segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

João Pereira Coutinho Sim, o poeta tinha razão: ou amamos ou morremos, FSP

 

Baltazar Lemos, 60, natural de Curitiba, decidiu morrer. Explico melhor. Ele, um cerimonialista de luto com certa experiência em preparar e testemunhar o funeral dos outros, decidiu organizar um funeral só para ele.

Fingiu doença, fingiu morte, fingiu velório –tudo publicitado pelas redes sociais, claro– e esperou para ver quem aparecia.

Vieram amigos. Vieram familiares. E até veio o próprio Baltazar, para agradecer aos presentes. Não sei se saltou do caixão para causar maior impacto, mas quero muito acreditar que sim.

Os presentes não gostaram da brincadeira. Consta até que houve insultos e agressões físicas dentro da capela. Creio que a família cortou relações com ele.

Li tudo isso na imprensa. É bom demais para ser verdade. Mas, acreditando na história, posso enviar um abraço fraterno ao nosso Baltazar?

Também eu, pobre homem, tenho essa curiosidade mórbida desde a mais tenra idade. Quantos serão, afinal, prestando suas homenagens?

E quantos vão contar piadas, soltar risinhos cínicos, fazer comentários impróprios sobre minha aparência amarelada?

Ilustração de um caixão de cuja tampa se projeta um grupo de 4 periscópios, indicando que alguém dentro dele observa o mundo externo. No caso, os periscópios são idênticos aos do Submarino Amarelo, dos Beatles, ressaltando a psicodelia da situação.
Ilustração de Angelo Abu para coluna de João Pereira Coutinho de30.jan.23 - Angelo Abu

Os epicuristas, para aliviar nosso medo da morte, tinham uma máxima conhecida: onde eu estou, a morte não está; onde a morte está, eu não estou.

Faz sentido. Mas para personalidades narcísicas –estou falando de nós, Baltazar– isso não consola; perturba. Se eu não estou lá, como saber quem está?

Infelizmente, essa dúvida não revela nada sobre os outros, muito menos sobre a bondade deles. Velórios são acontecimentos sociais, como casamentos e batizados.

Vamos porque temos de ir. Vamos porque os outros, os vivos, os sobreviventes, esperam isso de nós. Vamos porque existem mil interesses em jogo –reputações, heranças, boa gastronomia, uma súbita viúva– que convidam ao supremo sacrifício.

Se Baltazar queria realmente testar a lealdade da sua tribo, teria sido mais útil simular um internamento no hospital. Quantos familiares e amigos caminhariam até sua cama enferma sem esperar nada em troca?

A pergunta é válida para qualquer um de nós. E é talvez a pergunta mais importante para medir a nossa hipótese de felicidade terrena: quão fortes são as nossas amizades?

Recentemente, o "Wall Street Journal" divulgou o mais longo estudo alguma vez feito sobre o assunto. Começou em Harvard, em 1938, com centenas de participantes, todos rapazes, respondendo a questionários sobre o grau de satisfação com a vida.

Nos anos seguintes, o estudo continuou a medir a felicidade dos rapazes, mas incluiu também as mulheres; com o tempo, alargou-se para os mais de 1.300 descendentes do grupo original.

As conclusões estão no livro "The Good Life: Lessons from the World’s Longest Scientific Study of Happiness" (Simon & Schuster), de Robert Waldinger e Marc Schulz.

Aqui vai um aperitivo: esqueça o jogging, a comida vegana, a meditação oriental. Esqueça também a riqueza, a fama e outras ilusões mundanas.

Nesses quase 90 anos de acompanhamento constante, a principal conclusão é que a saúde e a longevidade são fortalecidas de forma dramática pelos amigos que somos capazes de manter.

Se tivermos boas relações, o corpo e a mente agradecem.

Inversamente, os mais solitários tiveram existências mais pobres e curtas, em média, porque a solidão é corrosiva para nossas pobres carcaças.

Explicam Robert Waldinger e Marc Schulz que há razões evolutivas para isso: quando nossos antepassados ficavam sozinhos no mundo, o estado de alerta era ativado. A sobrevivência dependia disso: como dormir tranquilo quando um predador poderia aparecer a qualquer momento?

Hoje, pode não haver uma fera para nos devorar; mas quando estamos por nossa conta, o corpo e a mente continuam lá atrás, libertando seus hormônios estressores, em dolorosa vigília.

Segundo os autores, uma existência despojada de gente pode ser mais perigosa do que a obesidade, sobretudo para os mais velhos. Se essa solidão é crônica, o risco de morte aumenta 26%.

Sim, o poeta tinha razão: ou amamos ou morremos.

É por essa razão que o nosso amigo Baltazar faria bem em pedir desculpas, de joelhos, aos crédulos que foram chorar sobre o seu caixão. A falta que eles fazem é agora, não depois.


Delegados desafetos da PM perdem espaço na gestão Derrite, FSP

 As movimentações nos principais cargos da Polícia Civil de São Paulo, realizadas nos primeiros dias do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos), indicam a falta de espaço na gestão do novo secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, aos delegados tidos como desafetos da Polícia Militar.

Na lista de novos diretores da instituição, por exemplo, chama a atenção a ausência de delegados que ocupavam cargos de relevo na polícia havia anos, como o antigo delegado-geral Ruy Ferraz Fontes e a adjunta, Elisabete Sato, ambos com históricos de desavenças com os militares.

De terno, Derrite está sentado à mesa de seu gabinete, com bandeiras de São Paulo e outras ao fundo; ele olha para baixo e coloca a mão no queixo
O novo secretário da segurança Pública, Guilherme Derrite, durante entrevista à Folha - Danilo Verpa - 23.jan.2023/Folhapress

No início do mês, também perdeu a titularidade da seccional centro o delegado Roberto Monteiro, que ganhou projeção em 2022 com as operações de combate ao tráfico de droga na região da cracolândia, mas também gerou um mal-estar com policiais militares por uma série de declarações.

As mudanças agradaram a integrantes da cúpula da PM que há muito tempo tentavam afastar alguns desses delegados, tidos como vozes críticas da corporação.

Segundo a Folha apurou, oficiais da PM chegaram a montar, em 2018, um dossiê contra Ferraz Fontes e entregaram as informações ao governador eleito João Doria (então no PSDB), para tentar demovê-lo da intenção de indicá-lo à delegacia-geral. O dossiê trazia dúvidas sobre a integridade do policial.

A iniciativa acabou não surtindo efetivo, porque o delegado era homem de confiança do então secretário-executivo da Polícia Civil, Youssef Chahin, braço direito do secretário da Segurança à época, general João Camilo Pires de Campos, e ligado ao ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes.

Atualmente, Fontes está licenciado da polícia. Aceitou o convite para ser secretário de Administração na Prefeitura de Praia Grande (litoral paulista) e deve ser aposentar ao final do prazo da licença.

A colegas Fontes disse ter recebido convites para assumir alguma posição de destaque na polícia, até de diretoria, mas declinou. Disse ter decidido pedir afastamento ao tomar conhecimento da indicação de Derrite para o comando da Segurança. Não queria ser chefiado por um oficial da PM tido como bolsonarista raiz.

Assim, Derrite não teve desgaste para afastar o delegado.

Já Elisabete Sato, por sua vez, considerada uma das mais importantes delegadas de São Paulo, perdeu o comando do DHPP (homicídios) e foi nomeada para uma função burocrática na Academia da Polícia Civil.

O tratamento dispensado pela gestão Derrite à delegada foi visto por membros da polícia como injusto, até pela história da policial. Ela merecia, segundo eles, uma posição de cúpula. A própria delegada, segundo a Folha apurou, esperava mais reconhecimento.

O histórico de mal-estar de Sato com a PM vem de longa data. Em 2017, durante evento público ao lado de oficiais da PM, Sato afirmou, conforme relato de investigadores, que nem mesmo a Rota (tropa de elite da PM) estava conseguindo entrar na favela de Paraisópolis, na zona sul da capital, em razão do domínio do crime.

Na tarde do mesmo dia, integrantes da PM realizaram uma grande operação na favela para demonstrar que a versão da delegada estava errada.

Apesar de pouco tempo com cargo de destaque na capital, Roberto Monteiro conseguiu desagradar a muitos policiais militares no ano passado, segundo a Folha apurou, durante os trabalhos de combate ao tráfico de drogas na região conhecida como cracolândia, por meio da Operação Caronte.

O delegado-seccional não teria reconhecido o trabalho da PM durante entrevistas, e, ao mesmo tempo, não economizava críticas à corporação quando falava de problemas no policiamento preventivo. O desgaste avançou a ponto de Monteiro passar a receber apenas apoio da GCM (Guarda Civil Metropolitana) nas operações.

Após a saída do delegado, a PM voltou a atuar fortemente na região.

Monteiro também assumirá um cargo burocrático, no DAP (Divisão de Planejamento e Controle do Departamento de Administração e Planejamento).

Fontes, Sato e Monteiro foram procurados pela Folha, não quiseram comentar o assunto.

Em nota, a Secretaria da Segurança informou que as trocas na Polícia Civil foram feitas por critérios técnicos.

"A Polícia Civil do Estado de São Paulo é uma instituição centenária, composta por homens e mulheres vocacionados à causa pública, essenciais à Justiça e à segurança pública paulista. Todas as movimentações da Polícia Civil, incluindo as da cúpula, são baseadas em critérios técnicos, na experiência e capacidade dos profissionais indicados."

Em entrevista à Folha na semana passada, Derrite disse que as trocas são de responsabilidade do novo delegado-geral, Artur Dian, que teria recebido "carta-branca" para indicar todos os cargos. Sobre Ruy Ferraz Fontes, disse que não o reconheceria se cruzasse com o delegado pela rua.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

Assis/SP terá a primeira usina de energia elétrica que utiliza lixo como combustível, Diário de Assis

  concessionária BAL-CIVAP, vencedora do contrato, utilizará uma tecnologia que transforma resíduos sólidos urbanos, popularmente conhecido como lixo, que iriam para aterros sanitários, em energia elétrica, reduzido em até 70% as emissões de Gases de Efeito Estufa. A fase inicial prevê a construção de uma área de 15 mil m², com capacidade de receber 300 toneladas de lixo/dia e gerar 144 MW/dia.

Esta será a primeira usina do Estado de São Paulo a fazer uso da tecnologia, que está enquadrada em 12 dos 17 ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) da Agenda de 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). As cinzas geradas pela transformação do combustível derivado dos resíduos em gás são inócuas ao meio ambiente, podendo ser reaproveitadas para fazer massa asfáltica e tijolos.

O presidente da Carbogás Energia, engenheiro Luciano Reis Infiesta, explica que os caminhões de coleta de lixo vão sair das residências direto para a usina. “Recebemos o lixo in natura, trituramos, desidratamos e criamos um combustível, que posteriormente é transformado em gás”, informa. A Carbogás Energia é a empresa que executa o projeto e possui a patente.

O lançamento da Usina de Geração de Energia Elétrica da cidade de Palmital ocorrerá às 14h00, desta segunda-feira (05/12/2022), no município de Assis, na Rua Vereador Nazário Antônio de Oliveira, 10 – Parque das Flores – Assis.


LEIA TAMBÉM: Residências geram 81,8 milhões de toneladas de resíduos em 2022

História

Em 25 de novembro de 2021 foi lançado pelo Consórcio Intermunicipal do Vale do Paranapanema, presidido por Oscar Gozzi, prefeito da cidade de Tarumã, edital para a construção, instalação e gerenciamento de uma usina de geração de energia. Mais de oito meses depois, assinou-se o contrato de concessão administrativa nº 002/2022. Esse processo começa a se tornar realidade em Palmital nesta segunda-feira (05/12/2022), às 14h00, com o lançamento da pedra fundamental da Central Térmica e Geração de Energia Eng. Roberto Infiesta (CTGE).

A usina inicialmente irá processar 300 toneladas/dia de resíduos urbanos, oriundos da coleta domiciliar de 14 cidades da região. A saber: Palmital, Cândido Mota, Tarumã, Assis, Paraguassu Paulista, Cruzália, Florínea, Santa Cruz do Rio Pardo, Ourinhos, Ibirarema, Echaporã, Oscar Bressane, Lutécia e Pedrinhas Paulista.

Vencedora da licitação, a Concessionária BAL – CIVAP, presidida pelo Engenheiro Renan Perlingeiro de Abreu Junior, vai gerir o recebimento e processamento desses resíduos pelos próximos 30 anos, resolvendo um grande e persistente problema das cidades do entorno sobre a disposição final dos resíduos.

Assis Usina Energia Elétrica

A tecnologia adotada pela Central Térmica e Geração de Energia é a de Gaseificação por Leito Fluidizado. Totalmente nacional, a tecnologia desenvolvida pela Carbogás Energia é patenteada, o que faz com que essa empresa seja fornecedora de empreendedores do segmento de resíduos sólidos urbanos e industriais. Isso porque a tecnologia fornecida pela Carbogás Energia possui menor custo de implantação e viabilidade econômica para cidades médias e pequenas, sistema modular de capacidade instalada e baixo nível de emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE).

Segundo o presidente da empresa, engenheiro Luciano Reis Infiesta, outra característica dessa tecnologia é o fato de ser pouco poluente e estar dentro dos limites da norma ambiental. “Trata-se de um processo seguro, que evita a formação de chorume e danos ao meio ambiente,” detalha Infiesta, complementando que o resíduo é processado no mesmo da coleta, o que evita a formação de líquidos tóxicos e gases poluentes.

Para Hugo Lima, diretor comercial da Carbogás Energia, resolver passivos ambientais sem criar outros, ou pelo menos mitigando riscos, é um avanço na forma como lidamos hoje com a problemática do lixo. “Ver o lixo de uma cidade contribuindo para a sociedade com a produção de energia elétrica é um fato relevante para todos”, finaliza.

Fonte: Diário de Assis.