domingo, 21 de maio de 2023

Ciro acumula condenações e enfrenta fila de credores e até bloqueio para licenciar carro, FSP

 


BRASÍLIA

Conhecido pela retórica inflamada contra adversários, o ex-presidenciável Ciro Gomes (PDT) coleciona condenações por danos morais e tem sido alvo de ações de execução em série, o que já resultou em penhora e leilão de imóveis, constante bloqueio de valores em suas contas bancárias, incluindo R$ 101 mil na da sua mulher, chegando até o recente impedimento para licenciar um carro.

Ciro declarou no ano passado —quando disputou a Presidência e ficou em quarto lugar— patrimônio de R$ 3 milhões, mas a Justiça tem encontrado dificuldade para fazer valer as cobranças.

Prefeito, governador, ministro e quatro vezes candidato à Presidência, Ciro é alvo ou figura como autor em cerca de uma centena de ações criminais e cíveis relativas a danos morais, em especial no Ceará e em São Paulo.

Ciro Gomes antes do debate entre os candidatos à Presidência da República de 2022, na TV Globo - Eduardo Anizelli-29.set.2022/Folhapress

A defesa do ex-presidenciável afirma que Ciro sofre restrição incomum ao seu direito de expressão, que as punições têm valores muito acima do normal e que ele não tem recursos e bens penhoráveis para cobri-las.

Diz ainda que as suas "nítidas dificuldades financeiras" decorrem de ele ser um político honesto, que não responde a processo de dano ao erário e que vive do seu salário.

Como vice-presidente nacional do PDT, Ciro recebe remuneração mensal de R$ 23,5 mil.

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Na lista dos que ingressaram na Justiça alegando terem sido ofendidos pelo pedetista estão os ex-presidentes da República Fernando Collor de MelloFernando Henrique CardosoMichel Temer e Jair Bolsonaro, além de políticos como José Serra (PSDB-SP), Eunício Oliveira (MDB-CE), Damares Alves (Republicanos-DF), Ricardo Salles (PL-SP), Eduardo Cunha (MDB-SP), João Doria (SP) e Valdemar Costa Neto (PL).

Contra alguns desses, como Ricardo Salles (chamado de "ex-ministro do desmatamento e contrabando"), Eduardo Cunha ("trambiqueiro") e Doria ("farsante"), Ciro obteve vitórias, mas a lista de reveses tem empilhado condenações já na fase de execução que, somadas e corrigidas, ultrapassam a casa do milhão.

Só na Justiça de São Paulo, há 13 processos listados, sendo 9 protocolados de 2018 até agora.

Um deles diz respeito a ele ter chamado em 2018 o vereador paulistano Fernando Holiday (Republicanos) de "capitãozinho do mato". Holiday entrou no Juizado Especial Cível, e Ciro acabou condenado a indenizá-lo em R$ 38 mil.

A ação de cumprimento da sentença tramitou por quatro anos sem que houvesse o pagamento, apesar de sucessivas tentativas de penhora de imóveis e busca de saldos em contas bancárias. A situação só mudou com a penhora em 2 de fevereiro deste ano da casa de Sobral que Ciro havia herdado da mãe, dona Mazé.

Uma empresa, porém, informou à Justiça que havia comprado a casa dois dias antes, em 31 de janeiro, e apresentou comprovante de repasse de R$ 561 mil para a conta de Giselle Bezerra, mulher de Ciro.

A Justiça então autorizou em abril pedido do advogado do vereador, Felipe Boarin L'Astorina, e bloqueou R$ 101 mil (valor atualizado devido a Holiday) da conta de Giselle. L'Astorina afirmou que entrará agora com ação de execução para pagamento dos honorários de sucumbência (valores devido pelo perdedor da ação aos advogados da parte vencedora).

"O mais importante foi a condenação dele pela ofensa, o que acabou servindo de exemplo para que tenhamos um debate mais civilizado sobre o racismo no Brasil, independente de ideologias", disse Holiday.

De acordo com esse processo, restaram dois imóveis a Ciro que são impenhoráveis —um por ser sua residência e o outro por estar financiado pela Caixa.

Ciro também entrou com ação contra Holiday, por ter sido chamado de "coronelista", mas perdeu em todas as instâncias.

Em outra ação de cobrança de honorários de sucumbência, a advogada Regina Marilia Prado Manssur pediu R$ 47 mil em 2020. Ela integrou a defesa de Collor (chamado "playboy safado" e "cheirador de cocaína"), cuja vitória resultou no leilão judicial de um apartamento de Ciro em 2021, no valor de R$ 520 mil.

Manssur também não recebeu ainda os valores, passados três anos.

Na última quinta (18), ela se opôs a pedido dos advogados de Ciro para que o veículo Toyota Hilux SW4 ano 2010 passe de "bloqueio do licenciamento" para "bloqueio da transferência" —o argumento é o de que Ciro não está conseguindo pagar as taxas do Detran.

O pedetista também perdeu ação movida contra a Editora Abril pela publicação de uma reportagem em 2018 e foi condenado a arcar com os honorários dos advogados.

"Em que pese o início da execução ter sua origem em fevereiro de 2018, há mais de 5 anos, até o momento não houve satisfação do crédito perseguido", disse em nota o escritório Fidalgo Advogados.

Ciro chegou a fazer acordo de pagamento amigável em 2021, mas acabou não cumprindo. O débito atualizado, com correção e multa, está em R$ 19 mil.

Serra, chamado de o candidato dos "grandes negócios e negociatas", ganhou ações que atualmente somam cerca de R$ 800 mil em indenização, de acordo com os processos. Cerca de 10% já foi pago por meio de bloqueio em contas bancárias de Ciro.

De acordo com relatório da Justiça do Ceará de setembro de 2022, havia 71 processos em trâmite em que Ciro era polo passivo. Desse total, 41 tinham como parte ativa Eunício Oliveira, que virou desafeto em 2014, ocasião em que foi chamado de "mistura de Pinóquio com irmão metralha".

Eunício, que também já foi processado por Ciro, a quem chamou de "coronelzinho decadente, mentiroso e dissimulado", tem patrimônio declarado de R$ 158 milhões e disse ter arrematado o apartamento leiloado em 2021 no processo movido por Collor.

Ciro também já sofreu três condenações por danos morais em processos contra o ex-candidato a governador do Ceará Capitão Wagner (União Brasil). As ações, ainda em fase de recurso, somam R$ 60 mil, sem correção.

Durante o motim de PMs no Ceará, em 2020, Ciro chamou o então deputado federal de "miliciano".

OUTRO LADO: ADVOGADO DIZ QUE CIRO E VIVE SÓ DE SEU SALÁRIO

Indicado pela assessoria de Ciro para se manifestar sobre o assunto, o advogado Walber Agra afirma que as "nítidas dificuldades financeiras" de seu cliente decorrem "de ele ser um político honesto, que não responde a nenhum processo de dano ao erário, e ser um cidadão de classe média".

Agra, que é professor da Faculdade de Direito do Recife e que também advoga para o PDT, divide com o escritório de André Xerez, do Ceará, a defesa de Ciro nos processos.

"O não pagamento se deve exclusivamente a falta de recursos e de bens penhoráveis, haja vista que ele recebe apenas salário para o seu sustento e de sua família", acrescentou Walber.

O advogado também criticou as condenações e o valor das multas aplicadas.

"O que mais chama a atenção é que a restrição ao direito de liberdade de expressão de Ciro Gomes é muito mais alargada que os demais casos. Outra coisa que chama a atenção é o valor das multas, muito acima da maioria das estabelecidas na jurisprudência."

Vidro ou plástico: o que é melhor para o meio ambiente?, BBC News ,FSP

 Claudia Lee

BBC NEWS BRASIL

A garrafa de Speyer, que remonta ao período entre 325 e 350 d.C., é considerada a garrafa de vinho mais antiga do mundo. Ela faz parte do acervo do Museu do Vinho de Speyer, cidade alemã onde foi descoberta em 1867.

A análise do seu conteúdo revelou que ela contém um líquido à base de etanol. Mas a garrafa de vidro permanece fechada —e o ano da safra é desconhecido.

Os enólogos de plantão devem ter cuidado antes de se candidatar a prová-la, uma vez que o sabor das bebidas preservadas ao longo da história pode ser pungente, para dizer o mínimo.

Garrafa de vidro verde
Se for levado em consideração todo o ciclo de vida do vidro, sua produção pode ser tão prejudicial ao meio ambiente quanto a do plástico - Getty Images via BBC

O uso generalizado do vidro como recipiente de armazenagem ao longo da história humana é um testemunho da durabilidade e da funcionalidade do material.

O vidro serve para praticamente tudo, desde preservar alimentos até conduzir os sinais para internet. Ele é tão essencial para o desenvolvimento humano que as Nações Unidas designaram 2022 como o Ano Internacional do Vidro, comemorando sua contribuição para o desenvolvimento científico e cultural.

O vidro costuma ser indicado como um material que pode ser reciclado infinitamente, sem prejudicar sua qualidade, pureza ou durabilidade. O vidro descartado pode ser partido em pequenos pedaços, fundido e utilizado para produzir mais vidro.

O vidro usado em embalagens tem uma taxa de reciclagem mais alta, em comparação com outros materiais empregados com o mesmo propósito. Na Europa, a taxa média de reciclagem do vidro é de 76%, em comparação com 41% das embalagens plásticas e 31% das embalagens de madeira.

Quando o vidro é mantido no ambiente natural, costuma causar muito menos poluição do que o plástico. Afinal, o vidro não é tóxico —diferentemente do plástico, que se decompõe em microplásticos que podem infiltrar-se no solo e na água.

"O vidro é feito principalmente de sílica, que é uma substância natural", afirma Franziska Trautmann, uma das fundadoras da empresa Glass Half Full, de Nova Orleans, nos Estados Unidos. A companhia recicla vidro transformando o material em areia, que pode ser usada para restaurar costas e zonas impactadas por desastres.

Homem caminha por milhões de garrafas de vidro
Vidro pode ser reciclado infinitamente sem perder sua qualidade ou durabilidade - Getty Images via BBC

A sílica, ou dióxido de sílica, compõe 59% da crosta terrestre. E, como é um composto natural, não existe preocupação com sua lixiviação ou degradação ambiental.

Por tudo isso, o vidro costuma ser indicado como uma alternativa mais sustentável ao plástico. Mas a pegada ambiental das garrafas de vidro é maior que a do plástico e de outros materiais usados para embalagem, como as latas de alumínio.

A mineração da areia de sílica pode causar danos ambientais significativos, que vão da deterioração do terreno até a perda da biodiversidade. E também foram descobertas violações de direitos básicos dos trabalhadores em Shankargarh, na Índia— o maior fornecedor de areia de sílica para a indústria de vidro daquele país.

Estudos mostram que a exposição prolongada ao pó de sílica pode trazer riscos para a saúde pública. Ela pode gerar silicose aguda, uma doença pulmonar crônica e irreversível, causada pela inalação de pó de sílica por extensos períodos.

A silicose pode surgir inicialmente com uma tosse persistente ou respiração curta, podendo resultar em parada respiratória.

A extração de areia para a produção de vidro também pode ter colaborado para a atual escassez de areia no planeta. A areia é o segundo recurso mais utilizado do mundo, depois da água.

Os seres humanos consomem cerca de 50 bilhões de toneladas de "agregados" (termo industrial para designar areia e cascalho), todos os anos. Seus usos variam da regeneração da terra até a fabricação de microchips. E, segundo as Nações Unidas, a areia é atualmente consumida com mais rapidez do que pode ser reposta.

Área de extração de areia
Produção de vidro requer enormes quantidades de areia, um recurso natural que está diminuindo rapidamente - Getty Images via BBC

O vidro exige temperaturas mais altas que o plástico e o alumínio para se fundir e ser moldado, segundo a pesquisadora Alice Brock, aluna de doutorado na Universidade de Southampton, no Reino Unido. E a matéria-prima para a fabricação de vidro bruto também libera gases do efeito estufa durante o processo de fusão, o que aumenta sua pegada ambiental.

Segundo a Agência Internacional de Energia, as indústrias de produção de vidro plano e de embalagens emitem mais de 60 megatoneladas de CO2 por ano. Pode ser surpreendente, mas o estudo de Brock concluiu que as garrafas de plástico causam menos danos ao meio ambiente do que as de vidro.

O plástico não pode ser reciclado infinitamente, mas seu processo de fabricação consome menos energia, já que o ponto de fusão do plástico é mais baixo que o do vidro.

A matéria-prima do vidro é fundida em uma fornalha a 1500 °C. O vidro fundido é então retirado da fornalha e moldado. E as fábricas de produção de vidro geralmente acrescentam um percentual de fragmentos de vidro reciclado à mistura de matéria-prima.

Geralmente, adicionar 10% de vidro reciclado à mistura de fusão pode reduzir o consumo de energia de 2% a 3%. Isso acontece porque é preciso atingir um ponto de fusão mais baixo para fundir o vidro reciclado, em comparação com a matéria-prima original utilizada para a fabricação de vidro. E essa redução diminui levemente as emissões de CO2 produzidas durante o processo.

Um problema importante da reciclagem de vidro é que ela não elimina o processo de fusão, que é a parte da produção que consome mais energia. A fusão representa 75% do consumo de energia durante a fabricação do vidro.

E, embora os recipientes de vidro possam ser reutilizados, em média, de 12 a 20 vezes, o vidro costuma ser tratado como um material descartável. E o vidro descartado em aterros sanitários pode levar até um milhão de anos para se decompor.

As taxas de reciclagem de vidro apresentam variações significativas ao redor do mundo. A União Europeia e o Reino Unido, por exemplo, apresentam taxas médias de reciclagem de 74% e 76%, enquanto, nos Estados Unidos, esse índice foi de 31,3% em 2018

Pequenos fragmentos de vidro são transportados em esteira
Vidro pode ser quebrado em fragmentos que são usados ​​para reciclagem - Getty Images via BBC

Uma das razões do baixo índice americano é que, nos Estados Unidos, o material reciclado é normalmente coletado em um fluxo único, o que significa que todos os materiais são misturados.

A reciclagem de fluxo único, muitas vezes, dificulta o processo de seleção. O vidro precisa ser separado de outros materiais reciclados e classificado por cor, antes do processo de fundição. E, normalmente, é muito caro e demorado separar vidros de cores diferentes em uma fábrica de reciclagem.

Por isso, em vez de virarem novas garrafas, os pedaços de vidro quebrado misturados são transformados em produtos de fibra de vidro, que podem ser usados para isolamento.

O vidro quebrado para reciclagem é de melhor qualidade quando separado dos outros materiais recicláveis desde o princípio, na chamada reciclagem de múltiplos fluxos.

A cor do vidro afeta a pureza necessária para o fluxo. O vidro verde, por exemplo, pode usar 95% de vidro reciclado. Mas o vidro incolor ou transparente (também chamado de "vidro flint"), tem especificações de qualidade mais altas e permite a inclusão de apenas 60% de vidro reciclado, já que qualquer contaminação afeta a qualidade do material.

O vidro reciclado precisa ser fundido duas vezes, primeiro em pequenos pedaços e, depois, no produto novo. Por isso, a diferença de consumo de energia para a produção de vidro reciclado pode ser muito pequena em comparação com o vidro novo.

Sem dúvida, o vidro continua a desempenhar um papel importante em muitos setores. Sua durabilidade e suas propriedades atóxicas fazem com que ele seja ideal para alimentos e materiais que precisam ser conservados.

Mas o pressuposto de que o vidro é sustentável apenas porque é infinitamente reciclável é infundado. Considerando todo o ciclo de uso do vidro, sua produção pode ser tão prejudicial ao meio ambiente quanto o plástico.

Portanto, na próxima vez que você quiser descartar uma garrafa de vidro, pense primeiro em reutilizá-la. O vidro é um material durável e resistente. Ele não é feito para ser jogado fora após ser usado uma única vez.

Este texto foi originalmente publicado aqui.