A primeira-ministra britânica, Liz Truss, decidiu renunciar ao cargo depois que o programa econômico anunciado por sua equipe causou turbulências no mercado e dividiu o Partido Conservador do qual ela faz parte.
"Reconheço que, dadas as circunstâncias, não serei capaz de cumprir as promessas em nome das quais fui eleita pelo Partido Conservador", disse a britânica em pronunciamento realizado em frente ao seu escritório, em Londres, nesta quinta-feira (20).
Ela afirmou ainda que sua decisão já havia sido comunicada ao rei Charles 3º e que novas eleições no partido devem acontecer na semana que vem, de modo a "garantir o planejamento fiscal e manter a estabilidade econômica e a segurança nacional" do Reino Unido.
Truss permaneceu apenas 44 dias no posto —sua renúncia marca o menor tempo que um líder o ocupou desde 1834, quando Arthur Wellesley foi defenestrado da posição 23 dias após assumi-la. Uma espécie de competição entre a sua sobrevivência política e a vida útil de um alface transmitida ao vivo pelo YouTube que virou meme nas redes sociais coroa agora a vitória do vegetal, comemorada com uma garrafa de prosecco.
Empossada em 6 de setembro, Truss foi obrigada a abandonar boa parte de seu programa econômico e a demitir Kwasi Kwarteng, seu ministro das Finanças e maior aliado político, depois que a sua equipe divulgou um amplo plano de corte de impostos.
A proposta havia sido anunciada ainda durante a sua campanha. Mas o mercado reagiu mal ao anúncio, temendo consequências da queda de arrecadação fiscal em tempos de alta da inflação puxada pelos custos da energia. Na ocasião, o valor da libra e os preços dos títulos do governo despencaram, forçando o Banco da Inglaterra a intervir.
O fiasco econômico também prejudicou sua popularidade, e uma pesquisa do instituto YouGov divulgada dias antes da renúncia indicou que 87% dos britânicos consideravam que a primeira-ministra estava conduzindo mal a economia. Ao avaliarem o seu governo de forma geral, 77% das pessoas o desaprovavam, o maior patamar de insatisfação dos últimos 11 anos de monitoramento.
Ao avaliarem o seu governo de forma geral, a desaprovação era de 77%, o maior patamar de insatisfação dos últimos 11 anos de monitoramento. Até seu antecessor Boris Johnson, que renunciou em meio a uma pressão intensa, tem imagem menos arranhada: 30% dos britânicos têm boa impressão dele, três vezes a aprovação da atual ocupante do cargo.
Na véspera da renúncia, Truss havia perdido mais uma ministra de peso, a chefe da pasta do Interior, Suella Braverman, e tinha sido menosprezada ao tentar defender seu governo à beira de um colapso.
As novas eleições para a liderança do Partido Conservador foram marcadas para 28 de outubro. Entre os candidatos, estão os ex-ministros Rishi Sunak (Finanças) e Penny Mordaunt (Defesa). Uma pesquisa publicada esta semana indicou que a maioria dos membros gostariam do retorno de Boris Johnson.
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