A sensação atual é de que a cidade nunca se verticalizou tão rápido. Num piscar de olhos um velho conjunto de casas vira um prédio de apartamentos. Bairros repletos de pequenas residências estão sendo demolidos e dando lugar a edifícios de oito ou dez andares. Quem está por trás disso são dezenas ou centenas de construtoras que estão sentindo o bom momento econômico para explorar o mercado.
Um desses empreiteiros é André Fakiani, CEO da Global Realty Brasil, uma empresa nacional que tem três projetos de prédios residenciais em andamento. E prepara mais dois para o ano que vem. Um desses está na rua Melo Alves, nos Jardins, e envolve a ameaça de demolição do bar Balcão, patrimônio da história da cidade. Fakiani garante que o bar ficará no mesmo imóvel, podendo inclusive ser ampliado. Segundo ele, a proprietária da casa, quando abriu as negociações, fez a exigência de que o bar seja preservado.
"A gente está na fase de tratar das condições de aquisição do imóvel, estivemos com a proprietária na semana passada", afirma Fakiani. "Uma vez estando tudo alinhado com ela, o próximo passo é falar com os donos do bar Balcão para a gente adequar essas questões, se vamos ampliar, se não vamos, e conhecer suas demandas, interesses e necessidades."
Um dos proprietários do Balcão Francisco Millan critica a ideia da ampliação, que descaracterizaria o lugar, e diz que não tem detalhes do negócio entre a proprietária e a empreiteira. "Até agora não sentaram comigo para nada, absolutamente nada", diz. "O corretor deles me falou que teria que interditar o bar por seis meses para adaptações. Só isso pode comprometer a nossa saúde financeira irremediavelmente."
Seja como for, é mais um prédio se aboletando em uma área ocupada por casas e ameaçando algum patrimônio histórico, num fenômeno que se repete em toda a cidade. O projeto da Global, uma gota nesse oceano, terá 40 unidades e apartamentos de 90 a 120 metros quadrados. Pelos padrões atuais são imóveis para a classe média, com preços superiores a R$ 1 milhão.
"É uma questão muito cultural do brasileiro", diz. "Em outros lugares do mundo, as pessoas se transferem, conforme o tempo vai passando, para bairros horizontais, mais abertos, com menos fluxo de pessoas. Aqui é exatamente o inverso." Fakiani conta que muita gente está saindo de zona Leste e de cidades como Osasco, além de outras regiões periféricas, querendo morar em locais mais adensados.
Ele diz que o dilema maior do mercado imobiliário hoje é o grande número de interessados em viver nas zonas centrais em apartamentos supercompactos, ainda que percam qualidade de vida.
Segundo o empreiteiro, essa grande quantidade de supercompactos é ruim, sobretudo quando você os coloca numa região com um número gigantesco de pessoas que não criam raiz, são moradores de passagem. Ele se diz Incomodado ao ver empreendimentos inteiros sendo construídos como se fossem hotéis. "O que a gente faz nesse segmento são apartamento de 30 metros quadrados com pé direito de 4,32 metros, como um pequeno loft, que funciona bem para um casal morar", afirma.
Fakiani admite a excessiva verticalização da cidade, sabe quanto contribui para ela e lamenta a falta de planos de mobilidade urbana. Atribui ao mercado a aceleração dos números de novas construções. E tem contra si as associações de defesa do patrimônio histórico. "Eu sou o vilão, não tem jeito, a gente só precisa ter um pouco de responsabilidade e juízo para não ser o pior vilão", afirma.
O negócio de apartamentos está dividido em três faixas de preço, segundo Fakiani. Até R$ 1,5 milhão, de R$ 1,5 milhão a R$ 5 milhões e acima de R$ 5 milhões. Os primeiros abrangem os imóveis mais populares, aí vem os intermediários, destinados à classe média, e os mais caros são os apartamentos de luxo. Os dois extremos do mercado estão funcionando a todo vapor e o intermediário patina. Os apartamentos que mais vendem estão na faixa de R$ 450 mil, e as vendas raras vezes estiveram tão aquecidas. Os empreiteiros não têm do que reclamar.