sábado, 29 de outubro de 2022

Fim de desconto de servidor aposentado em SP deve beneficiar mais de 300 mil e custar R$ 2 bi por ano, FSP

 


SÃO PAULO

O fim do chamado "confisco dos aposentados", como é conhecido o desconto de parte das aposentadorias e pensões dos servidores paulistas, deve beneficiar 307 mil pessoas —mas também causar uma perda de arrecadação de R$ 2 bilhões ao ano para o estado, segundo cálculos oficiais da SPPrev (São Paulo Previdência).

A medida foi aprovada na última terça-feira (25) pela Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo) e mais de 71% dos beneficiários, aposentados e pensionistas civis, deixarão de pagar a contribuição.

Manifestantes e policiais durante votação da reforma na Alesp - Rivaldo Gomes - 3.mar.20/Folhapress

A mudança ainda precisa ser sancionada pelo governador Rodrigo Garcia (PSDB) —que não se reelegeu, mas havia se comprometido a colocar fim ao desconto— e deve passar a valer a partir de 1º de janeiro de 2023.

A perda de arrecadação de R$ 2 bilhões representa menos de 1% do Orçamento paulista em 2022, de R$ 286,7 bilhões. Para 2023, o Orçamento previsto para o estado é de R$ 317 bilhões.

Ainda de acordo com a SPPrev, o déficit do estado com pagamento de aposentadorias e pensões de servidores foi de R$ 27,32 bi em 2020 e de R$ 16,46 em 2021. A redução da insuficiência financeira justifica-se, entre outros motivos, pelo aumento das receitas das contribuições dos ativos, inativos, pensionistas civis e militares e contribuição patronal dos ativos civis.

Só que a aprovação do PLC (Projeto de Lei Complementar) 43/2022 era uma demanda dos servidores desde a reforma previdenciária estadual, em 2020.

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A reforma dos servidores elevou a idade mínima para aposentadoria no estado de São Paulo, mudou a fórmula de cálculo do benefício, aumentou a contribuição previdenciária, limitou o acúmulo de benefícios e também modificou regras da pensão por morte.

O desconto, de 12% a 14% nas aposentadorias e pensões com valor acima do salário mínimo (R$ 1.212), havia sido instituído em setembro daquele ano, pelo ex-governador João Doria (então do PSDB).

Antes disso, só tinham a incidência de alíquota os benefícios de inativos superiores ao teto do INSS. A cobrança só recaía sobre o valor que ultrapassava esse limite.

A alíquota proposta foi de 12% a 16%, a depender da faixa salarial. De R$ 1.212,01 a R$ 3.473,74, a cobrança é de 12%; de R$ 3.473,75 ao teto do RGPS (Regime Geral de Previdência Social, atualmente em R$ 7.087,22), de 14%; acima do teto, o desconto é de 16%.

Com a aprovação pela Alesp, a cobrança volta a ser de 16% e feita aos servidores aposentados que ganham acima do teto.

Segundo o deputado Carlos Giannazi (PSOL), a aprovação do fim do desconto se deu por um esforço coletivo de deputados e servidores aposentados, que se mobilizaram por meio das redes sociais nos últimos dois anos.

"O mérito é, sobretudo, das servidoras aposentadas e que foram afetadas pelo confisco durante a pandemia. Elas se organizaram, fizeram oficinas de Twitter e aprenderam a cobrar os deputados pelas redes sociais. O movimento acabou criando capilaridade em todo o estado", conta o parlamentar.

"A Alesp reconheceu a reparação que precisava ser feita, muitos foram cobrados na eleição, e esses aposentados fizeram uma militância para tirar votos deles. E o movimento continua nas redes, a pressão das servidoras não parou com a aprovação do projeto", diz Giannazi.

O próximo passo, segundo o deputado, é fazer com que o estado devolva os valores cobrados nos últimos dois anos. A estimativa da equipe técnica do parlamentar é que esse montante seja próximo de R$ 4,5 bilhões.

"A revogação do confisco faz justiça a todos os que se dedicaram por longos anos a servir ao Estado, que trabalharam e contribuíram por toda a vida e, infelizmente, tiveram seus direitos violados de forma perversa", avalia Raquel Gallinati, do Sindpesp (sindicato dos delegados).

"Assim que foi implementado o confisco pelo governo Doria, percebemos que seria algo extremamente cruel que atingia sobretudo os servidores de menor remuneração, como é o caso dos que integram o magistério."

O fim da cobrança era um tema tão sensível, que os dois candidatos ao governo do estado que foram para o segundo turno —Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Fernando Haddad (PT)— já se manifestaram a favor da sua revogação.

Em um debate no primeiro turno, Freitas afirmou que os servidores estavam chateados com o governo do estado e disse que iria "cuidar" deles, aproveitando que o estado tem dinheiro em caixa.

Já Haddad prometeu se reunir com os servidores e reverter o que chamou de "confisco por decreto", garantindo que irá recompor as perdas provocadas durante o governo Doria.

Temer rebate Lula e diz que saída de Dilma foi 'golpe de sorte', FSP

 Matheus Tupina

SÃO PAULO

O ex-presidente Michel Temer (MDB) rebateu neste sábado (29) a afirmação do candidato à Presidência da República pelo PT, Luiz Inácio Lula da Silva, de que era um golpista e disse que a saída de Dilma Rousseff (PT) do cargo foi um "golpe de sorte".

Lula afirmou durante o debate realizado na última sexta-feira (28) que o presidente Jair Bolsonaro (PL) recebeu o governo de um golpista, referindo-se a Temer e ao processo de impeachment que removeu Dilma do palácio do Planalto, em 2016.

O ex-presidente Michel Temer (MDB) em lançamento de livro do advogado Jacob Pinheiro Goldberg, na Livraria da Vila do shopping Pátio Higienópolis, em São Paulo - Mathilde Missioneiro - 22.set.22/Folhapress

Temer afirmou lamentar a "deselegância" do petista e ressaltou que o governo petista foi derrubado pelo povo e pelo Congresso Nacional. "Na verdade, o que aconteceu no Brasil foi um 'golpe de sorte', pois recuperamos o país da maior recessão da sua história", disse o ex-presidente em publicação no Twitter.

"Lula deverá perder preciosos votos daqueles que constataram a sua deselegância e inoportunidade política", concluiu.

Temer também ligou para Baleia Rossi, presidente nacional do MDB, questionando se o apoio de Simone Tebet (MDB) ao petista seguiria mesmo com a declaração feita no debate. Apesar do incômodo, a cúpula do MDB minimizou a fala de Lula.

A avaliação da sigla é que a menção acabou passando em segundo plano, porque Bolsonaro não questionou, por exemplo, porque então o ex-sindicalista tem se valido do apoio da senadora Simone Tebet (MDB), que votou a favor do impeachment.

Temer decidiu adotar neutralidade na disputa entre Lula e Bolsonaro após circularem notícias de que ele poderia apoiar a reeleição do candidato do PL.

Em nota, o ex-presidente disse que aplaudirá a "candidatura que defender a democracia, cumprir rigorosamente a Constituição, promover a pacificação, mantiver as reformas já realizadas no meu governo e propuser ao Congresso Nacional as reformas que já estão na agenda do país".

Luciana Temer, filha de Michel Temer, publicou vídeo pedindo voto 13 neste sábado (29) mesmo após o ataque de Lula ao seu pai, dizendo que não se trata de uma defesa do petista, mas sim de um modelo de sociedade.

Uma eleição crucial, Editorial FSP

 Os quase quatro anos de Jair Bolsonaro (PL) na Presidência colocaram em xeque as instituições do país, no maior teste de estresse pelo qual passou a democracia brasileira. Colocaram sob escrutínio também o jornalismo apartidário, pedra basilar deste jornal.

Conforme o país se prepara para fazer sua escolha, a Folha se mantém convencida de que o apartidarismo é a melhor forma de fazer jornalismo crítico, isento e independente, o de maior utilidade pública.

Bolsoaro, à esquerda, lê um texto em um papel, enquanto Lula, à direita da imagem, caminha olhando para uma câmera. Ambos vestem ternos pretos
Os candidatos Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no debate da TV Globo na sexta (28) - Sérgio Zalis/TV Globo

Neste domingo (30) o eleitor brasileiro tem duas opções bastante distintas a sua frente.

Se a escolha for por Bolsonaro, o voto recairá no político que deixou de lado as responsabilidades de governo para se dedicar a seu projeto tirânico de eliminar limites ao poder presidencial.

O que está em jogo não são apenas os próximos quatro anos. São as quase quatro décadas de exercício pleno da democracia no Brasil, exemplar em qualquer lugar do mundo. É essa conquista fundamental da sociedade que está sob a ameaça do projeto cesarista de Bolsonaro.

Atacou o Judiciário e, principalmente, o Supremo Tribunal Federal sempre que pôde. Colocou a Procuradoria-Geral da República a seus pés. Tentou desacreditar o seguro sistema eleitoral e suas urnas eletrônicas, de renome mundial.

Nomeou militares em número recorde para postos no governo. A maioria dolorosamente incompetente, caso do general à frente da Saúde durante a pandemia. Desacreditou e retardou a vacina na maior crise sanitária a atingir o mundo em gerações.

Alvejou com sua pauta de costumes obscurantista o consenso iluminista, no esforço tresloucado de converter civilidade em barbárie. Fez apologia da tortura. Armou a população por decreto e afrontou o Estado de Direito, as mulheres, a laicidade, as minorias e a imprensa independente.

Estimulou o desmatamento da Amazônia e desprezou a pauta ambiental e climática, transformando o país em pária internacional.

Se a maioria preferir Luiz Inácio Lula da Silva, o eleito será um político que na sua passagem pelo Planalto deixou realizações e também manchas, em particular nos casos escabrosos de corrupção descobertos em seus governos. Ao longo de sua trajetória, deu seguidas mostras de respeito ao jogo democrático.

Nesta campanha, o petista não deixou claros seus planos no campo vital da economia. Não indicou se pretende reeditar a gestão responsável que marcou seu primeiro mandato ou o estatismo perdulário que culminou no desastre social de Dilma Rousseff.

Seja qual for a escolha do eleitorado, a Folha se compromete a fazer uma cobertura crítica ao próximo governo. E a zelar pela democracia.

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