O Brasil está cheio de craques em amortecer processos no tórax e fazê-los escolher rumo ao nada
É possível que, entre as contribuições do Brasil ao futebol, esteja a de matar a bola no peito. Os entendidos falam de doutores na matéria, como, entre outros, Domingos da Guia, Mauro, Orlando, Luis Pereira e Aldair, além dos que acrescentaram à jogada um toque de gênio: fazer isso dentro da pequena área, direto para o goleiro. Mas, na arte de matar no peito, ninguém se compara aos nossos juristas. Raros os processos que eles não amorteçam na caixa e deixem escorrer mansamente em direção ao nada.
O ministro do STF Luiz Fux, a quem se atribui a expressão entre seus pares, matou no peito, há um ano, a primeira tentativa de investigar as trampolinagens de Fabrício Queiroz em prol do então deputado Flávio Bolsonaro. Aliás, tudo o que se refere aos Bolsonaros tem sido um festival de bolas mortas no tórax de quem responde por elas.
Somente o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, já matou 48 até agora, equivalentes aos, por enquanto, 48 pedidos de impeachment de Jair Bolsonaro, sobre os quais ele depositou o peso de seu cargo.
Dias Toffoli, presidente do STF, também é craque em matadas. Vide a decisão de obrigar a Lava Jato a abrir suas investigações para a PGR (Procuradoria-Geral da República), cujo titular, Augusto Aras, foi contratado exatamente para neutralizar jogadas com perigo de gol. Toffoli brilhou de novo esta semana ao atender ao pedido de Davi Alcolumbre, presidente do Senado, para impedir as buscas no gabinete do senador José Serra (PSDB-SP) —podiam encontrar alguma coisa.
Não esquecer os vários ministérios públicos e tribunais eleitorais, regionais, de contas e da Justiça —todos têm seus especialistas no lance. Além, claro, dos zagueiros de plantão nas muitas instâncias do Legislativo.
E, não por último, os militares. Por bem remunerada omissão, estão matando todas as bolas no peito, sem se importar que elas lhes deixem marcas na farda.
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