terça-feira, 23 de outubro de 2018

Algumas coisas simplesmente não podem ser vendidas, FSP

Algumas coisas simplesmente não podem ser vendidas

Futebol inglês se salvou de uma tragédia ao evitar que bilionário comprasse estádio de Wembley

Acesso envidraçado de Wembley, com seu arco de fundo.
A entrada do estádio de Wembley, em Londres, principal palco do futebol inglês; à frente, a estátua de Bobby Moore, capitão da seleção campeã do mundo de 1966 - Daniel Leal-Olivas - 27.abr.18/AFP
O futebol inglês foi salvo por muito pouco de uma verdadeira tragédia na semana passada, quando o bilionário Shahid Khan retirou uma oferta para comprar o Estádio de Wembley.
De origem paquistanesa, o empresário norte-americano é dono do clube inglês Fulham Football Club e do time de futebol americano Jacksonville Jaguars.
Dizem que Khan queria comprar o icônico estádio para, entre outras coisas, promover mais jogos dos Jaguars em Londres —num trabalho de expansão da NFL pela Europa.
Para tanto, o bilionário fez uma oferta de compra de 600 milhões de libras (quase R$ 3 bilhões) à The Football Association, a federação inglesa de futebol e dona de Wembley.
A cifra pode impressionar os incautos, mas trata-se de uma verdadeira ninharia.
Afinal, estamos falando do estádio mais importante do mundo.
O lugar é tão especial que o grande Pelé contabiliza o fato de nunca ter jogado em seu gramado como a maior frustração de sua vida.
Certa vez, o melhor atleta brasileiro de todos os tempos se referiu a Wembley como “a catedral do futebol” —o local que abriga o coração do esporte bretão.
E, no caso, Pelé estava certo.
Foi lá que a seleção da Inglaterra levantou sua única Copa do Mundo até hoje e onde ficou invicta por décadas.
É lá que acontecem, desde 1923, as finais da Copa da Inglaterra —a competição de futebol mais antiga do mundo.
O velho estádio, com suas famosas Torres Gêmeas, era um pouco desconfortável mas muito especial.
Ele abrigou os mais importantes jogos da história do futebol inglês e shows de música inesquecíveis como o Live Aid, em 1985. Finais de rúgbi, o outro esporte nacional, também foram realizadas muitas vezes por lá.
O novo, inaugurado em 2007, continuou a tradição e vem recebendo praticamente todas as partidas da seleção inglesa em casa.
A região do estádio é associada ao futebol desde a década de 1880, quando Wembley já abrigava peladas em campos improvisados.
Querer importar um esporte estrangeiro para lá é demais.
Os Jaguars já jogam pelo menos uma partida por ano no estádio, o que dá lucro para a Football Association e para Khan. É mais do que o suficiente.
Ampliar o número de exibições dos norte-americanos é absolutamente desnecessário —especialmente se alguma partida de futebol deixar de ser realizada para que um jogo da NFL seja acomodado.
Ou se a seleção inglesa for forçada a atuar em outro campo —por exemplo, em Old Trafford, do Manchester United.
Khan resolveu desistir do negócio porque enfrentou a corajosa oposição de parte do Conselho da Football Association —que não ficou cego pelo dinheiro fácil.
Mas Khan tende a voltar à carga. Ele, como vários outros bilionários e alguns economistas, não entende que algumas coisas simplesmente não podem ser vendidas.
O Estádio de Wembley está no topo da minha lista.
Ele simboliza a alma do futebol, no país que inventou e desenvolveu o esporte.
Vender esta catedral seria um verdadeiro sacrilégio.
Américo Martins
Jornalista escreve sobre a vida em Londres, onde mora pela terceira vez --num total de 15 anos.

Privacidade e comunicação em massa é combinação perigosa, fsp

O uso do WhatsApp foi um dos temas centrais das eleições. Se sua relevância política já tinha se evidenciado no referendo para a paz na Colômbia em 2016 e nas eleições presidenciais no México, em julho deste ano, foi nas eleições brasileiras que ganhou centralidade.
Independente de quão decisiva foi a sua contribuição, o WhatsApp ficará marcado por seu papel na provável eleição de Jair Bolsonaro, assim como o Facebook ficou marcado por seu papel na eleição de Donald Trump.
Como o WhatsApp permite a constituição de redes privadas criptografadas, ele se mostrou uma ferramenta muito adequada para campanhas de desinformação, na qual grupos políticos disparam mensagens maliciosas para difusão em massa sob um véu de sigilo.
Isso é possível porque as fortes proteções de privacidade do WhatsApp, criadas para proteger a comunicação interpessoal, estão sendo utilizadas para a difusão em massa. Dessa maneira, é possível difundir mentiras e distorções para milhões de usuários sem que a comunicação possa ser notada por terceiros e, portanto, sem que haja o contraditório e sem que seja possível identificar os autores.
É preciso separar conceitualmente uma ferramenta de mensagens como o WhatsApp de plataformas de mídias sociais como o Facebook.
As mídias sociais se caracterizam por oferecer ao usuário uma conta na qual pode produzir conteúdo e compartilhá-lo com uma rede de contatos. Em contrapartida, o usuário pode ler tudo aquilo que foi publicado pelos contatos que selecionou. Ela tem assim o que o sociólogo Manuel Castells definiu como um formato de comunicação “um-muitos-muitos-um”.
Segundo Castells, as ferramentas de comunicação interpessoal, como os aplicativos de mensagem, tem uma outra forma, “um-um”. Na forma, não são muito diferentes de um telefone.
O WhatsApp, que é originalmente uma ferramenta de comunicação interpessoal, oferece também funções de comunicação de massa, os grupos de conversação.
É justamente essa dimensão de comunicação de massa que está sendo explorada pelas campanhas políticas maliciosas. Elas estão se aproveitando dos dispositivos de privacidade para promover campanhas de desinformação secretas, estimulando reencaminhamentos sucessivos de mensagens sujas entre grupos de conversação interligados.
A privacidade forte implementada pelo WhatsApp deve ser louvada e foi implementada como reação às denúncias de Edward Snowden, quando se descobriu que o governo dos Estados Unidos monitorava conversas de usuários.
Quando aplicado à difusão em massa, porém, aquilo que era virtude se converte em vício.


Pablo Ortellado
Professor do curso de gestão de políticas públicas da USP, é doutor em filosofia.

Novas estações fazem linha da Paulista ter 50 mil viagens a mais por dia, oesp

23/10/2018 - Estadão
SÃO PAULO - A Linha 2-Verde da Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô) passou a ter 50 mil viagens diárias a mais após o início da operação em horário comercial das novas estações da Linha 5-Lilás. O número saltou de uma média de 701 mil, nos dias úteis de agosto, para de 750 mil a 753 mil, na semana passada.
O aumento de usuários no ramal já era esperado pelos engenheiros da empresa e por especialistas. O motivo é que a nova Linha 5 abriu mais opções de conexão para os passageiros que circulam pela rede, sobretudo da zona sul. Antes, muitos tinham como única forma de conexão um circuito de baldeações que incluía a Linha 5-Lilás até Santo Amaro, a Linha 9-Esmeralda da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e a Estação Pinheiros da Linha 4-Amarela.
Agora, há possibilidade de o usuário fazer conexões diretas entre a zona sul e as Linhas 1-Azul e 2-Verde, nas Estações Santa Cruz e Chácara Klabin. Essas paradas, pelos dados da companhia, tiveram aumento ainda maior do número de usuários. Na Santa Cruz, na semana passada, a média foi de 108 mil passageiros por dia, ante média anterior de 63 mil nos dias úteis.
Na Chácara Klabin, que até setembro era a estação mais vazia de toda a rede metroferroviária, o número foi multiplicado por seis: o total de usuários passou de 8 mil para 48 mil em uma semana. Segundo a ViaMobilidade, concessionária que administra a Linha 5-Lilás, na Estação Chácara Klabin embarcaram 42 mil pessoas, na média, nos dias 16 e 17 da semana passada. Na Santa Cruz, foram 60 mil pessoas, na média dos mesmos dias.
Os usuários já sentiram a diferença. “Antes da abertura da Linha 5-Lilás não tinha ninguém aqui na Chácara Klabin. Eu percebi que depois da inauguração aumentou o número de usuários, mas o trem não chega a ficar lotado”, diz a usuária Paola Couto Rennó, de 32 anos, que usa a Linha 2 diariamente.
“A baldeação reduz o fluxo de passageiros nas outras linhas”, afirma o usuário Antônio Souza, de 47 anos. “Era vazio. Quatro, cinco pessoas esperavam o trem na plataforma”, diz Aline Feitosa da Silva, de 32 anos.

Menos sufoco

O crescimento diminuiu, ao menos um pouco, a superlotação nas conexões da Linha 4-Amarela. O ramal, que sai da Luz e vai até o Butantã, passando por baixo das Ruas da Consolação e dos Pinheiros, na zona oeste, tinha desde 2012 um problema de superlotação no túnel que faz a conexão com a Linha 2-Verde, na Paulista. A questão também era queixa constante na Estação Pinheiros, onde a Linha 4 se conecta à CPTM.
A ViaQuatro, concessionária da Linha 4, informou ao Estado que 130 mil pessoas passaram pela Estação Paulista nos dias 16 e 17. É um número 7% menor do que a média dos dias úteis no mês anterior, segundo a empresa. Em Pinheiros, a redução foi maior: 14% no mesmo período.

Pontos-chave