sexta-feira, 20 de março de 2020

Startups brasileiras contra o coronavirus, Felipe Matos, OESP




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No Norte da Itália, pacientes morrem sem extrema-unção, e cemitérios têm filas de caixões, FSP

MILÃO
Circulou nos últimos dias um vídeo em que são viradas páginas e páginas de um jornal tomadas por obituários de Bérgamo, no norte da Itália.
O número de mortes na semana passada foi tão alto que os anúncios com os nomes ocuparam, na sexta-feira (13), um espaço no papel três vezes maior do que o habitual.
Não é só no jornal da cidade que os contaminados pelo novo coronavírus não cabem mais. Os hospitais estão lotados, as unidades de terapia intensiva, sem vaga, e os cemitérios e crematórios têm filas de caixões.
Funcionário usa máscara para transportar caixão de vítima da Covid-19 em Bérgamo, na Itália
Funcionário usa máscara para transportar caixão de vítima da Covid-19 em Bérgamo, na Itália - Flavio Lo Scalzo - 26.mar.20/Reuters
Com 1,1 milhão de habitantes, a província de Bérgamo —que engloba cerca de 250 municípios— é a área mais afetada em toda a Itália. Já são 4.300 contaminados ali (em todo o país, mais de 30 mil foram infectados, com mais de 2.900 mortes).
Bérgamo, a cidade, com 120 mil moradores, registrou 460 mortes desde o início da crise do coronavírus no país, há quase um mês. A média tem sido de 20 mortos por dia.
"Estamos vivendo as dores e o sofrimento dos mortos. Tivemos quase 400 mortes em uma única semana, e quase todas as famílias da cidade foram atingidas", disse à Folha dom Giulio Dellavite, monsenhor da diocese de Bérgamo.
"A epidemia está no máximo da explosão, os hospitais estão saturados, e os pacientes, sendo levados para outras regiões. A cidade está deserta, uma impressão terrível. Nunca vivemos isso antes."
A diocese faz as contas das próprias perdas: "A proximidade dos padres à comunidade é visível pelos números de mortos e internados. Mais de dez padres já morreram pelo coronavírus, e outros 20 estão nos hospitais".
Nos últimos dias, a quantidade de caixões à espera de serem cremados ou enterrados levou a diocese a ceder espaço para eles no interior do Templo de Todos os Santos, uma igreja dentro do cemitério municipal.
"Os caixões estavam prestes a serem empilhados por falta de lugar. Colocamos a igreja à disposição para que os mortos não estejam em um canto qualquer. Para que possam, em seus últimos momentos, repousar em uma igreja. É um pequeno gesto simbólico", diz.
Nesta terça, segundo ele, havia entre 100 e 150 mortos no templo.
O jornal local L'Eco di Bergamo publicou dez páginas com obituários na edição de 13 de março
O jornal local L'Eco di Bergamo publicou dez páginas com obituários na edição de 13 de março - Reprodução
Segundo o secretário Giacomo Angeloni, responsável pela gestão dos cemitérios municipais, o ritmo dos enterros levou à realização de um sepultamento a cada meia hora nos últimos dias.
Toda a situação, do diagnóstico ao enterro, tem sido anormal. Há relatos, confirmados pelo religioso, de doentes que foram levados de casa, alguns ainda sem a certeza de que o resultado do teste foi positivo, e que não foram mais vistos pela família.
"O parente vai embora de ambulância, entra no hospital e ninguém mais pode vê-lo, porque não se pode nem visitar. Depois, um telefonema avisa que a pessoa está morta, que um caixão fechado está liberado e que poderá ser enterrado sem funeral", contou dom Giulio. "Até o luto se tornou ainda mais difícil."
Segundo o decreto que colocou a Itália inteira em quarentena no dia 9 de março, estão proibidas todas as cerimônias civis, de casamentos a funerais, para evitar a aglomeração de pessoas e o contágio entre elas.
"A única possibilidade que o governo permite é, no ato do sepultamento, que o padre realize uma bênção para a família próxima", diz dom Giulio.
"Mas, quando é uma vítima do coronavírus, os familiares quase sempre estão em isolamento obrigatório, então tem havido padres sozinhos dando a bênção para um defunto enterrado sem ninguém por perto. Ou uma ou duas pessoas."
Também a extrema-unção, um dos sacramentos da Igreja Católica, está vetada aos doentes do coronavírus, porque quem está contaminado não tem autorização para ser visitado por ninguém.
Para contornar, os bispos da Lombardia concederam que uma bênção possa ser realizada por laicos nessas situações, inclusive pela equipe médica. "Muita gente está morrendo sozinha nos hospitais, sem familiares, sem ninguém. Como todos, os padres também não podem entrar lá."
Com tantos casos, a estrutura sanitária de Bérgamo opera além do limite. Especialmente o hospital Papa João 23, onde quase 500 pacientes estão internados e faltam leitos de terapia intensiva.
Para liberar camas nos hospitais, o serviço sanitário autorizou o uso de três hotéis para receber os pacientes do coronavírus que não têm condições de fazer o isolamento domiciliar. Casos, por exemplo, de pessoas que não podem dispor em casa de um quarto exclusivo ou que não têm cuidadores.
Tudo para evitar situações como as descritas pelo médico Christian Salaroli, de Bérgamo, ao jornal Corriere della Sera.
Por carência de leitos, a equipe do hospital Papa João 23 tem precisado escolher quem segue adiante no tratamento. "Se uma pessoa tem entre 80 e 95 anos e uma grave insuficiência respiratória, provavelmente não prosseguirá", disse.
Salaroli também citou pacientes com patologias cardiorrespiratórias ou problemas graves na coronária, porque toleram mal alguns procedimentos. "Digo a mim mesmo que é como uma guerra. Se procura salvar só quem tem mais chances. É o que está acontecendo."

Foi descoberto um possível tratamento?, Fernando Reinach, OESP

Fernando Reinach, O Estado de S.Paulo
19 de março de 2020 | 20h19

Desenvolver drogas e vacinas para o coronavírus é uma rota segura, mas lenta. E tempo é o que não temos. Outra possibilidade é procurar no nosso estoque de armas que já estão na prateleira, se alguma delas funciona contra o vírus. Esse estoque de armas são as milhares de drogas que já são usadas e estão disponíveis nas farmácias e nos laboratórios farmacêuticos. A grande vantagem desses compostos é que eles já foram testados em seres humanos, sabemos a dose que podemos usar, conhecemos os efeitos colaterais e, em muitos casos, existem fábricas que podem ser expandidas rapidamente.
Desde o início da epidemia, em praticamente todos os hospitais, médicos estão testando os mais diferentes medicamentos. Mas, infelizmente, na maioria dos casos, eles simplesmente não combatem o vírus. Os resultados negativos têm sido publicados rapidamente para evitar que outros grupos tentem o mesmo medicamento. As revistas científicas de medicina estão coalhadas desses estudos. A novidade é que agora circulou um trabalho que indica que uma combinação de duas drogas já conhecidas parece funcionar.
Para entender o resultado é importante compreender como são feitos os experimentos. Os médicos recrutam pacientes e os dividem em dois grupos. O primeiro é tratado com drogas, o segundo serve como controle. Em seguida os resultados são apurados.
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Esse trabalho envolveu 36 pessoas internadas com resultado positivo para o vírus. Destas, 16 não foram tratadas e 20 foram tratadas. Todas as 20 foram tratadas com hidroxicloroquina e 6 das 20 receberam também azitromicina. A média da idade dos pacientes foi de 45 anos e nenhum deles era caso gravíssimo (que necessitam de respiradores). O estudo começou 4 dias depois que os pacientes foram internados e durou 6 dias. Os pacientes foram testados diariamente para a presença do vírus. Foi usado o mesmo método de teste que é utilizado pelos laboratórios para saber se uma pessoa está infectada.
O resultado é impressionante. Depois de 6 dias, 90% dos pacientes não tratados ainda testavam positivo para o vírus. Entre os tratados com uma das drogas, a hidroxicloriquina, 55% testaram positivo. Entre os 6 indivíduos tratados com ambas as drogas, já no quinto dia nenhum testou positivo, o que se repetiu no dia 6. Ou seja 100% dessa pequena amostra foi aparentemente curada. Um resultado muito claro, mas ainda preliminar. A figura abaixo mostra os resultados.

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Gráfico mostra o resultado da pesquisa sobre tratamento para o coronavírus. Foto: Reprodução
Antes de você ficar muito animado é preciso lembrar que esse é um estudo muito pequeno, feito com pouquíssimos pacientes, no qual as pessoas não foram colocadas de maneira aleatória nos grupos de estudo. Ou seja, ele tem que ser repetido com mais pacientes ao longo de mais tempo em mais centros, com pacientes de diferentes idades e gravidade. Mas sem dúvida é encorajador. Não tenha dúvida que nas próximas semanas saberemos se esse resultado foi confirmado. Se for confirmado, será o primeiro tratamento para a Covid-19.
A grande vantagem desse tratamento é que ele usa duas drogas amplamente comercializadas. Uma delas é um derivado da droga que usamos para tratar malária e a outra é um antibiótico. Ambas são drogas baratas, muito bem conhecidas. Já existiam evidências que a hidroxicloroquina ataca células que produzem o coronavírus. O efeito da azithromicina ainda não é bem entendido, mas o mais provável é que ela evite o crescimento de bactérias nos pulmões afetados.
Esse resultado é quase bom demais para ser verdade, e por isso os cientistas estão ocupados repetindo os experimentos. É esperar para ver. Enquanto esses experimentos estavam sendo feitos, nosso líder, ao invés de nos preparar para a pandemia, insistia em dizer que tudo era histeria superdimensionada. Agora, quando aparece com uma máscara pendurada em uma só orelha, resultados científicos são divulgados. Twitter não mata vírus. Lembre disso.
Conversei com o líder da pesquisa na França, um cientista bem conhecido chamado Didier Raoult para me certificar que os dados eram reais. Ele afirmou que o trabalho já havia sido revisado e será publicado em breve em uma revista científica.
Mais informações: Hydroxychloroquine and azithromycin as a treatment of COVID-19: results of an open-label non-randomized clinical trial. In Press (2020) mas disponível na internet.

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