sexta-feira, 24 de julho de 2020

Acabou a era dos disparos em massa em eleições, a privacidade está mais discutida, diz pesquisador, FSP

As eleições serão digitais, monotemáticas sobre pandemia e com menos renovação. Nada a ver com candidatos antipolítica, protagonistas das campanhas de 2018, que não devem ter fôlego para sustentar a narrativa de que são diferentes "de tudo o que está aí”.

Pesquisador na George Washington University na área de políticas públicas, Maurício Moura faz essas e outras projeções para o pleito de 2020. O economista é fundador da Ideia Big Data, empresa de pesquisas e estratégia digital que já prestou serviços para candidatos no Brasil, na Europa e nos Estados Unidos.

Segundo ele, "acabou a era dos disparos massivos". A prática, que está no centro de quatro ações que podem cassar a chapa Bolsonaro-Mourão no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), não terá espaço este ano, apesar das campanhas massivamente digitais a que provavelmente assistiremos.

Nas eleições de 2018, reportagens da Folha revelaram indícios de um esquema de impulsionamento de mensagens financiado por empresários bolsonaristas contra o candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad.

"Eu sinto que as plataformas de rede social no mundo estão muito pressionadas a conter fake news, a conter conteúdo de ódio, a cortar perfis falsos, muito diferente de 2016, 2018", afirma Moura.

Maurício Moura, do Ideia Big Data
Maurício Moura, fundador do instituto de pesquisa Ideia Big Data. - Debora de Morais/Divulgação

As últimas eleições municipais foram marcadas por uma grande derrota do PT e pela ascensão de alguns outsiders como João Doria. Essa tendência tem fôlego para influenciar as eleições deste ano? O sentimento antipetista estava muito forte em função de todos os escândalos relacionados à Lava Jato. Isso prenunciou um fenômeno que teve seu ápice em 2018: o de votar em candidatos antipolítica, antissistema.

Mas os outsiders têm fôlego? O ápice dessa narrativa foi em 2018, quando o discurso dos outsiders era muito simplista, “eu sou simplesmente diferente de tudo o que está aí”. Aconteceu em nível global. Começou na Itália com o movimento Cinco Estrelas, passou pela Espanha com o Podemos e o Ciudadanos. O [presidente da França Emmanuel] Macron mesmo se vendeu como outsider, assim como o Trump.

Mas esses outsiders não costumam manter o mesmo fôlego em eleições posteriores. Todos esses que eu citei agora tiveram dificuldades nas urnas para manter o mesmo gás. Essa eleição não tem nada a ver com outsider como protagonista. É uma eleição de pandemia e digital.

O senhor fala que as eleições municipais são de temas muito locais. Zeladoria, buraco na rua, saúde. A pandemia muda essa característica? Ela muda no sentido de que tudo vai ser relacionado à pandemia. Como a pandemia vai afetar a volta às aulas da escola municipal, a quantidade de leitos, as condições dos médicos nos hospitais municipais, o transporte. Isso já aconteceu na eleição munipal da França.

A pandemia gerou rompimentos e apoios a Bolsonaro. Isso pode influenciar o voto dos eleitores? Um bolsonarista pode deixar de lado essas questões locais e fazer um voto mais ideológico a um prefeito que apoiou Bolsonaro, por exemplo? Eu acho que isso tem um efeito marginal, quase nulo. Se existe uma eleição com baixíssimo cunho ideológico é a eleição local. A não ser, claro, alguns embates do PSDB x PT na cidade de São Paulo, do PT contra o PMDB em Porto Alegre. Tirando algumas cidades grandes onde teve um embate ideológico histórico, a eleição municipal é sobre temas locais.

É muito provável que a gente veja uma eleição sem comício, sem aglomeração, sem giros dos candidatos pelas cidades. A nova direita, que tem força na internet, sai ganhando? É difícil generalizar assim. Eu acho que quem sai ganhando é quem, de alguma maneira, já se apresentou ao eleitor no campo digital. Vai ser muito difícil uma candidatura, seja de esquerda ou de direita, construir uma reputação, um conhecimento no campo digital durante a campanha.

Independentemente do segmento ideológico, se você já tem um grupo no âmbito digital que já te conhece, te segue, ouve as suas opiniões, você vai estar muito na frente nessa eleição, porque ela vai ser jogada muito mais no campo digital do que na rua.

A gente vai ver, então, um movimento diferente das eleições de 2018, quando teve muito renovação. Certamente. A pandemia potencializa o status quo. O grau de renovação deve ser muito menor.

O debate sobre fake news e uso de dados está na ordem do dia, e o senhor é presidente de um instituto de pesquisa e big data. Como as campanhas podem usar as redes sociais de forma ética? De três maneiras. Uma coisa é o uso dos dados individuais mais transparente. As campanhas que quiserem enviar mensagem direta precisam pedir autorização para a pessoa.

O segundo ponto é que acabou a era dos disparos massivos. A questão da privacidade está muito mais regulada, discutida, debatida e a opinião pública entende muito mais o valor disso. Vai ser muito difícil alguém receber uma mensagem do nada de um telefone desconhecido com cunho político sem se indignar.

E o terceiro ponto é do lado das plataformas. Eu sinto que as plataformas de rede social no mundo estão muito pressionadas a conter fake news, a conter conteúdo de ódio, a cortar perfis falsos, muito diferente de 2016, 2018.

Em algumas análises, as redes sociais são as vilãs do debate público, as responsáveis pela polarização, retroalimentando bolhas. Como os partidos podem fazer uma campanha sem aumentar a polarização? Na verdade, as campanhas majoritárias têm que sair da polarização para ganhar. Você não ganha uma campanha majoritária somente falando com a sua bolha. O que as campanhas têm que fazer é ter inteligência em informação para dialogar e atingir segmentos do eleitorado que estão fora da sua bolha. É possível e é saudável fazer isso, principalmente nos locais onde tem segundo turno. A minha visão é: quanto mais inteligência em segmentação, melhor a comunicação e menor a polarização.

As redes sociais são mais favoráveis para campanhas de vereadores, que podem focar em um nicho? Total. Como não vai ter coligação proporcional, provavelmente a gente vai ter um número maior de candidatos a vereador. Vai ser mais importante um candidato a vereador ou vereadora focar no seu próprio nicho. Ter um discurso, propostas que encaixem em um subgrupo mais específico.

O Bolsonaro já falou que não quer ser cabo eleitoral, mas sempre tem a possibilidade de ele mudar de ideia. Qual seria o peso do Bolsonaro como cabo eleitoral? Eu acho que o presidente Bolsonaro está no melhor cenário possível. Ele não precisa ser cabo eleitoral de ninguém. Se ele decidir ser, ele vai ser em algum contexto que lhe seja muito favorável.

Mas isso não diminui a base dele? O histórico dos presidentes é de se envolver nas eleições municipais. O Fernando Henrique, o Lula, a Dilma, o próprio Temer. Isso tem o ônus e tem o bônus. O bônus é você criar uma base nacional. No caso do Temer, por exemplo, ele tinha acabado de sair dos problemas da questão da JBS e o MDB tinha uma base de prefeitos muito grande. Mas é muito ruim para um presidente quando ele apoia determinado candidato que acaba derrotado. Ele emprestou capital político e saiu menor.

Se o Bolsonaro não quiser, não vai perder nenhuma eleição em 2020. Se ele tivesse partido, a associação era óbvia. “O partido do presidente saiu derrotado em São Paulo, saiu derrotado no Rio”. Isso não vai acontecer, é diferente de todos os presidente anteriores.

MAURÍCIO MOURA, 41

  • Economista pela USP
  • Pesquisador na George Washington University em políticas públicas e análises eleitorais
  • Fundador da Ideia Big Data, empresa que presta serviços de opinião pública

Ruy Castro A arte de matar no peito, FSP

O Brasil está cheio de craques em amortecer processos no tórax e fazê-los escolher rumo ao nada

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É possível que, entre as contribuições do Brasil ao futebol, esteja a de matar a bola no peito. Os entendidos falam de doutores na matéria, como, entre outros, Domingos da Guia, Mauro, Orlando, Luis Pereira e Aldair, além dos que acrescentaram à jogada um toque de gênio: fazer isso dentro da pequena área, direto para o goleiro. Mas, na arte de matar no peito, ninguém se compara aos nossos juristas. Raros os processos que eles não amorteçam na caixa e deixem escorrer mansamente em direção ao nada.

O ministro do STF Luiz Fux, a quem se atribui a expressão entre seus pares, matou no peito, há um ano, a primeira tentativa de investigar as trampolinagens de Fabrício Queiroz em prol do então deputado Flávio Bolsonaro. Aliás, tudo o que se refere aos Bolsonaros tem sido um festival de bolas mortas no tórax de quem responde por elas.

Somente o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, já matou 48 até agora, equivalentes aos, por enquanto, 48 pedidos de impeachment de Jair Bolsonaro, sobre os quais ele depositou o peso de seu cargo.
Dias Toffoli, presidente do STF, também é craque em matadas. Vide a decisão de obrigar a Lava Jato a abrir suas investigações para a PGR (Procuradoria-Geral da República), cujo titular, Augusto Aras, foi contratado exatamente para neutralizar jogadas com perigo de gol. Toffoli brilhou de novo esta semana ao atender ao pedido de Davi Alcolumbre, presidente do Senado, para impedir as buscas no gabinete do senador José Serra (PSDB-SP) —podiam encontrar alguma coisa.

Não esquecer os vários ministérios públicos e tribunais eleitorais, regionais, de contas e da Justiça —todos têm seus especialistas no lance. Além, claro, dos zagueiros de plantão nas muitas instâncias do Legislativo.

E, não por último, os militares. Por bem remunerada omissão, estão matando todas as bolas no peito, sem se importar que elas lhes deixem marcas na farda.

23.07.20 | Aparelhos de refrigeração mais eficientes podem reduzir emissões e poupar trilhões de dólares, Procel


Fonte: Procel Info 23.07.2020

Estados Unidos – Ações internacionais coordenadas que incentivem o uso de aparelhos de refrigeração energeticamente eficientes e de baixo impacto no clima podem evitar a liberação de até 460 bilhões de toneladas de gases de efeito estufa na atmosfera – o equivalente a oito anos de emissões globais segundo os níveis de 2018.

A informação é do Relatório de Emissões de Aparelhos de Refrigeração e Políticas de Enfrentamento (Cooling Emissions and Policy Synthesis Report, em inglês) do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) com a Agência Internacional de Energia (AIE).

Reduções entre 210 e 460 bilhões de toneladas de emissões equivalentes de dióxido de carbono (CO2) podem ser alcançadas por meio de ações para melhorar a eficiência energética da indústria de refrigeração, juntamente com a transição para aparelhos mais ecológicos, de acordo com o relatório.

O estudo também afirma que os países podem institucionalizar muitas dessas ações ao integrá-las à Emenda de Kigali do Protocolo de Montreal. Os signatários da Emenda concordaram em reduzir a produção e o uso de fluídos refrigerantes que aqueçam o planeta, conhecidos como hidrofluorcarbonetos (HFCs), o que, por si só, poderia evitar o aumento de até 0,4°C na temperatura global até 2100.

Segundo a diretora-executiva do PNUMA, Inger Andersen, as nações precisam diminuir significativamente a emissão de gases de efeito estufa para limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C. “Isso é importante para minimizar os impactos das mudanças climáticas. À medida que os países investem na recuperação pós-COVID-19, eles têm a oportunidade de usar seus recursos com sabedoria para reduzir as mudanças climáticas, proteger a natureza e evitar futuras pandemias. O uso de aparelhos de refrigeração energeticamente eficientes e de baixo impacto no clima pode nos ajudar a alcançar todos esses objetivos”, afirmou.

O relatório destaca a importância dos aparelhos de refrigeração para a saúde das comunidades, conservação de vacinas e alimentos, fornecimento estável de energia e economias produtivas. A relevância destes aparelhos tem um papel central na pandemia da COVID-19, tanto para conservar vacinas sensíveis ao calor como para garantir o bem-estar de populações isoladas em casa – às vezes em regiões muito quentes.

Contudo, o aumento da demanda por aparelhos de refrigeração intensifica a mudança do clima, devido às emissões de HFCs, CO2 e carbono preto por diversos equipamentos.

Para o diretor-executivo da AIE, Fatih Birol, os governos têm uma oportunidade ímpar de acelerar o progresso nacional de eficiência energética e baixo impacto climático por meio de pacotes de estímulo econômico para lidar com os impactos da COVID-19. “Aumentar os padrões de eficiência é uma das ferramentas mais eficazes que os governos têm para atender aos objetivos energéticos e ambientais. Ao melhorar a eficiência do resfriamento, podem reduzir a demanda por novas usinas de energia, diminuir as emissões e economizar dinheiro dos consumidores. Este novo relatório fornece aos formuladores de políticas públicas informações valiosas para ajudá-los a enfrentar o desafio global dos aparelhos de refrigeração”, explicou.

Atualmente, estima-se que há 3,6 bilhões de aparelhos de refrigeração em todo o mundo. Se esses aparelhos fossem fornecidos a todas as pessoas que precisam, e não somente a quem tem dinheiro para pagar, estima-se que o número poderia chegar a 14 bilhões até 2050.

Além disso, a AIE calcula que, se dobrar a eficiência energética dos aparelhos de ar-condicionado até 2050, seria possível reduzir até 1.300 gigawatts de capacidade energética adicional para atender às demandas em horários de pico – o equivalente à capacidade de geração de energia à carvão na China e na Índia em 2018. Até 2050, isso poderia gerar uma economia global de até US$ 2,9 trilhões em função dos menores custos de produção, transmissão e distribuição de eletricidade.

O aprimoramento da eficiência energética ainda pode gerar outros benefícios, como favorecer o acesso a aparelhos de refrigeração essenciais, amenizar a poluição que ameaça a qualidade do ar e reduzir o desperdício de alimentos, como indica o relatório.

O relatório também apresenta exemplos de políticas que podem unir a refrigeração às soluções climáticas e de desenvolvimento sustentável, como:

– Cooperação internacional por meio da ratificação e implementação universal da Emenda de Kigali e de iniciativas como a Cool Coalition e o Compromisso de Biarritz para Ação Rápida em Refrigeração Eficiente.

– Criação de Planos de Ação Nacionais pela Refrigeração Eficiente, que acelerem a transição rumo à refrigeração ecológica e identifiquem oportunidades para incorporá-la às principais Contribuições Nacionalmente Determinadas do Acordo de Paris.

– Desenvolvimento e implementação de Padrões Mínimos de Desempenho Energético e de rotulagem energética para melhorar a eficiência dos equipamentos de refrigeração.

– Promoção de códigos de práticas na construção e outras considerações para reduzir a demanda por sistemas de refrigeração mecânicos – incentivando, por exemplo, a integração da refrigeração distrital e comunitária ao planejamento urbano, o aprimoramento dos projetos de construção, os telhados verdes e o sombreamento com árvores.

– Criação de campanhas para interromper o descarte inadequado de produtos tóxicos no meio ambiente, transformar os mercados e evitar os prejuízos gerados por tecnologias de refrigeração obsoletas e ineficientes;

– Criação de cadeias de frio sustentáveis, que reduzam a perda de alimentos e as emissões de gases de efeito estufa (as cadeias frias são um dos principais emissores de gases de efeito estufa).

O relatório de 48 páginas foi elaborado por nove especialistas, sob a orientação de um comitê diretivo de 15 membros, co-presidido por Mario Molina, vencedor do Prêmio Nobel e presidente do Centro Mario Molina do México, e Durwood Zaelke, presidente do Instituto para Governança e Desenvolvimento Sustentável dos EUA.

*Com informações das Nações Unidas