segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Um Prêmio Nobel para o Brasil, Arnaldo Niskier, FSP

Nome do cacique Raoni ganha força na Noruega

Arnaldo Niskier
Gostamos de competir sempre com a Argentina. Há um setor em que sofremos há muito tempo: o da ciência. O país vizinho tem a honra de contar com o Prêmio Nobel de Bernardo Houssay (Medicina, em 1947), o que jamais ocorreu ao Brasil. 
Como se diz no esporte, batemos na trave algumas vezes, com Josué de Castro, o grande autor de “Geografia da Fome”, Jorge Amado e dom Hélder Câmara. Não contaram com a simpatia do governo brasileiro.
O professor e jornalista Arnaldo Niskier, membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) - Paula Giolito - 27.abr.11/Folhapress
Agora, o assunto volta à tona, com os desastres ambientais da Amazônia. Fala-se no nome do cacique Raoni, lembrado para o Nobel da Paz, que é dado na Noruega. É claro que as caneladas nesse país escandinavo estão longe de ajudar nessa conquista desejada, o mesmo podendo ser dito em relação à redução das verbas para os projetos de iniciação científica.
Há uma clareira aberta recentemente pelo intercâmbio Brasil-Israel. Lideranças empresariais e políticas de Santa Catarina, como lembrou o jornalista Henrique Bernardo Veltman, visitaram a jovem nação, deixando fincadas as bases de um sólido intercâmbio, a partir da Universidade de Tel Aviv, hoje a maior instituição de ensino superior de Israel, com mais de 30 mil alunos, além de um quadro altamente qualificado de cientistas. 
Foi uma iniciativa da Conib (Confederação Israelita do Brasil). O mesmo fez a ABMES (Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior), sob a liderança do reitor Celso Niskier (UniCarioca). Foram 30 reitores brasileiros para Israel, em busca do necessário intercâmbio. Deixaram assinados oito convênios com esse fim, de olho, inclusive, nas conquistas do “Vale do Silício” israelense. 
Temos outro dado positivo, que é a existência, há três anos, do projeto Edupark, do qual fazem parte a Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro e a Fundação Cesgranrio. Já foram exibidos nas escolas cariocas vários filmes israelenses (“Planeta Casa”, “Dependentes da Vida” e “Livre para Ser”), todos em terceira dimensão, já assistidos com entusiasmo por 42 mil alunos. Iniciativas assim fazem a diferença.
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Já imaginaram se dessa parceria, que envolve os afamados Instituto Weizmann de Ciências e o Technion, de Haifa, surgisse a conquista de um Prêmio Nobel? A ideia é perfeitamente possível, no quadro dos entendimentos internacionais que envolvem Brasil e Israel, inclusive se pensarmos nos 4 milhões de km² da região amazônica, com seus problemas e desafios, como a existência de queimadas que cresceram mais de 111% no período de 2013 a 2019. É um fato que merece a ação prioritária dos cientistas.
Querem o exemplo de um nicho promissor? É o caso da venda consumada de 36 caças da sueca Grippen ao governo brasileiro. Prevê-se, a partir do ano próximo, uma intensa troca de tecnologia aeronáutica —e isso pode envolver a nossa Embraer e a Aeronautics Ltd. ou a Israel Aerospace Industries. Dará um Nobel?
Arnaldo Niskier
Professor, jornalista, membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) e presidente do Conselho de Integração Empresa-Escola Rio (CIEE-RJ)

Ruy Castro Maneiras de morrer, FSP

Em vez de agir para que se morra menos, nossos governantes propõem matar mais

Uma recente pesquisa internacional classificou o Brasil em 64º lugar, num universo de 67 países, quanto ao grau de adequação para um estrangeiro viver. Mais um pouco e nem estaríamos entre os países considerados. A enquete se refere a 2018 e foi feita com 14.272 expatriados de 174 nacionalidades, a maioria funcionários de multinacionais e seus familiares. O Brasil recebeu notas vergonhosas em saúde, educação, transportes, segurança pública, estabilidade política e criminalidade.
Uma pesquisa idêntica, apenas entre brasileiros residentes no país, não resultaria muito diferente. No fator criminalidade, por exemplo, os números podem dizer que, entre homicídios dolosos, latrocínios e lesões corporais fatais, o número de mortes violentas intencionais caiu de 64.021 em 2017 para 57.431 em 2018 --mas que país se orgulharia desses números? E as provocadas por intervenção policial subiram de 5,1 mil para 6,1 mil. Você dirá que, não sendo nem policial, nem bandido, essa estatística não o afeta. Só se esquece de que, pela frequência com que os confrontos ocorrem, há sempre a possibilidade de se estar no meio deles. 
No Brasil, uma mulher é agredida a cada quatro minutos. As notificações cresceram de 139 mil em 2017 para 145 mil em 2018 e se referem apenas às mulheres que sobreviveram. Entre essas, houve 66 mil casos de violência sexual --180 casos por dia--, dos quais 54% cometidos contra menores de 13 anos. E como saber quantas não notificaram? 
No Brasil, morre-se aos 8 anos com um tiro nas costas. Morre-se nas ruas escuras, nas chacinas urbanas, no genocídio rural, nas contendas por terras, por execução, racismo, homofobia e uma miríade de motivos. Em vez de tomar providências para que se morra menos, nossos governantes propõem matar mais. 
Mas o brasileiro não tem, como eles, essa curiosa fixação por homens armados e de farda.