quarta-feira, 15 de novembro de 2023

Bernardo Guimarães - Precisamos taxar mais os combustíveis fósseis, FSP

Já é noite e ainda são 30 graus Celsius em São Paulo. 2023 deve bater o recorde de maior temperatura global desde quando começamos a medi-la.

Preocupados com o aquecimento global, nós, humanos, ensinamos as crianças a plantarem árvores, cantamos musiquinhas, fazemos filmes e queimamos uns 4 trilhões de litros de petróleo todo ano. Fazemos conferências, nossos líderes se reúnem para buscar soluções e até saem medidas para brecar as emissões, mas o problema só piora.

Escrevo "medidas para reduzir as emissões" e quase consigo ver alguém em Brasília planejando um novo modo de subsidiar projetos que contribuem para a transição energética. Subsídios estes que serão pagos com outros impostos, hoje ou no futuro, mas que não entram na conversa.

Instalação Eggcident, sobre aquecimento global, do artista holandês Henk Hofstra, em São Paulo - Divulgação

E se a gente aumentasse gradualmente o imposto sobre combustíveis até chegar a, digamos, R$ 5 em alguns anos? E se o mundo todo fizesse isso? O que aconteceria?

Consumimos no Brasil uns 60 bilhões de litros de álcool e gasolina anualmente. Colocar R$ 5 sobre 60 bilhões de litros totalizariam R$ 300 bilhões. Contudo, a arrecadação desse imposto seria bem menor que esses R$ 300 bilhões. E essa é a parte mais interessante.

Comparado a um veículo normal, um carro híbrido ao rodar 100 mil km gasta uns 4.000 litros de gasolina a menos. Com os preços de hoje, isso se traduz em uma economia de R$ 20 mil, valor bem menor que a diferença de custo entre os carros.

Trânsito em São Paulo no Dia Mundial sem Carro - Adriano Vizoni/Folhapress

Com o imposto de R$ 5, o carro híbrido começa a ficar atraente. Carros elétricos ainda mais, e o esforço para desenvolver novas tecnologias passa a ser ainda mais voltado para veículos e equipamentos que usam energia limpa. Carros que consomem muito combustível passam a ser menos demandados.

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Mas vai ficar tudo mais caro? Bem, o efeito direto desse imposto é encarecer as viagens e o transporte de longas distâncias. Produtos que viajam muito passarão a ser menos competitivos. Nosso bolso nos fará comprar bens que viajam menos. Por outro lado, com esse imposto, não precisaremos de outros.

Não é melhor subsidiar os veículos mais econômicos ou alternativas que não poluem? Não. Esse argumento parece esquecer que um subsídio implica outros impostos, enquanto um novo imposto abre espaço para reduções na carga tributária. Nós queremos reduzir as emissões. A solução é aumentar o preço de emitir combustível –e poder baixar o imposto sobre a produção e o trabalho.

Quem arca com o custo desse imposto?

A parte mais óbvia é que o consumidor pagará mais pela gasolina e pelo custo de transporte implícito no preço dos bens. A parte menos óbvia é que parte da conta de um imposto mundial sobre o petróleo cairá na conta da Arábia Saudita.

Vejamos. A gasolina está muito cara. Então passamos a produzir e comprar carros que consomem menos combustível e produtos que viajam menos. Assim, cai a demanda por petróleo no mundo.

Essa queda na demanda é acompanhada da redução na produção e no preço do petróleo. Com o preço menor, para de haver produção em locais onde o custo de extração é alto (como a maior parte do Canadá), mas continua havendo produção onde é barato extrair (como a Arabia Saudita).

Só que agora o petróleo é exportado da Arábia Saudita a um preço menor, mas os consumidores pagam mais. A diferença é o imposto que fica com o governo do país.

Está preocupado com o aquecimento global? Vamos trazer para o debate a ideia de tributar pesadamente o que gera emissões de gás carbônico. Venha comigo, a hora é já. Podemos resolver esse problema. Ou podemos continuar fazendo filmes e musiquinhas.

 

Elio Gaspari - Dino precisa de uma GLO, FSP

 Na segunda-feira, os repórteres André Shalders e Tácio Lorran revelaram que Luciane Barbosa Farias, mulher do traficante Tio Patinhas, do Comando Vermelho, esteve duas vezes no Ministério da Justiça, reunindo-se com servidores. Horas depois, o ministro Flávio Dino correu a explicar-se:

— Nunca recebi, em audiência no Ministério da Justiça, líder de facção criminosa, ou esposa.

Ninguém havia dito que Dino havia recebido "a dama do tráfico amazonense", condenada a dez anos de prisão.

Print da publicação de  Luciane Barbosa Farias no 4º Encontro Nacional dos Comitês de Prevenção e Combate à Tortura e Mecanismos de Prevenção e Combate à Tortura
Luciane Barbosa Farias publica foto em evento de combate à tortura do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, em Brasília, em 6 de novembro - Reprodução/luhfariasoficial no Instagram

Quem recebeu a Madame Tio Patinhas foram o secretário de Assuntos Legislativos do Ministério, o secretário Nacional de Políticas Penais, o diretor de Inteligência Penitenciária e a Ouvidora Nacional de Serviços Penais. Em todos os casos, a senhora acompanhava um grupo recomendado por uma ex-deputada estadual fluminense que é vice-presidente da Comissão de Assuntos Penitenciários da Associação Nacional da Advocacia do Rio de Janeiro (Anacrim-RJ).

Pela fala do ministro, receber no ministério uma senhora condenada, casada com um traficante também condenado a 31 anos de prisão, foi coisa dos subordinados. Segundo um dos responsáveis, a entrada do grupo atendeu a ex-deputada estadual. Tratava-se de discutir casos de jovens assassinados.

A reação de Dino e de seus servidores foi típica das organizações fracassadas. Seja qual for o problema, a responsabilidade não é minha, pois é dele, e assim sucessivamente, até que o assunto seja esquecido.

A anomalia só foi discutida, e corrigida no mesmo dia, porque o caso foi divulgado. Afinal as visitas ocorreram há meses, sem registro da presença de Madame Tio Patinhas no grupo. Se os dois repórteres estivessem cuidando das virtudes das GLO do Rio, a ex-deputada teria mostrado seu prestígio, a Anacrim teria exibido sua importância e Madame Tio Patinhas teria documentado seu trânsito.

O episódio mostrou que entrava-se no Ministério da Justiça e nos seus ilustres gabinetes sem qualquer checagem. Seria absurdo checar? Vale lembrar que os cidadãos comuns passam horas em voos internacionais e têm seus passaportes checados pela Polícia Federal.

Outro dia o ministro Flávio Dino festejou o decreto de Garantia da Lei e da Ordem parcial que usa efetivos das Forças Armadas para fiscalizar as entradas no Rio de Janeiro. Iria bem pedir um pelotão para verificar a porosidade de seu Ministério. Seria uma GLO de alto nível.

Dino explicou que diversos sistemas de informação relacionados com a segurança pública não se falam entre si. Há algum tempo, os sistemas do Ministério da Justiça também não se falavam. Isso não acontece porque a inteligência artificial é coisa complexa, mas porque a esperteza natural é simples: o negócio é vender equipamentos e os subsequentes serviços de manutenção. Se padronizar, acabam as boquinhas.

Madame Tio Patinhas circulou pelo Ministério da Justiça pelo mesmo motivo que milicianos e traficantes são libertados. Às vezes isso acontece porque se pode jogar a culpa nos sistemas. Quando esse golpe não funciona, um desembargador baiano entra num plantão e solta o Dadá do Bonde do Maluco. A denúncia desse absurdo partiu do Ministério de Dino e em pouco dias o Conselho Nacional de Justiça afastou o magistrado. Não se passou adiante a responsabilidade.

Coordenador do Prerrogativas rebate Conib após crítica a Lula, FSP

 


O advogado Marco Aurélio Carvalho, coordenador do grupo jurídico Prerrogativas, criticou a Conib (Confederação Israelista Brasileira), após a entidade ter chamado de "perigosa" uma declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em que comparou a ação militar de Israel na faixa de Gaza ao ataque do grupo terrorista Hamas.

O advogado Marco Aurélio Carvalho, coordenador do Prerrogativas - Mathilde Missioneiro/Folhapress

Carvalho disse que é preciso ser ao mesmo tempo contra o antissemitismo, a islamofobia e a guerra.

"O presidente Lula deu mais uma lição ao Brasil e ao mundo. Foi muito corajoso e oportuno ao dizer apenas as verdades que precisam ser ditas. Equivocadas e perigosas são a miopia e a indignação seletiva dos que insistem em não enxergar o óbvio, afirmou.

Nesta segunda-feira (13), Lula criticou o Estado judeu pelos ataques a Gaza, que têm vitimado civis, e disse que eram tão graves quanto a ação terrorista do Hamas.

Carvalho ressalvou que se manifesta em nome pessoal. "Que a Conib ouça os judeus progressistas de todo o país e que possa se reposicionar condenando toda e qualquer tipo de atrocidade", cobrou.

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Segundo o advogado, que é próximo de Lula, o presidente falou em nome de todos os que se revoltam com a barbárie.

"É preciso ao mesmo tempo fazer o repúdio veemente aos ataques terroristas odiosos do Hamas e o repúdio veemente às reações desproporcionais e verdadeiramente genocidas do governo de extrema-direita de Israel", afirmou.