segunda-feira, 24 de novembro de 2025

O festival de burrices e bandidagens de Bolsonaro, Alvaro Costa e Silva, FSP

 Não importa o que Jair Bolsonaro faça: uma longamente planejada ruptura da ordem democrática, enfraquecendo as instituições e valendo-se de meios violentos, ou, condenado a mais de 27 anos de prisão, um lance grotesco de bandido pé de chinelo, tentando violar a tornozeleira eletrônica.

Qualquer que seja a última burrice ou pilantragem, uma grande parcela da classe política continua sempre ao lado do capitão —por interesses eleitorais e golpismo enraizado. Tarcísio de Freitas escreveu nas redes que ele é inocente e sua prisão, injusta. Ao menos ficou ruborizado?

Num reconhecimento de que não há nada demais em planejar um golpe de Estado, que previa o assassinato do presidente eleito, todas as saídas para deixar Bolsonaro livre e apto a tentar outra vez foram buscadas. Algumas, como a PEC da Blindagem, quase tiveram sucesso.

No inventário das vergonhas, incluem-se anistias e dosimetrias, motins no Congresso Nacional, o incentivo do filho 03 ao tarifaço de Trump e a decisão da Câmara dos Deputados de suspender a ação penal contra Alexandre Ramagem —uma maneira de beneficiar o ex-presidente.

Ramagem, aliás, prova que, em se tratando de golpismo, a Câmara é uma mãe. Condenado a 16 anos de prisão e com a perda do mandato determinada pelo STF, fugiu em setembro para os Estados Unidos e, de lá, não só tem torrado a grana da cota parlamentar como pediu um celular com chip internacional para continuar exercendo as funções de deputado no esconderijo de luxo em Miami, com simulador de golfe, cabanas à beira da piscina e lagoa de uso exclusivo.

A exemplo de Tarcísio de Freitas, Cláudio Castro saiu em defesa do chefe: "Estaremos juntos em mais esse desafio", disse, sem esclarecer se estava se referindo à Papuda. Ainda tirou uma onda de cientista político: "De prisões em prisões, vamos desconstruindo uma instituição chamada Presidência da República".

De fato, a imagem perfeita da desconstrução é um ex-presidente utilizar um ferro de solda para derreter a tornozeleira eletrônica e depois alegar uma alucinação.

Ramagem diz ter ‘apoio’ do governo Trump para ficar nos EUA, OESP

 Notícia de presente

O deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) pela trama golpista e alvo de mandado de prisão, afirmou estar “seguro” nos Estados Unidos com a “anuência” do governo de Donald Trump.

“Digo nas palavras do governo americano para mim: ‘Que bom que temos um amigo que está em segurança e a salvo aqui nos EUA. Então, a gente tem esse apoio dos norte-americanos”, disse Ramagem em entrevista ao programa Conversa Timeline, apresentado pelo blogueiro bolsonarista Allan dos Santos, que também está foragido da Justiça brasileira desde 2021.

PUBLICIDADE

No primeiro pronunciamento desde que saiu do Brasil, em setembro, o parlamentar alegou ser vítima de “grave perseguição política” e disse ter deixado o País para evitar que suas filhas o vissem ser preso. Ele também comparou sua situação à de Donald Trump e afirmou ter sido “abraçado” pelo governo do republicano.

Ramagem voltou a atacar o ministro Alexandre de Moraes e classificou a prisão preventiva do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), no sábado, 22, como “a consumação de toda a perseguição política”. Bolsonaro admitiu ter danificado a tornozeleira eletrônica com um ferro de solda.

Publicidade

Para você

Segundo investigações da Polícia Federal, Ramagem teria deixado o País por Boa Vista (RR), possivelmente atravessado a fronteira para a Venezuela ou para a Guiana e, de lá, seguido para os Estados Unidos. Reportagem do site PlatôBR mostrou que o deputado vive atualmente em um condomínio de luxo em Miami ao lado da mulher, Rebeca Ramagem. A PF abriu investigação para rastrear o trajeto e apurar eventuais crimes no processo de saída irregular.

A mulher do parlamentar publicou, neste domingo, 23, um vídeo nas redes sociais mostrando o reencontro da família em um aeroporto americano. No post, Rebeca afirmou que viajou com as filhas “para proteger a família” e que o marido enfrenta uma “perseguição desumana”. Ela também declarou não haver garantias de julgamento imparcial no Brasil e alegou que Ramagem é vítima de lawfare, termo usado para descrever o uso político do sistema judicial.

Vale a pena ir para o Paraguai em busca de menos impostos?, FSP

 Eduardo Cucolo

São Paulo

Uma grande empresa têxtil estava à beira da falência na década de 1990 e parou de pagar tributos. Em 2000, aderiu a um programa de refinanciamento do governo. Quitou os valores em três anos, com juros e multa, sem descontos. Esse é um resumo de uma das histórias contadas pela presidente da Lupo em entrevista à repórter desta Folha Daniele Madureira.

Ela relata ainda que a companhia sobreviveu ao longo dos anos planejando suas operações em função de benefícios fiscais. Quando um deles foi reduzido, decidiu abrir uma nova fábrica, mas no Paraguai, onde está seu principal concorrente, uma empresa chinesa.

Mais de 130 mil empresas aderiram ao primeiro Refis. Em dois anos, mais de 70% delas foram excluídas por inadimplência. A prática de muitos contribuintes (a Lupo foi uma exceção) era suspender o pagamento após alguns meses e esperar por um novo programa. Foram cerca de dez até 2017. Em 2020, a nova legislação sobre negociações tributárias colocou um ponto final nesse ciclo, questão que abordei em outra coluna.

Uma imagem de um ambiente de fábrica mostra várias pessoas trabalhando em máquinas de costura dispostas em fileiras, ocupando a maior parte do espaço. Várias pessoas estão ao redor das máquinas, com foco em tarefas de costura. Os indivíduos parecem estar concentrados em suas tarefas
Oficina de costura dedicada à fabricação de vestuário feminino sob o regime de maquila no Paraguai - Marta Escurra/Folhapress

O pagamento dentro do Refis também evitava a punição por sonegação, já que o entendimento predominante no Judiciário é que o fato de a empresa enfrentar dificuldades financeiras ou optar por pagar funcionários e fornecedores em detrimento do fisco não afasta a responsabilidade penal do administrador. São poucos os casos em que a Justiça considerou a necessidade de evitar o fechamento imediato do negócio.

Outro tema abordado na entrevista foi a abertura da filial no Paraguai. Um vídeo compartilhado por um tributarista mostra o desespero de um empresário argentino quando se compara a carga tributária do seu país com a de um industrial paraguaio. Não colocaram um brasileiro ao lado.

Além de impostos mais baixos, o sistema tributário no Paraguai possui o regime para maquiladoras, empresas voltadas para o mercado exterior que pagam imposto único de 1% com a obrigação de cumprir uma cota de conteúdo nacional. Elas respondem por dois terços das exportações paraguaias, e 64% do que é vendido para o exterior vem para o Brasil, com destaque para autopeças e têxteis.

Se os impostos são menores, por que todas as empresas não se mudam para lá? E o que explica tamanha discrepância entre as cargas tributárias dos dois países?

A arrecadação no Brasil em percentual do PIB é de 32%, bem superior à do Paraguai (18%). Enquanto o vizinho tem uma carga próxima da média da América Latina (21%), estamos próximos da OCDE (34%), grupo de países mais desenvolvidos. Nosso governo conta com uma receita anual de US$ 4.726 por habitante. Os vizinhos têm US$ 1.733, segundo estudo publicado pelo comitê de secretários de Fazenda.

Cerca de 70% das empresas que se instalaram pelo regime de maquilas nos últimos 25 anos são brasileiras. Muitas vão em busca de menos impostos e energia barata. Também estão no vizinho o grupo Guararapes, dono da Riachuelo, entre outros.

Empresários que estão lá se queixam de dificuldade no acesso a crédito, falta de mão de obra qualificada, infraestrutura precária e alta informalidade —mais do que por aqui. O vizinho também ocupa posição pior que a do Brasil em rankings de corrupção e desenvolvimento humano.

caso da Lupo reforça a necessidade de melhora no nosso sistema tributário. As vendas do Paraguai para o mercado brasileiro estão completamente desoneradas, algo que só teremos por aqui a partir de 2027 nos tributos federais e 2033 nos demais.