quarta-feira, 11 de março de 2020

Antonio Delfim Netto Chega de lambança, FSP (definitivo)

Brasil precisa atrair investimento privado para a infraestrutura

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Se o presidente Bolsonaro quiser mesmo a "pátria amada acima de todos", terá que dar "meia volta volver".
Ele iniciou o seu governo com uma distopia política que o levou a acreditar que o surpreendente resultado de sua campanha —e de suas circunstâncias, com 1º) a crítica à política e aos políticos, enfim, à "politicagem"; 2º) a recuperação dos costumes corrompidos por uma "certa mídia"; 3º) a terrível desilusão que se abateu sobre o país com a desonestidade petista— seria suficiente para transformar num sucesso imediato uma indefinida "nova política" inventada por sua Casa Civil, que continua a mais incompetente das que se tem registro na história.
Deveria ter começado por resignar-se à única verdade: a "revelada nas urnas"! Não restava então (e ainda agora não resta) outro caminho —para quem foi eleito com uma participação relativa do eleitorado (39% dos que podiam votar) e cujo partido (antes da "implosão") não conseguiu nas urnas nem 10% do Congresso— senão negociar! Negociar, legítima e republicanamente, uma composição majoritária, capaz de dar sustentação não ao "seu" programa, mas ao que resultasse do "consenso" estabelecido com os outros partidos. E, consequentemente, com eles repartir, também republicanamente, o poder que emergiu da eleição.
O "fenômeno Bolsonaro" mostra como as instituições políticas são da maior importância. São elas que abrem ou dificultam os caminhos para os seus atores e determinam os seus resultados. O Brasil vive o velho problema de não poder conciliar três valores: 1) o presidencialismo; 2) o multipartidarismo; 3) o pleno exercício da democracia, resultado das disputas de poder entre o Legislativo e o Executivo nas leis eleitorais, frequentemente pioradas pelas desastradas intervenções do Supremo Tribunal Federal.
No curto prazo, isso não poderá ser sanado flertando com um "parlamentarismo oportunista" que violenta a Constituição, como parece querer a Câmara dos Deputados. Só há uma saída para o Brasil voltar a crescer: atrair o investimento privado para a infraestrutura. Isso exige um "choque de confiança" produzido pela garantia de um adequado controle das despesas públicas, que continuam a crescer endogenamente.
Diante das novas circunstâncias locais e internacionais, o Brasil precisa que o Executivo deixe de tergiversar, o Legislativo abandone o seu diversionismo e que ambos encontrem a grandeza para enfrentá-las. Esse é o "choque de confiança" esperado pelos investidores nacionais e estrangeiros para lançarem-se nas parcerias público privadas que acelerarão o indigente crescimento do PIB.
Antonio Delfim Netto
Economista, ex-ministro da Fazenda (1967-1974). É autor de “O Problema do Café no Brasil”.

Ruy Castro - Receita de impeachment, FSP

Se for preciso uma crise econômica para afastar um presidente, há uma a caminho

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Em sua guerra contra o Brasil e a favor de si mesmo, Jair Bolsonaro conta com o apoio de seus familiciares, meia dúzia de generais bovinos, uma rede digital clandestina de propaganda e auxiliares robotizados como Abraham Weintraub ou oportunistas como Sergio Moro. É material humano de encomenda para quem quer se sustentar no poder, mas não para administrar um país. Aliás, o desprezo de Bolsonaro pela administração se revela na maneira airosa e piadista com que trata os problemas.
Escorado numa massa de seguidores narcotizados pela ideologia, Bolsonaro sente-se forte para ignorar, ofender ou humilhar congressistas, juízes, investidores, jornalistas, chefes de Estado, economistas, diplomatas, servidores públicos, intelectuais, artistas, professores, estudantes, mulheres, minorias sexuais, indígenas, ambientalistas, portadores de HIV, nordestinos —a lista cresce todos os dias. É muita gente para se ter contra si, e cada membro desses grupos sociais ou categorias representa um voto —ou Bolsonaro não está exatamente preocupado com eleições?
Em contrapartida, há os grupos sociais ou categorias que ele favorece e que tem como aliados: policiais expulsos e participantes de milícias, PMs amotinados, bandidos condenados por assassinato e em liberdade, vendedores de proteção, bicheiros, fabricantes de armas, evangélicos profissionais, grileiros de terras e motoristas infratores, sem falar em ministros envolvidos em esquemas de laranjas, rachadinhas e favorecimento dos próprios negócios com dinheiro público.
Nunca um presidente se cercou de tantos elementos desse nível. Espanta que seus eleitores, tão puros de intenção, aceitem conviver com tal escória.
Nada disso, no entanto, parece bastar para um impeachment. O qual, dizem os entendidos, precisa de uma grave crise econômica para deslanchar. Bem, há uma a caminho.