quinta-feira, 20 de outubro de 2022

Liz Truss renuncia ao cargo de primeira-ministra do Reino Unido após 44 dias, FSP

 A primeira-ministra britânica, Liz Truss, decidiu renunciar ao cargo depois que o programa econômico anunciado por sua equipe causou turbulências no mercado e dividiu o Partido Conservador do qual ela faz parte.

"Reconheço que, dadas as circunstâncias, não serei capaz de cumprir as promessas em nome das quais fui eleita pelo Partido Conservador", disse a britânica em pronunciamento realizado em frente ao seu escritório, em Londres, nesta quinta-feira (20).

Ela afirmou ainda que sua decisão já havia sido comunicada ao rei Charles 3º e que novas eleições no partido devem acontecer na semana que vem, de modo a "garantir o planejamento fiscal e manter a estabilidade econômica e a segurança nacional" do Reino Unido.

Truss permaneceu apenas 44 dias no posto —sua renúncia marca o menor tempo que um líder o ocupou desde 1834, quando Arthur Wellesley foi defenestrado da posição 23 dias após assumi-la. Uma espécie de competição entre a sua sobrevivência política e a vida útil de um alface transmitida ao vivo pelo YouTube que virou meme nas redes sociais coroa agora a vitória do vegetal, comemorada com uma garrafa de prosecco.

Empossada em 6 de setembro, Truss foi obrigada a abandonar boa parte de seu programa econômico e a demitir Kwasi Kwarteng, seu ministro das Finanças e maior aliado político, depois que a sua equipe divulgou um amplo plano de corte de impostos.

A proposta havia sido anunciada ainda durante a sua campanha. Mas o mercado reagiu mal ao anúncio, temendo consequências da queda de arrecadação fiscal em tempos de alta da inflação puxada pelos custos da energia. Na ocasião, o valor da libra e os preços dos títulos do governo despencaram, forçando o Banco da Inglaterra a intervir.

O fiasco econômico também prejudicou sua popularidade, e uma pesquisa do instituto YouGov divulgada dias antes da renúncia indicou que 87% dos britânicos consideravam que a primeira-ministra estava conduzindo mal a economia. Ao avaliarem o seu governo de forma geral, 77% das pessoas o desaprovavam, o maior patamar de insatisfação dos últimos 11 anos de monitoramento.

Ao avaliarem o seu governo de forma geral, a desaprovação era de 77%, o maior patamar de insatisfação dos últimos 11 anos de monitoramento. Até seu antecessor Boris Johnson, que renunciou em meio a uma pressão intensa, tem imagem menos arranhada: 30% dos britânicos têm boa impressão dele, três vezes a aprovação da atual ocupante do cargo.

Na véspera da renúncia, Truss havia perdido mais uma ministra de peso, a chefe da pasta do Interior, Suella Braverman, e tinha sido menosprezada ao tentar defender seu governo à beira de um colapso.

As novas eleições para a liderança do Partido Conservador foram marcadas para 28 de outubro. Entre os candidatos, estão os ex-ministros Rishi Sunak (Finanças) e Penny Mordaunt (Defesa). Uma pesquisa publicada esta semana indicou que a maioria dos membros gostariam do retorno de Boris Johnson.

quarta-feira, 19 de outubro de 2022

Skaf inicia ‘rebelião’ contra Josué Gomes na Fiesp três meses após deixar o cargo, OESP

 Três meses depois de deixar a Presidência da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf está se movimentando com um abaixo-assinado contra Josué Gomes, seu sucessor no cargo. Em conjunto com presidentes de sindicatos patronais que estão insatisfeitos com o tratamento recebido de Josué, Skaf está elaborando um documento a ser entregue à Fiesp na próxima sexta-feira, 21. O texto classifica a gestão de Josué como “ideológica”.

Fontes dizem que a questão pode ter um viés político. Skaf foi apoiador de primeira hora do presidente Jair Bolsonaro (PSL), enquanto Josué é filho do ex-vice-presidente de Lula, José Alencar, que morreu em 2011. Mais recentemente, a ala mais à direita da Fiesp também criticou a decisão da entidade de divulgar um manifesto em favor da democracia, o que foi visto como um aceno favorável a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e contra Bolsonaro.

Segundo apurou o Estadão, parte dos presidentes de sindicatos setoriais estaria insatisfeita com o tratamento recebido pela nova gestão. Alguns desses representantes de classe afirmaram sequer ter conversado com Josué Gomes desde sua eleição. No entanto, apesar desses problemas, há quem se refira à movimentação do ex-presidente como um “golpe na Fiesp”. A movimentação de Skaf foi noticiada inicialmente pelo colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo.

Uma fonte da Fiesp, que pediu anonimato, explicou que o que tem gerado insatisfação é a mudança na estrutura de poder na entidade, capitaneada pela gestão de Josué. Com isso, a federação trouxe de volta à Fiesp grandes industriais que tinham se afastado ao longo da gestão de Skaf. “Skaf está aliciando os sindicatos patronais pequenos para derrubar Josué. Ele está perdido, tentou cargos políticos e não conseguiu”, disse a mesma fonte. O ex-presidente da Fiesp foi candidato ao governo de São Paulo em 2018.

Josué Gomes da Silva assumiu a presidência da Fiesp em julho
Josué Gomes da Silva assumiu a presidência da Fiesp em julho  Foto: Everton Amaro/Fiesp

Entidade dividida

Uma fonte ligada ao assunto diz que Paulo Skaf reuniu mais de 70 assinaturas em seu abaixo-assinado – todos apoiadores de longa data de sua gestão, que se estendeu por 18 anos. A intenção, segundo apurou a reportagem, é pressionar para que Josué renuncie ao cargo. Isso porque o rito para um “impeachment” exigiria a convocação e aprovação em uma assembleia com todos os membros da Federação.

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Esse poder de mobilização estaria ligado ao fato de que, ao longo de sua gestão, Skaf se manteve próximo aos pequenos sindicatos patronais, grande parte deles do interior do Estado. Uma fonte não descarta, porém, que Josué “entregue o chapéu” em uma eventual reeleição de Bolsonaro.

Pintou um silêncio, Juliano Spyer, FSP

 Uma das táticas da comunicação bolsonarista é responder rapidamente aos ataques e questionamentos ao presidente. Mas neste sábado (15) os grupos evangélicos se calaram. "Esse vídeo do ‘pintou um clima’ está viralizando demais. Estou impressionado," me escreveu um pastor. "Está em todos os grupos. Tem gente perguntando se é verdade, se não é fake. Apenas isso. Mas ninguém defende."

O disparo partiu do deputado André Janones (Avante-MG), que é evangélico. Ele compartilhou nas redes um trecho da entrevista em que Jair Bolsonaro (PL) diz que encontrou "menininhas bonitas, de 14, 15 anos" que, conforme ele sugere, seriam prostitutas. "Pintou um clima’, voltei. Posso entrar na tua casa? Entrei", diz o presidente.

Durante participação a um podcast nesta sexta-feira (14), o presidente Jair Bolsonaro (PL) disse que 'pintou um clima' entre ele e uma menina venezuelana de 14 anos - Reprodução

E por que falas sobre violência ou corrupção, por exemplo, geram menos incômodo? "Muitos missionários que implantaram igrejas evangélicas no Brasil foram puritanos vindos principalmente dos Estados Unidos," explica a teóloga pentecostal Regina Fernandes. "Mexer na questão sexual e ainda envolvendo crianças conduz a um tema delicado para os evangélicos."

"Pintou um clima" semeia a dúvida especialmente entre mulheres evangélicas que votam em Bolsonaro pragmaticamente, sem gostar dele. Ao associar o presidente a pedofilia, Janones chama a atenção dessas eleitoras para aquilo que elas rejeitam no presidente: a postura truculenta, a atitude desrespeitosa em relação a mulheres, e o histórico familiar com várias separações que não combina com a moral cristã.

O apresentador Luciano Huck, um dos globais mais admirados pela audiência evangélica, se manifestou pelo Instagram reagindo ao conteúdo do vídeo: "Não existe ‘pintar um clima’!!!! Exploração sexual infantil é um tema que não pode ser tratado com ‘normalidade’, nem empurrado para debaixo do tapete…".

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Outro front dessa contraofensiva ao bolsonarismo acontece no campo da música gospel. O lançamento da canção Messias é uma ação menos estridente porque acontece "intramuros" no mundo evangélico e sem escândalo. Mas ela dialoga com jovens evangélicos e desigrejados em geral, que estão mais descontentes com a ocupação das igrejas pelo bolsonarismo.

O gospel é o segundo gênero musical mais popular do Brasil hoje e Messias é o resultado da colaboração entre estrelas como Leonardo Gonçalves, Kleber Lucas e Clovis —só este último, o autor do hit mais ouvido na categoria gospel em todas as línguas, com mais de 700 milhões de visualizações no YouTube. É uma crítica que vem de dentro das igrejas a partir de pessoas influentes para esse público.

Messias registra a experiência dos evangélicos que vêm se afastando das igrejas por causa do ambiente de intolerância com a diferença. O final da faixa traz um desabafo: "A real é que eu tô triste… Lugares em que tivemos experiências incríveis, pessoas com quem tivemos experiências incríveis, se voltaram contra a gente, questionam a nossa fé. Dizem que não somos cristãos e falam da gente como se não nos conhecessem, como se já não tivéssemos partido o pão juntos incontáveis vezes por anos. E tudo isso por causa de política…".

Alguns músicos que aceitaram participar da gravação pediram para sair por medo de não serem mais chamados para cantar em igrejas. Um dos organizadores do projeto, o cantor Leonardo Gonçalves, perdeu, desde 2020, 200 mil ouvintes mensais no Spotify e cerca de 100 mil seguidores no Instagram. Mas a audiência está correspondendo o esforço dos criadores e em 24 horas Messias foi tocada mais de 300 mil vezes no YouTube.

Magali Cunha, pesquisadora do Iser (Instituto de Estudos da Religião) e estudiosa da cultura gospel, explica a relevância desse lançamento: "É música para jovens com até 40 anos, que têm afinidade com pop rap gospel. Esse segmento representa a parcela maior do eleitorado evangélico e a mais crítica da realidade presente das igrejas."

Messias toca especialmente aqueles evangélicos criticados e atacados por resistirem à pressão para votar no candidato das igrejas. "Para pessoas como eu, o Leonardo gera identificação e ‘refúgio’," conta o historiador Samuel Gandara. "[Esse tipo de ação] passa a sensação de que não estamos sozinhos e temos para onde olhar".