríamos em São Paulo uma eleição clássica, isto é, da esquerda inserida no sistema contra a direita não extremista, Pablo Marçal dispara nas pesquisas e embola tudo. É preciso aguardar as próximas sondagens para ver se a chispada de Marçal é um espasmo ou uma tendência. A posição do influenciador encerra inconsistências que podem ser atribuídas ao baixo nível de conhecimento do candidato.

Para dar um exemplo, por mais que Marçal levante bandeiras que soam como música a ouvidos evangélicos, é estranho ver religiosos apoiando com tanto entusiasmo um sujeito que já foi condenado por furto qualificado e é acusado de manter vínculos com o PCC.

O influenciador Pablo Marçal, candidato à Prefeitura de São Paulo, em debate na Band - Bruno Santos/Folhapress

Na semana que vem começa a campanha no rádio e na TV. Especialmente o prefeito Ricardo Nunes deverá tentar desconstruir o rival. Outro que deverá atuar contra Marçal é Jair Bolsonaro. O ex-presidente vinha tratando o influenciador com certa ambiguidade a fim de manipular Nunes. Usou-o, por exemplo, para impor ao prefeito o nome de sua preferência para o lugar de vice.

Mas o bolsonarismo já percebeu que essa é uma aposta de risco. Como todo líder com tendências autoritárias, o capitão reformado não pode tolerar o surgimento de figuras que possam fazer-lhe sombra. Mas há aí um problema de ajuste fino. Se a ascensão de Marçal se mostrar de fato sólida, Bolsonaro poderá em algum momento bandear-se para seu lado. O ex-presidente está inelegível até 2030. Seu único capital é o poder de influenciar a direita. Ele não vai querer passar recibo de que não controla sua base.

Se Marçal conseguir desbancar Nunes, o maior beneficiado será Guilherme Boulos. O segundo turno é uma batalha de rejeições. Sei que pode soar meio surreal, mas, numa disputa entre o líder sem-teto e o influenciador de direita, o primeiro é que representaria a opção mais institucional e menos incendiária.

No Brasil, não há risco de morrermos de tédio.

quinta-feira, 22 de agosto de 2024

Reação tardia a Marçal reflete um velho pesadelo de Bolsonaro, Bruno Boghossian ,FSP

 Quando Pablo Marçal era só um aproveitador que trazia no currículo uma condenação por participar de fraudes bancárias e jogava sujo na eleição pelo comando da maior cidade do país, Jair Bolsonaro dizia que aquele era um sujeito com virtudes. O capitão só mudou o tom depois de perceber que o ex-coach representava uma ameaça interna.

A reação tardia ao avanço de Marçal na eleição paulistana reflete antigos tormentos do ex-presidente: o medo de perder o monopólio da direita e o risco de ser substituído nesse campo. Trata-se de um pesadelo recorrente, que também deu as caras no rompimento com Sergio Moro e na adesão precoce a uma eventual candidatura de Tarcísio de Freitas.

O grupo do ex-presidente sempre acreditou que sua ascensão em 2018 havia inaugurado um longo ciclo de domínio da direita. Mesmo inelegível, Bolsonaro reivindica controle absoluto sobre a escolha de um sucessor que lhe deva obediência e, em caso de vitória, aceite exercer uma espécie de poder compartilhado.

Jair Bolsonaro (PL) participa de live ao lado de Pablo Marçal (PRTB) em 2022 - Reprodução/Canal O Grito da Liberdade no YouTube

O desempenho de Marçal ofereceu uma amostra de que esse roteiro pode ser quebrado. Ele não apenas pediu que eleitores de Bolsonaro ignorem a recomendação de voto do ex-presidente na capital paulista como também passou a dizer, com todas as letras, que apenas ele representava a verdadeira direita.

O capitão e seus aliados deixaram claro que não veem essa disputa apenas dentro dos limites do município. O vereador Carlos Bolsonaro declarou irritação com a pretensão de Marçal de representar "a nova direita". Já o ex-presidente deixou de lado um patente desinteresse pela candidatura de Ricardo Nunes e decidiu agir em causa própria.

O que mais incomoda os bolsonaristas é o fato de que Marçal anda dizendo, a quem quiser ouvir, que tem planos de se candidatar a presidente em 2026. Ganhando ou perdendo a eleição em São Paulo, ele já mostrou que tem disposição de explorar uma fratura na direita para contestar o comando do ex-presidente sobre esse campo político.