quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

Ex-deputado ligado ao agro se diz aliviado com escolhas de Marina Silva, FSP

 Ex-deputado federal ligado ao agronegócio e antipetista assumido, Xico Graziano se diz aliviado com as primeiras nomeações feitas pela nova ministra Marina Silva (Meio Ambiente).

O ex-deputado federal Xico Graziano, durante debate para o governo de São Paulo no ano passado - Ronny Santos/Folhapress

Ele elogia as escolhas de João Paulo Capobianco para a secretaria-executiva e do deputado federal Rodrigo Agostinho (PSB-SP) para o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Renováveis). "São pessoas sensatas e moderadas", diz.

Graziano também aprovou as escolhas de Carlos Fávaro para o Ministério da Agricultura e de Roberto Perosa como secretário de Comércio e Relações Internacionais da pasta.

Com uma trajetória ligada à centro-direita, Graziano foi secretário de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) na Presidência.

Também apoiou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), até romper com ele. Mais recentemente, aproximou-se do senador eleito Sergio Moro (União Brasil) e coordenou o programa de Vinicius Poit (Novo) para o governo de São Paulo.

Elio Gaspari , A direita de Bolsonaro, FSP

 No dia 1º de novembro, logo depois da derrota eleitoral, Jair Bolsonaro (PL) gabou-se: "a direita surgiu de verdade em nosso país".

Na tarde de 8 de janeiro viu-se em Brasília o que é a direita de Bolsonaro. Direita o Pindorama sempre teve, mas a de Bolsonaro tem caraterísticas próprias e inéditas. É uma direita com bases populares, mobilizável para atos de delinquência. Noves fora George Washington de Oliveira Souza, gerente de um posto de gasolina no Pará, que está preso, 23 dos 1.500 presos de Brasília tinham antecedentes criminais. O George Washington bolsonarista planejava um Riocentro 2.0, explodindo um caminhão de combustível no pátio do aeroporto de Brasília, sincronizado com um corte de energia. Esse é o braço terrorista dessa direita.

Golpistas invadem o Palácio do Planalto em 8 de janeiro - Gabriela Biló /Folhapress

No braço dos atentados de 8 de janeiro estavam duas figuras singulares.

Uma é Maria de Fátima Mendonça Jacinto Souza, a "Fátima de Tubarão" (SC), de 67 anos. Ela invadiu o Palácio do Planalto, avisando: "Vamos para a guerra, é guerra agora. Vamos pegar o Xandão agora." Xandão é o ministro Alexandre de Moraes. O outro é o paraense Antônio Geovane Sousa de Sousa, de 23 anos, preso quando tentava acender um explosivo.

Fátima foi condenada a três anos e dez meses de prisão por tráfico de drogas e cumpre a pena em regime aberto. Geovane foi preso em 2018, acusado de ter matado um homem a facadas. É um foragido. O que leva pessoas com antecedentes criminais a participar de atos como os atentados de 8 de janeiro só pode ser uma irresponsável sensação de impunidade. Mas essas poderiam ser histórias do andar de baixo.

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No de cima, vai-se achar Creusa Buss Melotto. Duas semanas antes do fim do governo, a senhora recebeu do Gabinete de Segurança Institucional uma autorização para a exploração de garimpo de ouro numa área de 9,8 mil hectares na Amazônia. Na década de 90 ela cumpriu pena de seis anos de prisão por tráfico de drogas.

A direita de Jair Bolsonaro nada tem a ver com a de figuras como Roberto Campos ou a do ultramontano católico Gustavo Corção. Ela tem a cabeça sabe-se lá onde, mas seus pés estão nas milícias, na grilagem de terras, nas delinquências amazônicas, e até mesmo em casos de crimes.

(As ligações da ministra do Turismo, Daniela Carneiro, ou "Daniela do Waguinho" com milicianos da Baixada Fluminense são uma carga para o governo de Lula. Comparar o grosso da militância bolsonarista com a petista é chamar urubu de meu louro, mas tanto os urubus como os papagaios são aves.)

A direita mobilizada por Bolsonaro fez no dia 8 de janeiro coisas que nunca foram vistas na política nacional. Aqui e ali já foram cometidos atos violentos, mas nunca tiveram o apoio expresso e persistente de uma liderança nacional.

Queira-se ou não, Jair Bolsonaro teve 58,2 milhões de votos. Perdeu para Lula por uma margem de 2%. Num universo eleitoral que cresceu, em 2022 ele teve cerca de 400 mil votos a mais que em 2018.

O 8 de janeiro sugere que pode ter começado ocaso político de Bolsonaro. Sua direita é outra, nunca vista. Violenta e golpista, com base popular.

'A década perdida acabou' no Brasil, anuncia 'o careca', Nelson de Sá .Toda A Midia FSP

 De Robin Brooks, economista-chefe do Institute for International Finance (IIF), de Washington, associação das maiores instituições financeiras privadas, apelidado "o careca" na Faria Lima:

"Muito animado com a América Latina e especialmente o Brasil este ano. A década perdida acabou. Os preços mais elevados das commodities e a geopolítica estão mudando os fluxos de capital em favor da América Latina."

Na agência chinesa Xinhua, a chegada do primeiro cargueiro com milho brasileiro, 68 mil toneladas, ao porto de Machong, em Guangdong, em 7 de janeiro de 2023 - Xinhua

"Os mercados concordam", acrescenta, citando o desempenho das moedas de Brasil e México, no topo do ano até aqui. Sua explicação:

"Existem três temas impulsionando os emergentes em 2023: queda da inflação nos EUA; fim do Covid zero na China; aumento do preço das commodities. Todos os três favorecem mais a América Latina, devido ao status de grande exportadora de commodities."

ESPERANÇA

O anúncio de Brooks pareceu conflitar com as manchetes americanas desta terça, com o Wall Street Journal destacando que o crescimento chinês caiu a níveis "quase históricos" e o New York Times saudando o "tropeço", que traria "medo" à economia chinesa.

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Chineses em inglês, como Global Times e China Daily, já contrapõem que, "apesar da leve desaceleração no quarto trimestre devido a aumento nas infecções [de Covid], a China ainda superou a maioria das outras grandes economias no ano passado, incluindo os EUA".

Ecoando "o careca", a Bloomberg, que minimizou os 3% de crescimento chinês, ressalta que a "China desperta esperança de crescimento global em 2023" em meio aos sinais de recessão nos EUA.

Diz que "a reabertura da China está rapidamente se tornando o tema mais importante nos emergentes", para os investidores globais. E que "as projeções mostram que a segunda maior economia pode crescer 4,8% em 2023, em comparação com uma expansão de 0,4% nos EUA".

DE XI PARA LULA

Para o Brasil, desde a eleição de Lula, Pequim vem oferecendo "boas-vindas", na expressão usada pelo porta-voz da chancelaria ao ser questionado sobre a visita do novo presidente neste início de mandato, como relatado por Huanqiu (o Global Times em chinês) e Guancha.

As boas-vindas são sobretudo comerciais. A China liberou e agora "importa milho brasileiro em navio graneleiro pela primeira vez" (imagem no alto), notícia deste início de ano na agência Xinhua, por Renmin Ribao (Diário do Povo) e outros.

Também liberou uma série de produtos brasileiros com mais valor agregado, como o modelo E190-E2 da Embraer, farelo de soja e até mesmo, dias atrás, cana-de-açúcar transgênica.

E o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (AIIB), de Pequim, "vai ampliar financiamento para o Brasil", segundo o jornal Valor, com três operações em preparação, em infraestrutura. Ele foi criado "como alternativa a instituições como o Banco Mundial, dominadas pelos países desenvolvidos". Seu presidente, Jin Liqun, ex-vice-ministro de finanças da China, planeja visitar Brasília em abril.