quarta-feira, 1 de maio de 2019

Emprego é um direito ! Miguel Torres , FSP

Miguel Torres
O 1º de Maio, Dia do Trabalhador, é um grande momento para os trabalhadores reafirmarem suas lutas por mais direitos e refletirem sobre as conquistas e a situação pela qual o Brasil atravessa.

Vale lembrar que a luta por mais direitos está no DNA do 1º de Maio. Em 1886, realizou-se uma manifestação de trabalhadores em Chicago (EUA), que tinha por objetivo reivindicar a redução da jornada de trabalho para oito horas diárias. O evento contou com a participação de milhares de trabalhadores, que foram fortemente reprimidos, provocando a morte de muitos grevistas.

Neste ano, as centrais sindicais e os movimentos sociais farão um grande ato em São Paulo, no Vale do Anhangabaú e em centenas de cidades pelo país para unir nossas vozes em defesa dos direitos, mostrar toda a nossa indignação contra o fim da aposentadoria e cobrar mais empregos e mais renda. 
Somos contra a atual proposta de reforma da Previdência, pois ela retira direitos dos trabalhadores e dos aposentados e não combate as desigualdades nem os privilégios.

Por isso é importante intensificar a luta: para que os trabalhadores e o povo mais pobre não sejam prejudicados. Pretendemos, durante o Dia do Trabalhador, com atos e protestos, aprovar um indicativo de greve geral --para 14 de junho. Estamos, ainda, coletando assinaturas em um abaixo-assinado, que será entregue ao Congresso Nacional, com a posição da classe sobre o fim dos privilégios na Previdência.

A radiografia econômica do país revela um quadro que preocupa os trabalhadores. A estimativa do PIB para este ano é muito ruim. Precisamos de um projeto de desenvolvimento econômico que faça a economia crescer, que gere empregos e renda. Segundo o IBGE, 13 milhões de pessoas estão desempregadas.
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O desemprego é um mal que causa enormes danos à sociedade e precisa ser combatido sem tréguas, pois aumenta a pobreza e as desigualdades, desagrega as famílias e turbina a violência e a desesperança. Já com mais emprego há mais produção e consumo, o que gera crescimento e renda.

A intenção do governo de reajustar o salário mínimo em 2020 sem aumento real é uma humilhação e frustra as expectativas de milhões de trabalhadores e aposentados. 

O valor noticiado é mais uma demonstração dos ataques do governo aos mais pobres. Para os banqueiros, garantias de lucros astronômicos; para os trabalhadores, cortes de direitos e migalhas.
Defendemos a manutenção da política de recuperação do salário mínimo, que garante dignidade aos trabalhadores e é uma forma comprovadamente eficaz de distribuir renda. Lembramos que o acordo das centrais com o governo, em 2006, que reajustou o salário mínimo pelo índice da inflação mais a variação do PIB de dois anos anteriores, resultou em diminuição da pobreza, aumento do consumo e melhorias para toda a sociedade.

Os trabalhadores vão à luta para mudar os rumos da atual política econômica. Neste 1º de Maio vamos unir vozes para defender o direito a uma aposentadoria decente, salários dignos e empregos de qualidade --o que só é possível com uma nova orientação econômica para o país, orientada ao crescimento da economia e à distribuição da renda.

Vamos lutar por uma sociedade mais justa, com oportunidades para todos, saúde e educação pública de qualidade, com transporte e moradia dignos, como fatores para a construção de uma sociedade igualitária. 
Miguel Torres
Presidente da Força Sindical, do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes e da Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

Direita Incultural ,Antonio Delfim Netto, FSP

Direita incultural

O dia 25 de abril será lembrado como dia da mesquinhez

Suspeito que 25 de abril será lembrado como o dia da “mesquinhez”. Nele, em 2019, o governo Bolsonaro “partiu para a ignorância” contra os conhecimentos que prometem a possibilidade da construção de uma organização social onde os homens gozariam de paz e relativo conforto. 
O encarregado da Educação Nacional insistiu, sob o olhar aprobativo do presidente, numa proposição inimaginável. Disse ele, “imagine uma família de agricultores cujo filho entrou na faculdade e, quatro anos depois, voltou com o título de antropólogo”, coisa absolutamente inútil. O que sugeriu o John Dewey tupiniquim? Que “o filho deveria ter estudado na faculdade de medicina veterinária”, coisa prática. Com tal aprendizado poderia prosseguir e melhorar a atividade de seu pai, na qual seu avô revelou ter o mesmo talento do seu tataravô!
Mas, afinal, que sociedade é essa? Talvez uma lamarckiana, onde o DNA, pela repetição geracional, reproduziria “homens-agrários-naturais”, condicionados geneticamente, como se reproduzem as “formigas operárias”. 
É o oposto do que propõem as ciências sociais (antropologia, sociologia, direito, economia) em busca de um conhecimento social (nunca será uma ciência) que, convertido em instituições adequadas, ajudará a construir uma sociedade “justa”, na qual o menos favorecido de seus membros encontrará o conforto da solidariedade tribal, a equidade, a ausência de preconceitos de qualquer natureza e terá condições de realizar-se dignamente com seu próprio esforço.
​E o que dizer da condenação do conhecimento filosófico num governo que reconhece como seu “guru” alguém que se pretende filósofo? Pois bem. O conhecimento filosófico é fundamental para apaziguar os espíritos mais inquisidores que não se cansam de procurar uma explicação razoável para entender por que arte do destino o homem —um acidente aleatório de um óvulo e um espermatozoide— está aqui e para quê? Não há outro conhecimento que dê mais humildade e gere mais dúvidas aos mais brilhantes portadores das “ciências duras”.
A crítica instantânea e bem informada a tal ideologia veio de um físico renomado. Leandro Tessler, da Unicamp, disse nesta Folha (27/04, B4) que: “Nenhum lugar do mundo tem universidade de prestígio sem humanas, filosofia, sociologia, história. Isso é muito importante para saber que nazismo não foi de esquerda, por exemplo”.
Para responder ao espírito crítico do “marxismo cultural” é preciso enfrentá-lo, com argumentos lógicos e antropológicos, não incendiar a universidade e tentar substituí-lo pelo seu equivalente —de sinal contrário— o “direitismo cultural”.
ideias.consult@uol.com.br
Antonio Delfim Netto
Economista, ex-ministro da Fazenda (1967-1974). É autor de “O Problema do Café no Brasil”.