segunda-feira, 20 de julho de 2020

Bolsonaro finalmente realizou seu projeto de juventude: colocou uma bomba nos quartéis, FSP

Militares parecem ter achado que desfrutariam das vantagens de ser governo sem assumirem as responsabilidades

Em 1986, o Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), que atuava clandestino dentro do PT, tentou assaltar um banco em Salvador. Presos, os militantes disseram que seu objetivo era arrecadar fundos para a Revolução Nicaraguense.

Foi um enorme constrangimento para o PT, que imediatamente expulsou os radicais e passou os 15 anos seguintes tentando provar que havia moderado suas posições o suficiente para presidir a República. Moderaram, presidiram.

Agora imaginem o tamanho do erro que o PT teria cometido se, em 2002, depois de todos esses anos dando mostras de moderação, decidisse lançar para presidente não o Lulinha paz e amor, mas um dos assaltantes de Salvador que nunca tivesse dado qualquer sinal de arrependimento.

Imagine o desastre que seria o governo do maluco, os esforços diários que os dirigentes petistas teriam que fazer para tentar impedi-lo de distribuir as armas do Exército para os centros acadêmicos de ciências sociais. Imagine o problema para o PT se o fã dos sandinistas resolvesse adotar o mesmo descaso que Daniel Ortega vem demonstrando diante da pandemia na Nicarágua.

Mais ou menos na mesma época do assalto de Salvador, ocorreu mais um ato tardio de extremismo político no Brasil. O capitão do Exército Jair Messias Bolsonaro foi acusado de planejar explodir bombas em unidades militares no Rio de Janeiro.

E quem os militares, que haviam demonstrado moderação e respeito à democracia por quase 30 anos, resolveram lançar para presidente quando a oportunidade de eleger alguém surgiu?

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Pensavam que poderiam controlá-lo, mas subestimaram Bolsonaro, e superestimaram a própria habilidade. O vice-presidente Hamilton Mourão tem razão quando diz que Bolsonaro não fez sua formação intelectual no Exército. Bolsonaro fez sua formação intelectual no baixo clero da política carioca, na escola Jorge Picciani, na escola Eduardo Cunha. Em termos de manobra de baixo clero, Bolsonaro tem um dos poucos PhDs do primeiro escalão que não é falso.

Gabriela Prioli notou o padrão em um vídeo de 16 de julho: ao colocar Pazuello na Saúde, Bolsonaro amarrou seu fracasso na pandemia ao Exército. É isso que Gilmar Mendes tentou avisar: Bolsonaro está usando as Forças Armadas como refém enquanto foge da Justiça. Ele quer criar uma situação em que, se for para o banco dos réus, vá na companhia de oficiais do Exército. E torce para que ninguém tenha coragem de mandar generais para a prisão.

Alguém pode reclamar, bom, mesmo assim, o Gilmar não podia ter usado o termo “genocídio”. Conrado Hübner Mendes mostrou que há argumentos para discutir genocídio no caso específico das tribos indígenas. Quem Bolsonaro colocou como responsável pela Amazônia, general Mourão?

Os militares parecem ter achado que desfrutariam das vantagens de ser governo sem assumirem as responsabilidades, sem virarem vidraça. Nem todo mundo sabe ser PMDB, senhores.

Ao que parece, Bolsonaro finalmente conseguiu realizar seu objetivo de juventude: colocou uma bomba nos quartéis. O exercício de desarmá-la exigirá responsabilidade, cuidado, e será mais um teste de estresse para a institucionalidade brasileira. Enquanto isso, a curva do número de mortos permanece estável em mais de mil brasileiros mortos por dia.

Celso Rocha de Barros

Servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra).

JOÃO OCTAVIANO MACHADO NETO Ciência e tecnologia de precisão no combate à pandemia, FSP

Para combater o avanço da pandemia de Covid-19, trabalhamos pautados pela ciência e amparados da tecnologia para adotar medidas que protejam a população e que, ao mesmo tempo, permitam a retomada gradativa, de forma consciente, da economia. Desde março, criamos um CO (centro operacional) de inteligência de dados, reunindo técnicos de diversas áreas do conhecimento —como médicos, engenheiros, analistas— e servidores de diferentes secretarias. O objetivo era entender a propagação da doença a partir da malha rodoviária paulista e preparar as unidades de saúde de todas as regiões para receber pacientes diagnosticados com o coronavírus nas cidades do estado de São Paulo.

Parte do desafio desse trabalho é que ele conjuga diversos campos do conhecimento. Sob coordenação do vice-governador, Rodrigo Garcia, os resultados permitem uma compreensão singular de eventos complexos como essa pandemia e sua manifestação no estado, sendo, portanto, um braço do Plano São Paulo.

João Octaviano Machado Neto, secretário municipal de Mobilidade e Transportes de São Paulo - Reinaldo Canato - 11.jun.18/Folhapress

Junto com epidemiologistas da Secretaria de Estado da Saúde, nosso CO, que conta ainda com a expertise de técnicos do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), cruzou dados captados nas rodovias paulistas através dos pedágios e dos mais de 400 aparelhos com tecnologia OCR (leitores de placas de veículos) com informações da Sivep-G (Sistema de Informações da Vigilância Epidemiológica da Gripe) para fazer as primeiras análises de propagação do coronavírus.

E qual a importância desse monitoramento? Ao identificar a manifestação dos primeiros casos de Covid-19, a cada semana epidemiológica, e cruzar os dados com os endereços residenciais desses pacientes, foi possível criar um mapa de calor que mostra como o vírus se movimenta, pelas estradas, rumo ao interior do estado. E através desse cruzamento foi possível alertar, com antecedência de três, até quatro semanas, a chegada do vírus às cidades paulistas. Com esse trabalho, foi possível as autoridades sanitárias prepararem a estrutura de saúde no interior. Graças a ele, 30% das regiões paulistas desfrutam de uma abertura parcial da economia, que foi, está sendo e será sempre monitorada pela ciência.

Um aspecto importante é lembrar que as rodovias sempre estiveram abertas para garantir os serviços essenciais e as atividades de logística e de infraestrutura —vitais não apenas para o abastecimento, ou seja, a sobrevivência das comunidades, como para a economia. Estado mais rico do país, São Paulo movimenta, com suas estradas e os modais ferroviário e hidroviário uma grande parcela do PIB brasileiro. Não só com as commodities e outros itens produzidos, como também com sua logística privilegiada, que leva volumosas exportações aos portos de Santos, São Sebastião e outros.

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Diante disso, o CO desenvolveu um outro papel fundamental nesse processo de inteligência de dados: a mensuração de fluxo de veículos, especialmente quando segmentado entre veículos de passeio e comerciais. Esses números trazem informação importante para compreensão da economia do Estado durante a pandemia, em comparação a séries históricas anteriores a esse evento. E servem de apoio ao Comitê Econômico, criado pelo governador João Doria, na análise da atividade econômica, juntamente com a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).

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