terça-feira, 23 de outubro de 2018

Gente frouxa, FSP

Vocês deixarão seguir o passo a passo da catástrofe?

O artista plástico Nuno Ramos, em evento em 2017 - Marcus Leoni - 25.ago.17/Folhapress
Gente frouxa. Fazendo a conta das próprias culpas. Vocês vão deixar isso seguir, a câmera lenta do suplício, o passo a passo da catástrofe, até a coroação final desse palhaço?

Sua alma não está sendo vendida ao diabo, Fernando Henrique? Gozado, pois a minha está. E a daqueles que amo. Tenho medo por mim, e por eles. Precisamos de declarações bem claras de condenação à Venezuela antes de assinar manifestos democráticos, Samuel Pessôa, meu primo querido? --mas você ainda não entendeu que a Venezuela é aqui, agora?

Hélio Schwartsman, não há como garantir que o cara seja fascista e violento? Estatisticamente, você diz? Alguma experiência comportamentalista? Ou será o poder infinito da transcendência que se infiltrou em seu artigo?

Giannotti, o Brasil vai se civilizar com a chegada do "Brasil profundo" ao poder? Você diria o mesmo da Alemanha --que ela se civilizou (depois de assassinar alguns milhões) com a chegada da "Alemanha profunda", o nazismo?

E o glorioso Manual de Redação desta Folha, que proíbe chamá-lo de extrema direita? Seria o quê, então --média direita? Três quartos de direita? Haddad, tome para si o transe que o rodeia. O diabo está na rua, no meio do redemoinho, e não há tempo.

Você tinha três semanas, já perdeu duas. Sim, condene logo a Venezuela, como quer meu primo (ela merece); garanta que não se reelege de modo nenhum, e que na próxima eleição seu candidato é o Ciro Gomes (a ideia é do Marcos Nobre).

Faça o que tiver de fazer, inclusive romper com a Gleisi Hoffmann e com esse narcisismo autovitimizante do seu partido. Ah, e só pra lembrar: Lula de fato está preso (é bom lembrar a direita disso, também). O mundo vai acabar, jabutis.

Marina Silva demorou duas semanas para declarar seu voto! É incrível! Batemos palmas? Inauguramos uma estátua de bronze?

E Ciro, rodando a Europa? Estará magoado? Quem sabe um terapeuta? Uma xícara de chá, para iniciar a lenta dança de aproximação para as eleições de 2022, que provavelmente nunca chegarão?

Gente sem momento, sem desejo, sem energia. Narcisos pançudos coçando a própria imagem, dizendo "veja bem, veja bem". Não vejo bem, vejo mal para caramba, e o medo, o medo daquela ridícula Regina, me tomou.

Nós votamos em vocês. Durante décadas. Eleições majoritárias ninguém esquece. E vocês se empanturram nesse festim sinistro de hesitação, de tibieza, de continhas. O pânico que sinto não chega a vocês? Essa voz quebrada, esse tanto de gente chorando? Cadê? Sim, posso ouvir o argumento --o ódio aos políticos é que criou esse monstrinho. 

Então sejam políticos e não covardes. Defendam os desprotegidos. Pois não é exagero --diante do que vem aí, desprotegidos somos todos, e mais ainda quem é pobre e preto e veado e lésbica e de sexo trocado. Juntem-se. Defendam em bloco, tirem a camisa, chamem para a rua, arrisquem. Criem. Gente frouxa.
Nuno Ramos
Escritor e artista plástico

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Quando não se quer combater privilégios, FSP

Samuel Pessôa não quer ver que os pobres e a classe média pagam muito mais tributos do que os ricos

MARCIO POCHMANN E PAULO FELDMANN
SÃO PAULO
Samuel Pessôa na Folha de 7 de outubro, em seu artigo “Difícil Debate”, defendeu seu amigo Alexandre Schwartsman (“Alex” para ele) com velhos argumentos de sempre daqueles que acham não prioritário resolver a questão da péssima distribuição de renda no Brasil.
O que Samuel não quer ver é que os pobres e a classe média pagam muito mais tributos do que os ricos e super-ricos por uma razão muito simples: estes últimos vivem do lucro de suas empresas e dos dividendos que recebem das ações que possuem, e no país nada disso é taxado pelo IR (Imposto de Renda).
Já para quem vive de salário, além de não haver escapatória, o pior é ter de pagar a mesma alíquota do super-rico, uma vez que a alíquota de quem ganha de cinco a 320 salários mínimos mensais é a mesma (27,5%).
O resultado final de quanto cada faixa de renda paga de IR efetivo foi divulgado pela Receita Federal para o ano de 2016, apontando que 67 mil famílias ricas (0,14 % dos brasileiros), cuja renda anual declarada foi de R$ 399 bilhões, contribuíram com R$ 24,3 bilhões de IR, o que significou taxa efetiva de apenas 6,1%.
Se essas mesmas famílias pagassem a mesma taxa efetiva do IR (12,1%) que incide na classe média (ganhos mensais entre 30 e 40 salários mínimos), o valor arrecadado seria de R$ 48,3 bilhões.
Ou seja, se os muito ricos não tivessem tanta isenção, pagariam R$ 24 bilhões a mais.
Mesmo assim, seria justo alguém com renda superior a 330 salários mínimos contribuir com taxa idêntica de quem ganha 30 salários mínimos? Claro que não.
Em qualquer país do mundo o IR é progressivo, isto é, quem ganha mais paga mais.
No Brasil é o contrário. Como entre as faixas de 40 a 320 salários mínimos de rendimentos seria possível estabelecer escala progressiva de alíquotas, o adicional arrecadatório poderia atingir R$ 100 bilhões.
Mas, quando levantamos em nossos artigos anteriores a necessidade de fazer com que os muito ricos paguem mais tributos, não estávamos pensando apenas no IR, mas também na aplicação do imposto sobre grandes fortunas e, principalmente, no imposto de responsabilidade estadual sobre heranças e transmissão de bens, que no Brasil tem, em média, alíquota 
de apenas 4%.
Na maioria dos países desenvolvidos este imposto é federal e sua alíquota, como nos países escandinavos, chega a 50%.
Conforme o livro “Os Ricos no Brasil”, os privilegiados seguem ocultos pela miopia de certos analistas, cuja riqueza se mantém à margem do Fisco.
Formas de arrecadar mais e tentar melhorar a distribuição de renda existem e são várias.
Até achamos natural que Pessôa seja contra a melhoria da distribuição de renda no Brasil, pois esta é uma questão de fundo ideológico.
O que não está certo é ele atacar com argumentos pífios e distorcidos os que defendem estas alternativas.
 

Principal assessor de Doria na prefeitura fala em traição e declara voto em França, FSP

Advogado foi braço direito de tucano na gestão municipal e dele ganhou 'superpoderes'

Eduardo ScoleseArtur RodriguesGuilherme Seto
SÃO PAULO
Braço direito de João Doria (PSDB) em sua passagem pela Prefeitura de São Paulo, o advogado Anderson Pomini declarou apoio a Márcio França (PSB) na disputa pelo governo do estado. Pomini foi secretário da Justiça de Doria e saiu da prefeitura em abril de 2018 por decisão do novo prefeito, o tucano Bruno Covas.
"Honrar compromissos, respeitar aliados e não trair a confiança das pessoas são princípios básicos para qualquer homem público. Por isso apoio e voto Márcio França para governador de São Paulo", diz Pomini.
"Estava me mantendo neutro, mas recentemente conversei com o Márcio, gostei das propostas e percebi que é uma pessoa que merece nosso apoio", disse o advogado à Folha.
Pomini foi o principal homem de confiança de Doria na prefeitura. O tucano deu superpoderes a ele ao transformar a Secretaria de Negócios Jurídicos em Secretaria da Justiça. 
O ex-secretário municipal de Justiça, Anderson Pomini
O ex-secretário municipal de Justiça, Anderson Pomini - Bruno Poletti/Folhapress
A nova pasta passou a ter poder também sobre a Controladoria Geral do Município, que na gestão de Fernando Haddad (PT) era independente. 
O advogado atuou na campanha de Doria para prefeito. Após deixar a prefeitura junto com Doria, porém, não foi levado pelo tucano para a campanha ao governo estadual. 
Outro ex-secretário de Doria, Cláudio Carvalho, ex-titular da pasta de Prefeituras Regionais, assumiu o serviço.
Ex-secretários de Doria na Prefeitura de São Paulo, os vereadores Gilberto Natalini (PV) e Soninha Francine (PPS) também manifestaram apoio a França na disputa estadual.