domingo, 28 de abril de 2024

Terrivelmente católicos?, FSP

 Ana Carolina Marsicano

Doutoranda em sociologia (UFPE), integra o Laboratório de Estudos de Religião e Política (Laberp/Fundaj/UFPE) e o Grupo de Trabalho “Catolicismo e Conservadorismo” do Instituto de Estudos da Religião (Iser)

Tabata Pastore Tesser

Doutoranda em sociologia (USP), integra o Grupo de Estudos de Gênero, Religião e Poder (Grepo/Unicamp) e o Grupo de Trabalho “Catolicismo e Conservadorismo” do Iser

Observamos nos últimos anos diversas análises sobre a presença de evangélicos conservadores na política, ainda que os católicos estivessem sempre presente nesses espaços de poder. A identidade católica, marca latente no Brasil, representa metade da população brasileira, segundo dados do Datafolha de 2020. No entanto, a desconfiança vem sendo direcionada exclusivamente para a presença conservadora-evangélica na política.

Na manifestação do último dia 25 de fevereiro em apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), na avenida Paulista, em São Paulo, apesar do palanque ter sido marcadamente evangélico, a maioria dos apoiadores era católica. Segundo o Monitor do Debate Político no Meio Digital da USP, 43% das pessoas presentes declararam ser católicas, enquanto 29% evangélicas. De acordo com o mesmo grupo de pesquisa, no último dia 21, no ato do Rio de Janeiro, foi identificado que 38% das pessoas presentes eram católicas, frente a 33% evangélicas.

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e apoiadores em ato na avenida Paulista, em fevereiro - Bruno Santos - 25.fev.24/Folhapress

A radiografia da Câmara dos Deputados mapeada pelo Instituto de Estudos da Religião (Iser) na eleição de 2022 sobre os deputados federais eleitos apontou que 235 se declaram católicos, totalizando pouco mais de 45%. Em segundo lugar ficaram os 86 deputados que se identificam apenas como cristãos. Somente na terceira colocação é que apareceram os 76 deputados que se declararam com identidade evangélica.

Para além da expressão católica no âmbito legislativo, observamos recentemente dois casos do envolvimento de setores do catolicismo em práticas antidemocráticas. Um desses casos é o papel clerical do padre José Eduardo de Oliveira e Silva, sacerdote da Diocese de Osasco (SP), que esteve envolvido nos atos golpistas de 8 de janeiro. Ideólogo antiaborto, foi alvo da Operação Tempus Veritatis ao ser considerado pelo Supremo Tribunal Federal parte doutrinal do esquema jurídico e informacional do golpe.

Outro polemista envolvido em caso recente foi o padre goiano Luiz Carlos Lodi, fundador e líder do centro antiaborto Pró-Vida de Anápolis (GO). O padre Lodi foi processado por danos morais e ato ilícito por impedir, mediante um habeas corpus, que uma mulher realizasse a interrupção de uma gestação legal em 2005, dada a condição do feto inviabilizar a vida extrauterina. Em março deste ano, o Tribunal de Justiça de Goiás precisou bloquear os bens da associação Pró-Vida, uma vez que o religioso não arcou com os custos legais da indenização.

A relação entre católicos conservadores, sua inserção jurídica e a promoção de uma agenda antidireitos é um dos aspectos apontados pela pesquisa "Cartografia dos Catolicismos Jurídicos Antigênero", produzido pelo Iser. O relatório mapeou a presença no país de uniões de juristas católicos como parte de uma estrutura associativa criada pelo Vaticano em 1986 e inspirada nos tribunais apostólicos de Roma.

Com participação ativa de leigos católicos e a partir de uma filosofia jusnaturalista, incidem para restringir o direito ao aborto no país. Mas não só isso. Atuam também em discussões sobre tributação, relações trabalhistas, liberdade religiosa e agronegócio para pôr em prática um ordenamento jurídico terrivelmente católico.


Daniel Filho negociou volta à TV Globo, mas desistiu por cláusula que proibia política, FSP

 O diretor Daniel Filho afirmou que teve negociações recentemente com a TV Globo para voltar ao quadro da emissora, mas que a conversa teria sido interrompida por causa de uma cláusula no contrato. De acordo com declarações que deu a Hildegard Angel, em entrevista à TV Brasil 247, no YouTube, Filho recusou a exigência feita para que não falasse sobre política, caso fechasse contrato.

O diretor de cinema e televisão Daniel Filho
O diretor de cinema e televisão Daniel Filho - Divulgação

"Uma das coisas que senti, e foi grave para mim, foi que disseram que eu não poderia me manifestar politicamente durante a vigência do meu contrato. Eu disse que eu não poderia trabalhar, porque o meu trabalho é uma manifestação política e nem discuti mais o resto", disse o diretor.

Na entrevista, o diretor de sucessos como "Dancin' Days" (1978) e "Roque Santeiro" (1985), comentou que atualmente acha os programas de TV "meio iguais". Assisto televisão, mas assisto com certa tristeza. Tristeza porque acho que nós tínhamos uma coisa boa e jogamos fora. Não tem programa de humor, programa de humor era um clássico. Eu ligo a televisão e vejo futebol", disse.

Lygia Maria O egocentríssimo deputado, FSP

Para que serve um político? Para criar leis? Fornecer serviços públicos? Pode ser. Mas político serve mesmo para ser zombado. Essa é a sua mais nobre função social, essencial tanto ao cidadão quanto à democracia.

Para o primeiro, é válvula de escape dos tormentos cotidianos: foi assaltado? xingue o governador; preso no engarrafamento? apelide o prefeito; mais imposto a pagar? mande o presidente da República pastar.

Já para o sistema democrático, rir de um político o coloca em seu devido lugar, ajuda lembrá-lo de que ele não está acima da população para a qual deve trabalhar. Tal recurso pedagógico é usado desde a Roma Antiga, quando generais vitoriosos chegavam à Cidade Eterna durante eventos pomposos e eram recebidos por cânticos zombeteiros dos cidadãos. Trata-se do riso como remédio para a vaidade humana.

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, durante sessão deliberativa - Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

Mas parece que o egocentríssimo, digo excelentíssimo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), discorda. Ele ficou chateado quando o youtuber Felipe Neto o chamou de "excrementíssimo" e, por isso, resolveu denunciá-lo à polícia por injúria.

Alfred Hitchcock, o cineasta, certa vez disse que "o trocadilho é a forma mais elevada de literatura". Pelo visto, o deputado não entende o jogo da democracia do mesmo modo que ignora jogos de linguagem.
Lira pode acionar a Justiça porque não gostou de um chiste sobre sua atuação política? Pode. Deve? Só se pretende ser confundido com um líder narcisista e autoritário.

O imbróglio fica ainda mais engraçado quando sabe-se que Neto apoia o PL das Fake News, que visa de forma atabalhoada regular a liberdade de expressão nas redes sociais. Regular os cidadãos, claro —parlamentares enfiaram um adendo no projeto que os exclui de punição.

Se um deputado já denuncia um mero trocadilho à polícia sem o PL, imagine se este fosse aprovado?
Espera-se que fique a lição: a sociedade precisa defender seu direito de zombar de políticos, e eles devem aceitar que foram colocados no poder para trabalhar e nos fazer rir.