Petista está amarrado a polarização antidemocrática
Não tenho nenhum desejo particular de ver o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) preso por décadas. Mesmo por sua idade, não vejo problema que cumpra a pena em prisão domiciliar. E não seria admissão de culpa da parte dele aceitar. O que ele perderia, aí sim, é a aura de mártir e preso político.
Não é insulto algum reconhecer o fato de que, para alguém com a relevância política de Lula e que segue querendo alterar os rumos do país, praticamente toda ação é pensada também em seu aspecto político: em como ela altera a disposição das peças no jogo de poder.
Claro que ele (assim como todo político) jamais admitirá que age politicamente —coisa que não pega nem nunca pegará bem com a opinião pública—, mas apenas alguém cego pela devoção ou irremediavelmente ingênuo poderia negá-lo.
E um preso político ele definitivamente não é. Há evidências sérias de que Sergio Moro não foi um juiz imparcial ao julgar Lula. E isso pode legitimamente levar à anulação do julgamento do tríplex.
É fundamental para o país que a lei seja seguida sem fazer referência às suas consequências políticas, goste-se ou não delas. Mas o que ninguém foi capaz de insinuar, nem mesmo os mais ardorosos defensores do ex-presidente, é que juízes ou procuradores tenham forjado ou adulterado provas contra ele. A roda da Justiça (no caso do tríplex) voltará à estaca zero, mas seguirá rodando.
Preso ou solto, podendo ou não concorrer em 2020 ou 2022, Lula está preso à narrativa fanática com a qual alimenta sua base fiel.
Talvez o momento mais triste dessa história toda tenha sido vê-lo em entrevista levantar dúvidas sobre a facada no presidente Jair Bolsonaro (PSL). Aquele que muitos veem como a grande esperança da esquerda brasileira alimentou, com plena consciência do que fazia, uma teoria da conspiração mirabolante, num momento em que todas as sociedades do mundo se preocupam com o fenômeno das fake news e da radicalização das opiniões.
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Não restam muitas opções para Lula além desta. Ele foi participante chave do esquema de corrupção que tentou cooptar a democracia brasileira, e a única maneira de negar isso é construir grandes narrativas conspiratórias que envolvem a mídia, a direita, as elites, a CIA e quem mais for preciso. Só os fiéis acreditam nessa ladainha.
Felizmente, nossas instituições prevaleceram. A tentativa do PT (aliado a outros partidos) de cooptar a democracia brasileira foi barrada. Hoje, as ameaças que se desenham à democracia são de outro tipo, vindas da direita.
Por questões jurídicas, pode ser que soltar Lula seja a decisão cabível. A parcialidade de Sergio Moro será sua tábua de salvação. É outro sinal de que as instituições estão funcionando, inclusive para corrigir injustiças. É o funcionamento delas, contudo, que também nos dá boa expectativa de que ele volte a ser condenado e tornado inelegível. O único risco disso não acontecer é se ele ou seu partido chegarem novamente ao poder.
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