quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Megaempreendimento para 'capitalista consciente' terá parque aberto em São Paulo, FSP

Francesca Angiolillo
SÃO PAULO
“Li um livro e, quando entendi que trazer um empreendimento sem muro, que fosse a centralidade de um bairro, trazia muito mais segurança que murar a cidade toda, falei: ‘Uau, dá certo isso’.”
O livro que o incorporador Vinicius Amato leu foi “Morte e Vida de Grandes Cidades”, de Jane Jacobs (1916-2006). 
E o que podia dar certo era um megaempreendimento, com três torres residenciais, e uma corporativa, comércio e restaurante inseridos em um terreno de mais de 38 mil m², 25 mil m² dos quais conformarão um parque no Jardim das Acácias, zona sul de São Paulo.
Pelo local, que atende pelo nome de O Parque e que deve ficar pronto em 2023, circularão cerca de 15 mil pessoas ao dia, segundo estima Amato.
O livro da jornalista e ativista Jacobs advoga pelo tipo de tecido urbano com mescla de usos que ela tinha no seu bairro, o Village, em Nova York, e que ela defendeu apaixonadamente dos efeitos que surgiriam se fosse erguido um pretendido “Minhocão”.
O princípio mais difundido da visão de Jacobs talvez seja o dos “olhos da rua” —se houver vida a qualquer hora na calçada, haverá segurança.
 
Daí o raciocínio de Amato ao propor à Gamaro, incorporadora da qual é acionista, um projeto em que muros são substituídos por uma área verde privada de uso público, com atividades variadas.
A ausência de muros e o estímulo à criação e parques e praças de uso público são características estimuladas pela prefeitura naquela região —o setor Chucri Zaidan da Operação Urbana Consorciada Água Espraiada (Oucae).
É o que afirma Cristina Wehba em sua dissertação de mestrado, defendida em abril último na FAU-USP, na qual estudou as novas relações de produção imobiliária na metrópole, com foco em outro empreendimento naquela região, o Parque da Cidade.
Na dissertação, Wehba levanta aspectos financeiros e de valorização fundiária.
Entre eles, o fato de que empreendimentos multiúso, como O Parque e o Parque da Cidade —com torres corporativas, o recém-inaugurado hotel Four Seasons, edifícios residenciais, shopping e, claro, uma grande área verde— fazem subir o valor do solo em um raio ampliado ao seu redor.
“Esse impacto”, diz ela à Folha, “pode ser um efeito negativo” de projetos assim, ainda mais considerando que há setores de menor renda na Oucae, como o Jabaquara, com habitação de interesse social.
Para Luciana Royer, professora de planejamento urbano na mesma FAU-USP, é preciso se perguntar “no coletivo da cidade, o que isso significa, num lugar que já é valorizado, reforçando esse eixo de expansão imobiliária”.
Para Amato, os compradores das 534 unidades residenciais, com projeto arquitetônico do badalado escritório Triptyque e valores que vão de R$ 800 mil a R$ 7 milhões, serão pessoas que praticam o “capitalismo consciente”. Elas, explica, “têm todo o interesse de estar perto de outras pessoas, têm apego e relação com o verde brutal.”
Por isso, vão querer usar o parque a seus pés, e não só a área de lazer elevada a nove metros do térreo por pavimentos de garagem, “a artimanha para não ter muro”, no dizer do próprio Amato.
O parque, naturalmente, não contará só com os “olhos da rua” para sua segurança mas também com vigilantes.
Serão eles, diz Amato, que garantirão que a área aberta a toda a população funcione de acordo com as regras de convívio fixadas em um regimento agora em elaboração.
Mas, adianta, será possível andar de bicicleta nas ruas do empreendimento, passear com o cachorro e colocar os pés no riacho —haverá um, com cerca de 30 cm de profundidade e água correndo rápido para um lago.
No entanto, atos como não recolher as fezes do cão podem fazer com que o visitante deixe de ser “convidado a permanecer no espaço”. 
Com a doação da área verde à cidade, a incorporadora poderia ter obtido descontos em outorga onerosa —mecanismo que permite ampliar o potencial construtivo de um terreno. Amato, porém, diz que se optou por manter no domínio privado o regramento e a manutenção do parque.
“Quando ele tira os muros, sobe a laje, coloca lojas e apresenta a gestão privada do parque”, diz Royer, “cria um diferencial de mercado para o público dele, que compraria empreendimentos murados”.
Amato não nega o valor agregado que o parque dá. “Tudo o que existe aqui existe para te manter centrado, com a menor interferência de coisas que uma metrópole traz para você —problema de trânsito, de desconexão com a natureza. O que a gente está tentando criar é uma zona de estabilização do eixo das pessoas. Se você está equilibrado, sofre menos e acha a metrópole melhor do que ela é”.
Não é possível calcular se os 25% da área do parque que serão cobertas por espécies nativas da mata atlântica compensarão o afluxo de pessoas e de carros (o empreendimento terá 3.500 vagas de garagem), diz o botânico e paisagista Ricardo Cardim.
Responsável por criar o parque e as áreas de lazer, ele afirma, contudo, que o ambiente não só atrairá fauna como amenizará o ruído, a temperatura e a qualidade do ar no local. “Tenho certeza de que vai ser um nicho ecológico.”
Cardim é especialista na recuperação de espécies da mata atlântica e privilegia o uso de plantas do bioma em seus projetos, em vez das exóticas.
Ele conta que, quando foi pela primeira vez ao terreno, onde antes havia uma fábrica, percebeu “muitas plantas raras em terrenos baldios”. “É muito provável que essas sementes estivessem adormecidas”, diz, e tenham brotado quando a terra foi remexida na retirada da fábrica. Pode acontecer de ficarem assim décadas, até séculos, garante.
Além das mudas criadas a partir dessa “arqueologia botânica”, estão sendo preparadas para o plantio, em três viveiros, exemplares de 80 espécies, inclusive árvores de até cinco metros de altura —e um bosque com 60 araucárias, como as que deram nome ao bairro de Pinheiros, hoje virtualmente inexistentes na cidade.

Como o WhatsApp combate a desinformação no Brasil, FSP

Temos a responsabilidade de amplificar o bom e mitigar o mau

Homem utiliza smartphone com redes sociais - Arun Sankar - 22.mar.18/AFP
    Todos os dias, milhões de brasileiros usam o WhatsApp para ter conversas particulares, seja para falar com colegas sobre questões de trabalho, falar com um professor sobre as notas dos filhos, pedir uma orientação a um médico, discutir política com suas famílias ou até mesmo denunciar um crime à polícia. As pessoas valorizam a importância da privacidade, e temos trabalhado duro nisso à medida que o WhatsApp cresce.
    Hoje, mais de 90% das mensagens enviadas no WhatsApp no Brasil são entre duas pessoas. A maioria dos grupos tem ao redor de seis pessoas —uma conversa tão pessoal e privada como a que acontece em uma sala de estar. E, pelos limites que temos ao tamanho dos grupos, uma única pessoa precisaria criar perto de 4.000 grupos para atingir 1 milhão de pessoas. Isso é muito diferente de plataformas de distribuição de conteúdo (como uma praça pública global) em que você pode atingir uma audiência de milhões de pessoas apertando um botão.
    Para manter essa característica pessoal e privada do WhatsApp, nós começamos a testar neste ano um limite do número de vezes que uma pessoa pode encaminhar um conteúdo para 20 conversas. Antes, as pessoas podiam encaminhar uma mensagem para 256 conversas. Esse teste foi baseado na ideia de manter o WhatsApp como um ambiente para conversas privadas.
    Então não foi uma surpresa que, quando alguns políticos declararam na semana passada que lutariam para o WhatsApp aumentar o limite de encaminhamento de mensagens de 20 para 200 pessoas, outros pediram que o WhatsApp fizesse exatamente o contrário: limitasse ainda mais o encaminhamento de mensagens.

    O debate trouxe luz a uma tensão corrente que vemos no Brasil e que trata de uma grande realidade: quando você conecta mais de 1 bilhão de pessoas em países e culturas diferentes, você verá tudo de bom que a humanidade pode fazer, mas também algum abuso.
    Embora o desejo de disseminar e consumir informação nociva sempre existiu, a internet certamente tornou isso mais fácil. E como informação —boa e ruim— pode viralizar no WhatsApp mesmo com os limites que estabelecemos, temos a responsabilidade de amplificar o bom e mitigar o mau.
    Isso é especialmente importante em períodos eleitorais. Eleições livres e justas estão no centro da democracia, e a desinformação pode ser um grande desafio. A seguir, o que estamos fazendo a respeito disso:

    - Estamos removendo centenas de milhares de contas por spam. Pessoas mal-intencionadas usam computadores para gerar uma grande quantidade de contas. Mas, com avanços em tecnologia, nós agora podemos encontrar mais facilmente pessoas mal-intencionadas antes que elas compartilhem spam e notícias falsas.

    - Estamos adicionando um rótulo a mensagens que são encaminhadas. Isso ajuda as pessoas a entender que o conteúdo não foi escrito pela pessoa que o enviou.

    - Estamos dando mais controle aos administradores sobre os grupos que eles criam. Por exemplo, os administradores podem agora decidir quais pessoas podem enviar mensagens. Também fizemos mudanças para prevenir que pessoas sejam repetidamente adicionadas ao mesmo grupo do qual decidiram sair.

    - Estamos trabalhando com iniciativas de checagem de fatos no Brasil, como o Comprova, grupo que envolve 24 organizações de mídia no Brasil. Dezenas de milhares de mensagens com pedidos de checagem foram recebidas por WhatsApp. Também estamos trabalhando com organizações como a Énois, uma escola de jornalismo para treinar estudantes a desmistificar rumores nos grupos de familiares e amigos no WhatsApp.

    - Estamos aumentando a conscientização sobre o problema. Nossa campanha pública de educação —"Compartilhe fatos, não boatos"— foi desenvolvida para chegar a mais de 50 milhões de brasileiros para ajudá-los a identificar notícias falsas e evitar sua disseminação. Também estamos trabalhando com o InternetLab para criar vídeos educacionais sobre como usar o WhatsApp de maneira responsável e segura, incluindo como se comportar de forma respeitosa em grupos de família e pensando antes de compartilhar.

    - Estamos trabalhando com as autoridades. Nós nos reunimos com mais de 1.400 policiais, procuradores e autoridades do Judiciário em dez cidades, além de 600 juízes eleitorais, para explicar como eles podem trabalhar com o WhatsApp durante suas investigações. As informações que podemos compartilhar são limitadas e não incluem o conteúdo das mensagens, porque o WhatsApp usa criptografia de ponta a ponta. Também nos encontramos com todos os partidos políticos e com as 13 campanhas presidenciais no Brasil para mostrar como usar o WhatsApp de modo responsável durante a eleição.
    A luta contra a desinformação é um desafio permanente para a sociedade. Para avançarmos, precisamos de todos —de empresas de tecnologia à sociedade civil, governo e usuários. O WhatsApp está comprometido nessa batalha.
    Chris Daniels
    Vice-presidente do WhatsApp e ex-vice-presidente do Facebook responsável pelo Internet.org; formado em ciência e engenharia, com pós-graduação pela Duke University (EUA)
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