terça-feira, 25 de outubro de 2022

Swift e Seara ampliam o uso de energia limpa com nova usina solar no interior de São Paulo. JBS

 

Foto registrada de cima de um terreno onde estão diversas placas de energia solar
UFV Saltinho é composta por quatro usinas, que somam 9.408 placas fotovoltaicas [Divulgação JBS]

A Swift e a Seara, empresas do grupo JBS no Brasil, estão ampliando o consumo de energia limpa e renovável em suas operações. As duas marcas irão adquirir parte da energia produzida pela Usina Fotovoltaica (UFV) Âmbar Saltinho, em Saltinho, no interior de São Paulo, inaugurada no último dia 14 de julho. O empreendimento pertence à Âmbar Energia, empresa de soluções em energia do grupo J&F.

A UFV Saltinho é composta por quatro usinas, que somam 9.408 placas fotovoltaicas. Essa energia renovável suprirá a demanda de diversos clientes, entre eles a Swift e produtores integrados da Seara. No total, as quatro usinas somam a potência de 5.174 kWp, o que equivale à energia consumida por 2,8 mil residências. O sistema evitará a emissão de 12,193 toneladas de CO₂ na atmosfera, o mesmo que o plantio de 4 mil novas árvores por mês.

O consumo de energia renovável pelas operações da Swift e da Seara faz parte dos esforços da JBS de se tornar Net Zero em 2040, ou seja, de zerar o balanço líquido de suas emissões e compensar as emissões residuais. Dentro desta estratégia, a Swift tem como meta alcançar que 100% de suas lojas sejam abastecidas por fonte renovável até 2025. 

“Em linha com a estratégia Net Zero 2040 da JBS, a Swift tem implementado uma série de iniciativas na área de sustentabilidade, como vans com painéis solares (que vendem produtos da marca em condomínios) e sistemas fotovoltaicos nos telhados de nossas lojas. Atualmente, 65 lojas da Swift já são atendidas por esta fonte. A compra de energia da UFV Saltinho é mais um passo nesta estratégia de consumirmos 100% de fonte de renovável em nossas lojas”, afirma o CFO e responsável pelos programas de Sustentabilidade da Swift, Raphael Jacob.

No caso da Seara, a compra de energia da UFV Saltinho tem como objetivo reduzir as suas emissões escopo 3 (indiretas), por meio do fornecimento de energia limpa e renovável para os seus integrados. A energia produzida pela usina será consumida pelos integrados da marca na Região das cidades de Amparo e Nuporanga, no interior de São Paulo. A expectativa é de que, além de trazer mais sustentabilidade, a iniciativa reduza em 20% a conta de luz das instalações.

“Como uma das líderes globais na indústria de aves e suínos, a Seara entende que é o seu papel disseminar as melhores práticas de sustentabilidade e promover o avanço da agenda ESG, melhorando a rentabilidade de todas as etapas do setor e contribuindo para o aumento do bem-estar único: pessoas, meio ambiente e animais”, afirma o diretor-executivo de Sustentabilidade da Seara, José Antonio Ribas Junior.

Expansão em renováveis

Trata-se da primeira UFV inaugurada pela Âmbar, que iniciou em 2021 um robusto plano de investimentos em geração de energia solar. A usina de Saltinho teve um investimento de R$ 23 milhões. “A inauguração dessa unidade é um marco na nossa estratégia de crescimento em energias renováveis”, afirma o presidente da Âmbar Energia, Marcelo Zanatta.

Além de UFVs espalhadas pelo país, a Âmbar está investindo também na construção de micro usinas em propriedades dos próprios clientes, como por exemplo nos telhados das lojas Swift. 

Hoje, no portfólio da Âmbar Energia em Geração Distribuída existem 58 dessas Usinas Fotovoltaicas em operação comercial, cinco aguardando conexão e três em fase em obra, totalizando 2.185 kWp, em seis concessionários de distribuição do Sudeste.

Por que votamos em Hitler, OLIVER STUENKEL, El País

 Ao longo da década de 1920, Adolf Hitler era pouco mais do que um ex-militar bizarro de baixo escalão, que poucas pessoas levavam a sério. Ele era conhecido principalmente por seus discursos contra minorias, políticos de esquerda, pacifistas, feministas, gays, elites progressistas, imigrantes, a mídia e a Liga das Nações, precursora das Nações Unidas. Em 1932, porém, 37% dos eleitores alemães votaram no partido de Hitler, a nova força política dominante no país. Em janeiro de 1933, ele tornou-se chefe de governo. Por que tantos alemães instruídos votaram em um patético bufão que levou o país ao abismo?

Em primeiro lugar, os alemães tinham perdido a fé no sistema político da época. A jovem democracia não trouxera os benefícios que muitos esperavam. Muitos sentiam raiva das elites tradicionais, cujas políticas tinham causado a pior crise econômica na história do país. Buscava-se um novo rosto. Um anti-político promoveria mudanças de verdade. Muitos dos eleitores de Hitler ficaram incomodados com seu radicalismo, mas os partidos estabelecidos não pareciam oferecer boas alternativas.

Em segundo lugar, Hitler sabia como usar a mídia para seus propósitos. Contrastando o discurso burocrático da maioria dos outros políticos, Hitler usava um linguajar simples, espalhava fake news, e os jornais adoravam sugerir que muito do que ele dizia era absurdo. Hitler era politicamente incorreto de propósito, o que o tornava mais autêntico aos olhos dos eleitores. Cada discurso era um espetáculo. Diferentemente dos outros políticos, ele foi recebido com aplausos de pé onde quer que fosse, empolgando as multidões. Como escreveu em seu livro "Minha Luta":

Toda propaganda deve ser apresentada em uma forma popular (...), não estar acima das cabeças dos menos intelectuais daqueles a quem é dirigida. (...) A arte da propaganda consiste precisamente em poder despertar a imaginação do público através de um apelo aos seus sentimentos.

Em terceiro lugar, muitos alemães sentiram que seu país sofria com uma crise moral, e Hitler prometeu uma restauração. Pessoas religiosas, sobretudo, ficaram horrorizadas com a arte moderna e os costumes culturais progressistas que surgiram por volta de 1920, época em que as mulheres se tornavam cada vez mais independentes, e a comunidade LGBT em Berlim começava a ganhar visibilidade. Os conservadores sonhavam com restabelecer a antiga ordem. Os conselheiros de Hitler eram todos homens heterossexuais brancos. As mulheres, ele argumentou, deveriam se limitar a administrar a casa e ter filhos. Homens inseguros podiam, de vez em quando, quebrar vitrines de lojas, cujos donos eram judeus, para reafirmarem sua masculinidade.

Em quarto lugar, apesar de Hitler fazer declarações ultrajantes – como a de que judeus e gays deveriam ser mortos -, muitos pensavam que ele só queria chocar as pessoas. Muitos alemães que tinham amigos gays ou judeus votaram em Hitler, confiantes de que ele nunca implementaria suas promessas. Simplista, inexperiente e muitas vezes tão esdrúxulo, que até mesmo seus concorrentes riam dele, Hitler poderia ser controlado por conselheiros mais experientes, ou ele logo deixaria a política. Afinal, ele precisava de partidos tradicionais para governar.

Em quinto, Hitler ofereceu soluções simplistas que, à primeira vista, faziam sentido para todos. O problema do crime, argumentava, poderia ser resolvido aplicando a pena de morte com mais frequência e aumentando as sentenças de prisão. Problemas econômicos, segundo ele, eram causados por atores externos e conspiradores comunistas. Os judeus - que representavam menos de 1% da população total - eram o bode expiatório favorito. Os alemães "verdadeiros" não deviam se culpar por nada. Tudo foi embalado em slogans fáceis de lembrar: "Alemanha acima de tudo", "Renascimento da Alemanha", "Um povo, uma nação, um líder."

Em sexto lugar, as elites logo aderiram a Hitler porque ele prometeu -- e implementou -- um atraente regime clientelista, cleptocrata, que beneficiava grupos de interesses especiais. Os industriais ganharam contratos suculentos, que os fizeram ignorar as tendências fascistas de Hitler.

Em sétimo, mesmo antes da eleição de 1932, falar contra Hitler tornou-se cada vez mais perigoso. Jovens agressivos, que apoiavam Hitler, ameaçavam os oponentes, limitando-se inicialmente ao abuso verbal, mas logo passando para a violência física. Muitos alemães que não apoiavam o regime preferiam ficar calados para evitar problemas com os nazistas.

Doze anos depois, com seis milhões de judeus exterminados e mais de 50 milhões de pessoas mortas na Segunda Guerra Mundial, muitos alemães que votaram em Hitler disseram a si mesmos que não tinham ideia de que ele traria tanta miséria ao mundo. “Se soubesse que ele mataria pessoas ou invadiria outros países, eu nunca teria votado nele ”, contou-me um amigo da minha família. “Mas como você pode dizer isso, considerando que Hitler falou publicamente de enforcar criminosos judeus durante a campanha?”, perguntei. “Eu achava que ele era pouco mais que um palhaço, um trapaceiro”, minha avó, cujo irmão morreu na guerra, responderia.

De fato, uma análise mais objetiva mostra que, justamente quando era mais necessário defender a democracia, os alemães caíram na tentação fácil de um demagogo patético que fornecia uma falsa sensação de segurança e muito poucas propostas concretas de como lidar com os problemas da Alemanha em 1932. Diferentemente do que se ouve hoje em dia, Hitler não era um gênio. Não passava de um charlatão oportunista que identificou e explorou uma profunda insegurança na sociedade alemã.

Hitler não chegou ao poder porque todos os alemães eram nazistas ou anti-semitas, mas porque muitas pessoas razoáveis fizeram vista grossa. O mal se estabeleceu na vida cotidiana porque as pessoas eram incapazes ou sem vontade de reconhecê-lo ou denunciá-lo, disseminando-se entre os alemães porque o povo estava disposto a minimizá-lo. Antes de muitos perceberem o que a maquinaria fascista do partido governista estava fazendo, ele já não podia mais ser contido. Era tarde demais.

segunda-feira, 24 de outubro de 2022

Para despertar consciências, por que não rebentar com um museu?, João Pereira Coutinho , FSP

 Está virando moda: depois de sopa de tomate no quadro de Van Gogh, dois ativistas resolveram jogar purê de batata num quadro de Monet.

Se eu fosse tão virtuoso como os ativistas, perguntaria se não há aqui insensibilidade social: desperdiçar comida quando existe fome no mundo não é gesto para aplaudir.

Mas há aplausos, bem sei, porque a causa é nobre: salvar o planeta do desastre climático. O que é uma sopa ou um purê de batata quando a Terra pode ficar inabitável?

Não contesto. Nem sequer para repetir que estas "performances" repelem mais do que atraem.

Prefiro fazer outra pergunta, no melhor espírito utilitarista: se o que está em causa é a sobrevivência da espécie, até onde é legítimo ir para "despertar consciências" (a expressão cafona que o radicalismo pequeno-burguês adora)?

Lata do molho de tomate usado no protesto mencionado no texto aparece na imagem como se fosse um vaso, dentro do qual estão os girassóis da pintura de Van Gogh, que foi alvo do mesmo protesto.
Ilustração de Angelo Abu para coluna de João Pereira Coutinho - Angelo Abu

Hoje, temos sopa ou purê de batata no vidro de um quadro. Mas não seria mais eficaz destruir mesmo o quadro? Ou dois? Ou três?

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Vamos um pouco mais longe: para "despertar consiências" não seria melhor aprender com os velhos anarquistas e, sei lá, rebentar com um museu?

Eu sei, eu sei. O leitor, pessoa civilizada, nem contempla tal cenário. Aliás, parece que o estou vendo, abanando a cabeça e murmurando: "Que comparação absurda, Little Couto!"

Acontece que eu não faço essa pergunta para você, leitor civilizado. Usando um pouco de imaginação perversa, tento pensar como um verdadeiro fanático pensa. Até onde é possível ir —perdão: até onde é obrigatório ir para salvar o mundo da decadência absoluta?

As preocupações que animam os nossos ativistas não são novas. Séculos atrás, Jean-Jacques Rousseau (1712 – 1778) formulou as mesmas questões: o que fez a civilização por nós?

Sim, deu-nos as artes e as ciências, como os quadros de Van Gogh ou de Monet; mas também trouxe a desigualdade e a corrupção de uma espécie que era pacífica no estado de natureza.

Em nenhum momento Rousseau advoga a violência como forma de redimir o mundo. Nem sequer um retorno lunático ao estado de natureza.

Apesar de ser um iluminista crítico, o nosso genebrino era também um produto do iluminismo racionalista, acreditando que os homens, suplantando os seus egoísmos mesquinhos, acabariam todos por desejar o que é racionalmente bom (a famosa "vontade geral"). Os renitentes, esses, seriam "obrigados a ser livres".

Essa filosofia deu bons frutos: poucos anos depois, no momento mais extremo da Revolução Francesa, um jovem advogado da província, de nome Maximilien de Robespierre (1758 – 1794), tentou ser fiel à filosofia de Rousseau.

A busca da virtude não pode existir sem o terror; e o terror não pode existir sem a virtude, em nome do bom comum, defendia o jacobino. A guilhotina era a conclusão lógica desse pensamento nobre.

Foi um casamento perfeito, que rapidamente deixou metástases. Pouco depois de Robespierre experimentar da sua própria terapia, o revolucionário Babeuf (1760 – 1797), pela boca do advogado Buonarroti, continuou a tradição: "nenhum meio é criminoso quando se pretende obter um fim sagrado".

Abriam-se assim as jaulas para o terrorismo contemporâneo —de indivíduos ou de Estados.

Eis o meu ponto: quando o fim é sagrado, não pode haver compromissos. Não pode haver um diálogo racional em busca de soluções possíveis, cientificamente ponderadas e politicamente sustentáveis.

É preciso arrasar e começar de novo —ou, na linguagem do ativismo ambientalista mais extremo, parar já!, agora!, nesse preciso momento!, com a queima de combustíveis fósseis, sem acautelar alternativas, e esperar que a sociedade aceite pacificamente um retorno ao paleolítico.

E se não aceitar?

Ora, ora: se não aceitar, é preciso obrigá-la a aceitar, certo? Para usar a famosa metáfora, não é possível fazer uma omelete perfeita sem partir alguns ovos.

O vandalismo adolescente que hoje ataca nos museus não é dramático, eu sei; e até concedo que as intenções são movidas pela mais genuína ansiedade.

Mas perante uma causa tão "sagrada", não ficaria espantado se outros atores entrassem no jogo, provocando outro tipo de estragos. O anti-humanismo do ambientalismo radical tem todos os condimentos para conquistar os eternos discípulos da brutalidade.

Quem queima livros, queima gente, já dizia o poeta. É uma questão de tempo.