sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Cérebro e alfabetização



O que diriam os neurocientistas e estudiosos da Ciência Cognitiva da Leitura se o Ministério da Educação (MEC) lhes pedisse para opinarem sobre o recém-lançado programa Alfabetização na Idade Certa? Embora essa parcela da comunidade científica não tenha sido convidada a opinar, é justo que a sociedade saiba o que a ciência do cérebro tem a dizer sobre essa questão.
O maior problema, parece-nos, reside na definição e, no caso em questão, na falta dela. O que é alfabetizar? No sentido etimológico, é ensinar o alfabeto. No psicológico, apropriar-se das regras de funcionamento do código alfabético. E, no neurológico, ensinar o cérebro a ler, a estabelecer as conexões entre fonemas e grafemas de forma consistente com o respectivo código da cada língua.
A clareza da definição permite avançar. Sua falta prejudica todo o resto. O conceito é de Aristóteles. Em nenhum documento do referido programa existe uma definição de alfabetização, que é, neste caso, confundida com várias outras coisas.
Uma das confusões está na compreensão dos textos. Em A Arte de Ler, publicado em 1994 pela Universidade de São Paulo (USP), o professor José Morais, da Universidade de Bruxelas, já fazia com clareza a distinção entre ler e compreender. A neurociência comprova que indivíduos são capazes de ler sem compreender, o que demonstra a especificidade dessa aprendizagem. E aí reside a raiz dos demais problemas desse programa. Há mais de 30 anos os psicólogos que estudam a alfabetização vêm demonstrando que as dificuldades de compreensão são independentes das da leitura: quem tem dificuldade de compreensão oral também tem de entender o que lê. Os problemas são diferentes.
A recíproca - compreender sem ler - é verdadeira, mas é mais óbvia. No caso do programa governamental, fala-se não apenas numa capacidade não definida de compreensão de textos, mas também aí se incluem conhecimentos matemáticos. Falar em alfabetização matemática pode ser até uma metáfora interessante, mas só seria útil se ajudasse a reforçar o sentido próprio da palavra alfabetização, e não para confundir o País.
A falta de clareza na definição da alfabetização leva a outros problemas. Sem ela não é possível especificar as competências necessárias para ensinar o cérebro a aprender a ler. Se consultada, a comunidade científica certamente poderia contribuir com seus conhecimentos acumulados por meio de estudos de laboratório, experimentais e empíricos e cujos resultados apresentam elevado grau de convergência.
A comunidade acadêmica poderia ter apresentado as conclusões convergentes dos achados acumulados a respeito da importância dos métodos na alfabetização, inclusive explicando que os fônicos são mais eficazes não apenas porque há evidências empíricas sobre isso, mas porque eles são consistentes com a forma de funcionamento do cérebro.
Os especialistas também diriam que os métodos de alfabetização propostos pelo MEC, que preconizam o contexto, tiram o foco do objeto da aprendizagem e criam sobrecarga cognitiva, prejudicando não apenas a aprendizagem da leitura, mas, posteriormente, a capacidade de compreensão.
Não paira dúvida sobre a importância de desenvolver competências de fluência de leitura como parte integrante do processo da alfabetização. Leitura fluente está fortemente associada ao domínio prévio das competências de decodificação e seu desenvolvimento depende dos tipos e gradação de textos e das técnicas de exposição repetida e espaçada. Fluência de leitura, isto é, a capacidade de reconhecimento de palavras independentemente do contexto, é uma das marcas que melhor diferenciam os bons dos maus leitores. Nada disso consta das propostas do MEC nem dos materiais que oferece.
Também caberia a cientistas e pesquisadores nas áreas aplicadas opinar sobre programas de ensino, materiais didáticos ou até mesmo quanto à idade mais propícia para ensinar o cérebro a ler. Se consultados, poderiam dizer, com confiança e segurança, que as habilidades fonológicas afloram e se desenvolvem ao longo dos anos que precedem a escolarização formal, por volta dos 4 e 5 anos de idade. E que aos 6 anos as crianças, em sua esmagadora maioria, já possuem todas as condições necessárias e suficientes para se alfabetizarem.
Estudos rigorosos também demonstram os efeitos negativos sobre aqueles que não se alfabetizam na idade certa. E estudos comparativos mostram que, mesmo em países em que o código alfabético é mais opaco do que o nosso, as crianças se alfabetizam nessa idade.
Assim, uma política de alfabetização que levasse em conta as evidências científicas, ao invés de retardar o processo de alfabetização, delegaria às pré-escolas importantes responsabilidades no desenvolvimento dessas competências, bem como no conhecimento das letras e suas formas.
Se consultados, os estudiosos da matéria teriam igualmente algo fundamentado a dizer a respeito de como devem ser os materiais adequados para ensinar a ler, e que muito diferem do que é oferecido nos livros e cartilhas de alfabetização aprovados pelo MEC.
Infelizmente, o governo federal não julga importante ouvir os que efetivamente dominam essa matéria. Prefere buscar o consenso entre aqueles que, embora militem na área de educação, não participam nem compartilham os critérios acadêmicos adotados pela comunidade internacional.
Conhecimento científico, mesmo quando bem fundamentado, não leva por si só a promover virtudes cívicas, bons comportamentos ou políticas virtuosas. De pouco valem os estudiosos do cérebro, se o cérebro de quem decide prefere ignorar ou desprezar as suas contribuições. Mas o desconhecimento e o desprezo pelo conhecimento certamente deixa vítimas. Os resultados da educação brasileira estão aí como prova.
* PRESIDENTE DO INSTITUTO ALFA E BETO 

Desemprego fica em 4,9%, a menor taxa da história para novembro


Daniela Amorim, da Agência Estado
RIO - A taxa de desemprego de novembro ficou em 4,9%, o menor índice para o mês em toda a série histórica Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado também é o segundo menor se considerados todos os meses, só perdendo para dezembro de 2011, quando atingiu 4,7%.
O resultado ficou no piso do intervalo das estimativas dos analistas ouvidos pelo AE Projeções, que iam de 4,90% a 5,50%. A taxa é calculada com base em uma pesquisa nas seis principais regiões metropolitanas do País.
Em novembro, o rendimento médio real dos trabalhadores subiu 0,8% ante outubro e aumentou 5,3% na comparação com novembro de 2011. O gerente da Pesquisa Mensal de Emprego, Cimar Azeredo, concede entrevista coletiva em instantes para comentar os resultados.
A massa de renda real habitual dos ocupados no País somou R$ 42,8 bilhões em novembro, um aumento de 1,0% em relação a outubro. Na comparação com novembro de 2011, a massa cresceu 8,3%.
Já a massa de renda real efetiva dos ocupados totalizou também R$ 42,8 bilhões em outubro, uma alta de 0,9% em relação a setembro. Na comparação com outubro de 2011, houve aumento de 8,7% na massa de renda efetiva. O rendimento médio real dos trabalhadores em novembro foi de R$ 1.809,60, contra R$ 1.795,41 em outubro.
População desocupada
A população desocupada totalizou 1,2 milhão de pessoas em novembro, uma queda de 8,0% em relação a outubro, o equivalente a menos 106 mil pessoas procurando trabalho. Em relação a novembro de 2011, houve recuo de 3,5%, ou menos 44 mil pessoas à procura de emprego.
A população ocupada somou 23,5 milhões em novembro, um aumento de 0,4% em relação a outubro, o mesmo que 98 mil pessoas a mais empregadas. Na comparação com novembro de 2011, houve aumento de 2,8%, o mesmo que 634 mil ocupados a mais.
O número de trabalhadores com carteira assinada no setor privado ficou em 11,4 milhões em novembro, um recuo de 0,2% em relação a outubro, 26 mil empregados formais a menos. Na comparação com novembro de 2011, houve expansão de 2,5%, um adicional de 278 mil postos de trabalho formais.

País tem que mudar já para garantir emprego do futuro, por Delfim Netto


ENTREVISTA - ANTONIO DELFIM NETTO

Para economista, é urgente barrar e reverter a destruição da indústria
Ana Paula Paiva - 18.abr.2012/"Valor"
O ex-ministro, em seminário internacional em SP
O ex-ministro, em seminário internacional em SP
PATRÍCIA CAMPOS MELLO
DE SÃO PAULO
ANA ESTELA DE SOUSA PINTO
EDITORA DE “MERCADO”
O atual modelo econômico não consegue gerar os empregos necessários para os 150 milhões de brasileiros que estarão no mercado de trabalho em 2030.
Essa advertência não vem de críticos contumazes do governo, mas, sim, de um dos notórios defensores das políticas da presidente Dilma Rousseff: Antonio Delfim Netto, ex-ministro da Fazenda, Agricultura e Planejamento.
"A atividade industrial é fundamental para gerar esses 150 milhões de empregos", avalia Delfim, que é também colunista daFolha. Mas, segundo ele, o descompasso entre produção e consumo atingiu um limite. "Nós estamos destruindo o setor industrial brasileiro, que era extremamente sofisticado."
Folha - O endividamento no Brasil está muito alto? A inadimplência no financiamento de automóveis está batendo recordes...
Antonio Delfim Netto - O crédito no Brasil era e ainda é muito baixo. O crédito imobiliário, por exemplo, ainda é ridiculamente baixo.
Essa ideia dos economistas de que você não deve comprar carro porque é pobre não vale. O sujeito sabe que só vai viver uma vez.
Se você for a Cotia, vai ver um sujeito que conserva seu DKW produzido em 1947, 1950. Para quê? Para no domingo chegar à missa, ele, a mulher e os dois filhinhos, com seu DKW. É o status. É claro que o brasileiro gosta de consumir. Quem não gosta?
Mas o sr. não acha o nível de poupança muito baixo?
Com o vento da China e a expansão do mundo, nos transformamos num país credor. Hoje temos cerca de US$ 370 bilhões de reservas. Então durante algum tempo você pode deixar abrir a boca entre consumo e produção.
Ainda dá?
Acho que já abriu demais. Estamos destruindo o setor industrial brasileiro, que era extremamente sofisticado.
Acha preocupante a deterioração nas contas externas?
Ela é produto da própria política que nós adotamos.
Com uma taxa de juros interna muito superior à externa, a taxa de câmbio deixa de ser um preço relativo e passa a ser um ativo financeiro.
Sempre brinco e é verdade -nos últimos 10 ou 12 anos, o Brasil foi o último peru com farofa disponível na mesa do mercado internacional fora do Dia de Ação de Graças.
O Brasil continua sendo o último peru com farofa?
Agora está diminuindo. Os riscos cresceram, houve correção. Mas o governo produziu a maior supervalorização do real durante 12, 15 anos.
Isso tem um efeito devastador. E só pôde ser feito porque estamos montados em reservas e na ideia de que temos um câmbio flexível, e, eventualmente, se houver um problema, o câmbio vai para cima e corrige tudo. E também porque os credores ainda acreditam na gente.
Por que ficamos tão abaixo de outros países, como Chile, México, Peru...
O Brasil cresceu durante 30 anos 7,5% ao ano. Depois veio a do petróleo. Agora está se recuperando lentamente.
Todo mundo sabe que o setor privado é mais eficiente que o público. Quando o Brasil crescia 7,5%, a carga tributária bruta era 24% e o governo investia 4,5% do PIB. Hoje a carga é 35% e o governo não investe nem 2% do PIB.
É uma questão de aritmética. Eu tiro recursos do setor privado e transfiro para o setor público, de menor produtividade. A taxa de crescimento vai cair.
O senhor concorda que a taxa de investimento deveria chegar a 25%?
Para em 2030 a gente ter uma renda per capita em paridade de poder de compra parecida com a de Portugal, nenhuma grande ambição, precisa crescer 5% ao ano.
Em 2030, vamos ter que dar empregos de boa qualidade para a população entre 15 e 64 anos, que será 150 milhões. Será que este modelo que está aí é capaz de produzir isso?
Nosso setor agroindustrial é ultrassofisticado, mas poupador de mão de obra. O de extração mineral -incluindo petróleo- também é muito produtivo e eficiente, mas poupador de mão de obra.
Só podemos ter essa sociedade que queremos desenvolvendo indústria e serviços.
Serviços vão se desenvolver naturalmente no processo civilizatório. A atividade industrial é fundamental para gerar esses empregos.
Mas como se refortalece a indústria?
Precisamos fazer aqui uma plataforma exportadora que é também importadora.
Você não precisa produzir a geladeira inteira, nem 70% da geladeira. Precisa ter sua geladeira inscrita dentro de uma estrutura produtiva eficiente. Em que ela não serve apenas um mercado que é um porcentual do nosso PIB. Ela vai servir o mercado mundial.
Não há país nenhum do mundo onde o Estado não tenha sido fator fundamental no estímulo ao crescimento. Mas o que o Brasil fez nos últimos 25 anos? Aumentou todos os custos dos produtos básicos e liberou a importação dos produtos finais.
O programa de concessões anunciado pela presidente vai no caminho certo?
A mudança é muito mais profunda do que parece. É a superação na inegável desconfiança mútua entre o governo e o setor privado.
O que o sr. acha da proposta de a Infraero manter 51% dos aeroportos a serem leiloados?
É um problema exagerado, como nós exageramos no petróleo. Não tem razão de a Petrobras correr todos os riscos. Isso vai ter que mudar.
Muitos economistas que admiram o sr. dizem que talvez sua benevolência com o governo federal seja porque o sr. odeia a unanimidade....
Não acredito no Nelson Rodrigues, a unanimidade não é necessariamente burra.
Eu tenho um entusiasmo, porque estamos construindo uma nação decente. A inclusão social é uma revolução feita pela educação da mulher. Ela introjetou a ideia de que eu só posso subir, se eu me educar. E isso mudou a estrutura demográfica.
Se alguém dissesse na época para mim e para o Campos [Roberto Campos, ex-ministro do Planejamento] que a taxa de fecundidade iria ser 1,9 por mulher -era 6,4...
A grande revolução brasileira foi a revolução das mulheres. Elas se educaram muito mais depressa e progrediram muito mais que os homens. Era uma senhora que prestava serviços domésticos, foi promovida a manicure, cabeleireira, preparou-se um pouco mais, foi pro call center, virou caixa do supermercado.
Ela usava sabão de coco, agora usa Dove. Só um economista maluco acha que vai conseguir fazer ela voltar a usar sabão de coco aumentando a taxa de juros.