sexta-feira, 19 de agosto de 2022

Putin revive prêmio de Stalin para mulheres com 10 filhos, The News

MUNDO

(Imagem: Times | Reprodução)

“Mãe Heroína”. O presidente russo, Vladimir Putin, restaurou um prêmio apresentado pela primeira vez pelo líder soviético Joseph Stalin, destinado a incentivar as mulheres a ter mais filhos.

O título será concedido àqueles que “nascerem e criarem” 10 cidadãos russos, mas o prêmio de um milhão de rublos só é entregue depois que o décimo filho completar um ano.

E ainda tem outra condição: Todas as 10 crianças devem estar vivas, a menos que tenham morrido durante o serviço militar, oficial ou cívico, ou em um ataque terrorista.

Panorama geral 📉

Entre janeiro e maio, a população russa encolheu a uma taxa recorde de 86.000 pessoas por mês. Entre outubro de 2020 e setembro de 2021, a diminuição chegou a quase 1 milhão de pessoas.

A população em idade ativa da Rússia vem diminuindo desde 2010 e o ataque da Ucrânia parece ter acelerado a tendência. Nas palavras de Putin, essa situação o assombra.

Pense que, no médio/longo prazo, haverá mais idosos — aposentados — do que pessoas economicamente ativas. Com isso, os gastos do governo aumentarão mais do que a capacidade de produção do país.

O que mais você precisa saber mundialmente falando?

O que Putin nos conta: mídias russas na América Latina, Latinoamérica21

 

Johanna Cilano Pelaez

Advogada e cientista política. Doutora em História e Estudos Regionais, com pós-graduação em gestão e análise política na Flacso-México e CIDE.

María Isabel Puerta Riera

Doutora em Ciências Sociais pela Universidade de Carabobo (Venezuela). Secretária da seção de estudos venezuelanos da Latin American Studies Association (LASA).

Nas últimas semanas, como resultado do conflito entre Rússia e o Ocidente desencadeado a partir da invasão da Ucrânia, o alcance das mídias russas como fonte de desinformação para a população latino-americana atingiu novos marcos e elementos probatórios. A presença desses meios de comunicação de massa e de desinformação permite ao Kremlin questionar o modelo democrático vigente na maior parte da América Latina e defender a posição oficial do governo russo em vários temas, incluindo a invasão da Ucrânia.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, ao lado do ministro da Defesa da Rússia, Sergei Shoigu, durante desfile naval que marca o Dia da Marinha Russa, em São Petersburgo, em 31 de julho de 2022 - Mikhail Klimentyev/AFP

AMÉRICA LATINA NA MIRA

Países como México, Argentina e Colômbia são parte dos objetivos estratégicos midiático-políticos da Rússia, de acordo com um estudo da Ipsos encomendado pela RT. É significativo, de acordo com as conclusões do DFR Lab, que 50% do tráfego no site da RT em espanhol seja registrado nos países acima mencionados. Este comportamento reflete a influência que a mídia russa tem em um mercado onde compete com CNN, Voz da América e BBC, entre outras mídias internacionais.

Também é importante considerar o impacto que eles têm nas diferentes redes sociais: Twitter, Facebook, Instagram e Youtube, bem como em seus canais de Telegramas e WhatsApp e seus websites.

EM PLENO DESENVOLVIMENTO

A penetração de meios como RT e Sputnik no espaço informativo latino-americano levou ao desdobramento do sharp power russo, cuja narrativa está em sinergia com a dos governos aliados (Cuba, Nicarágua, Venezuela) e daquelas vozes e redes intelectuais (como as que existem no Clacso) que se veem como a "alternativa multipolar frente ao unipolarismo do Ocidente", cujas dinâmicas são orientadas, na realidade, para a consolidação de uma nova hegemonia geopolítica oposta à democracia liberal.

Rússia e vários países da América Latina têm vivido processos paralelos de autocratização no século 21. Regimes iliberais personalistas, como os de Rússia, Venezuela e Nicarágua, estreitaram o diálogo, a colaboração e o apoio mútuo. Suas práticas convergem na eliminação progressiva de instituições e atores democráticos (partidos de oposição, meios de comunicação e organizações da sociedade civil).

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Um caso paradigmático é o nexo entre Rússia e Venezuela. A Venezuela se posiciona como porta de entrada russa ao mercado e espaço regional latino-americano, não só economicamente, mas acadêmica, cultural e midiaticamente. Por sua vez, a Rússia oferece um contrapeso diplomático como aliado global contra os Estados Unidos, contra outros aliados democráticos e contra os questionamentos e desaprovações da comunidade internacional.

VENEZUELA: PORTA DE ENTRADA

As relações russo-venezuelanas não só diversificaram como se aprofundaram, como vimos após a análise das distintas dimensões onde operam as sinergias iliberais – ideológicas, geopolíticas, de segurança, midiáticas etc.

Para explicar como a influência russa se projeta na América Latina, é possível identificar as sinergias do Kremlin com aliados autocráticos na região nas posturas (diplomáticas e midiáticas) sobre democracia, direitos humanos e relações internacionais.

Em uma análise recente da cobertura e de editoriais da mídia russa e venezuelana, destacam-se elementos como soberania, lealdade e resistência, interpretados a partir de um prisma soberanista iliberal, que delega ao Estado (e a seus altos funcionários) a encarnação da nação, acima de qualquer outra consideração.

As mídias de desinformação russas são máquinas de difusão de propaganda, que promovem a agenda do Kremlin e buscam alimentar a desconfiança nas instituições dentro das sociedades democráticas. Para esses meios de comunicação, os ratings ou a mera penetração no público não é o mais importante, mas a possibilidade de que suas narrativas se tornem referenciais e seus conteúdos possam ser transferidos para outras plataformas mais confiáveis.

Tudo isso representa um campo de luta adicional que requer maior atenção, pois é eficaz em seu propósito de gerar desconfiança na democracia. Isto representa um verdadeiro desafio para as forças democráticas na região, justamente quando a democracia liberal atravessa seu pior momento.

AVANÇO SEM OPOSIÇÃO

O avanço da comunicação estratégica da Rússia na América Latina encontrou relativamente pouca oposição. Um dos fatores por trás do êxito da mídia na América Latina é a falta de compreensão do público acerca da natureza do interesse de Moscou no espaço informacional regional. Muitos latino-americanos percebem a presença de veículos de mídia como RT ou Sputnik como uma simples expressão do pluralismo informativo.

No contexto latino-americano, há poucos debates públicos sobre o papel da mídia russa, embora talvez a guerra na Ucrânia tenha modificado um pouco essa situação. A Rússia tentará sustentar sua comunicação estratégica na vizinhança como uma ferramenta eficaz (por seu alto e imediato impacto e custos relativamente baixos) de sua política externa, encontrando uma sintonia com os públicos e discursos iliberais das sociedades, elites e campo intelectual latino-americanos.


A redução da pobreza nem sempre se reflete em queda da desigualdade, avaliam especialistas, Agência FAPESP

 José Tadeu Arantes | Agência FAPESP – A pobreza e a extrema pobreza alcançaram em 2020, na América Latina, níveis nunca observados, com agravamento da desigualdade. O Brasil continua sendo um dos países com maior desigualdade social de renda, ocupando a segunda pior posição dentre os países que compõem o G20. Essas informações foram apresentadas por Ronaldo Aloise Pilli, vice-presidente do Conselho Superior da FAPESP, durante a abertura da 13ª Conferência FAPESP 60 Anos, que tratou do tema “Pobreza e Desigualdade”.

Pilli encerrou sua fala com as perguntas: "Será possível reduzir essa desigualdade em prazo razoável? Como?"

Para refletir sobre o assunto, o evento reuniu dois grandes especialistas: Martin Ravallion, que ocupa a Cátedra Edmond D. Villani de Economia na Georgetown University, nos Estados Unidos, e, entre outras atribuições, foi diretor do departamento de pesquisa do Banco Mundial; e Marcelo Medeiros, atualmente professor visitante na Columbia University, anteriormente vinculado ao Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e ao Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). A moderação foi de Marta Arretche, membro da Coordenação Adjunta de Ciências Humanas e Sociais da FAPESP.

Ravallion enfocou o tema da pobreza e da desigualdade na China, lembrando que o espetacular crescimento econômico desencadeado pelas reformas promovidas por Deng Xiaoping em 1979 levou a uma expressiva redução da pobreza, mas também aumentou fortemente as desigualdades no país.

Com base no estudo Fleshing out the olive? On income polarization in China, que produziu no final de 2021, em parceria com Shaohua Chen, Ravallion tratou da polarização da renda causada pelo modelo chinês. E da política posta em prática pelo atual presidente Xi Jinping para reduzir os extremos da pirâmide social e fortalecer o centro.

Segundo o pesquisador, um forte fator de desigualdade e polarização é o hiato entre a zona urbana e a zona rural. E, dentro da zona urbana, entre as cidades costeiras e as cidades do interior. “Todos os três períodos em que a desigualdade declinou, desde 1980, coincidem com reformas significativas na zona rural”, disse. Essas reformas incentivaram a produção individual, reduziram impostos e protegeram os preços de produtos agrícolas como o arroz e trigo.

Na sequência, Medeiros fechou o foco sobre o Brasil, enfatizando que a redução da pobreza não diminui necessariamente a desigualdade. “Para pensar em pobreza, olhe para a base da pirâmide. Para pensar em desigualdade, olhe para o topo”, afirmou.

O pesquisador lembrou que a extrema desigualdade da sociedade brasileira é fruto de um grande conjunto de fatores. E não pode ser corrigida por meio de um conjunto pequeno de medidas. Por isso, enfatizou Medeiros, “não deve haver política de redução da desigualdade. Mas toda política deve levar a desigualdade em consideração. Toda política tem efeito sobre a desigualdade”.

Isso demanda toda uma nova maneira de pensar. E até mesmo um outro vocabulário. “Devemos parar de falar em crescimento agregado. E pensar que quem cresce não é o país como um todo. Em uma sociedade de propriedade privada, quem cresce são indivíduos. É possível ter um crescimento só dos mais ricos, e a economia crescer bastante, e um crescimento só dos mais pobres, também com crescimento econômico. Mas são crescimentos completamente diferentes, que envolvem políticas completamente diferentes”, argumentou Medeiros.

O pesquisador ressaltou que não há uma política certa. Cada uma é um investimento. E, no desenho de uma política, o tempo de implementação, os custos, os benefícios e os riscos devem ser considerados. Também os detalhes importam, e muito. “Pequenas diferenças de desenho podem levar a grandes diferenças de resultados”, disse. E exemplificou: “No caso brasileiro, é fácil entender que um programa como o Auxílio Brasil, que é o sucessor e tem um desenho parecido com o do Bolsa Família, está levando a resultados bastante diferentes”.

A 13ª Conferência FAPESP 60 Anos pode ser assistida na íntegra em: www.youtube.com/watch?v=WK70Pfe5dyU.

Os episódios anteriores da série podem ser encontrados no endereço: 60anos.fapesp.br/conferencias.