Fundamentei minha inclinação com argumentos racionais
Não sei se captei bem a mensagem do tortuoso artigo do secretário Fábio Wajngarten, mas acho que ele me acusa, entre outras coisas, de fomentar o ódio contra Bolsonaro. Eu obviamente não gosto do presidente, mas não chego a odiá-lo. Acho que a única coisa que odeio neste mundo são bananas (a fruta).
Em várias ocasiões, escrevi colunas em que apoiei propostas polêmicas de Bolsonaro ou critiquei decisões judiciais que, a meu ver, tolhiam-lhe indevidamente os poderes. Mais importante, sempre advoguei por seu direito, e o de seus seguidores, à livre expressão, mesmo que seja para enaltecer o AI-5 e outros terrores.
No mais, mesmo que quisesse eu teria dificuldades para montar um discurso de ódio valendo-me do consequencialismo. Um dos problemas com essa escola de pensamento é que ela produz uma ética de planilha, difícil de adaptar às idiossincrasias humanas —embora sirva bem a vulcanos. É que o consequencialismo despe todas as questões dos conteúdos emocionais que possam ter e as trata como um sistema de inequações a ser resolvido com a frieza da aritmética. Se de um lado temos seis vidas e, do outro, uma, vence inapelavelmente o seis.
Depois que Bolsonaro pegou a Covid-19, dois desfechos são possíveis: ou ele se recupera ou não se recupera. Cada um de nós, admita-o ou não, tem uma preferência. Não vi necessidade de recorrer à hipocrisia, desejando-lhe pronto restabelecimento quando não desejo. Preferi fundamentar minha inclinação com argumentos racionais, com os quais se pode concordar ou discordar, mas que constituem opinião legítima e não discurso de ódio.
Como não tenho ascendência moral sobre o vírus nem poderes telecinéticos, minha torcida não tem qualquer efeito prático. Aliás, o tamanho da reação a meu texto revela que vivemos numa sociedade com traços animistas, que toma magicamente a expressão de um desejo pela execução de uma sentença.