quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

O que acontecerá com seus Bitcoins quando você morrer? FSP


Bitcoin é a moeda virtual mais popular do momento, o que me chamou atenção essa leve questão: o que acontecerá com seus bens virtuais após a morte? A pergunta não é minha, encontrei-a em um artigo da revista britânica “The Week” e achei interessante repercutir.
Bens virtuais podem ser entendidos não apenas como moedas virtuais, mas também como contas no Instagram, Facebook e Linked In, assunto levantado em um post de 2015, mas ainda atual, “A Nova Vida Após a Morte: No Reino do Face”.
O Bitcoin foi criado em 2009, por Satoshi Nakamoto, um provável pseudônimo ainda sem identidade comprovada. Ele é uma moeda virtual, armazenada em computadores (não existe fisicamente) que não demanda intermediação financeira (não é controlada por um Banco Central).
Por enquanto, é mais uma opção especulativa, já que poucas instituições aceitam Bitcoins para transações. Mas ela tem migrado, aos poucos, para o mercado financeiro tradicional, com negociações em bolsa de valores, como a de Chicago.
O portador é beneficiado por sua enorme valorização. Em 2017 ela valorizou 1400%. Mas também está sujeito à sua volatilidade. O preço do Bitcoin, por exemplo, tem caído após seguidas iniciativas da China em tentar coibir a moeda no país. O impacto é grande porque, aproximadamente, 58% da mineração do Bitcoin (como é chamada sua produção) se encontra na China.
O Bitcoin é tido como uma moeda segura, porque cada portador recebe uma senha secreta (chamada de chave de acesso), para acessar suas moedas em uma carteira digital.
Não há uma forma de solicitar essa senha em caso de morte, já que não há uma autoridade central que possa rastreá-la. Essa segurança torna a moeda impossível de ser transmitida a um herdeiro, caso o dono da moeda não tenha passado a senha e a forma de usá-la, adiante.
Se o portador morrer sem transmitir essas senhas, ou se elas se perderem, seus Bitcoins ficarão soltos em uma espécie de Reino do Beleleu. Como o algoritmo que cria a moeda tem um sistema de limitar sua oferta (até 2140 serão produzidas 21 milhões de unidades), essa perda de Bitcoins poderá valorizar as moedas circulantes, porque aumentará sua escassez.
Como alternativa, me parece ser possível “agendar” uma transação futura que transmita seus bitcoins aos herdeiros, mas não consegui comprovar essa possibilidade.
Como a lei estipula herdeiros obrigatórios, como filhos e cônjuges, não há uma forma de garantir que eles recebam a herança devida, nem como cobrar as taxas sobre heranças, que variam de país para país.
Nesse aspecto, pode ser considerado mais “democrático”. O portador do Bitcoin pode decidir para quem gostaria de deixar sua herança digital, sem passar pelas leis que obrigam uma porcentagem da herança a familiares. O lado ruim dessa possibilidade é justamente não favorecer esses familiares e não haver uma jurisprudência que julgue as decisões.
Alguns podem ficar empolgados com a possibilidade de ter um dinheiro que pode ser deixado para um herdeiro “secreto”, como um amante ou um filho não reconhecido. Nesse sentido, as moedas virtuais vão acabar cumprindo na morte o papel que hoje têm na vida. O de suprir um mercado alternativo, descentralizado, venerado por alguns, desdenhados por outros.
No caso dos perfis virtuais, a transmissão dos dados acumulados ao longo dos anos é manipulada pelas empresas que os controlam, como o Facebook e o Instagram. A vontade do indivíduo pouco importa nessas questões. O Yahoo, por exemplo, impede o acesso a contas por parentes do morto, mesmo que ele tenha oficializado essa autorização em vida. O que me leva a crer que as leis e os debates relacionados à transmissão de bens e “egos digitais” precisam, com urgência, alcançar os avanços da tecnologia.

BC reduz juro para 6,75%, o menor da história, e sinaliza fim do ciclo de cortes, OESP



Depois de 11 reduções seguidas na taxa básica de juros, o Banco Central indicou que a Selic deve permanecer neste patamar






Fabrício de Castro e Eduardo Rodrigues, O Estado de S.Paulo
07 Fevereiro 2018 | 18h21
BRASÍLIA - O Banco Central anunciou nesta quarta-feira, 7, o 11º corte consecutivo dos juros básicos da economia. A taxa Selic caiu 0,25 ponto porcentual e passou de 7% para 6,75% ao ano – o menor nível desde sua criação em 1996. O Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, responsável pela decisão, também sinalizou que o mais provável é que o movimento tenha sido o último do atual ciclo de cortes da taxa básica. Uma nova redução pode ocorrer em março apenas se o cenário melhorar. Para economistas, a aprovação da reforma da Previdência seria um dos fatores para isso.

Banco Central
Foi a 11ª redução consecutiva da taxa de juro básica; inflação sob controle e ritmo ainda lento da economia explicam decisão Foto: André Dusek/Estadão
Desde o ano passado, o BC vinha indicando que pararia de reduzir a taxa básica de juros, que serve de parâmetro para o custo de empréstimos. Mesmo com a Selic no menor patamar em duas décadas, os juros bancários seguem em níveis elevados para padrões internacionais. A taxa média cobrada em operações de crédito no Brasil no ano passado foi de 25,6% ao ano. A do rotativo de cartão de crédito chegou a 334,6% ao ano e a do cheque especial a 323% ao ano.



A pausa nos cortes da Selic se deve a dois fatores. A inflação, apesar de controlada, deve acelerar em 2018 e 2019, com o reaquecimento da economia. Depois de ter fechado em 2,95% no ano passado, o índice oficial de inflação ficará em 4,2% neste ano e no próximo, conforme as projeções mais recentes do BC.
Outra preocupação está ligada ao andamento das reformas, em especial a da Previdência. Em função do calendário eleitoral, a votação da proposta no Congresso pode ficar para 2019, o que é mal visto pelo BC. O presidente da instituição, Ilan Goldfajn, vem defendendo o reequilíbrio das contas da Previdência para permitir a queda da taxa de juros.
O Copom foi claro ao sinalizar que a Selic, agora em 6,75%, tende a permanecer neste patamar em 2018. O colegiado afirmou que, para a reunião de março, se o cenário econômico se desenvolver como esperado, será “mais adequada a interrupção do processo de flexibilização monetária (corte de juros)”.
No entanto, a instituição deixou aberta a possibilidade de rever esta posição e promover um corte adicional da Selic em março, para 6,50% ao ano. De acordo com o BC, isso ocorrerá “caso haja mudanças na evolução do cenário básico e do balanço de riscos”. Na prática, até 21 de março, quando ocorre a próxima decisão sobre a Selic, um dos fatores que pode contribuir para a melhora do cenário é justamente a aprovação da reforma da Previdência no Congresso.
Para a economista Tatiana Pinheiro, do banco Santander, embora tenha ficado claro que o ciclo foi encerrado com a Selic a 6,75%, a aprovação da reforma e uma inflação baixa poderiam fazer o BC reavaliar sua posição. “Se uma reforma da Previdência como foi apresentada antes tivesse sido aprovada, o ciclo de cortes não teria acabado agora.”

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Veja o impacto da Selic no seu dia a dia

O BC também mencionou, indiretamente, o estresse visto no mercado norte-americano de ações na segunda-feira, que teve reflexos no Brasil. Para a instituição, “apesar da volatilidade recente das condições financeiras nas economias avançadas”, o cenário externo tem se mantido favorável. /COLABORARAM CAIO RINALDI E SIMONE CAVALCANTI

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Vale-tudo nas estatais - JOSÉ CASADO



O GLOBO - 06/02

Estatais que dependem de socorro do Tesouro somaram prejuízos de R$ 62,5 bilhões. Mas pagaram bônus a diretores e empregados, como se fossem lucrativas



Uma empresa estatal acumulou mais de R$ 9 bilhões de prejuízos nos últimos cinco anos. Já recebeu um socorro de R$ 6,8 bilhões do Tesouro, mas continua perdendo R$ 5 milhões por dia. Significa uma drenagem de R$ 3,5 mil por minuto dos cofres públicos.

Ela abriga dez mil pessoas na folha de pagamentos, e considera que quatro em cada dez são “excedentes” porque perdeu 50% da receita. Muitos nem têm mais o que fazer. Em Florianópolis, por exemplo, há uma centena à espera de demissão ou remoção desde meados do ano passado, quando o Aeroporto Hercílio Luz passou para a iniciativa privada.

Ainda assim, a Infraero começou fevereiro com a nomeação de 200 novos assessores “de confiança”. Essa estatal combalida é apenas uma das que foram entregues pelo governo Michel Temer ao Partido da República.

O donatário, chefe do PR, é um ex-presidiário, condenado e perdoado no caso mensalão. Valdemar Costa Neto não tem mandato, função pública ou cargo partidário, mas desfruta de intimidade com o poder porque administra 37 votos no plenário da Câmara, reaberta ontem.

Ele gerencia um caixa partidário que neste ano vai engordar 256%, apenas com transferências diretas do Tesouro. Valdemar já garantiu R$ 146 milhões para as eleições do PR.

A influência do partido sobre os negócios e cargos-chave em estatais, ministérios e agência reguladoras, como a de Transportes, é parte do jogo para ampliar a bancada em outubro.

O caso do PR de Valdemar é exemplar do loteamento governamental intensificado nos governos Lula, Dilma e, agora, Temer. O resultado está visível nas contas federais e de empresas como Petrobras, Eletrobras, Caixa Econômica, Infraero, Correios e da maioria das outras 144 estatais na última década e meia.

Mês passado, técnicos da Fazenda e do Planejamento analisaram o desempenho de 18 empresas públicas que dependem de repasses mensais do Tesouro Nacional para pagar sua existência — de salários a contas de água e luz.

Essas estatais receberam R$ 49,1 bilhões em injeções de recursos entre 2012 e 2016. E somaram um prejuízo líquido de nada menos que R$ 62,5 bilhões nesses quatro anos — as perdas correspondem a 39% do rombo estimado nas contas federais deste ano (R$ 159 bilhões).

O loteamento somado à incúria deixou empresas em situação pré-falimentar, como ocorre com a Infraero, Correios, Casa da Moeda, Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social (Dataprev) e Empresa Gestora de Ativos (Emgea), entre outras. Em comum, elas têm as despesas crescentes com pessoal e uma contínua e significativa redução de receitas.

A lógica nas decisões administrativas é a de que se a empresa é pública, ela é de ninguém. O regime de vale-tudo permite coisas como a alquimia da ineficiência em virtude.

O Ministério do Planejamento acaba de relatar ao Tribunal de Contas que, apesar das perdas acumuladas, mais de uma dezena de empresas estatais dependentes do Tesouro distribuíram gratificações a diretores e empregados sob a justificativa de participação nos resultados.

Socializaram o prejuízo e privatizaram um lucro que nunca existiu. Nem no papel.