quarta-feira, 25 de agosto de 2021

AMIR LABAKI Lembrai-vos de 1961, FSP

 


Amir Labaki

Crítico de cinema, dramaturgo e fundador e diretor do festival É Tudo Verdade; autor de ‘1961 – A Crise da Renúncia e a Solução Parlamentarista’ (ed. Brasiliense)

Tanto Jânio Quadros (1917-1992) quanto Jair Bolsonaro chegaram à Presidência vencendo campanhas eleitorais em que se apresentavam como candidatos antiestablishment e paladinos da luta contra a corrupção. Ambos vinham de carreiras políticas sem maior vínculo partidário e, logo empossados, se afastaram do partido que os levou ao Planalto —UDN, principalmente, no caso de Jânio, e PSL, no de Bolsonaro.

Podem os dois serem caracterizados como lideranças carismáticas segundo a fórmula de Weber, com seus seguidores lhes atribuindo qualidades excepcionais que os ungiriam como líderes. Podem também ser definidos como dois demagogos de sucesso, baseados na facilidade de falar com suas bases a partir de formulações coloquiais e slogans genéricos, sendo Bolsonaro muito mais ignorante do que Jânio.

Outra diferença é essencial: Jânio tinha muito mais experiência executiva do que Bolsonaro. Jânio fora prefeito de São Paulo (1953-55) e governador paulista (1955-59); Bolsonaro nunca ocupara antes cargo executivo e foi um deputado federal medíocre por quase 30 anos (1991-2018). Outra distinção importante: também Jânio tinha vocação cesarista e discurso moralista, mas não espalhava “fake news” para minar as instituições democráticas —como Bolsonaro fez, por exemplo, em suas críticas à lisura do voto eletrônico e nas mentirosas acusações de fraudes nos dois últimos pleitos presidenciais.

Em 25 de agosto de 1961, Jânio, ao que tudo indica, tentou pela renúncia —um ato de retirada— catalisar uma crise que o traria de volta nos braços do povo e lhe permitiria concentrar maiores poderes no Executivo federal por meio de uma hipotética “reforma institucional”. Por seu turno, Bolsonaro vem concentrando poder por atos de intrusão, como o aparelhamento da máquina estatal e de parte das forças de segurança e pelo estímulo à formação de milícias antidemocráticas privadas. Bolsonaro sonha com uma marcha sobre Brasília, após as eleições de 2022, que seja eficiente como a Marcha sobre Roma, de Benito Mussolini, em outubro de 1922, e não uma que fracasse como a marcha sobre Washington estimulada por Donald J. Trump, em janeiro de 2021.

O ano de 2022 pode repetir 1961 se houver nova tentativa de veto militar ao respeito à Constituição quanto à dinâmica da sucessão presidencial. Em 1961, os ministros militares (Silvio Heck, da Marinha; Odylio Denys, da Guerra; e Gabriel Grün Moss, da Aeronáutica) tentaram impedir a posse do vice-presidente eleito, João Goulart (1919-1976), por meio de notas explícitas e da mobilização de tropas. Bolsonaro tenta engajar as lideranças militares e provocar uma brigada bolsonarista em sua tentativa de, no caso de ser mesmo derrotado na busca da reeleição, como hoje parece mais que provável, impedir a posse de seu opositor nas urnas —ao que tudo indica, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A crise de 1961 foi o último teste de resistência vencido democraticamente pela Constituição de 1946, ainda que às custas de um remendo emergencial: a aprovação relâmpago pelo Congresso da emenda constitucional adotando o regime parlamentarista. A potencial reação às eleições de 2022 poderá detonar o maior teste de resistência da Constituição de 1988.

O golpe de 1961 foi derrotado por reações tanto na esfera civil quanto militar. No campo civil, governadores como Leonel Brizola (RS) e Mauro Borges (Goiás) e parlamentares dos principais partidos (PSD e PTB à frente) resistiram e desmontaram o pior da quartelada. Na área militar, lideranças da ativa, como o general José Machado Lopes (1900-1990), comandante do poderoso 3º Exército, e referências já recolhidas à reserva, como o marechal Henrique Lott (1894-1984), concretizaram a cisão nas Forças Armadas, não apenas em retórica, mas também em fuzis, criando ativamente uma barreira armada à tentativa de ruptura institucional.

A dúvida que paira sobre 2022 é se, no front civil, haverá uma maioria de governadores, de congressistas, de juízes e da sociedade civil se empenhando, caso desafiados, na defesa do regime democrático e se, no campo militar, as Forças Armadas como um todo, ou mesmo apenas majoritariamente, também exigirão o rigoroso respeito à Constituição. Só assim será possível, como foi há 60 anos, impedir uma nova aventura autoritária.

TENDÊNCIAS / DEBATES

OPINIÃO ANA ESTELA HADDAD E JOSÉ GOMES TEMPORÃO Telemedicina e telessaúde: uma história de sucesso no SUS. FSP

 Ana Estela Haddad

Cirurgiã-dentista e professora associada da Faculdade de Odontologia da USP, é ex-diretora de Gestão da Educação na Saúde do Ministério da Saúde (2005-2012; governos Lula e Dilma)

José Gomes Temporão

Médico sanitarista e pesquisador da Fiocruz, é ex-ministro da Saúde (2007-2010; governo Lula)

Entre os impactos da disrupção digital provocada pela pandemia está a compreensão sobre o potencial da telessaúde. Tramita na Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara o projeto de lei da deputada federal Adriana Ventura (Novo-SP), que regulamenta a telemedicina. Embora a regulamentação temporária da teleconsulta só tenha ocorrido com a promulgação da lei 13.989/2020, a história da telessaúde no SUS iniciou-se em 2007, em sintonia com resolução da Organização Mundial da Saúde.

O primeiro Núcleo de Telessaúde foi inaugurado pelo Ministério da Saúde (MS) na Universidade Estadual do Amazonas, e o primeiro ponto de telessaúde, em Parintins (AM). Os 60 municípios do estado foram gradualmente inseridos na rede de telessaúde. A imagem aérea da região amazônica e sua bacia hidrográfica, os vazios assistenciais e as populações isoladas ilustram o que isso significou.

Inserido na política de educação permanente no SUS, o Programa Telessaúde Brasil teve como objetivo, por meio das teleconsultorias, oferecer às equipes da Estratégia de Saúde da Família a segunda opinião. O modelo foi gradualmente ampliado para todo o país. Desafios com a conectividade, desenvolvimento de plataformas digitais e padrões foram enfrentados. Estudos publicados e o monitoramento do Programa Telessaúde Brasil demonstraram que, a cada duas teleconsultorias oferecidas, evitou-se o encaminhamento de um paciente para outro serviço. Em média, 60% das teleconsultorias levaram à mudança na conduta, resultando em maior resolubilidade e redução de custos.

A incorporação da telessaúde na teletriagem reduziu filas de espera por especialidades. Além de qualificar os atendimentos, tornou-se uma estratégia de fortalecimento da atuação em rede, apoiando a referência e contrarreferência de pacientes e a ampliação do acesso ao atendimento humanizado. A regulamentação do MS, atualizada em 2011, estabeleceu conceitos e padrões para as teleconsultorias e a articulação com a regulação do SUS, incluindo o cadastro dos Núcleos de Telessaúde no Sistema de Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (SCNES).

Atendimento de teleconsulta é oferecido pelo Hospital Sabará, de São Paulo, em várias situações - Danilo Verpa - 24.fev.21/Folhapress

O Programa Telessaúde Brasil articulou-se com a Rede Universitária de Telemedicina (Rute/RNP) e foi criada no MS uma unidade orçamentária, estendendo a infraestrutura de banda larga para hospitais de ensino estratégicos na política nacional de saúde. Em 2011, a Organização Panamericana da Saúde reconheceu o sucesso do programa, considerando-o como modelo para outros países na América Latina.

Um novo capítulo se inaugura com a autorização da teleconsulta, uma realidade em diversos países bem antes da pandemia. Coloca-se a necessidade de estabelecer protocolos propedêuticos em diferentes especialidades, o atendimento à LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) e ao Código de Ética Médica e das demais profissões da saúde. Porém, o atendimento integral, humanizado e resolutivo, é único e pode ser alcançado pelo cuidado híbrido, onde a telessaúde —combinada à consulta presencial e não em oposição a ela— amplia o acesso, apoia a gestão do cuidado e fortalece a rede de atenção à saúde.

TENDÊNCIAS / DEBATES

terça-feira, 24 de agosto de 2021

Resultados promissores em projetos de armazenamento de energia, CPFL Patrocinado OESP

 

CPFL, Estadão Blue Studio
Conteúdo de responsabilidade do anunciante

02 de agosto de 2021 | 08h00

Projetos de inovação tecnológica em curso na CPFL Energia vêm mostrando a consolidação de uma tendência internacional, a do aumento das instalações de sistemas de armazenamento de energia. Com origem na chamada de Projeto de P&D Estratégico ANEEL 021/2016 intitulada “Arranjos Técnicos e Comerciais para a Inserção de Sistemas de Armazenamento de Energia no Setor Elétrico Brasileiro”, as propostas da companhia buscam mostrar como esses sistemas podem contribuir para uma transição da matriz energética e para a ampliação de fornecimento de energia elétrica por fontes renováveis. Esse maior aproveitamento vale tanto para o sistema elétrico de potência quanto para os consumidores.

Os sistemas de armazenamento de energia atrelados à geração, transmissão e distribuição é uma realidade que veio para ficar, inclusive em solo brasileiro com a implantação de diversas unidades piloto. Uma delas está em operação pela CPFL no Nordeste brasileiro em um dos parques eólicos que a própria empresa administra no Rio Grande do Norte.

Lá, as baterias instaladas em contêiner, na prática, funcionam como um reservatório energético que pode entrar em ação tanto na geração quanto na transmissão. Esses dispositivos têm como objetivo otimizar o escoamento de energia elétrica gerada a partir de fontes renováveis intermitentes - aquelas que não são controláveis -, em especial, a eólica ou a solar.

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Sistema de Armazenamento na Geração Foto: CPFL

Um exemplo é quando há excesso de energia elétrica fornecida pelos geradores elétricos a partir dos picos de ventos e que não é distribuído pelas linhas de transmissão de imediato. No lugar do desperdício, essa energia extra é acumulada pelas baterias para, então, ficar armazenada e ser utilizada em outro momento de necessidade.

“Isso permite, por exemplo, elevar o nível de conformidade, em termos de tensão e frequência, da energia elétrica entregue ao sistema de potência em momentos de baixa produção. Dito de outra forma, o vento, na verdade, acaba não sendo desperdiçado e sim melhor aproveitado”, afirma Rafael Moya, gerente de Inovação da CPFL Energia. Isso significa que, quando a energia tem um nível maior de conformidade, o sistema como um todo pode ser gerenciado de maneira mais eficiente e possíveis eventualidades na rede podem ser mitigadas. Esse melhor aproveitamento do recurso reflete diretamente nos consumidores, podendo ajudar também na redução do risco de racionamento.

O sistema de armazenamento de energia também pode incluir a instalação de baterias em pontos específicos da rede de distribuição de energia elétrica, como, por exemplo, em postes ou subestações. Nesses casos, eles podem ser utilizados para aumentar a confiabilidade do fornecimento, seja para aliviar a rede em momentos de pico de consumo ou para suprir eventuais falhas na distribuição.

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Sistema de Armazenamento em Poste Foto: CPFL

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Sistema de Armazenamento em Subestação Foto: CPFL

Além disso, o armazenamento de energia tem outra grande vantagem, explica o gerente de Inovação da CPFL Energia. “Com o uso desta tecnologia é possível conciliar melhor as curvas de geração e consumo”. Segundo Moya, é comum locais com alta concentração de geração solar fotovoltaica apresentarem um pico de geração nos períodos mais ensolarados do dia, o que não necessariamente representa o mesmo período de maior consumo de energia elétrica, que ocorrem geralmente nas primeiras horas da noite no caso de consumidores residenciais. “Nesse caso, o sistema de armazenamento em um condomínio, por exemplo, pode ser útil para ajustar essas duas curvas, isto é, a geração de energia solar fotovoltaica com o consumo de energia elétricas pelos consumidores”, diz o representante da CPFL.

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Sistema de Armazenamento em Condomínio Residencial Foto: CPFL

De acordo com o gráfico abaixo, obtido a partir de medições reais da rede em que foi instalado um sistema de armazenamento de energia em baterias, é possível notar  como esta tecnologia consegue deixar o consumo mais linear. Com menos alterações bruscas, o sistema elétrico é menos exigido, causando menores variações na tensão, por exemplo.

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Dados: CPFL

“Outra vertente desses sistemas de armazenamento é a questão da sustentabilidade”, diz o gerente. Segundo ele, a companhia também está avaliando a substituição de geradores a diesel pelo sistema em operação. “Estamos fazendo esse teste em um posto grande na rodovia Anhanguera. Em breve, divulgaremos os resultados sobre isso”, explica.

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Sistema de Armazenamento em substituição a gerador a diesel Foto: CPFL

Já nos condomínios em que os dispositivos também estão em teste, a expectativa dos especialistas da CPFL Energia é que, no futuro, o sistema possa ser totalmente autossustentado.

“Os nossos desenvolvimentos tecnológicos estão alinhados com o nosso planejamento estratégico. Visamos sempre processos estruturantes para melhorar a qualidade do produto e a eficiência operacional”, afirma Moya.

Da geração ao cliente final

A iniciativa da CPFL Energia conta com diferentes aplicações de armazenamento de energia que geram benefícios em frentes de diversos segmentos do setor elétrico. Isso significa um impacto em toda a cadeia de geração, transmissão, distribuição, e no uso de clientes residenciais e comerciais.

Na geração e transmissão, os sistemas de armazenamento em baterias poderiam ser utilizados para auxiliar a qualidade, conformidade e segurança da geração de energia elétrica por meio de fontes não controláveis, como a eólica. Além disso, representa também um importante papel na integração de tecnologias no setor, contribuindo com a diversificação da matriz energética.

No segmento de distribuição, o armazenamento pode aliviar a rede local e contribuir para um aumento da confiabilidade do fornecimento de energia elétrica e também para o alivio da rede. Afinal, como a energia pode ser armazenada em momentos de baixa demanda, pode ser fornecida quando houver necessidade, durante picos de consumo ou quando há falha no fornecimento, assegurando maior qualidade e confiabilidade do fornecimento de energia.

Agora, quando falamos no uso por clientes residenciais ou comerciais, é possível substituir a geração a diesel e garantir energia extra, sendo também uma maneira de ter mais segurança quando o sistema elétrico está sobrecarregado e até quando falta energia na rede de distribuição, atuando como uma reserva para a rede local.