domingo, 27 de novembro de 2022

O valor dos símbolos, FSP

 Hélio Schwartsman

SÃO PAULO

Com mais de 400 integrantes e aumentando, a equipe de transição de governo de Luiz Inácio Lula da Silva parece mais um recorte de coluna social do que um grupo de trabalho. Desde que não tenham se esquecido de incluir algumas pessoas que vão efetivamente reunir informações para depois repassá-las aos futuros ministros, facilitando os primeiros passos da futura administração, não penso que seja um mal.

Com o vice presidente eleito Geraldo Alckmin ao centro, integrantes da equipe de transição para o novo governo comemoram gol do Brasil no jogo contra a Sérvia, estreia da seleção brasileira no Qatar, no teatro do CCBB em Brasília - Pedro Ladeira - 24.nov.22/Folhapress

Eu diria até que, depois de quatro anos de trevas sob Bolsonaro, o país precisava de algo assim, um espaço simbólico no qual indivíduos com as mais diferentes orientações políticas e ideológicas possam se reunir civilizadamente para traçar diagnósticos e debater políticas públicas.


O presidente eleito também está usando as nomeações para sinalizar que, de sua parte, não haverá disposições revanchistas. Prova-o o convite a Alexandre Frota para que se incorporasse à equipe. Frota, que acabou desistindo de assumir o posto, é um ex-bolsonarista que se elegera deputado como um dos mais estridentes críticos do PT e de Lula.

É claro que nem tudo é só festa. Nomeações de antigos desafetos inevitavelmente provocam ciumeiras nas fileiras petistas. A vantagem do centralismo democrático que Lula exerce sobre o partido é que esses movimentos potencialmente desestabilizadores nunca vão muito longe. Ninguém ousa bater de frente com o chefe.

O problema com o clima ultra-agregador da transição é que ele não pode durar para sempre. Há um número máximo de semanas que o presidente eleito pode usar para ganhar tempo enquanto vai montando uma equipe, não de transição, mas de governo. Muito em breve, Lula terá de tomar decisões sobre ministérios e políticas que deixarão mais gente frustrada do que satisfeita.


Nada muito surpreendente. Governar é basicamente arbitrar vencedores e perdedores e encimar as questões do dia a dia da administração com alguns grandes
gestos simbólicos.


sábado, 26 de novembro de 2022

Coca-Cola e plástico no mar: em 2016 foram 1,1 bilhão de garrafas plásticas, Mar sem Fim OESP

 3.400 garrafas de plástico por segundo. Este número impressionante foi estimado pelo  Greenpeace sobre a quantidade de PETs fabricadas em 2016 pela gigante  Coca-Cola. A empresa divulgou que houve crescimento da produção. Com isso ela despejou no mercado 110 bilhões de garrafas, um aumento de 1 bilhão de unidades em relação ao ano anterior. Coca-cola e plástico no mar: se a empresa continuar agindo assim sobra apenas apelar aos consumidores, todos somos responsáveis.

imagem de garrafas de coca- cola em praia ilustra post Coca- cola e plástico no mar
Foto:conexaoplaneta.com.br

Em 2019 a Coca-Cola foi apontada como a maior poluidora de plástico pelo segundo ano consecutivo

Matéria do site www.nypost.com, publicada em novembro de 2019: “Pelo segundo ano consecutivo a organização sem fins lucrativos Break Free From Plastic apontou a Coca-Cola  como a maior produtora de resíduos plásticos. A ONG conseguiu arregimentar um enorme grupo de  72.541 voluntários em 51 países. Eles  coletaram lixo plástico em setembro de 2019 e depois identificaram os resíduos. 43% do que encontraram foram marcas de consumo, informou o Guardian. A Coca-Cola foi a número um, com quase 12.000 embalagens de produtos da marca encontrados em 37 países em todo o mundo. Nestlé e Pepsico conseguiram um honroso segundo e terceiro lugares.”

Os continentes e as marcas que mais sujaram os litorais

Ainda de acordo com o  www.nypost.com, “embora a Coca-Cola fosse a principal fonte de resíduos na África e na Europa; nos EUA os resíduos da Nestlé foram o maior produtor de poluição por plásticos. Solo Cup Company e Starbucks foram os nºs 2 e 3. Na Europa, a Heineken foi o terceiro maior poluidor de plásticos.”

A (pequena) reação da Coca-Cola

A empresa parece que começa a se tocar, e responde à pressão internacional. Outra fonte de notícias, o site www.promoview.com.br, em matéria de novembro de 2019 informa que “A Coca-Cola Company apresentou sua primeira amostra de garrafas produzidas com plásticos recuperados e reciclados do oceano. Foram produzidas cerca de 300 garrafas usando 25% de plástico marinho reciclado recuperado do Mediterrâneo e de praias de Portugal e da Espanha. Segundo a empresa,  as amostras são as primeiras garrafas de plástico feitas com PET retirado do mar reciclado com sucesso para embalagens de alimentos e bebidas.”

A reciclagem do plástico

Apenas uma pequena fração destas garrafas é reciclada. Acredita-se que menos de 50% delas tiveram destinação correta, como centros de reciclagem. Na verdade, a reciclagem de plástico é um drama da nossa geração.

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Petição global contra a Coca-cola e o plástico no mar: única opção dos consumidores

Os números  fazem parte de uma nova campanha liderada pelo Greenpeace do Reino Unido. A ONG  lançou uma petição para pressionar a Coca-Cola a se posicionar de maneira mais sustentável e responsável. A iniciativa  agora se transforma numa ação global.

A organização acusa a Coca-cola de estar sufocando os oceanos com plástico. Como é a maior fabricante de refrigerantes do mundo, a Coca-Cola precisa tomar uma atitude. O Greenpeace não acusa somente a Coca-cola, mas também a Pepsi e a Nestlé. Juntas, as três empresas seriam as que mais poluem os oceanos.

90 mil e-mails para o CEO da Coca-cola

Entre as ações já realizadas pelo Greenpeace está o envio de 90 mil e-mails para o CEO europeu da Coca-Cola. Neles, a ONG pedia que a empresa reduza sua produção (sem reciclagem) de plástico.  E, também, pedia a colocação de adesivos em máquinas de bebidas alertando a responsabilidade da empresa na poluição dos oceanos, trocando a palavra Coke por choke,  ‘sufocar’ em inglês

imagem de meaquina de venda de coca- cola ilustrando post Coca- cola e plástico no mar
Coca-cola e plástico no mar: está em suas mãos. (Foto: conexaoplaneta.com.br)

Coca-cola e plástico no mar: empresa responde

No Reino Unido, a Coca-Cola respondeu à pressão do Greenpeace. A empresa anunciou que teria contratado um novo escritório de assessoria de imprensa. E afirmou que aumentaria o uso de plástico reciclado em suas garrafas em 25%. A organização ambiental respondeu que isso não é suficiente.

Sendo uma companhia multibilionária e global, a Coca-Cola tem o dinheiro e os recursos necessários para criar sistemas de distribuição diferentes, usar mais plástico reciclado e encontrar soluções inovadoras para reduzir o impacto que está causando

O impacto das garrafas plásticas

Calcula-se que um milhão de garrafas plásticas são vendidas por minuto no planeta, algo em torno de 20 mil compradas a cada segundo. Dá para entender agora o tamanho do problema?

E se este consumo já não fosse suficientemente alarmante, ele deve crescer mais 20% até 2021, chegando a 583 bilhões de unidades. Os dados são da pesquisa Global Packaging Trends Report da consultoria Euromonitor International.aa

O lixo plástico no planeta

Especialistas afirmam que o impacto ambiental provocado pelo lixo plástico no planeta, sobretudo nos oceanos, deverá ser pior do que aquele causado pelas mudanças climáticas.

imagem de garrafas plásticas de coca- cola para post Coca- cola e plástico no mar
Então, vamos assinar a petição? (Foto: conexaoplaneta.com.br)

Plástico, uma das grandes invenções da humanidade

O plástico surgiu como uma das grandes invenções da humanidade. Leve, prático e barato, serve como embalagem para tudo. Com isso, sua produção deu saltos gigantescos ao longo das últimas décadas.

Mas é o uso do plástico para a fabricação de garrafas de água e outros tipos de bebidas que tem gerado o maior impacto sobre a natureza, além do plástico de embalagens. O estudo publicado pelo The Guardian destaca que o consumo do produto para estes fins por países asiáticos, principalmente a China, importando a cultura ocidental de “comprar água na rua”, está piorando ainda mais a situação já catastrófica.

Apesar de grande parte das garrafas serem feitas com polietileno tereftalato (PET), um polímero termoplástico, e perfeitamente passível de reciclagem, a quantidade monstruosa de unidades produzidas por segundo no planeta torna esta tarefa praticamente impossível.  O que sobra desta montanha enorme de lixo plástico vai parar em aterros sanitários ou nos oceanos.

Em 2021, Coca-cola foi a maior poluidora mundial

Segundo o New York Times, ‘A gigante das bebidas, que foi nomeada a maior poluidora mundial de plásticos em 2021, aumentou seu uso de novos plásticos desde 2019 em 3%, para 3,2 milhões de toneladas, de acordo com um relatório anual divulgado este mês pela Fundação Ellen MacArthur, que uniu 500 organizações em um “compromisso global” para reduzir o desperdício de plástico.’

Para piorar, diz o NYT, ‘Os ativistas observam que a maioria dos plásticos é fabricada com combustíveis fósseis, como petróleo bruto, carvão e gases naturais.’

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Coca-cola mente, faz ‘greenwashing’

Em tradução direta significa “lavagem verde”. Contudo, o termo é utilizado para caracterizar ações que agridem o meio ambiente, mas são “maquiadas” para parecerem sustentáveis.

Em outras palavras, quando alguém diz que uma empresa pratica o greenwashing significa que ela mente ao consumidor. E a Coca-cola é apenas uma delas.

Georgia Elliott-Smith, delegada da COP 26 disse ao NYT: “A Coca-Cola gasta milhões de dólares fazendo greenwashing em sua marca, fazendo-nos acreditar que está resolvendo o problema”. Contudo, acrescentou, “nos bastidores” a empresa tinha “uma longa história de lobby para atrasar e inviabilizar regulamentações para prevenir a poluição, mantendo-nos viciados em plástico descartável.”

Fonte principal: http://conexaoplaneta.com.br/blog/onde-foram-parar-as-11-bilhao-de-garrafas-plasticas-produzidas-pela-coca-cola-no-ano-passado/.

‘Devemos aprender a ficar quietos’, diz autor de ‘Quando Deixamos de Entender o Mundo’, na Flip 2022, OESP

 

Literária Internacional de Paraty

Benjamín Labatut ficou famoso com o livro Quando Deixamos de Entender o Mundo (Todavia), uma obra “inclassificável”, que mistura ficção, não ficção, ensaio, filosofia, ciência, e entrou até na famosa lista de leitura de Barack Obama. No Brasil para a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), ele falou sobre o apocalipse, literatura, isolamento, delírio e loucura – e sobre o terror que ele, também jardineiro, sentiu diante da mata atlântica, vista nesta sexta, 25, do barco, durante um passeio oferecido pela Flip aos convidados.

Para este chileno nascido na Holanda, o apocalipse não é algo que acontece de uma só vez. “Ele está acontecendo a todo o momento, disse ele na 10ª mesa da 20ª Flip, na noite desta sexta-feira, em uma conversa comandada por Rita Palmeira. “Não me preocupo com o fim do mundo, mas com coisas mais concretas como, por exemplo, extraterrestres. Porque o mundo está acabando e ainda estaremos aqui quando ele acabar”, continuou.

Rita levantou a questão do isolamento, algo que, nas histórias narradas por Labatut, ocorre a muitos cientistas - que em algum momento abrem mão dos seus experimentos e se isolam -, e tema de um ensaio dele, publicado na Granta, que retrata sua experiência na pandemia. “O isolamento é fundamental. As pessoas não sabem que existe uma voz que fala no silêncio e, para que se escute, é preciso estar sozinho”, ele disse. O autor, que contou que durante suas férias reservava duas semanas para estar completamente sozinho, e que entrou em pânico quando percebeu, depois de sua filha nascer, que nunca mais se veria vó, disse que deveria ser obrigatório, para todos, esse isolamento.

Benjamín Labatut e Rita Palmeira na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip 2022)
Benjamín Labatut e Rita Palmeira na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip 2022) 

“Quando fazemos isso, abre-se um espaço enorme e muito perigoso porque viciante. O difícil na vida é voltar. Podemos nos apaixonar profundamente pelo silêncio. Precisamos aprender a ficar quietos, a nos calarmos.”

Labatut, que está lançando agora A Pedra da Loucura, um texto que ele chamou de “exagerado”, sugeriu que as pessoas reduzissem suas bibliotecas a 10 livros, disse que o cinema é mais importante do que a literatura e que “seria bom se houvesse menos livros, menos autores, menos editoras” e falou sobre a o delírio como algo essencial à escrita.

“O coração da literatura é o delírio, uma forma de inteligência particular no centro da literatura. Autores que não deliram só escrevem, e isso não é suficiente. Tem que estar tocado por algo. Livros têm que ter algo de perigoso, e não há nada mais perigoso do que a loucura.”