domingo, 26 de novembro de 2023

Muniz Sodré - Democratas semileais, FSP

O fato não é novo, mas o dinâmico ministro da Justiça continua devendo maiores esclarecimentos sobre um ponto deixado em suspenso: o seu não comparecimento, no dia aprazado, a uma sessão da CPI dos atos golpistas na Câmara de Deputados, por alegadas razões de segurança. É certo que ele depois se fez presente, mas ninguém pareceu querer inteirar-se dos detalhes. Sabe-se que em Brasília o ministro virou alvo preferencial de amigos e inimigos. De ataques verbais, supõe-se. Segurança pessoal é outra coisa.

Flávio Dino e Andrei Rodrigues, sentados, conversam com deputados em comissão da Câmara
O ministro Flávio Dino (Justiça) e o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, participam de audiência em comissão da Câmara comandada por Bia Kicis (PL-DF) - Raquel Lopes - 25.out.23/Folhapress

Não se trata de buscar cabelo em ovo, mas o episódio tem gravidade peculiar. Fica na mente a dúvida sobre se o perigo estaria no trajeto ou no interior da Câmara. Uma ameaça real ou suposta a um dos mais relevantes membros do governo deixa inquieta a cidadania democrática. Estranhamente, os parlamentares ouviram a justificativa, e o assunto morreu ali mesmo, por pouco relevante. É como se a lealdade cívica estivesse restrita à esfera da pequena política legislativa.

Afinal, é um novo tipo, inflado, de poder, e ninguém parece contestar a expansão desse semiparlamentarismo de devorismo, arroubos, proveitos e ameaças. Histórico: o governo anterior cavou a brecha, abriram-se jogos vorazes por verbas, e o parlamento emparedou o governo. Os métodos ultrapassam a razoabilidade legislativa. São democratas eleitos pelo povo, dirão os otimistas.

E também democratas semileais, como define Juan Linz, corroborado por Steve Levitsky e Daniel Ziblatt: "membros do establishment político que parecem agir de acordo com as regras da democracia, mas que, discretamente, as violam" (em "Como Salvar a Democracia"). Para esses autores, é gente ambígua e perigosa, que desempenha papel vital no colapso democrático.

O conceito submete-se à prova. Semileais são aqueles, parlamentares ou não, que "negam ou diminuem a importância dos atos violentos ou antidemocráticos cometidos por seus aliados". Empresários e outros membros do establishment podem até não participar diretamente desses ataques, mas semilealdade comporta tolerância e silêncio para com o extremismo. Tentam limpar as mãos com a letra da lei, mesmo cientes de que estão violando o seu espírito, a exemplo dos que investem contra o jornalismo investigativo.

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A semilealdade é caminho institucional para a infiltração de organizações criminosas no poder público ou para ciladas burocráticas como a visita da "dama do tráfico" a um ministério. É também porta aberta para violência e ameaças, que perturbam tanto instituições como a política de paz implícita na lealdade democrática. A mesma da frase presidencial aos recém-chegados da Palestina: "Que vocês encontrem no Brasil a paz que nunca tiveram em Gaza". 

sábado, 25 de novembro de 2023

Cantareira, o coração que garante água para SP, tem grande potencial de geração de energia, DAEE

 O Cantareira, um dos maiores sistemas de abastecimento de água do mundo, exemplifica a importância dos múltiplos usos dos recursos hídricos. Além de sua função primordial de fornecer água potável para cerca de nove milhões de habitantes da Região Metropolitana de São Paulo, garantindo 58% do abastecimento só do município de SP, também tem sido usado como um polo de geração de energia sustentável, com a implantação de usinas hidrelétricas de pequeno porte, operadas pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), vinculada à Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil).


A primeira usina em operação é a do Guaraú, junto à Estação de Tratamento de Água (ETA). Instalada na chegada de água bruta da ETA, a água, que antes passava pelas válvulas dissipadoras de energia (redutores de velocidade), agora segue para turbinas que passam a transformar essa energia em eletricidade. Com capacidade de geração de 4,1 megawatts (MW), a unidade também contribuirá para evitar a emissão de 12.700 toneladas de CO2 ao ano. A energia gerada, que é capaz de atender o consumo de 330 residências por uma hora, está sendo comercializada com uma operadora de telefonia como parte de um ambiente de novos negócios da Sabesp.

“O Sistema Cantareira, além de ser fundamental para assegurar a segurança hídrica do Estado de São Paulo, compartilha as infraestruturas para múltiplos usos dos recursos hídricos, como é o caso da geração de energia a partir desse sistema. Isso vai ao encontro do desenvolvimento sustentável que tanto buscamos”, reforçou a secretária Natália Resende, em visita às instalações no último sábado (2).

Além de Guaraú, a Sabesp, por meio de parcerias, constrói outra usina, prevista para entrar em operação em dezembro. Com capacidade de gerar 2,9 MW, a CGH Cascata vai aproveitar o potencial do canal que liga a represa Atibainha até a represa Paiva Castro, onde há uma estrutura hidráulica que dissipa a velocidade da água. Construída na década de 1970, a represa faz parte do conjunto de barragens que abastecem a Região Metropolitana de São Paulo. Localizada nos municípios de Franco da Rocha e Mairiporã, está em uma área de preservação de nascentes, onde o Rio Juqueri desempenha papel central no abastecimento de água.

A secretária visitou, também, a Estação Elevatória Santa Inês, a maior da Sabesp, que tem como função bombear água das represas Jaguari, Jacareí, Cachoeira, Atibainha e Paiva Castro, que estão interligadas por túneis, até a represa Águas Claras, situada no topo da Serra da Cantareira.  A estação tem capacidade para impulsionar 33 mil litros de água por segundo, por meio de três conjuntos de motobombas (além de um quarto conjunto sobressalente). Todo o sistema é subterrâneo, a 60 m do nível da via pública, e eleva a água em um desnível geográfico de cerca de 120 metros.

Monitoramento

As barragens do Sistema Cantareira são operacionalizadas e monitoradas pela Sabesp e fiscalizadas pelo Departamento de Água e Energia (DAEE) e pela Agência Nacional das Águas (ANA). O aprimoramento do Sistema tem sido feito de forma contínua, com ferramentas modernas de simulação hidrológica e sistemas automatizados que garantem a melhor operação e melhor aproveitamento dos recursos hídricos do Estado.

“O Cantareira é uma das mais belas obras de engenharia e hidráulica extremamente relevantes na matriz de oferta de água para as duas regiões mais populosas do Estado. Além disso, conta com ferramentas modernas de simulação hidrológica e sistemas automatizados que garantem a melhor operação e aproveitamento dos nossos recursos hídricos”, concluiu a superintendente do Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE), Mara Ramos, que também acompanhou a visita.

Brasil já tem seis fábricas de aerogeradores, OE

 Foram ao todo US$ 35,8 bilhões em investimentos na geração de energia eólica no Brasil, de 2011 a 2020. Os dados são da Associação Brasileira de Energia Eólica. Essa semana, o presidente da Vestas, fabricante de aerogeradores, Eduardo Ricotta, declarou que, mesmo enfrentando um ano complicado para o setor eólico com alta de preços de componentes e problemas no transporte global,  a fabricante de aerogeradores fechou 2021 com um dos melhores anos da história. Êle inclusive revelou que os planos da empresa incluem uma nova fábrica de equipamentos para eólicas de alto-mar (offshore) e hidrogênio verde, que é feito a partir da eletrólise d’água usando energia de fontes renováveis.

Para o presidente da Vestas, o trauma do setor elétrico com a crise hídrica que o Brasil atravessou ano passado pode puxar uma demanda de aerogeradores, já que grandes geradoras hidráulicas estiveram pressionadas durante o período seco e algumas precisaram comprar energia no mercado de curto prazo para honrar os contratos.

Segundo a Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), em 2020, o Brasil manteve a sétima posição no Ranking Mundial de capacidade eólica acumulada elaborado pelo GWEC (Global Wind Energy Council). No ranking que contabiliza especificamente a nova capacidade instalada no ano, o Brasil aparece em terceiro lugar, tendo instalado 2,3 GW de nova capacidade em 2020. A taxa de crescimento da capacidade instalada vem subindo na média de 47% nos últimos 10 anos e cresceu 482% entre 2012 e 2018.

No Brasil, temos seis fabricantes de aerogeradores: Siemens Gamesa, GE, WEG, Wobben, Vestas e Nordex Acciona.

Os bons ventos do Nordeste

80% dos parques eólicos brasileiros estão no Nordeste, diz a Associação Brasileira de Energia Eólica. Isso porque a região possui um dos melhores ventos do mundo para produção de energia eólica. Os bons ventos para produção de energia eólica são os mais constantes, têm uma velocidade estável e não mudam de direção com frequência. Quase todos os parques do mercado livre ficam em estados nordestinos, são eles: Rio Grande do  Norte, Bahia, Ceará, Piauí, Pernambuco, Paraíba, Maranhão e Sergipe. Somente o Rio Grande do Norte, líder entre os estados, possui 2.655 aerogeradores, e a Bahia 2.329 aerogeradores. Os números refletem o domínio da região nos leilões, o que faz sentido, já que boa parte dos parques eólicos do mercado livre é desenvolvida de forma associada a usinas negociadas no mercado regulado, como uma forma de dividir riscos, compartilhar estruturas e ter ganhos de escala.

A instalação de parques eólicos contribui ainda para o aumento do Produto Interno Bruto (PIB) e do Índice de Desenvolvimento Humano do Município (IDHM) conforme estudo da GO Associados. Foi realizado um comparativo entre grupo de municípios que receberam parques eólicos com outros que não possuem.  Por meio dessa comparação, foi identificado que nos municípios que receberam a instalação, o PIB real aumentou 21,15% e o IDHM cresceu 20%.