sexta-feira, 24 de maio de 2024

GUSTAVO ALONSO - É função do Estado promover shows?, FSP

 No início desta semana, duas notícias veiculadas pela Folha de São Paulo acerca de grandes festas públicas movimentaram as redes sociais. O que quase ninguém colocou em pauta é a necessidade de prefeituras e estados organizarem eventos culturais massivos.

Foi no início desta semana que o prefeito de Fortaleza, José Sarto, do PDT, cancelou o show da dupla sertaneja Victor & Leo do São João da cidade. Pesou na decisão o fato de Victor Chaves ainda responder na Justiça por agressão à sua ex-mulher.

Muitos dos internautas também argumentaram que Victor e Leo seriam pouco representativos do São João nordestino. Tanto o prefeito quanto os internautas comungaram da ideia de que prefeitura deve organizar um evento desse porte, discordando eventualmente apenas dos nomes elencados.

Com atraso de 40 minutos, público acompanha show de Pabllo Vittar no Vale do Anhangabaú, durante a Virada Cultural, em São Paulo - Eduardo Knapp/Folhapress

A segunda polêmica envolveu a Virada Cultural paulistana, que ocorreu no fim de semana passado. Em matéria assinada por Guilherme Luis e Gustavo Zeitel, esta Folha publicou um balanço da festa sob o título de "Virada Cultural de São Paulo acaba como museu, com vários artistas ultrapassados".

A professora da USP, Lilia Schwarcz, influente nas redes sociais, escreveu uma crítica que conseguiu mais de vinte mil curtidas e foi muito compartilhada: "O que significa uma manchete de jornal afirmar que uma atividade cultural ‘acaba como museu, com artistas ultrapassados’? Por que será que devolvemos estereótipos quando o objetivo é conseguir likes com uma frase chamativa? (...) Aproveito para me opor a essa visão de museus (elitista e ultrapassada) contida no título do jornal."

O que a professora colocou em pauta tem sua pertinência. Mas ela não fez nenhuma ponderação ao texto em si, apenas ao título. Acabou se aproximando muito da crítica feita nas redes sociais na atualidade, que não aprofunda debates a partir de leituras textuais, mas apenas se posiciona frente a manchetes escandalosas.

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Em ambos os casos, tanto no Ceará quanto em São Paulo, não se colocou em pauta por que o governo deve organizar festas públicas. Quando o Estado gasta organizando festas massivas, é o meu e o seu dinheiro que está sendo usado. Assim, com uma canetada, onera-se os recursos públicos com gastos baseados no gosto do prefeito ou governador de plantão. E sobra menos para saúde, educação e segurança.

Há alguns anos, houve grande contestação ao fato de sertanejos terem seus shows bancados por prefeituras minúsculas do interior. A indignação era justa, mas muitos se indignaram apenas porque Gusttavo Lima, um dos pivôs da crise, era bolsonarista.

E quando o governo atua como querem os progressistas, aí vale o dirigismo cultural? Se seu artista preferido for contemplado pela Secretaria de Cultura municipal, então está certo a prefeitura custear a festa? Ou quando seu artista odiado perde as bênçãos estatais, aí vale a intromissão estatal?

A intenção dos shows massivos em praça pública é sempre boa: levar cultura à população. Trata-se de uma visão tutelada da cultura. É como se o povo fosse mero receptor, e não capaz de produzir arte. E quem ganha com isso são os grandes artistas, seja Victor e Leo, ou quem vier a substituí-los, no caso do Ceará, seja Joelma ou Pabllo Vittar, na Virada Cultural paulista.

Alguns argumentam: está na Constituição que o Estado deve proporcionar cultura aos cidadãos. Mas a única forma de estimular a cultura popular é realizando shows em praça pública? Há de se pensar formas menos tuteladas e, sobretudo, sem envolver somas exorbitantes de verba que essas festas demandam.

Outros argumentam que festas massivas trazem verba para o estado. Mas se os shows trazem tanto benefício assim para cidade, não poderia a sociedade civil organizá-los? Bastaria ao Estado proporcionar o espaço, segurança e saúde pública. Essa é a obrigação do Estado, não a de pagar por músicos, palcos, luz, som e cachês de cantores famosos ou grupos carnavalescos.

Não se trata de abolir o Estado da cultura. A criação de museus é um exemplo de gasto estatal que gera maiores benefícios culturais, que não se esvaem ao sabor de uma noite. Quantos museus e casas de cultura poderiam ser sustentados com a verba da Virada paulistana ou do São João de Fortaleza?

Outra forma de estimular a cultura seria construindo escolas de música e teatros pela cidade, especialmente nas periferias. Ou ainda a contratação de artistas para fazerem oficinas em escolas e comunidades de bairro. Ou mesmo o estímulo de música e teatro ao ar livre em praças públicas, para públicos menores, que desfrutariam mais da intimidade com um artista menos inalcançável. Tudo isso também é cultura.

Desde os anos 1980 criou-se no Brasil a estética de festa massiva que quase sempre depende do Estado para se realizar. São João, Carnaval, Ano Novo, Virada Cultural são algumas das mega festas financiadas pelo Estado anualmente. Recentemente o show da Madonna também contou com dinheiro da prefeitura carioca.

Até quando essa será a visão hegemônica de fomento cultural no país?

Como nostalgia deixou de ser considerada distúrbio psicológico e foi reconhecida como emoção, FSP BBC News

 Agnes Arnold-Forster

BBC NEWS BRASIL E THE CONVERSATION

A nostalgia não tem boa reputação, particularmente devido às suas recentes influências sobre a política e a sociedade. Afirma-se que esta emoção convence, ilude e cativa as pessoas na tomada de decisões eleitorais.

Tomemos o Brexit como exemplo. A "nostalgia do passado" é apontada como culpada pela decisão tomada pelos eleitores britânicos. E o slogan de Donald Trump, "Tornar a América Grande Novamente", talvez seja o melhor resumo do poder político da nostalgia.

A nostalgia parece particularmente poderosa na política hoje em dia. Mas a história desta emoção é longa e atribulada.

No passado, a nostalgia era considerada uma doença que poderia causar a morte - GETTY IMAGES

Como detalhei no meu novo livro, Nostalgia: A History of a Dangerous Emotion ("Nostalgia: história de uma emoção perigosa", em tradução livre), existem poucos sentimentos tão onipresentes e, ao mesmo tempo, dificilmente identificados quanto a nostalgia.

Uma das razões talvez seja porque, mais do que as outras emoções, a nostalgia passou por uma transformação particularmente radical ao longo dos últimos três séculos. E, há apenas cerca de 100 anos, ela não era uma simples emoção - era uma doença.

O termo "nostalgia" foi cunhado e usado como diagnóstico em 1688, pelo médico suíço Johannes Hofer (1669-1752).

Derivado do grego nóstos ("regresso ao lar") e álgos ("dor"), o termo designava uma doença misteriosa - uma espécie de saudade patológica de casa.

Nos pacientes, ela causava distúrbios psicológicos como letargia, depressão e confusão. Mas também havia sintomas físicos, como palpitações cardíacas, feridas abertas e distúrbios do sono.

Acreditava-se que a nostalgia fosse uma doença séria e de difícil tratamento, quase impossível de ser curada. Ela poderia ser fatal para as infelizes vítimas, que morriam lentamente de fome.

Como foi identificada pela primeira vez na Suíça, acreditava-se que ela fosse uma condição específica daquele país. Afinal, a Suíça é tão bonita, seu ar é tão refinado, que qualquer pessoa que saísse do país correria o risco de sofrer sérias consequências físicas.

Estudantes, mercenários e empregados domésticos eram supostamente mais vulneráveis —jovens que haviam sido levados a sair de casa e talvez tivessem dificuldade para retornar.

A nostalgia se espalhava pelos Alpes, mas logo atingiu o restante da Europa —uma verdadeira pandemia emocional, com picos proeminentes no outono, quando a queda das folhas levava os melancólicos a pensar sobre o passar do tempo e sua própria mortalidade.

Em 1781, o médico Robert Hamilton (1749-1830), da cidade inglesa de Ipswich, trabalhava em um quartel no norte da Inglaterra quando encontrou um caso preocupante de nostalgia.

Um soldado que havia entrado recentemente no regimento foi se consultar com Hamilton por ordem do seu capitão. No exército há poucos meses, ele era jovem, bonito e "preparado para o serviço".

Mas a "melancolia pairava sobre o seu semblante e a palidez dominava suas bochechas".

O soldado se queixava de "uma fraqueza universal" —um ruído nos ouvidos e tontura na cabeça. Ele dormia mal e se recusava a comer e beber.

O jovem suspirava profundamente e com frequência. Aparentemente, algo perturbava muito a sua mente.

Nenhum tratamento teve resultado e ele foi internado no hospital. O soldado permaneceu acamado por cerca de três meses e foi definhando cada vez mais.

O paciente foi atingido por uma febre e passava as noites banhado de suor. Hamilton esperava pelo pior e o considerou uma causa perdida.

Certa manhã, uma das enfermeiras mencionou para Hamilton que o soldado falava obsessivamente de sua casa e dos seus amigos. O jovem comentava de forma recorrente sobre o seu desejo de voltar para casa desde que chegou ao hospital.

Quando Hamilton foi ver o paciente, perguntou a ele sobre o seu local de origem, o País de Gales. O soldado reagiu com verdadeiro entusiasmo, ficou obsessivo e não parava de falar sobre as glórias dos vales galeses.

O jovem perguntou a Hamilton se ele o deixaria voltar para casa. O médico prometeu que, assim que a condição física do soldado melhorasse, ele poderia retornar para uma licença de seis semanas.

O paciente reviveu imediatamente. E o jovem soldado, francamente recuperado, partiu para o País de Gales a todo vapor.

Da Europa, a nostalgia se espalhou pelos navios que carregavam pessoas africanas escravizadas para a América do Norte.

Naquele momento, ela ainda não havia sido associada positivamente à corriqueira autotolerância, que é comum hoje em dia. A nostalgia tinha o poder de matar e incapacitar as pessoas. Era levada muito a sério.

De fato, ela foi uma das principais causas de morte fora de combate durante a Guerra Civil Americana (1861-1865). E a última vítima de nostalgia registrada foi um soldado raso em combate no front ocidental em 1917.

No século 20, a nostalgia sofreu modificações. Ela se diferenciou da saudade de casa e se transformou —primeiro, em um distúrbio psicológico e, depois, na emoção que conhecemos hoje em dia.

Mas os primeiros psicanalistas assumiram uma posição distorcida sobre a nostalgia e as pessoas sujeitas a serem acometidas por ela. Elas eram consideradas neuróticas, retrógadas, excessivamente sentimentais e incapazes de enfrentar a realidade.

Às vésperas da Segunda Guerra Mundial, eles suspeitavam do patriotismo: "por que um velho país, muitas vezes com uma existência triste e miserável, torna-se uma terra fantástica para as vítimas de nostalgia?"

Mas os mesmos psicanalistas também eram esnobes. Eles acreditavam que a nostalgia era mais comum entre as "classes inferiores" do que na elite cosmopolita.

Estas visões, embora não sejam mais defendidas pelos terapeutas ou psicólogos, ainda prevalecem nas discussões políticas sobre a nostalgia. De fato, a reputação atual da nostalgia, particularmente em relação à sua influência sobre a política, cultura e sociedade, não é algo tão romantizado.

Em 2016, por exemplo, a nostalgia foi apresentada como uma explicação para dois eventos eleitorais importantes: a vitória presidencial de Donald Trump, nos EUA, e o voto a favor do Brexit, no Reino Unido.

Mas, quando os jornalistas e críticos usaram a nostalgia para explicar esses momentos geopolíticos cataclísmicos, eles frequentemente a consideravam uma espécie de diagnóstico —uma resposta para explicar decisões políticas aparentemente irracionais ou fora do padrão.

Nas palavras do historiador Robert Saunders, em relação ao Brexit, o debate definiu o voto para sair da União Europeia como "um distúrbio psicológico: uma patologia a ser diagnosticada e não um argumento a ser debatido".

A nostalgia pode não ser mais uma doença, mas ela ainda não perdeu todas as suas antigas associações. Para muitos, ela permanece sendo uma explicação para decisões políticas consideradas menos progressivas e mais irracionais, tomadas por algumas pessoas.

Embora não seja mais mortal, ela permanece uma emoção perigosa.

Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado sob licença Creative Commons. Leia aqui a versão original.

Auditoria do governo de SP encontra benefícios irregulares e prevê economia de R$ 487 milhões, FSP

 Auditoria realizada pelo governo de São Paulo nas pensões e benefícios previdenciários pagos pela administração estadual identificou 138 processos irregulares, que foram eliminados.

Com isso, a projeção do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) é a de economizar mais de R$ 487 milhões em recursos públicos. O cálculo foi feito levando em conta a expectativa de vida de cada um dos beneficiários.

Governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) durante cerimônia de posse no Palácio dos Bandeirantes
Governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) durante cerimônia de posse no Palácio dos Bandeirantes - Zanone Fraissat-1º.jan.2023/Folhapress

Nos casos identificados pelo projeto "Malha Fina Correcional", os beneficiários não tinham mais direito a receber os subsídios. A Controladoria também instaurou mais 69 projetos para identificar e reparar prejuízos ao erário.

A auditoria, realizada pela Controladoria Geral do Estado de São Paulo e pela São Paulo Previdência, faz parte do chamado "Radar Anticorrupção", implementado pelo governo de São Paulo para promover ações para maior integridade e transparência na administração paulista.