sexta-feira, 15 de abril de 2022

Reação fria a Doria em evento em SP é marco de naufrágio do projeto presidencial, dizem tucanos, FSP

 A reação fria de tucanos à presença de João Doria (PSDB) em evento para homenagear Bruno Covas (PSDB) na terça-feira (12), em São Paulo, ficará como marco do fim do projeto presidencial do ex-governador paulista em 2022.

O diagnóstico é feito por tucanos que compareceram ao encontro na capital, muitos deles críticos a Doria, mas alguns deles também aliados.

Vencedor das prévias do PSDB em 2021, Doria se queixa de ser alvo de uma tentativa de golpe para que o candidato presidencial seja Eduardo Leite, ex-governador do Rio Grande do Sul.

O ex-governador João Doria durante evento do PSDB
O ex-governador João Doria durante evento do PSDB - Adriano Vizoni-21.mar.2022/Folhapress

Os apoiadores de Leite rebatem dizendo que ele tem mais potencial eleitoral e que o partido mudou muito desde as prévias, com a saída de diversos parlamentares que apoiaram Doria no processo decisório. Dessa forma, a escolha pelo ex-governador paulista não refletiria mais a vontade do partido.

Doria falou logo no começo e deixou o local antes do fim do evento. Foi ovacionado, mas sem a empolgação com que os presentes gritaram o nome do governador Rodrigo Garcia (PSDB).

Entre tucanos, eles falavam em tom de brincadeira que até mesmo membros de segundo escalão da estrutura do partido tiveram os nomes entoados com mais ânimo pela militância.

Em registro mais agressivo, críticos de Doria disseram que o evento evidenciou que ele está só e meio morto como político. Eles dizem que ele já pode ser considerado uma questão superada na sigla, que agora então deve se debruçar na viabilização do nome de Leite como principal representante da chamada terceira via.

Garcia foi citado seguidas vezes pelos presentes em seus discursos, com ênfase. Bruno Araújo, presidente do PSDB, disse que Bruno Covas seria "o maior entusiasta" da pré-candidatura do atual governador. Sobre Doria, de quem é coordenador de campanha, silenciou. Araújo passou a maior parte do evento sentado ao lado de Garcia.

Bruno Araújo (com os dedos trançados entre as pernas) ao lado de Rodrigo Garcia durante discurso de Tomás Covas, filho de Bruno Covas
Bruno Araújo (com os dedos trançados entre as pernas) ao lado de Rodrigo Garcia durante discurso de Tomás Covas, filho de Bruno Covas - Guilherme Seto/Folhapress

Em jantar com empresários na segunda-feira (11), Araújo afirmou que o acordo com MDB, União Brasil e Cidadania para encontrar um nome único para a terceira via se sobrepunha à prévia tucana. Essas siglas prometem definir uma chapa conjunta até 18 de maio.

Além de Araújo e Garcia, estavam também no palco Carlão Pignatari (PSDB), presidente da Assembleia Legislativa de SP, e Milton Leite (União Brasil), presidente da Câmara Municipal de SP.

Os quatro foram colocados em estado de alerta por Doria no fim de março, quando ele disse que não seria mais candidato a presidente e que permaneceria no Governo de SP. A manobra colocaria fim à candidatura de Rodrigo Garcia, tida como prioritária pelo grupo.

Doria depois disse ter se tratado de "comportamento estratégico" para que o PSDB manifestasse publicamente apoio a ele. Araújo divulgou uma carta em apoio à candidatura presidencial do ex-governador durante o dia, mas tem se mostrado cada vez mais distante de Doria desde então.

Ruy Castro O ninho das serpentes, FSP

 Deu no jornal. Um ninho de ovos de titanossauros, ramo gigante de dinossauros, foi encontrado há pouco numa mina desativada de calcário perto de Uberaba (MG). Não são os primeiros descobertos ali. A área é rica nesse fóssil e, desde 1951, os paleontólogos já colheram vários ovos isolados. A diferença é que esta é a primeira ninhada completa, e pode não ser a única. Pelo bom estado dos ovos e por medirem apenas 12 cm de diâmetro, devem ter sido enterrados e postos para chocar assim que desovados pela amorosa Titanossaura. Mas, como os exames de tomografia computadorizada não acusaram vestígios de embriões, supõe-se que sua produção não contou com a participação do míster.

Os titanossauros viveram há 80 milhões de anos, época terrivelmente primitiva, sem satélites ou internet. Por isso não puderam prever a chegada de um bólido que, ao colidir com a Terra, despejou uma chuva de corpos celestes contra ela. Como eles eram godzilas de 15 metros de comprimento por cinco de altura e pesavam 13 toneladas, não tinham muitas tocas onde se enfiar, donde morreram todos. Em compensação, uma contemporânea dos titanossauros, mais ágil e esperta, sobreviveu ao extermínio, atravessou os milhares de milênios e está até hoje entre nós: a serpente.

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E é disso que, em matéria de ovos, deveríamos estar cuidando: da busca aos ninhos das serpentes. Eles estão nos subterrâneos do Executivo, do Legislativo e do Judiciário —infestando os palácios e os ministérios, a Câmara e o Senado, os tribunais, procuradorias, corregedorias, agências de controle, órgãos de investigação e delegacias. Imiscuíram-se também nos porões dos quartéis, das corporações, dos mais inocentes condomínios, e de tudo estão fazendo milícia.

As serpentes aprendem desde o ninho a esperar pela hora exata de dar o bote —o golpe.

Está na cara que vão dá-lo. Não têm escolha. Precisamos saber quando.

Doria rompe com presidente do PSDB e amplia isolamento em pré-campanha, FSP

 


SÃO PAULO

Pré-candidato à Presidência pelo PSDB, o ex-governador de São Paulo João Doria retirou o presidente nacional do partido, Bruno Araújo, do comando de sua pré-campanha. Ele será substituído pelo presidente da legenda em São Paulo, Marco Vinholi.

O anúncio foi feito pela equipe de Doria.

Doria havia convidado Araújo para ser o coordenador de sua pré-campanha em dezembro. Segundo nota divulgada pela equipe do tucano, Araújo "relativizou a candidatura de Doria" em declarações recentes e, "essa postura, considerada pouco agregadora, motivou a decisão".

O presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo (à esq.), e o ex-governador de SP João Doria (PSDB)
O presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo (à esq.), e o ex-governador de SP João Doria (PSDB) - Bruno Santos-31.mar.22/Folhapress

Nas redes sociais, Araújo ironizou a decisão de Doria e afirmou que nunca fez questão de exercer esse cargo. O perfil oficial do PSDB no Twitter compartilhou a publicação de Araújo, em sinal que pode ser lido como mais um enfraquecimento da pré-campanha do ex-governador.

Com isso, Doria, que já enfrentava críticas dentro de seu próprio partido, fica ainda mais isolado e exposto. Desde o resultado acirrado das prévias do PSDB em novembro, com a derrota do ex-governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite, o partido está rachado.

Doria se queixa de ser alvo de uma tentativa de golpe para que o candidato presidencial seja Leite. Enquanto aliados do ex-governador gaúcho afirmam que ele teria mais chances, por não ter a rejeição de Doria.

Segundo um aliado de Leite, a saída de Araújo da coordenação evidencia ainda mais o isolamento de Doria no partido e a fragilidade de sua candidatura ao Planalto. Ele também afirma que Doria não tem agenda e nem aliados políticos que endossam a sua campanha.

Ainda segundo ele, era esperada a troca, uma vez que Araújo tem responsabilidades enquanto presidente nacional do partido que não necessariamente podem ser conciliadas com a coordenação da pré-campanha de um candidato "que é cada vez mais questionado".

​À Folha Vinholi diz que a pré-campanha irá "seguir no diálogo junto ao centro democrático para a construção da candidatura conjunta". "Confio que João Doria é quem reúne as melhores condições para retomar o desenvolvimento do Brasil", afirma.

Na nota que anunciou a mudança, a equipe de Doria afirma que o presidente estadual do PSDB em SP "é considerado um hábil articulador político por sua ampla capacidade de diálogo".

Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa do ex-governador diz que ele não irá comentar a publicação de Araújo.

Declarações e gestos de Araújo nas últimas semanas evidenciavam o desgaste na relação com Doria. Segundo aliados do ex-governador paulista, já não havia mais clima para a permanência de Araújo na coordenação da pré-campanha.

Em grupos de WhatsApp da militância tucana, o presidente do partido estava sendo atacado por estar dando sinas de desrespeitos às prévias partidárias do PSDB.

Como mostrou a coluna Mônica Bergamo, em encontro com empresários do grupo Esfera Brasil, nesta semana, Araújo afirmou que a aliança com outros partidos "é maior" do que as prévias da legenda, vencidas por Doria.

Desta forma, a candidatura presidencial dependeria do pacto com Cidadania, União Brasil e MDB. Os quatro partidos afirmaram no começo deste mês que vão anunciar no dia 18 de maio o nome de quem representará uma candidatura única da chamada terceira via.

"O PSDB agora está em um consórcio maior para uma terceira via. Não vejo apoio do PSDB para seguir com uma candidatura que não seja dentro [desse pacto]. A candidatura de Doria recebe toda energia, todo o apoio do PSDB, se ela tiver escolhida dentro desse conjunto político da aliança nacional com todos os partidos. Fora isso, acho que vai ter um grau de desgaste intenso dentro do partido", afirmou Araújo.

Na quinta-feira (14), Araújo almoçou com o ex-governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, que articula ser o representante tucano em um projeto presidencial, apesar de ter perdido as prévias para Doria.

Ainda no começo deste mês, Araújo afirmou que existe forte oposição interna na sigla à candidatura de Doria e que o comportamento de Leite é do jogo político.