sábado, 12 de outubro de 2019

Eduardo Bolsonaro: ‘Não temos um grande partido conservador’,oesp

Em conferência da direita, deputado federal diz que PSL ainda está se ‘identificando’ com o segmento ideológico

Ricardo Galhardo, O Estado de S.Paulo
11 de outubro de 2019 | 21h10
Atualizado 11 de outubro de 2019 | 22h39
Em meio à escalada verbal entre dirigentes do PSL e o governo Jair Bolsonaro, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) afirmou, nesta sexta-feira, 11, que o Brasil não tem um grande partido conservador que levante as bandeiras deste segmento ideológico.
“Antes de chegar ao poder político você tem uma série de debates que duram às vezes décadas. No Brasil, as coisas se inverteram. Nós temos um presidente conservador, mas não temos uma grande imprensa conservadora, uma grande universidade conservadora, não temos também um grande partido conservador, que se diga conservador com as suas bandeiras levantadas. Temos o PSL, sim, mas estamos passando por uma fase onde a gente está se identificando”, disse Eduardo Bolsonaro.
Eduardo Bolsonaro
O deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente Bolsonaro Foto: REUTERS/Adriano Machado
O deputado fez a afirmação em entrevista coletiva antes da abertura da CPAC (Conservative Political Action Conference) Brasil, a versão brasileira do maior evento conservador dos EUA.
Questionado sobre a escalada verbal entre as diferentes facções do PSL, em especial os ataques do senador Major Olimpio (PSL-SP), que hoje disse que os filhos do presidente agem como “príncipes” no partido, Eduardo evitou alimentar a controvérsia.
“Eu não faço parte da família real, não sou príncipe. Discordo dele, mas acho que esses assuntos do PSL devem ser tratados de maneira interna. No momento, em que eu estiver atrapalhando o próprio presidente vai puxar a minha orelha”, disse o deputado.
Logo depois da resposta, a organizadora da coletiva avisou que as perguntas deveriam se ater a temas ligados ao evento. Um repórter do Estado tentou voltar ao assunto, mas foi impedido de falar pela plateia que acompanhava a entrevista. Um homem o chamou de “retardado”. 
Mesmo assim, pouco depois, Eduardo foi questionado pelo repórter de um site alinhado ideologicamente ao governo sobre as divisões internas na direita e respondeu sem interferências. Ele admitiu a possibilidade de um racha no segmento.
“Ao contrário do que acontece com a esquerda, onde os debates acontecem e eles conseguem segurar internamente qualquer tipo de desavença, a direita faz isso publicamente. Então pode parecer um racha, talvez até seja, mas ao final, se houver um segundo turno eu, assim como todos da direita, votaria contra o PT novamente”, disse o deputado.
Setores da direita que apoiaram a eleição de Bolsonaro estão descolando do governo por considerarem que o presidente age para desarticular a Operação Lava Jato e os mecanismos de combate à corrupção para proteger o filho mais velho, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), investigado por movimentações financeiras atípicas.
Acompanhado da Matt Schlapp, presidente da American Conservative Union (ACU), entidade que organiza da CPAC nos EUA, Eduardo disse que o evento, realizado pela primeira vez no Brasil, pode ser o embrião de uma organização conservadora com presença em todos os países do continente americano.
“Essa ascensão da direita, que é uma resposta à direita, é porque estamos também nos organizando. Estou falando com Matt, (Mateo) Salvini. Mas Brasil ainda está muito atrasado”, disse o deputado. “O Brasil é a metade de América do Sul. O que ocorre aqui reverbera nos últimos países da região. O próximo passo é criar essa organização”, completou.
Eduardo ainda elogiou o discurso do pai na abertura da Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em setembro. Ele disse que a ONU tem se afastado de seu propósito. “Tem se tornado praxe grupos minoritários que têm usado a ONU para, de cima para baixo, obrigar países a adotarem políticas como a ideologia de gênero, passando por cima dos Congressos Nacionais.” 
Schlapp, que também participou do evento, endossou as críticas de Eduardo a organismos multilaterais. “Organismos internacionais não podem dizer ao povo americano o que devem ou não fazer”, disse Schlapp, acrescentando que veio ao Brasil para ver “o que está acontecendo” aqui. “Eu quero que os brasileiros tomem suas próprias decisões”, afirmou.
Schlapp disse, ainda, que os conservadores não são “globalistas”. “Essas políticas globais estão nos prejudicando, nossas crianças, nossas famílias. A politização das nossas crianças é um problema”, completou. /COLABOROU IANDER PORCELLA

sexta-feira, 11 de outubro de 2019

JOEL PINHEIRO DA FONSECA Lula preso, USP

Petista está amarrado a polarização antidemocrática

Joel Pinheiro da Fonseca
Não tenho nenhum desejo particular de ver o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) preso por décadas. Mesmo por sua idade, não vejo problema que cumpra a pena em prisão domiciliar. E não seria admissão de culpa da parte dele aceitar. O que ele perderia, aí sim, é a aura de mártir e preso político.
Não é insulto algum reconhecer o fato de que, para alguém com a relevância política de Lula e que segue querendo alterar os rumos do país, praticamente toda ação é pensada também em seu aspecto político: em como ela altera a disposição das peças no jogo de poder. 
O economista e colunista da Folha Joel Pinheiro da Fonseca - Eduardo Knapp - 19.fev.19/Folhapress
Claro que ele (assim como todo político) jamais admitirá que age politicamente —coisa que não pega nem nunca pegará bem com a opinião pública—, mas apenas alguém cego pela devoção ou irremediavelmente ingênuo poderia negá-lo.
E um preso político ele definitivamente não é. Há evidências sérias de que Sergio Moro não foi um juiz imparcial ao julgar Lula. E isso pode legitimamente levar à anulação do julgamento do tríplex
É fundamental para o país que a lei seja seguida sem fazer referência às suas consequências políticas, goste-se ou não delas. Mas o que ninguém foi capaz de insinuar, nem mesmo os mais ardorosos defensores do ex-presidente, é que juízes ou procuradores tenham forjado ou adulterado provas contra ele. A roda da Justiça (no caso do tríplex) voltará à estaca zero, mas seguirá rodando.
Preso ou solto, podendo ou não concorrer em 2020 ou 2022, Lula está preso à narrativa fanática com a qual alimenta sua base fiel. 
Talvez o momento mais triste dessa história toda tenha sido vê-lo em entrevista levantar dúvidas sobre a facada no presidente Jair Bolsonaro (PSL). Aquele que muitos veem como a grande esperança da esquerda brasileira alimentou, com plena consciência do que fazia, uma teoria da conspiração mirabolante, num momento em que todas as sociedades do mundo se preocupam com o fenômeno das fake news e da radicalização das opiniões.
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Não restam muitas opções para Lula além desta. Ele foi participante chave do esquema de corrupção que tentou cooptar a democracia brasileira, e a única maneira de negar isso é construir grandes narrativas conspiratórias que envolvem a mídia, a direita, as elites, a CIA e quem mais for preciso. Só os fiéis acreditam nessa ladainha.
Felizmente, nossas instituições prevaleceram. A tentativa do PT (aliado a outros partidos) de cooptar a democracia brasileira foi barrada. Hoje, as ameaças que se desenham à democracia são de outro tipo, vindas da direita. 
Por questões jurídicas, pode ser que soltar Lula seja a decisão cabível. A parcialidade de Sergio Moro será sua tábua de salvação. É outro sinal de que as instituições estão funcionando, inclusive para corrigir injustiças. É o funcionamento delas, contudo, que também nos dá boa expectativa de que ele volte a ser condenado e tornado inelegível. O único risco disso não acontecer é se ele ou seu partido chegarem novamente ao poder.
Joel Pinheiro da Fonseca
Economista, mestre em filosofia pela USP e colunista da Folha